"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 04, 2012

HORA DE MUDAR

O péssimo resultado do PIB brasileiro no primeiro trimestre do ano produziu uma rara convergência de avaliações sobre a gestão da economia no governo Dilma Rousseff:
o caminho perseguido até agora está equivocado, não está produzindo resultados positivos e precisa ser mudado. É hora de humildade para redirecionar o rumo e evitar o pior.

Os dados do IBGE mostraram que a alternativa de levantar o PIB por meio da expansão do consumo, definitivamente, deixou de funcionar. A demanda das famílias ainda cresce, mas num ritmo incapaz de contrabalançar a anemia de outras áreas, principalmente os investimentos - tanto os públicos, quanto os privados.

Há anos ouvem-se clamores para que o governo realize os investimentos necessários para melhorar as condições de competitividade do país. Há anos o que se vê, como resposta, é um desempenho medíocre das gestões petistas neste quesito. Foi assim com Lula, continua sendo assim com Dilma.

Neste ano, os investimentos federais correspondem a 0,9% do PIB, menos que o registrado em 2010 (1,2%) e em 2011 (1%). Especificamente em infraestrutura, investe-se hoje menos que na década de 80 - aquela que era chamada de "perdida" até pouco tempo atrás:
segundo a OCDE, são 0,4% do nosso PIB, menos da metade da média mundial.

A crítica situação atual dos investimentos representa uma espécie de acerto de contas com os descalabros em série produzidos ao longo de toda a era petista. O Estado não apenas não fez a sua parte, como também erodiu as condições para que os empreendedores privados fossem adiante.

As condições de concorrência se deterioraram com o aumento da intervenção estatal nas condições de mercado, marca dos governos petistas. Com os vencedores sendo escolhidos nos gabinetes brasilienses, investir para produzir mais tornou-se temerário.

Ao mesmo tempo, a estrutura regulatória - tão cuidadosamente erigida na era Fernando Henrique Cardoso - foi sendo, dia após dia, implodida. Em toda e qualquer área, passou a imperar a discricionariedade e o interesse político-partidário. Quem se aventura a investir num ambiente assim?

Estímulos ao investimento privado jamais foram adotados. As parcerias público-privadas continuam engavetadas. Concessões e privatizações demoraram anos para serem retomadas, levando nossa infraestrutura literalmente para o buraco. Com tanto desincentivo, não é surpresa que seja tão difícil acreditar na decolagem do Brasil.

Mais alguns números servem para ilustrar a marcha à ré. Os investimentos em infraestrutura viária feitos neste ano até agora representam apenas metade do que foi aplicado no mesmo período de 2011. O Dnit está paralisado, com 55% da malha rodoviária nacional, ou 33 mil quilômetros de estradas, sem contratos de manutenção e recuperação, como mostra hoje o Valor Econômico em manchete.

Outro exemplo: por absoluta incompetência gerencial, o governo não consegue concluir uma das mais importantes obras logísticas do país, a ferrovia Norte-Sul. A estatal Valec deixou vencer contratos com empreiteiras e a obra só ficará pronta no ano que vem, prolongando sobrecustos de transporte que chegam a R$ 12 bilhões ao ano, informou a Folha de S.Paulo ontem.

Para piorar, as intenções de investimento nos próximos quatro anos já diminuíram R$ 35 bilhões, segundo O Estado de S.Paulo. As maiores quedas são em siderurgia, celulose, petroquímica e eletroeletrônicos. Neste ano, os gastos em máquinas e equipamentos - ou seja, em modernização e aumento de produção - devem cair 11%, de acordo com a Fiesp.

Se os empresários brasileiros tiraram o pé do acelerador, os estrangeiros pisaram fundo no freio: investimentos em carteira caíram de US$ 17,4 bilhões no primeiro quadrimestre de 2011 para apenas US$ 3,2 bilhões neste ano. O encantamento e a euforia com o país "não existem mais", como atestam até aliados importantes do petismo, como o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.

Diante desta avalanche negativa, as expectativas estão convergindo pesadamente para baixo. Há pouco, o BC divulgou que a previsão para o PIB deste ano afundou para 2,72%. Foi a quarta queda seguida de um prognóstico que não costuma ser alterado tão bruscamente em tão curto espaço de tempo pelos analistas - há um mês, estava em 3,23%.

Os resultados do primeiro trimestre do ano não são um ponto fora da curva; o país atravessa um claro momento de estagnação - para se ter ideia, entre 24 economias emergentes, estamos apenas em 15° lugar no ranking do crescimento pós-2009. Para este ano, uma expansão de 2,5% passou a ser tida, majoritariamente, como teto para nosso PIB.

Passou da hora de recuperar uma agenda de reformas voltada a dar melhores condições de competitividade à economia brasileira, impulsionando tanto o investimento público quanto o privado.

Há uma lista enorme de medidas modernizantes clamando para ser implementada. A política do puxadinho, com benesses esparsas, favores dirigidos, incentivos desconexos, falhou, e só o PT não vê.


Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Hora de mudar

Degraus de ilusão : "FALTA DE INFORAMAÇÃO ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO"

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Fala-se muito na ascensão das classes menos favorecidas, formando uma "nova classe média", realizada por degraus que levam a outro patamar social e econômico (cultural, não ouço falar). Em teoria, seria um grande passo para reduzir a catastrófica desigualdade que aqui reina.

Porém receio que, do modo como está se realizando, seja uma ilusão que pode acabar em sérios problemas para quem mereceria coisa melhor. Todos desejam uma vida digna para os despossuídos, boa escolaridade para os iletrados, serviços públicos ótimos para a população inteira, isto é,
educação,
saúde,
transporte,
energia elétrica,
segurança,
água, e tudo de que precisam cidadãos decentes.

Porém, o que vejo são multidões consumindo, estimuladas a consumir como se isso constituísse um bem em si e promovesse real crescimento do país. Compramos com os juros mais altos do mundo, pagamos os impostos mais altos do mundo e temos os serviços (saúde, comunicação, energia, transportes e outros) entre os piores do mundo.

Mas palavras de ordem nos impelem a comprar, autoridades nos pedem para consumir, somos convocados a adquirir o supérfluo, até o danoso, como botar mais carros em nossas ruas atravancadas ou em nossas péssimas estradas.

Além disso, a inadimplência cresce de maneira preocupante, levando famílias que compraram seu carrinho a não ter como pagar a gasolina para tirar seu novo tesouro do pátio no fim de semana.
Tesouro esse que logo vão perder, pois há meses não conseguem pagar as prestações, que ainda se estendem por anos.

Estamos enforcados em dívidas impagáveis, mas nos convidam a gastar ainda mais, de maneira impiedosa, até cruel. Em lugar de instruírem, esclarecerem, formarem uma opinião sensata e positiva, tomam novas medidas para que esse consumo insensato continue crescendo – e, como somos alienados e pouco informados, tocamos a comprar.

Sou de uma classe média em que a gente crescia com quatro ensinamentos básicos: ter seu diploma, ter sua casinha, ter sua poupança e trabalhar firme para manter e, quem sabe, expandir isso. Para garantir uma velhice independente de ajuda de filhos ou de estranhos; para deixar aos filhos algo com que pudessem começar a própria vida com dignidade.

Tais ensinamentos parecem abolidos, ultrapassadas a prudência e a cautela, pouco estimulados o desejo de crescimento firme e a construção de uma vida mais segura. Pois tudo é uma construção: a vida pessoal, a profissão, os ganhos, as relações de amor e amizade, a família, a velhice (naturalmente tudo isso sujeito a fatalidades como doença e outras, que ninguém controla).

Mas, mesmo em tempos de fatalidade, ter um pouco de economia, ter uma casinha, ter um diploma, ter objetivos certamente ajuda a enfrentar seja o que for. Podemos ser derrotados, mas não estaremos jogados na cova dos leões do destino, totalmente desarmados.

Somos uma sociedade alçada na maré do consumo compulsivo, interessada em "aproveitar a vida", seja o que isso for, e em adquirir mais e mais coisas, mesmo que inúteis, quando deveríamos estar cuidando, com muito afinco e seriedade, de melhores escolas e universidades, tecnologia mais avançada, transportes muito mais eficientes, saúde excelente, e verdadeiro crescimento do país.

Mas corremos atrás de tanta conversa vã, não protegidos, mas embaixo de peneiras com grandes furos, que só um cego ou um grande tolo não vê.

A mais forte raiz de tantos dos nossos males é a falta de informação e orientação, isto é, de educação. E o melhor remédio é investir fortemente, abundantemente, decididamente, em educação:
impossível repetir isso em demasia. Mas não vejo isso como nossa prioridade.

Fosse o contrário, estaríamos atentos aos nossos gastos e aquisições, mais interessados num crescimento real e sensato do que em itens desnecessários em tempos de crise. Isso não é subir de classe social:
é saracotear diante de uma perigosa ladeira.

Não tenho ilusão de que algo mude, mas deixo aqui meu quase solitário (e antiquado) protesto.

Lya Luft Veja

Clima de juízo final

Não há figura relevante no Brasil de hoje que não esteja sendo julgada

A proximidade do encerramento do processo do mensalão, considerado por muitos o "julgamento do século", criou uma situação inédita e inusitada no Brasil. Não há figura relevante no País que não esteja sendo julgada pela sociedade.

A começar pelos próprios ministros do Supremo Tribunal Federal. Será que o ministro Ricardo Lewandowski, ao não apresentar seu relatório, joga deliberadamente pela prescrição dos crimes?

Será que José Antônio Dias Toffoli, que já advogou para o PT, terá isenção para participar do julgamento? Será que Gilmar Mendes, com a sua notória compulsão pelo microfone, não estaria falando demais? E assim por diante.


E, se não bastasse o mensalão, há ainda a CPI do caso Cachoeira, que já tem dois governadores convocados: o tucano Marconi Perillo, que terá que explicar a venda de sua casa, e o petista Agnelo Queiroz, que falará dos contatos de assessores com pessoas ligadas à construtora Delta. Mas não são apenas eles.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também pode vir a ser alvo de uma ação por crime de responsabilidade.
E até mesmo o advogado mais caro do País, Márcio Thomaz Bastos, vem sendo questionado por estar recebendo R$ 15 milhões de um contraventor.


São tantos "réus", no Executivo, no Judiciário, no Legislativo e na advocacia, que quem deve estar rindo à toa diante de tudo isso é o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Quase ninguém fala dos seus crimes, que, ao que tudo indica, não são poucos.

Há tantos pecadores espalhados por aí que um dos mais notórios, o senador Demóstenes Torres, desandou a falar de Deus e de sua fé no dia do depoimento no Conselho de Ética. Parecia uma freira no convento.


Ao que dizem, no fim dos tempos, no grande Armagedom, o filho de Deus voltará à Terra para julgar "os vivos e os mortos".
Será que esse dia do juízo final já chegou e ainda não fomos avisados?

Leonardo Attuch Isto é

O OUTRO LADO DA ESPLANADA DO brasil maravilha .

Aos 30 anos de idade, Kleber Marques do Nascimento trabalha duro para manter o padrão de vida. Pai de três meninas e com um enteado, o brasiliense serve café e água durante o dia na Esplanada dos Ministérios e, à noite, é vigia de uma mansão no Lago Sul.

Ele só tem descanso a cada 24 horas, quando dedica o tempo para buscar os filhos na escola e realizar atividades com as crianças. Em alguns fins de semana, ainda faz bico para complementar a renda de R$ 2 mil.

Morador do Paranoá, Nascimento é uma prova de que, muito além do seleto grupo de autoridades que embolsa salários acima do teto constitucional, de R$ 26,7 mil, a Esplanada é formada de pessoas que acordam de madrugada e dedicam a sua vida para conseguir viver com dignidade.

