"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 02, 2011

BNDES será sócio da Foxconn ??????

O BNDES se prepara para virar sócio da Foxconn no principal investimento da gigante taiwanesa no Brasil, a fábrica de telas de toque - o componente mais importante dos tablets -, informou o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia).

O valor do investimento do governo ainda não está definido, segundo as negociações, que correm em sigilo.

"O governo vai ter de entrar com uma parte desse investimento, mas tudo o que estiver ao nosso alcance para trazer o investimento, vamos fazer", afirmou o ministro.

Ainda não há prazo definido para o início do projeto da nova fábrica, e sua localização também é incerta. Nessa fase das negociações, o governo busca reunir dois tipos de sócios brasileiros para o investimento - estimado em US$ 8 bilhões, dos US$ 12 bilhões que a Foxconn teria prometido investir no Brasil.

Parte dos sócios deve ter o perfil de indústrias tecnológicas, para absorver a tecnologia de produção das telas de toque. O governo também busca sócios privados "com musculatura financeira" para entrar no negócio com a Foxconn.

"Temos de compor um bloco de investidores, com força financeira e tecnológica."

A partir da capacidade de investimento desses sócios, será calculada a parcela do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social no negócio. Segundo o ministro, trata-se de uma operação "altamente complexa".

O Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI) já participa das negociações, ao lado de uma consultoria internacional contratada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, para avaliar as oportunidades do Brasil nos investimentos da chamada fronteira tecnológica.

As telas de toque, também conhecidas como telas planas de filme fino, as TFT (thin film technology), são produzidas em apenas quatro países do mundo: China, Taiwan, Coreia e Japão. "Em todos esses países, o Estado entrou fortemente, o mercado sozinho não resolveu", disse Mercadante, sobre a necessidade de participação estatal em investimentos com alta tecnologia.

As telas de toque são usadas em smartphones e televisões, além dos tablets, e são o componente mais sofisticado desses aparelhos. A ideia do governo é atrair outras indústrias associadas à produção de componentes, na sequência da primeira fábrica de telas de toque.

"As telas são o primeiro módulo de uma cadeia, o mais complexo e o mais difícil", destacou Mercadante.

O ministro não informou quanto a Foxconn estabeleceu como valor mínimo de uma contrapartida financeira brasileira para a construção dessa fábrica, que será a segunda da empresa de Taiwan no Brasil.

Carta à presidente. As negociações ganharam ritmo mais acelerado há três semanas, coincidindo com o envio de carta do presidente do grupo, Terry Gou, à presidente Dilma Rousseff. No texto, Gou reafirma o interesse em manter a promessa de investimentos feita à presidente na viagem à China, em abril.

"De fato, dei instruções a meus colaboradores no sentido de darem início aos programas contemplados para o Brasil com a maior brevidade possível a partir do corrente ano", afirma o presidente da Foxconn.

"Também estou comprometido com a transferência de tecnologia, o necessário investimento e o apoio aos sócios brasileiros, de sorte a garantir o bom resultado de nossas atividades."

A carta também teria o objetivo de afastar rumores de incerteza nos investimentos. Uma fábrica da Foxconn, planejada para Jundiaí (SP), já sofreu atrasos no cronograma oficial. Por ora, o compromisso é começar a etapa de testes este mês, e a fabricação de iPhones em outubro.

A montagem de iPads começaria em dezembro, a tempo do Natal, insistiu Mercadante, que atribuiu o atraso a "problemas operacionais". De oito empresas já habilitadas para a produção de tablets no Brasil, quatro têm produtos no mercado.

PARA LEMBRAR

Dúvidas cercam projeto no País

Em sua primeira viagem oficial fora da América Latina, a presidente Dilma Rousseff esteve na China. Durante a viagem, em abril deste ano, o dono da Foxconn, Terry Gou, teria comunicado a intenção de investir US$ 12 bilhões no Brasil.

O fato foi anunciado à imprensa pelo ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante. Entre outras coisas, a empresa faria iPads no País.

Com os investimentos, a gigante asiática prometia criar 100 mil empregos diretos no País, sendo 20 mil cargos para engenheiros - uma demanda que o Brasil teria dificuldades de atender.

Analistas e fontes de setor de tecnologia colocaram em dúvida as informações. Avaliaram que o investimento e o número de empregos estaria superestimado.

A avaliação do mercado era de que a Foxconn estava, na verdade, querendo impedir barreiras às importações de seus produtos.

