"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 23, 2011

Não é mais uma "marolinha"


Se a crise mundial piorar, não deve ser apenas uma "marolinha" que vai atingir o Brasil e os demais países emergentes.

Na opinião do presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, os emergentes estão hoje menos preparados para lidar com uma crise global do que estavam em 2008. "A política fiscal não é tão robusta que permita a saída da crise com aumento de gastos", disse.

Segundo ele, a alta dos spreads de títulos públicos e a queda dos mercados acionários já são sinais da chegada da crise nesses países. Zoellick fez recomendações para os emergentes atravessarem a turbulência:
"Não façam coisas estúpidas. Não permitam que os países naveguem pelo protecionismo", alertou.

Valor Econômico

Barbeiragens no dólar


O mundo vive novo capítulo da crise financeira. Como parte do enredo, o dólar está subindo em todos os cantos, mas no Brasil está em alucinada disparada. Barbeiragens da equipe econômica petista, com suas ações ziguezagueantes, ajudam a explicar por que a situação da moeda americana ficou tão dramática aqui.

A valorização do dólar era algo há muito tempo desejada pelo setor produtivo brasileiro, principalmente por indústrias e exportadores. Com o real tão apreciado como esteve nestes anos todos, ficou difícil competir com importados e também vender ao exterior. A alta da moeda americana seria, portanto, bem-vinda. Mas não no ritmo em que está se dando.

Em menos de dois meses, a cotação saiu do piso de R$ 1,55 para triscar a barreira dos R$ 2, como ocorreu ontem. Uma escalada tão acelerada implode qualquer planejamento e torna-se uma dor de cabeça até mesmo para quem sonhava com um dólar mais caro para tornar os produtos brasileiros mais competitivos no mercado externo.

A volatilidade do dólar afeta a economia mais do que a alta em si. Se houvesse uma desvalorização lenta do real, as empresas teriam tempo de contratar produtores locais, o que ajudaria a economia interna. Mas um salto de 20% em 15 dias pega empresas e pessoas no contrapé", comenta Miriam Leitão n'O Globo.

O mercado de câmbio no Brasil se desgarrou do resto do mundo. A situação aqui está muito mais aguda. Enquanto o real teve, nesses 22 dias de setembro, uma depreciação de 16,31%, a valorização do dólar perante uma cesta de moedas das principais economias globais foi bem menor, de 6,01%. É aí que entram as barbeiragens tupiniquins.

Há algumas semanas, o governo Dilma Rousseff puniu operações de câmbio com a imposição de um IOF de 6%. A intenção era forçar a alta do dólar. Poderia funcionar num ambiente de maior normalidade, mas tornou-se um veneno num momento em que todos correm para comprar a moeda

Com a nova rodada de turbulências globais, a oferta de dólar ficou limitada e a medida mostrou-se inoportuna. Com ela, o governo retirou do mercado justamente o agente que equilibra as cotações da moeda e que poderia fazer com que o dólar subisse menos agora.

"No momento de pânico que estamos vivendo, esse imposto funcionou como uma restrição importante nos negócios com o real, pois pune os que, sabendo que esse movimento de pânico em algum momento vai passar, poderiam estar comprando reais e amortecendo sua queda", comenta Luiz Carlos Mendonça de Barros na Folha de S.Paulo.

Outros fatores que introduziram alta tensão no mercado foram o corte abrupto da taxa básica de juros e o aumento de impostos para automóveis importados, vistos como sinal de que "não há mais regras estáveis nem previsibilidade no país", segundo Claudia Safatle, do Valor Econômico.

O calo do dólar vai apertar mesmo é quando a desvalorização atual do real começar a se refletir nos preços ao consumidor - metade deles é afetada pelo câmbio. Produtos manufaturados, industrializados em geral e importados demorarão um pouco mais para acusar o golpe, porque suas compras são fechadas com bastante antecedência - portanto, ainda àquelas cotações mais baixas.

Mas as matérias-primas e os alimentos já passarão a incorporar rapidamente a alta. É o que deve acontecer, por exemplo, com pães, massas e cereais em geral. No início de outubro, o pãozinho francês do café da manhã já deverá estar até 10% mais caro e os macarrões, 5%.

Assustada, a equipe econômica de Dilma já admite voltar atrás em algumas medidas, como a contraproducente taxação das operações cambiais no mercado futuro e a dos empréstimos tomados no exterior, além da revogação de limites a negócios de bancos com dólares, informa a Folha.

Mais uma vez, o que transparece é que as ações de política econômica do governo petista são erráticas e inconsequentes. Os acertos resultam muito mais de lances de sorte do que de acuradas medidas. Desta vez, parece difícil que não dê tudo errado.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

ATÉ QUEIJO TEM IMÓVEL FUNCIONAL EM BRASÍLIA : SQS 203, A SUPERQUEIJO SUL


Encravada no coração da capital, praticamente colada ao Banco Central e à Esplanada dos Ministérios, a SQS 203 é um dos endereços mais nobres do Plano Piloto.