Em sua maioria terceirizados, esses trabalhadores andam pelos mesmos corredores em que circulam ministros, secretários de estados, juízes, desembargadores e diretores de estatais. No entanto, por causa do troca troca das empresas fornecedoras de serviços, muitas vezes, eles não têm recebido sequer o que lhes é garantido pela Constituição.

Enfrentam atraso dos salários, do 13º e das férias. Pior do que isso, quando a empresa desaparece sem honrar contratos, ficam sem as verbas rescisórias e sem os depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Nascimento, embora tenha hoje seus salários pagos em dia, está há cinco anos sem férias por causa do entra e sai das firmas. Além disso, aguarda na Justiça uma causa no valor aproximado de R$ 14 mil, referente a uma dívida de uma empresa que fechou as portas e deu o calote nos empregados. "A boa notícia é que terei férias em novembro", comemora. A rotina é cheia de desafios.

"De dia, ando muito nos corredores do prédio e, à noite, brigo com o sono. Mas vejo que tudo vale a pena quando a minha caçula, de 3 anos, me liga e pergunta se vou para casa naquele dia", diz.

So-ho

A auxiliar de serviços gerais Carla Nunes de Paula, 27, acorda às 4h30. Moradora de Taguatinga, para chegar à Esplanada antes das 7h, horário em que precisa bater o ponto, ela pega o ônibus das 5h40. Desce na W3 Sul, vai a pé até a Rodoviária do Plano Piloto e pega o transporte da empresa até o Ministério do Exército.

Há dois anos e três meses na função e com salário de R$ 738, Carla precisou trancar a faculdade de administração porque não conseguia pagar as mensalidades.


O tíquete-alimentação, no valor de R$ 350, ajuda nas despesas de casa. Agora, quer retomar os estudos, mas ainda não sabe como. "Meu sonho mesmo é fazer pedagogia e dar aula para as crianças. Mas emprego hoje não está fácil", diz.

Carla também está na Justiça para receber cerca de R$ 10 mil de uma terceirizada.
Quando estava sem receber os salários em dia, fez um empréstimo consignado, com desconto na folha de pagamento. Ela reclama que a firma descontou os valores do contracheque, mas não repassou para o banco. Agora, ela precisa pagar uma dívida de R$ 3 mil.

Diante de tudo isso, os salários de até R$ 50 mil recebidos por autoridades, incluindo participações em conselhos administrativos e fiscais de estatais, os chamados jetons, são uma realidade muito distante.
"É vergonhoso", considera.


CRISTIANE BONFANTI Correio Braziliense

Que país é este?


Vou lançar mão como título deste artigo, dessa expressão bem conhecida dos brasileiros, e muito usada quando indignados e perplexos com fatos sucedidos em nossa nação, perguntamo-nos a nós mesmos:
"Que país é este?"

Dias atrás, proferiu uma palestra na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), um dos maiores especialistas internacionais em política industrial, o sul-coreano Ha-Joon Chang, professor de economia da Universidade de Cambridge na Inglaterra. Sendo ele um profundo conhecedor das políticas públicas e dos ambientes de negócio nos mais variados países do mundo, apresentou aos empresários brasileiros uma visão comparativa nas últimas décadas do desempenho econômico e social entre diversas economias desenvolvidas e em desenvolvimento.

Para nossa tristeza, mas sem nenhuma surpresa, verifica-se como o Brasil perdeu e continua perdendo posição em relação a vários outros países emergentes, especialmente asiáticos, que têm praticado a correta política de estimular investimentos e seus empreendedores. Lá não hesitam em publicamente prestigiar os empreendedores, aqueles que se lançam ao risco de criar riqueza, empregos, renda, valor adicionado, inovação tecnológica, em troca do reconhecimento material e institucional para seu empreendimento.

Recentemente em reunião com um seleto grupo de empresários no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff lançou mão de uma outra famosa expressão cunhada nos anos 30 pelo famoso economista inglês John Maynard Keynes sobre a necessidade de "despertar o espírito animal" dos empreendedores brasileiros, para que invistam mais, criem mais empresas e empregos no país, única forma de promover o verdadeiro e sustentável desenvolvimento econômico e social que tanto desejamos.