O projeto ainda é uma incógnita.

A empresa nunca confirmou o investimento e divulgou recentemente uma nota dizendo que analisa planos para o Brasil.

Marta Salomon O Estado de S. Paulo

Memória :

ANÚNCIO SOBRE A FOXCONN : GATO POR LEBRE? DONO DA ...


PETROBRAS E O NÓ CEGO.

O governo está numa sucessão de confusões na área de combustível. A Petrobras está importando gasolina mais cara do que vende, vai importar mais álcool, o governo subsidia os dois produtos e vai reduzir impostos.

Isso incentiva mais o consumo.

Até agora ninguém parece ter entendido o tamanho do nó que está sendo dado nos combustíveis. Para completar, a empresa de petróleo vai produzir açúcar.

Os problemas são piorados por excesso de intervenção governamental, uma empresa monopolista, e falta de compreensão do setor. Logo que a crise do álcool surgiu, o governo primeiro disse que era só um problema de entressafra.

Depois, ofereceu mais dinheiro para a indústria e em seguida mandou a Petrobras entrar no mercado para produzir álcool.

O primeiro nó do setor está nos canaviais e não na capacidade instalada da indústria, que está ociosa.

Os canaviais precisam ser renovadas, estão velhos, e foram atingidos por três tipos de problema: em 2009, houve crise e muita cana plantada deixou de ser comprada, deixando os produtores descapitalizados; em 2010, houve seca que quebrou a safra; em 2011, geada que quebrou a safra. Falta cana.

Outro problema foi que o governo incentivou demais a indústria automobilística, e isso aumentou o uso de combustível, fóssil ou não. Incentivou através da queda de impostos para o comprador do carro, para assim aquecer a economia.

O consumidor comprou muito automóvel, e aumentou o consumo de combustível.

Para atender à demanda aquecida, as montadoras importaram carro de suas próprias fábricas em outros países. Depois, reclamaram com o governo que o mercado estava sendo tomado pela importação, e o governo as premiou com a isenção do IPI.

Terceiro, o governo proibiu que a Petrobras subisse o preço da gasolina para a distribuidora, independentemente do que aconteça com a cotação do petróleo no mercado internacional.

No petróleo produzido aqui, a Petrobras ganha dinheiro porque o custo de produção é bem menor do que o preço de venda, mas ela deixa de ganhar em relação ao preço que é praticado fora do Brasil. Isso incentiva a demanda.

O consumo subiu acima da capacidade da empresa de refinar petróleo, e ela passou a comprar o produto no mercado internacional. Paga US$0,25 a mais em cada litro que compra, em relação ao preço que está autorizada a oferecer às distribuidoras.

Com os problemas na produção do álcool, o consumidor preferiu utilizar gasolina porque o álcool deixou de ser vantajoso. O consumo da gasolina subiu mais ainda, o que eleva o custo para a estatal.

Agora, foi reduzida a mistura, o que elevará a importação da gasolina e aumentará a emissão de gases de efeito estufa.

Então o governo pensa em reduzir a Cide para que a Petrobras possa aumentar o preço que recebe das distribuidoras, mas ao mesmo tempo o consumidor não precise pagar mais. Como a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) foi criada para investir no setor de transportes, o país fica em mais uma situação esquisita: o grande beneficiário é o dono do automóvel, e faltará dinheiro para investimento no transporte como um todo, o que prejudica o usuário do transporte público.

Outra decisão do governo foi a de mandar a Petrobras entrar no setor de produção de biocombustível. Ela comprou empresas que também produzem açúcar. Ficará assim na estranha situação de ser uma empresa de petróleo que produz açúcar.

O presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, me disse outro dia que não é exatamente assim, já que ela será sócia de empresas que produzem açúcar. Acho que dá no mesmo.

Será mais confuso ainda se a estatal na qualidade de acionista tentar forçar as empresas a produzirem apenas álcool: é que hoje o lucro da produção de açúcar é 50% maior, porque o produto está em alta no mercado internacional.

Outra ideia recente que o governo chegou a pensar foi a de aumentar o imposto sobre a exportação de açúcar para forçar as empresas a produzirem mais álcool.

Se você já se perdeu nesse canavial, não pense que está sozinho. Estamos todos tentando entender qual é afinal a estratégia do governo para o setor de combustível, que está completamente perdido.

Entre outras razões, porque o ministro Edson Lobão, apesar de estar no cargo desde o governo passado, sempre demonstra pouco conhecimento do assunto cada vez que se pronuncia sobre ele.

Segundo o presidente da Unica, que reúne os usineiros de cana-de-açúcar, Marcos Jank, a produção de cana este ano está 20% abaixo da média histórica, porque houve uma perda de 150 milhões de toneladas por razões climáticas.

O Brasil produz 25% do açúcar mundial e é responsável por 55% do que é comercializado no mundo. Por isso, a pressão sobre os produtos da cana vai continuar. O Brasil, que se dispunha a ser um grande exportador de etanol, vai importar este ano um bilhão de litros.

Segundo Jank, o pior problema que o setor enfrenta é o congelamento por cinco anos do preço da gasolina às distribuidoras. Como o álcool tem que custar 70% do preço da gasolina, o congelamento está tornando o álcool não competitivo.

Para onde se olha no mercado de combustível fica claro que a cada tentativa do governo de consertar o problema ele se agrava ainda mais.

Mas a pior distorção é o governo subsidiar - com preço abaixo do mercado internacional ou com redução de impostos - o consumo do produto que o Brasil está sendo obrigado até a importar.

Panorama Econômico O Globo

Encenação de austeridade

O governo decidiu aumentar em R$10 bilhões a meta de superávit primário para este ano. Mas não deixou margem a dúvida sobre a origem dos recursos adicionais que deverão permitir o cumprimento da nova meta.

"O primário será engordado pela arrecadação extraordinária que o governo está registrando neste ano", esclareceu o ministro Mantega.

De fato, nos primeiros sete meses de 2011, a receita federal mostrou crescimento real de nada menos que 13,98%, o que equivale a bem mais do triplo da atual taxa de crescimento do PIB.

Do lado da despesa, os gastos primários ainda vêm tendo expansão real da ordem de 4,3%, apesar de forte queda nos investimentos.

O governo jamais teve intenção de cortar investimentos.

Muito pelo contrário. O ministro Mantega tem feito questão de esclarecer que a queda dos investimentos decorreu de "outras injunções". No que tem toda razão.

A gestão do acanhado programa de investimentos do governo, que já vinha enfrentando sérias dificuldades, ficou agora entravada de vez, na esteira da interminável onda de escândalos que vem ceifando cabeças na Esplanada dos Ministérios.

"Outras injunções" é um belo eufemismo. Sem a graxa usual, boa parte do investimento federal foi paralisada.

Basta ter em conta, por exemplo, que, nos últimos três meses, houve redução de 65% nos pagamentos feitos pelo Dnit, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.

A combinação da súbita atrofia dos gastos de investimento com o desempenho espetacular da receita gerou um quadro de fartura fiscal que, curiosamente, vem deixando o governo preocupado.

É verdade que isso vem permitindo ao governo se gabar de ter aumentado o superávit primário, sem qualquer esforço de corte de gastos.

O problema é que recursos tão fartos tornam ainda mais difícil, para o Planalto, evitar que prosperem no Congresso decisões que podem vir a ter alto impacto sobre as contas públicas.

Três delas são especialmente preocupantes.

A primeira envolve a Emenda 29, que pode vir a exigir aumento substancial e permanente de gastos com saúde, tanto na área federal como nos Estados.

A segunda, a PEC 300, que estabelece piso salarial nacional elevado para policiais e bombeiros.

A terceira é a possível derrota da renovação da Desvinculação de Receitas da União (DRU).

O governo pretende gastar até o último centavo dos recursos excedentes de que agora dispõe. Quanto a isso, não há dúvida.

Mas, tendo sido obrigado a desmantelar as cadeias de comando que acionavam o investimento público em vários ministérios, sabe que vai levar algum tempo para reconstruí-las e fazê-las funcionar a contento.

Já abandonou a esperança de conseguir promover uma clara recuperação dos investimentos federais ainda em 2011.

Para o Planalto, tornou-se crucial, portanto, evitar que esses recursos excedentes sejam dilapidados pelo Congresso. Há muito dinheiro em cima da mesa. O nome do jogo passou a ser dissimular a fartura, na medida do possível.

A meta de superávit primário foi elevada.

Mas apenas a deste ano, não a do próximo. E pagamentos de dividendos das estatais ao Tesouro, tão generosos nos últimos anos, foram agora postergados.

