"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 05, 2013

Os vigaristas no poder imaginam que enganação não tem prazo de validade



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Nos primeiros quatro meses deste ano, informou o jornalista Lauro Jardim em sua coluna, a Petrobras ficou pior no retrato desenhado por números perturbadores. 

E o déficit da balança de petróleo e derivados registrou um recorde histórico:
6 bilhões de dólares.
Mais de 12 bilhões de reais.
É coisa de assustar economista argentino.
Mas insuficiente para incutir algum juízo na cabeça baldia de Dilma Rousseff.

A presidente continua recitando que tudo vai bem no Brasil Maravilha, constata o comentário de
1 minuto para o site de VEJA.

Há 15 dias, por exemplo, durante o comício em Pernambuco que festejou o banho de mar inaugural do navio Zumbi dos Palmares, Dilma fez um dueto com Graça Foster para cantar as glórias que iluminam os horizontes da Petrobras.

Em 2018, adivinhou a presidente da empresa, a produção terá chegado a 4 milhões de barris por dia.

Foi a senha para outra decolagem em dilmês rústico:
“E eu quero, dessa história, contar o melhor pra vocês:
o melhor não é, não está aqui hoje, no presente, só.
O presente é o momento que nós temos de comemorar.
Mas o melhor é o futuro.
E acho que uma das coisas importantes que a Graça Foster falou aqui é que a Petrobras vai produzir, daqui a pouco, 4 milhões de barris. Depois, ela vai produzir, daqui mais um pouco, 5 milhões de barris.”


Desde agosto de 2006, quando Lula anunciou a Conquista da Autossuficiência que nunca existiu, os parteiros do Brasil Maravilha dedilham a lira do delírio sempre que o tema é a Petrobras.

Em setembro de 2009, na discurseira triunfalista transmitida por uma cadeia nacional de rádio e TV, o palanque ambulante proclamou a Segunda Independência, financiada pelas jazidas do pré-sal, concedeu ao colosso no fundo do mar o título de “Dádiva de Deus” e reduziu a traidores da pátria os que haviam ousado duvidar da eficácia da Petrobras.


Entre a Conquista da Autossuficiência e a Proclamação da Segunda Independência, Dilma Rousseff descobriu o pré-sal.
 “É um recurso tão importante para a nossa geração e próximas que é de fato um conjunto da população brasileira”, desandou em agosto de 2008.

“Isso define o princípio que vai nortear o governo sobre seu uso, que é tomar todas as medidas para transformar esse grande recurso em fonte que vai permitir que os brasileiros tenham melhoria da educação, das condições que permitirão que avancemos em direção à sociedade do conhecimento, que inova e faz pesquisa, e pela forma que chegamos ao pré-sal”.

Quem ouviu o palavrório só conseguiu entender que a candidata à Presidência não conseguia expressar de modo inteligível o que achava do assunto. Passados quase cinco anos, está claro para o Brasil que pensa que Dilma não diz coisas compreensíveis sobre assunto algum. 

 
Apesar disso, ou por isso mesmo, a Doutora em Nada ameaça o país com um segundo mandato. Os vigaristas no poder imaginam que enganação não tem prazo de validade.


Transcrito do Original em :

A INDECÊNCIA DO "brasil" OU : Dez anos de lulopetismo

Passada uma década de exercício do governo pelo Partido dos Trabalhadores (PT), é possível fazer uma avaliação das suas realizações e fracassos, à luz do que os anglo-americanos chamam de "a prova da história". 

O Partido dos Trabalhadores chegou ao poder com duas cartas de navegação. Uma, inspirada num modelo social-democrático e elaborada rapidamente por recomendação dos marqueteiros políticos de Lula, tendo sido publicada com o título de Carta ao Povo Brasileiro, ou simplesmente Carta do Recife, em junho de 2002.

Outra, datada de dezembro de 2001, é denominada de Carta de Olinda, escrita nos laboratórios da direção do Partido dos Trabalhadores, sob a influência de José Dirceu e com a aprovação de Lula. 

 
Nela, a militância do partido deixava claro o modelo de governo que pretendia pôr em prática:
um socialismo estatizante inspirado no regime cubano e próximo do ideal bolivariano que Hugo Chávez buscava implantar na Venezuela.