Pois bem, foi exatamente por meio do estímulo a esse espírito empreendedor que nações como a Coreia do Sul, que até os anos 70 apresentavam uma renda per capita menor que a brasileira, hoje tem mais que o dobro da nossa, e suas empresas multinacionais, seus carros, produtos eletrônicos e equipamentos industriais se encontram espalhados pelos quatro cantos do mundo.

Seremos capazes de mudar o hostil ambiente de negócios e promover um crescimento de forma sustentável?

Sabedor da potencialidade de nossa economia, da qualidade de nossos empreendedores, da abundante disponibilidade dos fatores de produção (recursos naturais, mão de obra, energia, etc.), e da dimensão de nosso mercado interno, pergunta o professor Chang, por que o Brasil continua sendo eternamente o país do futuro?

Diplomático, foi discreto nas críticas aos equívocos de nossa política econômica nos últimos 30 a 40 anos, mas despertou em nós, empresários, o saudável sentimento da autocrítica que nos leva então a perguntar:

Que país é este que pratica já por mais de 15 anos os juros mais altos do mundo mesmo estando sua economia hoje em dia classificada em grau de investimento e com razoável estabilidade política e econômica?

Que país é este no qual a taxa de câmbio apreciada sufoca a competitividade das indústrias, e leva sua economia a um precoce e acelerado processo de desindustrialização?

Que país é este na qual a excessiva carga tributária e a péssima estrutura de tributos e impostos, resultam num ambiente de permanente litígio entre o fisco e os contribuintes, além de um ambiente de insegurança jurídica, por conta das frequentes mudanças de leis, normas, e regras?

Que país é este onde a Justiça demora mais de uma década para concluir o julgamento de um processo, e que em muitas vezes sem o menor critério, determina em primeira instância a desconsideração da pessoa jurídica litigante e permite a penhora de bens de pessoas físicas e jurídicas que remotamente tem a ver com a dívida fiscal, trabalhista, ou financeira em questão?

Que país é este no qual governadores eleitos pelo povo, defendem publicamente incentivos tributários inconstitucionais às importações por meio de seus Estados, mesmo sabendo que, por conta dessa ganância fiscal, estarão levando a eliminação de empresas e empregos industriais nos seus Estados vizinhos?

Que país é este que mais pune do que incentiva as atividades de exportação, inovação tecnológica e de investimento produtivo, pois tributa o investimento na origem, ao invés de estimulá-lo com isenções e facilidades, que reconhece o resíduo tributário nas exportações, mas pouco ou nada faz para ressarcir aos exportadores os créditos tributários acumulados ao longo da cadeia produtiva exportadora?

Que país é este que, apesar de ser hoje em dia uma das maiores economias do planeta, ainda oferece um baixíssimo nível de escolaridade à sua população, e no qual 40% de suas residências ainda não têm acesso aos serviços de saneamento básico de água e esgoto?

Muitas outras perguntas da mesma espécie poderiam ser formuladas caso o espaço permitisse, mas poderíamos responder a todas elas com a mesma decepção:
este país infelizmente é o Brasil. Seremos nós capazes de mudar a curto prazo esse hostil ambiente de negócios e assim promover nosso crescimento econômico de forma saudável e sustentável?

Cabe a cada um de nós, responsáveis pela parte e pelo todo do que fazemos no dia a dia, responder a esta última pergunta. A próxima geração de brasileiros poderia não mais pertencer ao país do futuro, mas sim ao país do presente.

Roberto Giannetti da Fonseca é economista e empresário, presidente da Kaduna Consultoria e diretor-titular de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Eleições, CPI e IPI

Lula planejava chegar a esta largada eleitoral como um belo carro de luxo vermelho: imponente, veloz, sem problemas, fosse na parte mecânica ou elétrica, com todos os opcionais em dia. Pode até ser que mais à frente melhore.

Mas a saída da garagem se mostra desastrosa.
O motor não responde a contento. Para completar, o combustível parece adulterado pela CPI e pela proximidade da votação do caso do mensalão. E vem aí um corrosivo: a parte da indústria que se sente injustiçada por pagar a conta dos benefícios a setores alavancados para fermentar o

Produto Interno Bruto.