Em paralelo, claro, o governo vem tentando brandir a elevação da meta de superávit primário como prova do seu novo compromisso com a austeridade fiscal e do seu esforço para abrir espaço para redução da taxa de juros.

Seria muito bom se isso fosse verdade. Caracterizaria mudança radical e surpreendente no entendimento que tem o governo das restrições que pautam a condução da política econômica.

Não se pode esquecer que, há bem menos de um ano, o ministro Mantega deixou mais do que claro que suas convicções sobre a questão eram bem diferentes: "Não tem nada a ver uma coisa com a outra.

Essa história de dizer:

"Faz ajuste fiscal que vai baixar o juros" é um equívoco, é não entender o sistema de metas de inflação." ("Folha de S.Paulo", 25/10/2010).


Rogério Furquim Werneck O Globo

"PLANEJAMENTO BIRUTA" ! PLANALTO CEDE AO JUDICIÁRIO : RECUA E DÁ AUMENTO .


Um dia depois de anunciar o Orçamento e dizer que em 2012 não haveria reajuste para ministros do Supremo Tribunal Federal e para servidores do Judiciário, a
ministra do Planejamento, Miriam Belchior, se viu obrigada a voltar atrás na decisão.

A dura reação de integrantes do STF causou tanto mal-estar na Esplanada que a presidente da República precisou intervir.

Prestes a embarcar para São Paulo, o ministro Guido Mantega foi convocado às pressas por Dilma para dar um jeito de encaixar a proposta do Judiciário na peça orçamentária e acabar com o impasse.

No fim do dia, Miriam e os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Luís Inácio Adams (AGU) foram conversar com o presidente da Suprema Corte, Cezar Peluso, e lá garantiram: o projeto, exatamente como foi apresentado pelo Judiciário, será encaminhado hoje ao Congresso.

Após forte reação do presidente do Supremo, Dilma manda reinserir propostas de aumento no Orçamento da União

O Judiciário conseguiu virar o jogo e incluir no Orçamento da União de 2012 os pedidos de reajustes salariais para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e para seus servidores.

Ao divulgar, anteontem, a peça orçamentária, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, foi incisiva e disse que a pasta havia excluído as previsões no projeto encaminhado ao Congresso Nacional.

"Não é adequado", afirmou ela, na ocasião, em referência ao momento de ajuste fiscal. Mas a decisão causou tamanho mal-estar entre o Executivo e a mais alta Corte de Justiça que a presidente Dilma Rousseff precisou intervir.

Ontem, Dilma mandou o ministro da Fazenda, que estava a caminho de São Paulo, cancelar o voo e ir para a Casa Civil. O comando foi para que o auxiliar desse um jeito de incluir a proposta do Judiciário no Orçamento e reverter a situação.

No fim do dia, ao lado dos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral da União), Miriam foi conversar com o presidente da Suprema Corte, Cezar Peluso, e garantiu que encaminhará ao Congresso, hoje, uma mensagem para que o Legislativo considere o reajuste salarial assim como havia sido apresentado pelo Judiciário.

A mudança veio depois das críticas feitas por Peluso. Visivelmente contrariado, o presidente do STF disse não ter dúvida de que o Executivo revisaria a questão. "Parece que houve um pequeno equívoco que o Executivo vai retificar, sem dúvida. Nem precisava receber comunicação. É uma coisa óbvia. Houve um pequeno equívoco", afirmou o ministro na tarde de ontem.

A posição do governo, no entanto, foi tomada com bastante clareza. Na terça-feira, Peluso recebeu quatro ministros em seu gabinete. Na ocasião, ele foi comunicado de que o Orçamento de 2012 não contemplaria o aumento salarial de 14,79% para os ministros do STF e de 56% para os servidores da Casa.

A proposta orçamentária, apresentada por Peluso no começo de agosto, prevê um salto de R$ 26,7 mil para R$ 30,6 mil no salário dos magistrados da Suprema Corte. O impacto total dos reajustes é estimado em R$ 8 bilhões.

Equilíbrio

O ministro do STF Marco Aurélio Mello foi irônico quando questionado sobre a possibilidade de ter havido algum "equívoco" na preparação do Orçamento, como citou o colega Peluso. "De bens intencionados, o Brasil está cheio.

A quadra que vivenciamos é um tanto quanto estranha. Não se pode atropelar a Constituição", respondeu. Ele observou que a Constituição não permite ao Executivo revisar o Orçamento apresentado pelo Judiciário.