Seu metro quadrado é orçado no mercado imobiliário em torno de R$ 8 mil. E é ali, no Bloco H, precisamente no apartamento 303, que mais um desrespeito no uso de imóveis funcionais ocorre diariamente, sob a inusitada forma de queijos, especificamente da marca Tirolez.


O apartamento de 160m² e três quartos é avaliado em cerca de R$ 1,3 milhão. Há mais de uma década, a proprietária, a Secretaria de Patrimônio da União (SPU), do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, tenta, em vão, reaver o bem público.

A Portaria n° 1.324, publicada no Diário Oficial de 3 de setembro de 1999, determinou "rescindir o termo de ocupação do imóvel residencial funcional situado na SQS 203, Bl. H, aptº 303, em nome de Clineo Monteiro França Netto".


Clineo é um dos 498 inquilinos envolvidos atualmente em casos de ocupação irregular de imóveis da União no Distrito Federal (leia para saber mais). O Ministério do Planejamento gasta, por ano, cerca de R$ 5,15 milhões apenas com a manutenção de residências funcionais na capital.

Clineo se mudou para o apartamento em 29 de fevereiro de 1980, após ter sido nomeado para cargo DAS no Ministério do Trabalho, onde ficou de 1980 a 1985, ano em que deixou a pasta — e o cargo que lhe dava direito à moradia especial. Mas ele nunca desocupou o imóvel.

O caso de Clineo extrapola os limites da ocupação irregular de uma propriedade do governo. O apartamento em questão não serve apenas de moradia para ele e sua esposa, Maria Isabel França.

Ali funciona uma espécie de centro de estoque de queijos da CF Comércio de Alimentos Ltda., distribuidora no Distrito Federal da empresa Tirolez, que tem um quadro de 780 funcionários espalhados por cinco fábricas — nas cidades mineiras de Tiros, Arapuá e Carmo do Paranaíba; em Monte Aprazível (SP); e em Caxambu do Sul (SC).

No cardápio da empresa, estão queijos especiais, defumados, light e frescos, entre outros derivados que, todos os dias, estão no centro de uma movimentação repetida há pelo menos seis anos, segundo vizinhos, na 203 Sul.

Sempre pela manhã, logo cedo, antes das 8h, funcionários aparecem no Bloco H e dão início à tarefa de carregar uma das duas vans da empresa com os produtos que serão distribuídos pela cidade.

Fundada em 16 de novembro de 2000, a CF Comércio de Alimentos Ltda. tem como sede uma chácara em Santa Maria, usada para estocar parte dos laticínios.

Duas vezes por semana, o local é abastecido com os queijos, que depois são enviados à 203 Sul e, de lá, despachados para padarias e supermercados de Brasília. Entre os sócios da empresa estão, além de Maria Isabel, os filhos Clécio, Cláudio e Clovis França. O último aparece no site da Tirolez como o representante da empresa no DF.

Dilapidação de patrimônio

Clineo Monteiro França Netto, 73 anos, alega que não foi informado oficialmente da possibilidade de comprar o imóvel e a União argumenta que ele não tinha cargo com vínculo empregatício, por isso não teria a opção de adquiri-lo.

Apesar de declarar não ter sido avisado, ele ofereceu 11.773 cruzeiros pelo apartamento, em valores de 1992.

Corrigida pelo IPCA, o índice oficial de inflação, a quantia equivaleria, hoje, a cerca de R$ 45. Se for atualizado pelo índice da poupança, o número sobe para R$ 107. A Advogacia-Geral da União (AGU) respondeu à oferta dizendo que "realizar tal negócio é dilapidar o patrimônio da União".

Consta no parecer da AGU:
"É patente que o réu ocupou o imóvel funcional em decorrência de sua investidura na função de confiança. Com a dispensa da referida função, cessou o direito de permanência, caracterizando, assim, esbulho possessório".

Síndico procurou a SPU
O síndico do Bloco H da 203 Sul, Charles Ramon Vieira, relatou que encaminhou ofício à Secretaria de Patrimônio da União (SPU), órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, questionando se o governo tinha conhecimento da utilização comercial do imóvel.

"Eles disseram que não sabiam de nada sobre isso e me informaram apenas que a União estava tentando reaver o apartamento. E o caso ficou por aí mesmo", explicou.

Síndico do edifício desde 2005, Vieira não soube precisar o ano em que o ofício foi enviado.

Graças a Deus, perdemos

Se não me falha a memória, o ano era 1981.
Eu tinha, então,18 anos.

Em ato público na Universidade Católica, no Recife, dom Hélder Câmara discursava sobre o iminente fim da ditadura no Brasil.

E alertava os jovens estudantes para os riscos de ações extremistas que levassem a um possível retrocesso político. Recém-chegado do interior de Pernambuco, eu fazia jornalismo e já havia lido e ouvido muito sobre o então arcebispo.