No caso da indústria, o setor de bebidas frias — água, refrigerante e cerveja — sente-se injustiçado. Em reuniões recentes com setores do Ministério da Fazenda, seus representantes perguntam em que a importância do trabalho de um funcionário de uma fábrica de água mineral ou de cerveja difere do daqueles que prestam serviços numa montadora de automóveis. Afinal, também se sentem partícipes do PIB nacional e da geração de empregos.
Mas foram escolhidos para ajudar a pagar a conta dos benefícios à indústria automobilística enquanto o governo continua batendo recordes de arrecadação.

Num piscar de olhos, essa área viu ainda o fim da redução de 50% do IPI para bebidas frias que usam suco natural em suas fórmulas, o que afetará os produtores de frutas, como laranja e limão. Esses agricultores têm dificuldades em exportar por causa da proteção que países como os Estados Unidos promovem à própria indústria.

E agora correm o sério risco de perder um parceiro de peso no mercado interno: as fábricas de refrigerantes. Ou seja, em pleno ano eleitoral, 15 setores ficaram felizes com o governo, mas outros ramos empresariais mal conseguem ouvir o ronco do carro vermelho do PT desfilando por aí.

Por falar em eleição...

Nessa seara, o motor de Lula ainda não mostrou sua potência nesta temporada. Em São Paulo, o ex-presidente promoveu um "engavetamento" nas pré-candidaturas petistas, de forma a deixar a avenida livre para Fernando Haddad. Mas até agora não houve qualquer manobra que fizesse o candidato trafegar em grande estilo.

A festa promovida no último sábado para homologar a candidatura de Haddad tinha sido projetada para ser o ponto alto da integração de todo o partido à campanha. Surtiu o efeito inverso. A notícia ali foi a ausência da senadora Marta Suplicy (PT-SP), a preterida; e a presença de José Dirceu, sempre prestigiado internamente, mas percebido externamente como um dos réus mais vistosos do processo do mensalão.

A mais popular figura do PT detentora de mandato, a presidente Dilma, não compareceu. Sinal de que pretende respeitar a tal neutralidade prometida aos aliados.

Por falar em Dilma...

Ela, no momento, tem uma série de assuntos mais urgentes do que alavancar Haddad. Precisa cuidar do setor de energia, onde há sinais de problemas para investir — a Petrobras mesmo está a um passo de propor reduções. A presidente terá em breve os produtores de frutas e refrigerantes a lhe procurar.

E, por tabela, ainda vem a CPI que, na visão do governo e do PT, estava programada para se restringir aos negócios da contravenção de Carlos Cachoeira em Goiás. Em vez de ficar nesse cercadinho, a comissão começa a girar o volante em direção às obras do PAC.

Não que Dilma esteja preocupada com seu governo. Sabe que tem apoio popular e não há dúvidas sobre a imagem da presidente que luta contra malfeitos. Mas uma CPI sempre desgasta, senão a presidente, o seu partido. Ainda mais quando surge o ex-comandante do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antonio Pagot anunciando que tem muito a dizer à CPI.

Em entrevista à revista Istoé, Pagot faz uma "degustação", insinuando caixa dois na campanha de José Serra em 2010 e ainda tráfico de influência na arrecadação da campanha de Dilma Rousseff.
Pagot, no mínimo, se compromete ao dizer que se reuniu no Dnit com o tesoureiro do PT para tratar de empresas que poderiam doar dinheiro à campanha de Dilma.

Basta cruzar as doações de empresas detentoras de contratos com o Dnit e suas doações de campanha para averiguar se Pagot fala a verdade. Se ficar comprovada a veracidade das declarações, será mais um fator para desestabilizar o carro eleitoral de Lula este ano. CPI, mensalão, economia em situação preocupante...

Embolou tudo.
E nesse cenário, difícil é manter o carro na pista, sem derrapagens.

Denise Rothenburg Correio Braziliense