"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

fevereiro 13, 2011

EXÉRCITO E OBRAS DO PAC . CONSTRUTORAS :COM A "PERDA", ELAS RECLAMAM DE CONCORRÊNCIA "DESLEAL".

RIO e GOIANA (PE) -
Há uma parte expressiva das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que corre sob rígida disciplina e hierarquia, inclusive com ordem unida e até farda:
as construções feitas pelo Exército Brasileiro.

E seu volume não é nada desprezível. Graças a convênios com o governo federal, os militares receberam R$ 1,2 bilhão nos últimos três anos para executar duplicações de estradas, construção de aeroportos, preparar novos gasodutos e iniciar a transposição do Rio São Francisco.

E estes contratos não param.
No momento, nove mil homens trabalham em obras que vão gerar mais R$ 410 milhões à caserna em 2011.

A atuação do Exército - que, segundo especialistas, ficou responsável por obras que poderiam ser licitadas - sofre críticas dos empresários da construção civil. Além de atacar a concorrência desleal, eles afirmam que a participação expressiva dos militares inibe o investimento e impede a geração de empregos.
(SIC)

Desde 2008, a atuação do Exército como empreiteira cresceu muito, nas esteira do PAC, com receitas anuais na faixa de 400 milhões.
Este volume é o equivalente ao faturamento de empresas tradicionais do setor de construção, como a Serveng-Civilsan e a Tenda, como se fosse a 15 maior construtora do país.
No auge das obras, 12 mil soldados atuaram na construção civil para o governo.

Antes do governo Lula, o valor era muito menor: em 2002, o Exército recebeu R$ 35 milhões para fazer construções para outros órgãos governamentais. Entre as principais obras realizadas por trabalhadores fardados estão diversos lotes de duplicação da BR-101 no Nordeste, a pavimentação das BR-163 (Pará) e BR-319 (Amazonas), a construção do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante (RN) e de diversos trechos de canais e barragens necessárias para a transposição do Rio São Francisco.

Exército não concorre com empresas, diz general

Além da conclusão destas obras, estão previstas para 2011 a revitalização do Rio São Francisco e o início da terraplenagem do terceiro terminal de passageiros do Aeroporto de Guarulhos (SP).

Os militares também fizeram obras para estatais - como as clareiras na selva para a construção do gasoduto Coari-Manaus, e para outros níveis de governo, como a atual construção do Caminho da Neve, estrada que Santa Catarina quer abrir para unir Gramado (RS) a São Joaquim (SC), favorecendo o turismo de inverno.


O general Jorge Ernesto Pinto Fraxe, da Diretoria de Obras de Cooperação (DOC), do Departamento de Engenharia e Construção do Exército (DEC), afirma que a atuação dos militares só ocorre quando é bom para o país e para a instituição:
- A gente não pleiteia obras.
Elas são oferecidas e aceitamos quando elas são importantes para o desenvolvimento do país e para nosso treinamento.
Esse é o nosso grande objetivo com elas.
Os militares da infantaria, por exemplo, podem simular combates, nós da engenharia não podemos simular construções.


Temos que estar adestrados para quando o país precisar de nós - afirmou o general, que, até maio do ano passado, atuava na linha de frente das obras que o Exército executa no Nordeste.

Algumas das obras assumidas pelos militares, segundo o general, eram consideradas prioritárias e tinham problemas para serem tocadas pela iniciativa privada.
Ele lembra, por exemplo, que havia uma briga no consórcio vencedor da licitação para a duplicação da BR-101 e que as empresas fugiam do início das obras da transposição do São Francisco porque o canteiro ficaria no polígono da maconha.

O general conta que foi feito um trabalho social na violenta área e que dois hospitais chegaram ser montados na região, para atendimento à população.

Para o general Fraxe, as obras ajudam a formar um contingente de 2.000 a 2.500 rapazes que passam pelo serviço militar obrigatório e que voltam para a sociedade com um ofício, quando são utilizados pela Engenharia dos militares. Ele diz que também são geradas novas tecnologias:
- No fim do ano passado fizemos um boletim técnico que cedemos à Associação Brasileira de Pavimentação sobre novas técnicas na construção de pistas de concreto, que ficaram com qualidade das alemãs.

Ele diz que o assédio aos cerca de 600 engenheiros do Exército prova que a qualidade do trabalho é reconhecida pelo mercado.
Entretanto, ele diz que não há uma debandada generalizada.
Ele minimiza o medo das construtoras com a concorrência dos empreiteiros fardados:

- O Exército não é um construtor.
Quem pensa que vamos concorrer com as empresas está equivocado.
Só atuamos para treinar nosso pessoal - disse o general, que afirma que contrata empresas privadas para a construção de pontes e viadutos.


Mas as empresas privadas enxergam a atuação dos militares de forma diferente:

- O setor da construção civil não vê com bons olhos a atuação do Exército em obras como duplicação de estradas e construção de aeroportos.
Não há necessidade de os militares assumirem obras desse tipo - disse o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Paulo Safady Simão, que lembra que os militares ficaram com 9% das obras do DNIT em 2009.

O Globo