Lula planejava chegar a esta largada eleitoral como um belo carro de luxo vermelho: imponente, veloz, sem problemas, fosse na parte mecânica ou elétrica, com todos os opcionais em dia. Pode até ser que mais à frente melhore.
Mas a saída da garagem se mostra desastrosa.
O motor não responde a contento. Para completar, o combustível parece adulterado pela CPI e pela proximidade da votação do caso do mensalão. E vem aí um corrosivo: a parte da indústria que se sente injustiçada por pagar a conta dos benefícios a setores alavancados para fermentar o
Produto Interno Bruto.
No caso da indústria, o setor de bebidas frias — água, refrigerante e cerveja — sente-se injustiçado. Em reuniões recentes com setores do Ministério da Fazenda, seus representantes perguntam em que a importância do trabalho de um funcionário de uma fábrica de água mineral ou de cerveja difere do daqueles que prestam serviços numa montadora de automóveis. Afinal, também se sentem partícipes do PIB nacional e da geração de empregos.
Mas foram escolhidos para ajudar a pagar a conta dos benefícios à indústria automobilística enquanto o governo continua batendo recordes de arrecadação.
Num piscar de olhos, essa área viu ainda o fim da redução de 50% do IPI para bebidas frias que usam suco natural em suas fórmulas, o que afetará os produtores de frutas, como laranja e limão. Esses agricultores têm dificuldades em exportar por causa da proteção que países como os Estados Unidos promovem à própria indústria.
E agora correm o sério risco de perder um parceiro de peso no mercado interno: as fábricas de refrigerantes. Ou seja, em pleno ano eleitoral, 15 setores ficaram felizes com o governo, mas outros ramos empresariais mal conseguem ouvir o ronco do carro vermelho do PT desfilando por aí.
Por falar em eleição...
Nessa seara, o motor de Lula ainda não mostrou sua potência nesta temporada. Em São Paulo, o ex-presidente promoveu um "engavetamento" nas pré-candidaturas petistas, de forma a deixar a avenida livre para Fernando Haddad. Mas até agora não houve qualquer manobra que fizesse o candidato trafegar em grande estilo.
A festa promovida no último sábado para homologar a candidatura de Haddad tinha sido projetada para ser o ponto alto da integração de todo o partido à campanha. Surtiu o efeito inverso. A notícia ali foi a ausência da senadora Marta Suplicy (PT-SP), a preterida; e a presença de José Dirceu, sempre prestigiado internamente, mas percebido externamente como um dos réus mais vistosos do processo do mensalão.
A mais popular figura do PT detentora de mandato, a presidente Dilma, não compareceu. Sinal de que pretende respeitar a tal neutralidade prometida aos aliados.
Por falar em Dilma...
Ela, no momento, tem uma série de assuntos mais urgentes do que alavancar Haddad. Precisa cuidar do setor de energia, onde há sinais de problemas para investir — a Petrobras mesmo está a um passo de propor reduções. A presidente terá em breve os produtores de frutas e refrigerantes a lhe procurar.
E, por tabela, ainda vem a CPI que, na visão do governo e do PT, estava programada para se restringir aos negócios da contravenção de Carlos Cachoeira em Goiás. Em vez de ficar nesse cercadinho, a comissão começa a girar o volante em direção às obras do PAC.
Não que Dilma esteja preocupada com seu governo. Sabe que tem apoio popular e não há dúvidas sobre a imagem da presidente que luta contra malfeitos. Mas uma CPI sempre desgasta, senão a presidente, o seu partido. Ainda mais quando surge o ex-comandante do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antonio Pagot anunciando que tem muito a dizer à CPI.
Em entrevista à revista Istoé, Pagot faz uma "degustação", insinuando caixa dois na campanha de José Serra em 2010 e ainda tráfico de influência na arrecadação da campanha de Dilma Rousseff.
Pagot, no mínimo, se compromete ao dizer que se reuniu no Dnit com o tesoureiro do PT para tratar de empresas que poderiam doar dinheiro à campanha de Dilma.
Basta cruzar as doações de empresas detentoras de contratos com o Dnit e suas doações de campanha para averiguar se Pagot fala a verdade. Se ficar comprovada a veracidade das declarações, será mais um fator para desestabilizar o carro eleitoral de Lula este ano. CPI, mensalão, economia em situação preocupante...
Embolou tudo.