Na Carta ao Povo Brasileiro, elaborada pelos assessores de marketing eleitoral de Lula, sob a coordenação de Antonio Palocci (que logo depois seria ministro da Fazenda do primeiro governo Lula), ficava claro que o candidato petista, caso fosse eleito presidente da República, honraria os contratos internacionais assinados pelo Brasil, manteria o regime democrático de liberdades e de tripartição de poderes, respeitando a Constituição vigente, a rotatividade do poder entre os partidos, bem como a economia de mercado e os marcos da política macroeconômica fixados no Plano Real e implementados nos dois governos social-democráticos de Fernando Henrique Cardoso.

Seriam respeitados os tratados internacionais, bem como a gestão democrática da política externa administrada pelo Itamaraty, seguindo a tradição de não intervenção na política interna dos outros países e o convívio pacífico do Brasil com as demais nações.

 
A classe média foi conquistada pela Carta ao Povo Brasileiro.

Contrariamente ao que tinha ocorrido nas eleições presidenciais anteriores (de 1990, 1994 e 1998), a opinião pública deu decisivo apoio ao candidato Lula. Nos seus programas eleitorais anteriores, ele tinha apresentado plataformas inspiradas num modelo de socialismo à maneira cubana, polarizadas pelo marxismo-leninismo.

A Carta de Olinda repetia esse modelo.

A duplicidade de ""cartas de navegação"" somente se revelaria à opinião pública após a posse de Lula em 2003, mais concretamente depois da divulgação do affaire do "mensalão", em 2005, e serviria sempre como uma espécie de chantagem do partido sobre a opinião pública, com o governo ameaçando colocar na rua os "movimentos sociais" para efetivar reformas radicais.

O que os petistas procuravam, segundo a Carta de Olinda, era, em primeiro lugar, no terreno econômico, instaurar um sistema produtivo de tipo socialista centrado na intervenção direta do Estado como empresário.

Isso implicava a escolha, por cooptação, daqueles empresários que deveriam ser os "campeões de bilheteria" e a aproximação direta do governo com o povão, mediante políticas sociais distribuidoras de renda, mantendo numa espécie de limbo a classe burguesa identificada como inimiga dos pobres.

Ponto-chave das políticas sociais petistas foi o programa Bolsa Família. Era a reedição do velho modelo elaborado pelo Marquês de Pombal, na segunda metade do século 18, e que o primeiro-ministro português recomendava pôr em prática no Brasil ao seu sobrinho governador do Maranhão. 

 
Nestes dez anos de governo petista, observa-se que o partido sob o comando do Lula foi se afastando aos poucos do programa social-democrático original expresso na Carta ao Povo Brasileiro para se alinhar com a Carta de Olinda, num crescente fortalecimento do Executivo sobre os demais poderes públicos e com um claro estatismo na área econômica.

O principal programa da área social, o Bolsa Família, se bem beneficiou 50 milhões de brasileiros pobres, tornou-os reféns da dádiva oficial, ao ter ficado em segundo plano a geração de empregos que garantissem a continuidade da saída da pobreza.

A angústia vivida pelos beneficiários desse programa nas últimas semanas, diante do boato de que o benefício seria cortado, revela a sua precariedade.

O mecanismo institucional que tornou possível financiar os empresários cooptados foi o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com operações de financiamento pouco transparentes, que abrem a porta ao desperdício do dinheiro público e à corrupção.

O "mensalão" revelou a face perversa do estatismo na área política, com o Executivo comprando o apoio da base aliada num esquema de corrupção jamais visto.

Foi conferido um caráter mais político do que técnico a uma próspera estatal como a Petrobrás, descapitalizando-a e afastando o País da autossuficiência energética.

O que, no fundo, inspirou os petistas não foi o reforço ao capitalismo, mas a construção do que eufemisticamente se chama de "capitalismo de Estado", que, em realidade, não é mais do que o reforço ao patrimonialismo, com a volta da inflação. 

 
O PT busca tornar-se um partido hegemônico, constituindo-se, sob a inspiração da filosofia gramsciana, como o "novo príncipe" da política brasileira.

Em conclusão:
o Brasil passou a viver, na última década, uma espécie de esquizofrenia política proveniente da duplicidade de programas em conflito, adotados pelas duas cartas de navegação referidas. 

 
Um programa que conduziria ao reforço do modelo social-democrático está sendo socavado por outro, de índole declaradamente patrimonialista. Esse é o mal que, a meu ver, atrapalha hoje em dia a administração petista. 
 
Ricardo Nérez Rodríguez 
Dez anos de lulopetismo 
Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas "Paulino Soares de Sousa", da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), é professor emérito da ECEME