Para o ministro, o corte não saiu do "âmbito técnico-burocrata", mas da Presidência da República.

"O ruim é que, frente ao leigo, que não percebe que, acima de tudo, devemos preservar a Constituição, a bandeira do Judiciário não é boa. Ao contrário, é capaz de acharem que nós somos perdulários. Não é isso.

O que está em jogo não é pecúnia, não é dinheiro, não é gasto. O que está em jogo é o princípio que implica equilíbrio, que se faz ao mundo jurídico para que não haja supremacia de poderes que estão no mesmo patamar", ressaltou Marco Aurélio.

Repúdio

O atropelo feito pelo Ministério do Planejamento também desagradou a Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e do MPU (Fenajufe). Ramiro López, coordenador da entidade, observou que, embora seja reticente quanto ao assunto, o Executivo, via de regra, se comporta dentro da lei.

"É um procedimento contrário à Constituição. Nossa posição é de repúdio. Não esperávamos essa atitude", disse.

O bate-boca também envolveu os integrantes do Movimento Pró-Subsídio, que defendem uma mudança no modelo remuneratório do Judiciário. Para o analista judiciário Rodrigo Barros, integrante do grupo, o governo federal retrocedeu para evitar uma crise institucional.

"Agora, temos a perspectiva de aprofundar os debates sobre um novo sistema de remuneração", afirmou.

A ideia é que, em vez de ter um reajuste linear de 56%, os servidores passem a receber por meio de subsídio — pagamento com um teto incluindo o vencimento básico e uma série de gratificações.

Essa parcela só não englobaria valores indenizatórios, como auxílio-alimentação, auxílio-creche, vale-transporte e 13º salário.

Assim, funcionários mais antigos, que incorporaram gratificações (a última vantagem foi extinta em 1999), ficarão com os salários congelados se suas remunerações ultrapassarem o teto do subsídio.

A possibilidade está prevista em uma emenda do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) ao Projeto de Lei nº 6.613/09, que está parado na Câmara e altera o plano de carreira dos servidores do Judiciário.

O projeto original não altera o modelo de remuneração. Mas a emenda estabelece subsídio com teto de R$ 11,5 mil para os técnicos e de R$ 18,4 mil para os analistas.

A estimativa é de que, hoje, 60% dos 121,5 mil ativos do Poder sejam mais antigos na carreira e tenham gratificações incorporadas. Alguns mais antigos têm mais de 15 rubricas no contracheque, entre vencimento, gratificações e vantagens pessoais.

Os outros 40% dos servidores, que ingressaram no funcionalismo sem esses benefícios, ganham proporcionalmente menos. As possíveis alterações, no entanto, são polêmicas. Entre os órgãos contrários está o próprio STF.

Correndo por fora

Como o governo incluiu no Orçamento de 2012 correção salarial somente para metade dos servidores (ativos e inativos) do Executivo, algumas categorias correram, na última hora, para apresentar ao Congresso projetos de lei dentro do prazo final para entrar na Lei Orçamentária do ano que vem.

Diante do impasse quanto ao aumento dos vencimentos dos juízes em cerca de 14,8%, que já tramita na Câmara, até o Supremo Tribunal Federal (STF) protocolou nova proposta, prevendo correção de 4,8% no vencimento de seus ministros.

A Mesa da Câmara também quer alterar novamente o plano de cargos e salários para seus funcionários, estabelecendo aumento de até 108%.

O Ministério Público da União (MPU) saiu na frente da turma do Judiciário e propôs o pagamento em forma de subsídio para seus servidores, prevendo um reajuste médio de 100%.

DIEGO ABREU e CRISTIANE BONFANTI Correio Braziliense

BRINCANDO COM FOGO.

Diminuir juros é bom e todo mundo gosta.
Mas baixar a taxa básica desconsiderando o sério risco de perder o controle sobre a inflação, como fez o Banco Central ontem, é algo totalmente indesejado.

O Comitê de Política Monetária (Copom) dobrou-se à pressão do governo, fez uma aposta arriscada, baseada em avaliações extremadas da crise externa, comprometeu sua credibilidade e rifou seu compromisso com a estabilidade da moeda.

Sem medo de errar, é possível afirmar que ninguém esperava que o Copom decidisse cortar a Selic em meio ponto percentual na reunião desta semana. Depois de aumentar 1,75 ponto desde o início do ano, a taxa básica foi reduzida ontem a 12% ao ano.