E nesse cenário, difícil é manter o carro na pista, sem derrapagens.
Denise Rothenburg Correio Braziliense
Mas a saída da garagem se mostra desastrosa.
O motor não responde a contento. Para completar, o combustível parece adulterado pela CPI e pela proximidade da votação do caso do mensalão. E vem aí um corrosivo: a parte da indústria que se sente injustiçada por pagar a conta dos benefícios a setores alavancados para fermentar o
Produto Interno Bruto.
No caso da indústria, o setor de bebidas frias — água, refrigerante e cerveja — sente-se injustiçado. Em reuniões recentes com setores do Ministério da Fazenda, seus representantes perguntam em que a importância do trabalho de um funcionário de uma fábrica de água mineral ou de cerveja difere do daqueles que prestam serviços numa montadora de automóveis. Afinal, também se sentem partícipes do PIB nacional e da geração de empregos.
Mas foram escolhidos para ajudar a pagar a conta dos benefícios à indústria automobilística enquanto o governo continua batendo recordes de arrecadação.
Num piscar de olhos, essa área viu ainda o fim da redução de 50% do IPI para bebidas frias que usam suco natural em suas fórmulas, o que afetará os produtores de frutas, como laranja e limão. Esses agricultores têm dificuldades em exportar por causa da proteção que países como os Estados Unidos promovem à própria indústria.
E agora correm o sério risco de perder um parceiro de peso no mercado interno: as fábricas de refrigerantes. Ou seja, em pleno ano eleitoral, 15 setores ficaram felizes com o governo, mas outros ramos empresariais mal conseguem ouvir o ronco do carro vermelho do PT desfilando por aí.
Por falar em eleição...
Nessa seara, o motor de Lula ainda não mostrou sua potência nesta temporada. Em São Paulo, o ex-presidente promoveu um "engavetamento" nas pré-candidaturas petistas, de forma a deixar a avenida livre para Fernando Haddad. Mas até agora não houve qualquer manobra que fizesse o candidato trafegar em grande estilo.
A festa promovida no último sábado para homologar a candidatura de Haddad tinha sido projetada para ser o ponto alto da integração de todo o partido à campanha. Surtiu o efeito inverso. A notícia ali foi a ausência da senadora Marta Suplicy (PT-SP), a preterida; e a presença de José Dirceu, sempre prestigiado internamente, mas percebido externamente como um dos réus mais vistosos do processo do mensalão.
A mais popular figura do PT detentora de mandato, a presidente Dilma, não compareceu. Sinal de que pretende respeitar a tal neutralidade prometida aos aliados.
Por falar em Dilma...
Ela, no momento, tem uma série de assuntos mais urgentes do que alavancar Haddad. Precisa cuidar do setor de energia, onde há sinais de problemas para investir — a Petrobras mesmo está a um passo de propor reduções. A presidente terá em breve os produtores de frutas e refrigerantes a lhe procurar.
E, por tabela, ainda vem a CPI que, na visão do governo e do PT, estava programada para se restringir aos negócios da contravenção de Carlos Cachoeira em Goiás. Em vez de ficar nesse cercadinho, a comissão começa a girar o volante em direção às obras do PAC.
Não que Dilma esteja preocupada com seu governo. Sabe que tem apoio popular e não há dúvidas sobre a imagem da presidente que luta contra malfeitos. Mas uma CPI sempre desgasta, senão a presidente, o seu partido. Ainda mais quando surge o ex-comandante do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antonio Pagot anunciando que tem muito a dizer à CPI.
Em entrevista à revista Istoé, Pagot faz uma "degustação", insinuando caixa dois na campanha de José Serra em 2010 e ainda tráfico de influência na arrecadação da campanha de Dilma Rousseff.
Pagot, no mínimo, se compromete ao dizer que se reuniu no Dnit com o tesoureiro do PT para tratar de empresas que poderiam doar dinheiro à campanha de Dilma.
Basta cruzar as doações de empresas detentoras de contratos com o Dnit e suas doações de campanha para averiguar se Pagot fala a verdade. Se ficar comprovada a veracidade das declarações, será mais um fator para desestabilizar o carro eleitoral de Lula este ano. CPI, mensalão, economia em situação preocupante...
Embolou tudo.
E nesse cenário, difícil é manter o carro na pista, sem derrapagens.
Denise Rothenburg Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário