"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 18, 2014

O TRUÃO DA CORTE OU : Mais do mesmo

Guido Mantega reforça aposta na atual política econômica e indica que segundo mandato de Dilma, se houver, repetirá receita fracassada. Para o PT, errados estão sempre os outros.

Havia um tempo em que as palavras do ministro da Fazenda eram cruciais para que os agentes econômicos se orientassem e tomassem melhores decisões. 
Esta clareza deixou de ser a tônica com o posto ocupado por um especialista em prognósticos que nunca se confirmam.

Ainda assim, a entrevista de Guido Mantega publicada ontem pela Folha de S.Paulo lança alguma luz sobre temas dos quais o governo da presidente Dilma Rousseff vem, de resto, se esquivando de abordar.
Na conversa, o ministro petista admite reajustes nos preços administrados, reconhece a alta presente das tarifas de energia e diz que os combustíveis devem ficar mais caros ainda neste ano. Para um governo que até então vinha negando problemas em todas estas áreas, já é um avanço.

Há, na entrevista, a admissão tácita de que os preços praticados pela Petrobras estão defasados: 
“O aumento de preço não pode ser exagerado, porque senão causará prejuízos a todo mundo. Os preços vão subir”. O consenso entre os analistas é de que a defasagem é bastante grande, conforme publica hoje o Valor Econômico.

A parte mais preocupante da entrevista, porém, é aquela em que Mantega reforça a aposta no atual receituário econômico praticado por Dilma. Se suas palavras valem – e a força do cargo nos leva a considerá-las desta maneira – a conclusão é de que teremos mais do mesmo pela frente caso a atual presidente conquiste novo mandato em outubro.

A única mudança possível é alguma alteração nos limites de tolerância da inflação, tendo claro que até 2016 elas já estão sacramentadas pelo Conselho Monetário Nacional.

Segundo a visão do ministro, só o Brasil acerta, enquanto economias como a americana e as da União Europeia enveredam por descaminhos.

Faltou apenas ele explicar por que o PIB de lá já se recupera, enquanto o nosso está na rabeira dos rankings mundiais: 
confirmadas as projeções para este ano, o resultado acumulado desde 2011 figurará apenas na 134ª posição entre todos os países do mundo.

As típicas mistificações de Mantega não poderiam deixar de estar presentes na entrevista. O ministro achou conveniente jogar na Copa do Mundo a culpa pelo pibinho que o IBGE anunciará dentro de dez dias.

Sim, o Brasil foi paralisado para que a bola rolasse, mas as razões da provável recessão vão muito além dos 30 dias de Mundial e são anteriores a ele.
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É curioso que, pouquíssimo tempo atrás, o mesmo Guido Mantega tinha visão muito diferente. Quando o IBGE divulgou o resultado do primeiro trimestre, em 30 de maio, o ministro disse que a Copa ajudaria a turbinar a economia e levá-la a produzir resultado melhor entre abril e junho. Mais uma previsão furada. Mas isso já não é nenhuma novidade.

Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

ENQUANTO HÁ MUITO EMBASBACAMENTO COM "VIÚVA INDEVIDA" E FOGUETÓRIO EM "FUNERAL"... BRASIL REAL SEGUE FATIGADO PELA INCOMPETÊNCIA E DESGOVERNO. SEM O MARQUETINGUE DOS VELHACOS : Renda encosta na dívida e risco de calote cresce

Massa de salário dos trabalhadores formais cresceu em junho no mesmo ritmo dos valores das prestações assumidas, reduzindo renda para consumo

 O brasileiro está no fio da navalha: 
não tem folga no orçamento para ampliar as compras financiadas de itens de maior valor, como carro e eletrônicos, e corre maior risco de ficar inadimplente. É que a renda do trabalhador com carteira assinada cresce no mesmo ritmo do encarecimento do crédito. Com isso, se houver alta adicional no juro, poderá faltar renda para bancar a prestação, revela estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Segundo o estudo, a prestação de um financiamento de R$ 1.000 assumido pelo consumidor nas condições vigentes de juros e prazos médios de junho, o último dado disponível do Banco Central (BC), foi de R$ 39,87. A cifra é 3,5% maior do que a prestação de R$ 38,54 de um empréstimo do mesmo valor contraído um ano atrás, de acordo com juros e prazos médios da época. A variação do valor da prestação desconta a inflação, medida pelo IPCA.
O estudo da CNC, feito com base nos dados do BC e do Cadastro de Empregados e Desempregados, mostra que a massa real de salários dos trabalhadores formais cresceu 3,6% entre junho de 2013 e junho deste ano. Foi praticamente a mesma variação da prestação.
“Estamos hoje no limite de uma possível pressão de aumento da inadimplência”, afirma Fábio Bentes, economista da CNC. Se juro ao consumidor, de 43% ao ano, hoje no maior nível desde abril de 2009, subir, não haverá avanço na renda do trabalho formal que dê conta do encarecimento da parcela do financiamento”, avalia ele. 
O calote do consumidor nos empréstimos com recursos livres estava em junho em 6,5%, segundo o BC. A previsão da CNC é que o calote feche o ano em 6,9%. “Há condições para que a inadimplência cresça porque o mercado de trabalho está perdendo força e a tendência é de encarecimento da prestação, pois o juro está subindo”, diz Bentes. Ele pondera que o calote não vai explodir, pois o ritmo de tomada de novos financiamentos está desacelerando.
De toda forma, pelo lado da renda, o cenário não é promissor. Em 2013, 95% das categorias profissionais analisadas pelo Sistema de Acompanhamento de Salários do Dieese conquistaram reajustes médios de 2,8% acima da inflação para os pisos salariais, a metade da correção obtida em 2013. A tendência para este ano é que as negociações possam ter um ligeiro recuo ou, na melhor das hipóteses, repitam o nível de reajuste de 2013, segundo o Dieese.
Desemprego.
Na avaliação de Bentes, hoje o que pesa mais na queda das compras financiadas e no risco de calote é a alta dos juros, do que o avanço da inflação. Influenciado por veículos, a CNC projeta para este ano queda de 1,3% no volume de vendas de bens duráveis, ante crescimento de 4,1% em 2013.
“Não é os juros, mas o ambiente como todo que está freando as compras. O consumidor está inseguro com o que vem pela frente, se estará empregado”, diz o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Administração, Miguel Ribeiro de Oliveira. 
Ele não acredita numa alta substancial do calote porque os bancos também estão mais seletivos na aprovação do crédito. “O risco que existe de alta da inadimplência do consumidor está ligado ao desemprego.”
Essa também é a avaliação de Érico Quirino Ferreira, presidente da Acrefi, associação que reúne as financeiras. “A grande preocupação hoje é com o desemprego.” Ele admite que houve um ligeiro aumento da inadimplência, mas a perspectiva é de um cenário estável com uma pequena alta até o fim do ano. “A situação está sob controle, mas não é nenhuma Brastemp.”

MÁRCIA DE CHIARA - O ESTADO DE S. PAULO