Principalmente de sua luta destemida ao lado dos que defendiam a volta da democracia. Mas, naquela noite, ao vê-lo e ouvi-lo pela primeira vez ao vivo, eu me decepcionara.


É que eu ainda não havia entendido o verdadeiro sentido da coragem de um Hélder, de um Gandhi, de um Martin Luther King.
Essa gente que ousou desafiar o status quo de peito aberto.
Cuja única arma eram o verbo, as ideias (e não a verba surrupiada dos cofres públicos). Que apostava no senso de justiça dos homens.

Que fazia intransigente defesa da paz.
Não importava quantos tanques e soldados os poderosos pusessem nas ruas.
Eles os enfrentavam desarmados.

Na linha de frente.
Não se escondiam em esgotos nem encarregavam fanáticos de explodir aviões e carros-bombas para matar inocentes.
Nunca pregaram o extermínio ou tentaram calar a voz de ninguém.

Quer fosse rico,
pobre,
branco,
preto,
amarelo,
mulher,
homem,
gay.
Opunham-se à opressão, às desigualdades

sociais, à discriminação. Pregavam direitos e oportunidades iguais para todos. Vou reforçar: para todos.

Eu, então, um jovem imbecil de galocha, achava que a verdadeira revolução seria feita pela classe operária. Com o extermínio da burguesia e o controle dos meios de produção pelo Estado socialista, libertário, que enfim instalaria uma sociedade mais justa e igualitária na Terra. Como era tolo, meu Deus!

Quando muito mais tarde comecei a descobrir a verdadeira natureza dos revolucionários que eu admirava, veio a decepção.
Eram tão tiranos quanto qualquer ditador de direita.

Liberdade?
Só a de pensar igual a eles.
Pensou diferente?
Paredão.
Prisão.
Tortura.
Campos de concentração.
Com muita sorte, exílio.


Desolado, penso no que a presidente Dilma falou ontem na ONU sobre direitos humanos, sobre como a tortura a fez valorizar a democracia.

Lembro-me de Churchill, Orwell e então chego à inevitável conclusão:
se meus antigos heróis tivessem triunfado, a vida hoje, para mim, pelo menos, certamente seria um inferno.

Para começar, minha profissão nem existiria, pois não há imprensa sem liberdade de opinião e expressão. Haveria internet em um planeta comandado por burocratas e funcionários públicos? Duvido.

Muito menos Facebook e Twitter.
Aliás, nada que permitisse alguém pensar com o próprio cérebro.

Graças a Deus que não triunfamos.

Plácido Fernandes Vieira Correio Braziliense

ALTA DO DÓLAR : FIQUE DE OLHO.

Entenda a escalada da divisa dos Estados Unidos e os efeitos sobre a economia brasileira

Porque o dólar sobe?

» O mundo vive uma séria crise e a falta de liderança nos Estados Unidos e na Europa no sentido de reativar a economia está aprofundando os problemas;

» O cenário de incerteza está levando investidores a procurar ativos mais seguros, a exemplo do dólar e dos títulos do Tesouro norte-americano com vencimento em 10 anos. Com a corrida por investimentos seguros, as bolsas de valores estão derretendo em todo o globo;

» Os investidores estrangeiros no Brasil, que, há pouco mais de duas semanas, apostavam contra o dólar, mudaram de estratégia e, agora, se posicionam contra o real;

» As empresas brasileiras endividadas em capital externo passaram a buscar proteção financeira (hedge) para amenizar perdas e aumentaram as compras da moeda;

Os impactos da alta

» A subida do dólar eleva os preços de produtos importados, como os do bacalhau e de frutas, e de produtos básicos, como milho e soja, além dos insumos usados pela indústria;

» A valorização desses produtos é captada pelos Índices Gerais de Preços (IGPs), que corrigem vários contratos. Quanto mais alto forem esses indicadores, maiores serão os reajustes nos aluguéis e nas tarifas públicas;

» A alta dos preços dos produtos básicos encarece toda uma cadeia de alimentação. Se a cotação da soja dispara, a ração para o gado também passa a custar mais, assim como as carnes de boi e de franco;

» As empresas brasileiras têm dívidas em moeda estrangeira. Como consequência, os débitos vão aumentar, exigindo mais capital para o pagamento de juros, o que reduz os lucros.

As armas do governo

» O Banco Central tem reservas internacionais de US$ 352 bilhões. Parte dos recursos pode ser usada para aumentar a oferta da moeda norte-americana no mercado;

» A autoridade monetária pode fazer intervenções nos mercados futuros, nos quais os investidores fazem as apostas contra e a favor do dólar. O BC pode aumentar o volume de moeda no sistema por meio das operações chamadas de swap;

» O Ministério da Fazenda pode desmontar o arsenal de medidas que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IPO) nas operações nos mercados futuros e nos cartões de crédito.

Correio
Fonte: Mercado.