"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

fevereiro 06, 2015

Partido dos Trambiques, 35 Anos‏

As novas revelações da Operação Lava Jato sugerem que o PT pode ter reincidido nos mesmos crimes confessados por Duda Mendonça quando flagrado na CPI dos Correios

O partido do mensalão e do petrolão comemora hoje seus 35 anos de fundação. Não será surpresa se a celebração de aniversário estiver sendo paga com parte do meio bilhão de reais recebidos como propina pelos petistas ao longo dos últimos dez anos. Assim é a festa do PT desde que chegou ao poder: bancada com dinheiro sujo.

A revelação de que US$ 200 milhões podem ter sido desviados de contratos da Petrobras para as contas do PT faz parte de uma espécie de linha evolutiva do partido. Tudo começou com licitações de ônibus e lixo quando os petistas só haviam conseguido governar municípios e, após a conquista do poder federal, foi ganhando proporção.

Desde a Land Rover de Silvio Pereira à dinheirama em profusão que a Polícia Federal e o Ministério Público desvendam agora, o que mudou foi a dimensão: o carro custava alguns milhares de reais e hoje só se fala em bilhões de dólares. Os negócios à sombra do poder prosperaram e os cofres do partido encheram.

As campanhas eleitorais petistas ilustram o enriquecimento. Quando Lula foi eleito, em 2002, o partido gastou R$ 21 milhões. Na reeleição dele, já com o poder à disposição, foram R$ 85 milhões, valor que chegou a R$ 350 milhões no ano passado, o dobro da primeira vitória de Dilma Rousseff. Parece bem claro o nexo causal entre as novas revelações da Operação Lava Jato e a escalada. Ou não?

Desde a chegada do PT ao poder, o pagamento de propinas dentro da maior empresa brasileira tornou-se "algo endêmico e institucionalizado", segundo a delação feita por Pedro José Barusco. No centro das operações estava João Vaccari Neto, o tesoureiro que substituiu o hoje presidiário Delúbio Soares na função de arrecadador do partido.

O mesmo Vaccari já se meteu em desvios que lesaram mais de 3 mil mutuários do Bancoop em até R$ 170 milhões, quando era presidente do sindicato dos bancários de São Paulo. O mesmo Vaccari esteve na coordenação da primeira campanha de Dilma e até 15 dias atrás tinha assento no conselho de administração de outra gigante estatal, a Itaipu Binacional. Que funções ele cumpria lá?

As novas revelações da nona fase da Operação Lava Jato sugerem que o PT pode ter sido reincidente nos mesmos crimes confessados por Duda Mendonça quando flagrado na CPI dos Correios, em 2005: lavagem de dinheiro, crimes de ordem tributária e, sobretudo, eleitoral, pela suspeita de terem financiado as últimas campanhas petistas.

Assombra que, diante de tamanho descalabro, a presidente da República tenha buscado uma solução para a Petrobras para "agradar e não ferir suscetibilidades do PT", enquanto os petistas hipotecam solidariedade e prometem desagravo a Vaccari, porque ele "nunca pôs dinheiro no bolso". Com tanta desfaçatez, o Partido dos Trabalhadores deveria aproveitar a festa de hoje e rebatizar-se. Fica uma sugestão: 
Partido dos Trambiques.

Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

GAMBÁ CHEIRA GAMBÁ ! Aldemir Bendine, do Banco do Brasil, vai assumir a presidência da Petrobrás


O atual presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, vai assumir o comando da Petrobrás no lugar de Graça Foster, que renunciou ao cargo em meio ao desgaste provocado pelas denúncias de corrupção investigada pela Operação Lava Jato. Segundo fontes do governo, esta foi a solução encontrada para tentar estancar a crise da empresa.

Após surgirem especulações sobre a indicação de Bendine, as ações da Petrobrás voltaram a registrar queda na manhã desta sexta-feira, 6. O Conselho de Administração da empresa está reunido nesta manhã em São Paulo para definir a composição da nova diretoria da estatal. A expectativa é que a Petrobrás anuncie oficialmente os nomes apenas no fim da tarde, após o fechamento dos mercados.

Bendine é presidente do BB desde abril de 2009, antes mesmo do início do governo Dilma e é nome de confiança do ex-presidente Lula. No fim de outubro, reportagem do jornal Folha de S. Paulo revelou que o Banco do Brasil aprovou concessão de crédito no empréstimo de R$ 2,7 milhões feito para a apresentadora de TV e socialite Val Marchiori. De acordo com a publicação, a empresária é amiga de Aldemir Bendine. Por meio de nota, o banco informou não haver ilegalidade na operação.

O Planalto teve menos de 48 horas para escolher o novo presidente da estatal, depois de Graça Foster e outros cinco diretores formalizarem o pedido de renúncia dos cargos, na quarta-feira, 4. A presidente Dilma Rousseff já havia sinalizado a troca atual diretoria, mas a troca só ocorreria após a aprovação do valor perdido em razão dos desvios na estatal. A companhia divulgou o último balanço financeiro sem essa informação.

Além de Bendine para a presidência, o governo decidiu também transferir para a diretoria Financeira da estatal o atual vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores do Banco do Brasil, Ivan de Souza Monteiro. Dilma dará a Bendine, que está neste momento em São Paulo, liberdade para escolher o restante da equipe. O vice-presidente de negócios de varejo do Banco do Brasil, Alexandre Corrêa Abreu, vai assumir a presidência da instituição.

Murilo Rodrigues Alves - O Estado de S. Paulo