Foi a primeira queda em mais de dois anos - a última ocorrera na reunião de 10 de junho de 2009.

Nunca o BC fizera mudança tão brusca de trajetória. A autoridade monetária brasileira sempre adotou uma estratégia gradualista, ou seja, os ajustes e as alterações de rumo nas taxas básicas de juros sempre foram feitas de maneira suave.

Com o corte abrupto, após a escalada firme da taxa, fica difícil antever os próximos movimentos dos juros. Numa situação assim instável, coordenar as expectativa dos agentes econômicos e fazê-los crer no compromisso do BC com uma inflação menor no futuro torna-se quase impossível.
O risco é de descontrole dos preços.

"Um BC que faz cinco elevações de taxa, no total de 1,75%, e depois, repentinamente, baixa em meio ponto passa a ideia de que está perdido. Ou sofrendo pressão. Ou ambos. (...)

Ao fazer isso, o BC prova que se rendeu às pressões e está disposto a aceitar um pouco mais de inflação", critica Miriam Leitão n'O Globo.

No extenso comunicado divulgado após a reunião, o BC diz que a crise externa será muito mais intensa e atingirá o país de maneira muito mais severa do que os demais mortais conseguem perceber.

Também fia-se na "revisão do cenário para a política fiscal". Com base nisso, o BC acha que a inflação cairá e que, portanto, não há necessidade de deixar os juros tão altos

Primeiro, ninguém sabe ao certo como será o comportamento das economias americana e europeias, mais atingidas pela crise econômica.
Nem eles mesmos.

Segundo, até agora os impactos no Brasil têm sido moderados e não autorizam prever quedas significativas nos preços e desaceleração robusta da atividade econômica suficientes para frear a inflação.

"Quem contar com a crise externa para isso [a queda da inflação] corre sério risco de se decepcionar", avisa Alexandre Schwartsman no Valor Econômico.

Terceiro, e o mais grave de tudo, a inflação não está diante de um cenário "mais favorável", como prefere ver o BC.


No acumulado em 12 meses, o IPCA está em 6,87%, acima do teto da meta estipulada para este ano e a léguas de distância do seu centro (4,5%), que no Brasil de hoje tornou-se uma miragem.

A inflação dos serviços está em patamar ainda mais elevado, aproximando-se de 9% acumulados em 12 meses. As cotações das commodities, em cujo arrefecimento o BC aposta, também não param de aumentar: segundo a MB Agro, um índice baseado nos preços de soja,
milho,
trigo,
açúcar,
algodão,
café,
aves,
carnes bovina e suína,
feijão e arroz subiu nada menos que 8% em pouco mais de um mês desde a reunião anterior do Copom.

Em quarto lugar, a confiança expressa pelo BC na austeridade fiscal do governo Dilma Rousseff não encontra eco na realidade e na prática da equipe econômica. Ontem, o Orçamento Geral da União para 2012 foi enviado ao Congresso e, ao contrário da profissão de fé manifestada pela Fazenda no início da semana, prevê menor rigor fiscal para o ano que vem.

A meta de superávit primário - R$ 114,2 bilhões - foi fixada em valor menor do que o prometido para este ano - R$ 127,9 bilhões. As despesas crescerão mais que as receitas e também mais do que o PIB.

Os gastos serão afrouxados.
Na contramão do desejável em termos fiscais, os investimentos cairão em 2012.

"O discurso a favor de uma política fiscal mais sólida fez crer que a peça orçamentária seria mais realista e elaborada na perspectiva de contenção das despesas. Não foi", analisa Ribamar Oliveira no (Valor Econômico)

Todos os dados "técnicos" não são, portanto, suficientes para justificar a decisão do BC de cortar a Selic. As edições de hoje dos jornais são unânimes em afirmar que os juros caíram ontem por pressão do Planalto, à qual o Copom cedeu.

"Dilma está convencida de que a inflação vai ceder com o quadro de recessão global e que, por isso, o BC deveria se antecipar. Essa pressão foi fundamental para a mudança de rumo", sustenta O Globo.

A decisão de ontem configura uma ruptura radical, que reduz a previsibilidade da política monetária e aumenta as incertezas. O BC abriu mão de manejar autonomamente seu canhão de contenção da inflação, confiando num cenário impreciso.

Fiou-se em compromissos fiscais que, no mesmo momento em que a deliberação do Copom estava sendo tomada, já eram página virada na vida do governo. Preferiu brincar com o fogo da inflação.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela