"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 03, 2011

RAINHA DA SUCATA

Dilma Rousseff demorou exatos oito meses para conseguir anunciar uma medida de peso. Mas sua "nova política industrial" debutou ontem sob uma saraivada de críticas. Diante de uma indústria em frangalhos, a gestão petista ofereceu remendos de uma colcha de retalhos.

A presidente passou longe de cumprir uma de suas mais vistosas promessas de campanha: a desoneração ampla, geral e irrestrita da folha de pagamentos. Apenas quatro setores, e em caráter temporário, serão contemplados com a redução da alíquota de contribuição à Previdência a zero.

Os demais continuarão a ver navios.


O governo vai zerar a contribuição previdenciária patronal apenas das empresas de confecções, calçados, móveis e software - que, juntas, respondem por menos de um quinto do PIB industrial do país.

Em compensação, criará uma nova cobrança sobre o faturamento, de 1,5% nos três primeiros casos e 2,5% no último. O Tesouro ficará encarregado de colocar R$ 1,6 bilhão na Previdência para cobrir possíveis perdas.


O valor total da desoneração anunciada ontem também ficou muito aquém do que vinha sendo aventado. O governo vinha prometendo benefícios tributários de R$ 45 bilhões. Fechou o pacote em R$ 24,5 bilhões, dos quais R$ 3,8 bilhões já concedidos neste ano. Tudo somado, as bondades caíram a menos da metade do previsto: R$ 20,7 bilhões.

Há medidas positivas, como a que prevê a formação de especialistas em defesa comercial e o aumento da equipe que cuida desse tema dentro do governo. Hoje o Brasil está muito mal servido: a média mundial é de três investigadores para um processo; aqui, são três processos para cada investigador.

Outras medidas, ainda que bem intencionadas, podem se transformar num problemão. É o caso, por exemplo, da preferência a produtos nacionais, que poderão ser comprados pelo poder púbico por preços até 25% mais caros do que de concorrentes importados.

Os riscos são dois:
corrupção e redução do número de competidores, com maiores chances de sobrepreço. A ficha corrida de falcatruas do governo petista sugere que daí não se deve esperar boa coisa...


De maneira geral, o plano do governo junta medidas de caráter microeconômico, mas passa longe de atacar os desarranjos macro, já conhecidos de todos:
câmbio supervalorizado, juros muito elevados, alta carga tributária, infraestrutura capenga que impacta o custo de produção e um Estado perdulário que sobrecarrega todo o resto da economia.

Nada disso mudou, nem parece fadado a mudar tão cedo.


"Nem se pode chamar o imenso e díspar conjunto de medidas de 'política industrial', pois há de tudo ali - menos linhas-mestras de um plano sobre o que fazer da indústria nacional no médio prazo", avalia Vinicius Torres Freire na Folha de S.Paulo.

A equipe econômica argumentou que, como precisa perseguir o rigor fiscal, não tem como ajudar a indústria com mais recursos do que os anunciados ontem. É estranho que para projetos mirabolantes e suicidas, como o trem-bala, há dinheiro de sobra, mas para dar suporte ao segmento que gera os empregos mais qualificados e bem pagos não há.

Os dados sobre a produção de junho, divulgados ontem pelo IBGE, corroboram a fraqueza da indústria e a necessidade de medidas bem mais potentes do que as anunciadas ontem.

Os resultados foram os mais baixos do ano e, no acumulado no semestre, os piores desde 2009. Dos 27 setores industriais pesquisados, 20 apresentaram redução, o que mostra que a desaceleração é ampla, geral e irrestrita.


O desaquecimento já vem desde outubro. Desde então, o crescimento da indústria brasileira acumulado em 12 meses caiu de 11,8% para os atuais 3,7%. Como consequência, a expansão do setor no ano deve cair abaixo de 3%, ou menos de um terço dos 10,4% anotados em 2010.

Se a indústria local definha, a importação avança e lhe rouba cada vez mais espaço. No segundo trimestre, a participação das importações no consumo interno de bens industriais atingiu 21,6%, revela o Valor Econômico. Em 2007, esse índice era de 15,2% e em 2002, 12,4%. "O aumento reflete o crescimento das compras externas a um ritmo bem superior ao da produção local, num cenário de câmbio cada vez mais valorizado e expansão de demanda interna".

Em suma, ontem a montanha pariu um rato. Tímida, incompleta, pouco ousada e, principalmente, insuficiente para dar conta dos problemas que realmente afligem a economia brasileira, a "nova política industrial" nasce com gosto de velhas práticas que correm o risco de não nos levar a lugar algum.

Fonte: ITV

O QUE INTERE$$A AO$ PARLAMENTARE$. Planalto promete liberar este mês R$ 1 bi para emendas.

O governo deve começar a liberar cerca de R$ 1 bilhão para as emendas parlamentares do Orçamento de 2011 neste mês, segundo informações de líderes dos partidos da base na Câmara.

Eles tiveram almoço com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e cobraram o pagamento da promessa de que no segundo semestre o dinheiro das emendas seria liberado.


No encontro com a ministra, a primeira na volta do recesso, mais uma vez os aliados não perderam tempo e, assim que puderam falar, cobraram uma solução para o pagamento dos recursos destinados a obras nos municípios.
O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse que não foi estabelecido compromisso com prazos.


Cobrança.
O líder do PP, deputado Nelson Meurer (PR), afirmou que a liberação das emendas é essencial para que os líderes tenham condição de comandar a base na Casa.

Além do dinheiro das emendas do Orçamento deste ano, os líderes cobram o pagamento dos convênios inscritos no chamado restos a pagar, referentes a orçamentos de anos anteriores, que totalizam cerca de R$ 4,5 bilhões.

O prazo para a liberação desses recursos termina no dia 30 de setembro.


"Sem essa atitude clara do governo a esses pontos de interesse parlamentar nas vésperas de eleição municipal vai ser complicado orientar a base para os objetivos que o governo pretende atingir neste semestre", disse Meurer.

O líder do PC do B, deputado Osmar Júnior (PI), afirmou ser necessário um planejamento para não permanecer o tensionamento com os aliados.


"O governo vai ter de estabelecer com a base o que vai ser executado no Orçamento. Não podemos ficar na queda de braço", disse Osmar Júnior.
"O que se quer é uma programação global. O principal é o cronograma (de liberação das emendas)", completou o líder do PC do B.


Sem prazo.
O líder governista Cândido Vaccarezza não se comprometeu com datas.
"Estamos conversando amigavelmente e, neste quadro, estamos fazendo a discussão do cronograma de emendas", disse, ressaltando que não há prazo fixado para o pagamento das emendas.


A verba de R$ 1 bilhão destinada às emendas de 2011 foi conseguida a fórceps pela ministra Ideli Salvatti. Seu companheiro Guido Mantega (ministro da Fazenda) fez de tudo para impedir que o governo mexesse no dinheiro.

Mantega defendia a tese de que emendas deste ano só começassem a ser pagas depois de outubro. Argumentava que, do contrário, pode haver desequilíbrio no ajuste fiscal.

Denise Madueño O Estado de S. Paulo

CONSUMADO O LOGRO : PROJETOS/PROMESSAS ELEITORAIS SÃO ESQUECIDOS.

À medida que entra na rotina, o governo da presidente Dilma Rousseff começa a deixar de lado projetos demagógicos concebidos pelo governo anterior para favorecê-la na disputa eleitoral de 2010.

O último projeto "esquecido" é o programa "Educação e Qualificação para Comunidades Extrativistas", elaborado pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas e pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), com o aval pessoal do presidente Lula.

Também chamado de "Saberes da Floresta" e financiado com recursos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o projeto se destina a atender a população ribeirinha das 89 Reservas Extrativistas e de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia e sua trajetória é mais um exemplo de como a educação tem sido gerida.

Com alto número de analfabetos, 60 mil famílias vivem nas reservas da exploração de seringais, da colheita de castanhas e da agricultura de subsistência.

O objetivo da SAE era desenvolver estratégias e ações voltadas para o ensino de crianças e jovens que moram na área, onde a rede pública só mantém escolas até a 4.ª série do ensino fundamental. Para continuar os estudos, os jovens têm de se mudar para as cidades.

Essa mudança gera dois graves problemas. O primeiro é o esvaziamento das comunidades, onde só permanecem velhos, mulheres e crianças. O segundo problema está na dificuldade que esses jovens têm para se adaptar à vida urbana.

Com uma vida até então inteiramente voltada à família e à natureza, os rapazes começam a beber e a se envolver em brigas, enquanto as meninas são atraídas pela prostituição.

Dos que completam o ensino básico, poucos retornam à comunidade - e, quando o fazem, trazem hábitos que levam à desagregação de suas famílias.

Além de ignorar a gravidade desses problemas, o programa "Educação e Qualificação para Comunidades Extrativistas" se destaca pelo simplismo de suas propostas e pelo uso abusivo de jargões políticos - um vício dos movimentos sociais e do PT.

Em seu documento de apresentação, por exemplo, o programa se propunha a elaborar "produtos síntese" - entre eles a construção de uma "política de educação na floresta" que expresse a visão que as populações extrativistas têm sobre educação e profissionalização.

"Nós temos que ter uma educação diferenciada, onde o meu filho saiba que tem, hoje, uma condição de vida mais favorável por causa de toda uma luta que houve, dos que enfrentaram o sistema de governo e as situações que existiam, para poder trazer a qualidade de vida. Ele precisa se tornar parte e continuar carregando essa bandeira; senão, essa bandeira, daqui uns dias, vai deixar de existir, porque você não dá valor às coisas que você não conhece - você precisa conhecer para dar valor", diz Manuel Cunha, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas.

Entre outras "prioridades", o projeto repetia recomendações do 1.º Encontro Nacional de Seringueiros da Amazônia, realizado em 1985, como "a divulgação de histórias, poesias, músicas, receitas e objetos fabricados por seringueiros" e a inclusão na merenda escolar de "produtos oferecidos pela região".

Ele também propunha um elenco de dez princípios - quase todos tautológicos. Um deles afirmava que "a criança precisa saber que é parte da vida na floresta e nas águas". Outro enfatizava que "as pessoas da floresta estão conectadas e que não é possível desplugá-las".

Em matéria de "encaminhamentos", o projeto tecia considerações óbvias sobre qualidade da educação e capacitação docente e propunha a busca de "apoio financeiro direto" da União.

Custa crer que uma iniciativa tão simplória e demagógica como essa tenha consumido recursos humanos do governo e dinheiro do Pnud - além de ter sido anunciada espalhafatosamente pela rede pública de comunicação do governo Lula.

Agora a presidente Dilma Rousseff faz a coisa certa, engavetando - com a devida discrição - programas que jamais deveriam ter sido apresentados como projetos de governo.

O Estado de S. Paulo

POLÍTICA INDL. : DESONERAÇÃO DA FL/PG REDUZIRÁ EM R$ 1,6 bilhão ARRECADAÇÃO DO INSS. TESOURO COBRIRÁ PERDA.


A desoneração da folha de pagamento dos setores de confecções, calçados, móveis e software reduzirá as receitas da Previdência Social em R$ 1,6 bilhão até dezembro de 2012, segundo informação divulgada no início da noite de ontem pelo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.

Segundo ele, a diferença será coberta pelo Tesouro Nacional.Uma das medidas do Plano Brasil Maior prevê que a alíquota patronal ao INSS desses quatro setores será reduzida de 20% para zero até dezembro de 2012.

Para compensar essa desoneração, a presidente Dilma Rousseff baixará medida provisória criando uma contribuição previdenciária sobre o faturamento para esses setores, nos moldes daquela que é paga atualmente pela agropecuária.

A desoneração da folha só poderá entrar em vigor 90 dias após a publicação da MP.


A renúncia previdenciária de R$ 1,6 bilhão decorre do fato de que o governo estabeleceu alíquota de 1,5% sobre o faturamento para os setores de confecções, calçados e móveis, o que não é suficiente para obter a mesma receita que a Previdência tinha no sistema anterior.

"Colocamos alíquotas menores (para esses três setores) porque queríamos ter uma desoneração", explicou Barbosa.


O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, disse que "há um incentivo de fato para esses setores". Ele chamou a medida de "ousada, mas cautelosa", pois, segundo Pimentel, "não coloca em risco a Previdência".

Para o ministro, " é um dinheiro (o aporte do Tesouro à Previdência) muito bem empregado, pois preserva empregos". A alíquota da nova contribuição para o setor de software será de 2,5% sobre o faturamento.


Na manhã de ontem, houve ruído na divulgação da medida, pois em sua exposição no Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o impacto da desoneração da folha seria neutro.

O ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho, por sua vez, disse que não havia simulações sobre os efeitos da medida. Estimou, no entanto, que deve ocorrer queda na arrecadação.


O ministro contou que a equipe econômica garantiu equilíbrio nas contas da pasta no longo prazo. "Não pode haver furo (nas contas). Garantia não tem. Se tiver diminuição (da arrecadação), o Tesouro cobre. O importante é que tenhamos no faturamento resultado igual ao que era proporcionado pela folha", disse Garibaldi.

Tanto Pimentel, quanto Barbosa garantiram que o governo não discute a extensão da desoneração da folha para outros setores da economia. "Nesse momento, não se pensa em novos setores", disse Barbosa. Segundo ele, os quatro escolhidos pelo governo foram aqueles que, nas discussões em torno da medida ao longo dos últimos meses, sempre manifestaram o interesse da desoneração da folha.

Tabela distribuída por Barbosa estima em R$ 24,5 bilhões a renúncia fiscal do governo com o pacote de estímulos à indústria.

Desse total, R$ 3,8 bilhões se referem à desoneração do IPI sobre material de construção, bens de capital e veículos de transporte, que já existia este ano, ou seja, não faz parte das novas medidas. Assim, a renúncia com o pacote é de R$ 20,7 bilhões.


A maior parte dessa desoneração ocorrerá no próximo ano, no montante de R$ 18,5 bilhões, e afetará o Orçamento da União, admitiu o secretário-executivo da Fazenda, pois reduzirá a receita do Tesouro. Mesmo assim, Barbosa garantiu que o pacote não mudará a meta fiscal do governo para 2012.

"Como o ministro Mantega já assegurou, o governo trabalha com o cumprimento da meta fiscal cheia no próximo ano (sem o desconto dos investimentos do PAC." Ele não quis comentar se haverá aumento de tributos para fechar o Orçamento do próximo ano.


Do total de R$ 24,5 bilhões em renúncia tributária, R$ 7,9 bilhões serão por conta da devolução de créditos da PIS/Cofins.

O programa Reintegra para exportações de manufaturados, que permitirá que as empresas obtenham em créditos ou em dinheiro até 3% do valor exportado, custará R$ 7 bilhões, sendo R$ 5,3 bilhões no próximo ano.

A desoneração do IPI dos setores de material de construção, bens de capital e veículos de transporte custará R$ 8 bilhões, sendo 4,2 bilhões em 2012.

(Colaboraram Fernando Exman e Daniel Rittner)

Valor

BRASIL MAIOR : DESONERAÇÃO, "ÓTIMA" E "INFLACIONÁRIA ?

A depender do analista, o programa Brasil Maior lançado pelo governo federal ontem pode ter como efeito um ganho de inovação na economia ou produzir um choque inflacionário.

A mesma medida - desoneração da folha de pagamentos para quatro setores - é vista pelos especialistas consultados pelo Valorcomo "ótima saída" às dificuldades sofridas pela indústria brasileira e como "convite" a novas contratações em um mercado de trabalho já pressionado pela falta de mão de obra qualificada e salários em alta, servindo de gatilho para inflação.

Para Júlio Sérgio Gomes de Almeida, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o programa "combate a anemia pela qual a indústria brasileira está passando", ao reduzir encargos que incidem sobre a folha de pagamentos de setores tradicionais do polo industrial brasileiro, como produtores de calçados, confecções e móveis.

Além disso, diz, a participação direta do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no financiamento a projetos de inovação - cujo modelo de financiamento ao pré-projeto foi desenhado com auxílio do Iedi - é "salutar" e "oportuna".


Já para José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ e economista da Opus Gestão de Recursos, ao desonerar a folha de pagamentos e elevar a 25% o ágio que o governo pagará ao produto nacional em suas licitações, a nova política industrial "tem forte conteúdo inflacionário", porque, segundo ele, "reduz ainda mais a taxa de desemprego".

Camargo diz-se impressionado com as medidas.
"Estamos em um cenário de inflação pressionada, correndo risco de a meta do Banco Central ser descumprida não apenas neste ano, mas também em 2012, e o programa que o governo lança joga ainda mais lenha na fogueira", afirma.

Segundo ele, governo e industriais devem "esquecer" a ideia de que o país precisa ser autossuficiente em bens manufaturados.
"Alguém já viu produtor de café reclamar e pedir programa setorial? Por que o agronegócio não recebe políticas de incentivo? Porque tem grande produtividade", diz Camargo.


Para Edgard Pereira, sócio da Edgard Pereira & Associados e professor da Unicamp, a "grande medida" do Brasil Maior é a desoneração da folha de pagamentos.
Essa terá efeito imediato para as empresas, avalia Pereira.


"Não quer dizer que as empresas sairão contratando, mas sim que a redução nos custos de produção poderá ser repassada aos preços, tornando o produto nacional mais competitivo no mercado interno, na disputa com os importados chineses, e eventualmente no mercado externo", afirma. "É uma ótima saída."

(...)
A inclusão do segmento de software entre os beneficiados pela zeragem da contribuição patronal à Previdência na folha de pagamentos (substituída por uma tributação sobre o faturamento) surpreendeu o empresário Luigi Nese, presidente do Sindicato das Empresas de Processamento de Dados de São Paulo.

"Achei curiosa a inclusão de um setor de serviços na nova política industrial", diz Nese, "mas, de uma perspectiva de experimentação [quanto a substituição da cobrança de encargos da folha para o faturamento] faz todo o sentido".

De acordo com Nese, que também é o presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), a folha de pagamentos representa entre 60% e 80%, em média, dos custos totais das empresas de software.

Valor

O DRAMA DOS PROBLEMAS CARDÍACOS : Preço varia 1.000%

Não bastassem os desafios para cuidar da saúde e manter um estilo de vida saudável, pacientes com problemas cardíacos enfrentam um novo drama.

Estudo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revela que, além de altos, os preços de produtos de uso cardiovascular variam até 1.000% no Brasil.


Os stents coronários (molas usadas para dar suporte interno às artérias e evitar o infarto), por exemplo, custam entre R$ 896 e R$ 9,5 mil, conforme o fabricante.

O valor de um marcapasso (usado para regular os batimentos cardíacos) varia até 250%. O mais barato custa R$ 4.324 e o mais caro, R$ 10.284.

A diferença é ainda mais gritante quando a comparação é feita com outros países. Na Alemanha, o aparelho pode ser encontrado por preços que vão de R$ 1,8 mil a R$ 3,7 mil.


O levantamento analisou 145 itens disponíveis no mercado. "Os valores são informados pelas fábricas quando elas lançam o produto. Mas não entendemos o motivo de tanta disparidade. Os tributos altos não justificam essa situação", afirmou Pedro Bernardo, chefe do Núcleo de Regulação Econômica da Anvisa.

Custo-benefício
Embora esses produtos sejam comprados, na maioria das vezes, por hospitais, quem paga a conta é o consumidor.
"Se o paciente tem plano de saúde, a operadora paga. Caso contrário, ele tem de repassar o valor para o estabelecimento médico", observou Bernardo.


A seu ver, com o resultado da pesquisa, será mais fácil monitorar o mercado. Pela falta de conhecimento, as pessoas não têm condições de analisar o melhor custo-benefício no momento da compra.

"Com informação, elas podem exercer o seu direito de escolha. Podem optar pela melhor qualidade e o menor preço e, assim, pressionar as indústrias a alterar as tabelas."

Cristiane BonfantiCorreio Braziliense

O BRASIL "ENTREGUE" AOS GOVERNOS DA "GERENTONA/FRENÉTICA/EXTRAORDINÁRIA" FORMADA NA UNIVERSIDADE "BOTECO DO CACHAÇA".

Dilma Rousseff é caso único na História do Brasil.
Já iniciou, em apenas sete meses, três vezes o seu governo.
Em janeiro assumiu a Presidência.
Parecia que a sua gestão iria começar.
Ledo engano.


Veio a crise em maio - caso Palocci - e ela rearranjou o núcleo duro do poder.
Seus entusiastas saudaram a mudança e espalharam aos quatro ventos que, naquele momento, iria efetivamente dar início ao seu governo.

Mera ilusão.
Veio nova crise em junho, esta no Ministério dos Transportes.

Seguiram-se demissões de altos funcionários - ontem já chegaram a 27. Em seguida, foi anunciado que agora - agora mesmo - é que iria começar a sua Presidência. Será?


No país das Polianas, sempre encontramos justificativas para o injustificável.
Os defensores, meio que envergonhados da presidente, argumentam que ela recebeu uma herança maldita. Mas não foi essa "herança" que a elegeu presidente?

Não permaneceu cinco anos na Casa Civil participando e organizando essa "herança"? Herança, como é sabido, é algo recebido de outrem.
Não é o caso.


A então ministra da Casa Civil foi uma participante ativa na organização da base partidária que sustenta o governo no Congresso Nacional. Tinha e tem absoluta ciência do que representam essas alianças para o erário.


Fingir indignação, falar em limpeza - quando o vocabulário doméstico invade a política, é sinal de pobreza ideológica -, dizer que agora, sempre agora, só vai aceitar indicações que tenham a ficha limpa, isso é um engodo.

Quer dizer que no momento em que formou o Ministério a ficha limpa era irrelevante?
Ficha limpa é para coagir aliados?
E que aliados são esses que são constrangidos pelo currículo?


Os sucessivos reinícios de governo são demonstrações de falta de rumo e de liderança. O PAC não é um plano de governo.
É uma junção aleatória de obras realizadas principalmente pelo governo e por empresas estatais.

É um todo sem unidade alguma.
Não há uma concepção de projeto nacional, nada disso.
Além da falta de organicidade, os cronogramas de todas as obras estão atrasados.


O governo não consegue realizar, de forma eficaz, nenhum empreendimento. Quando algo chama a atenção, não é por seu efeito para o desenvolvimento do País. Muito ao contrário. É por gasto excessivo, desvio de recursos, inutilidade da obra ou atraso no prazo de entrega. E, algumas vezes, é uma cruel somatória desses quatro fatores.


O País está sem rumo.
Mantém indicadores razoáveis no campo econômico, contudo muito abaixo das nossas potencialidades. Basta lembrar que neste ano a taxa de crescimento será a mais baixa entre os países da América do Sul (não estamos falando de China, Índia ou Coreia do Sul, mas de Paraguai, Equador e Peru).

A economia ainda é movida pelo que foi estruturado durante os primeiros anos do Plano Real e por medidas adotadas em 2009, ante a crise internacional.


A falta de liderança é evidente.
Os últimos quatro meses foram de abalos permanentes. E nos primeiros cem dias a presidente teve uma trégua. Foi elogiada até pelo que não fez. Politicamente, o ano começou em abril e, de lá para cá, o governo toda semana foi tendo algum tipo de problema.

Ora no relacionamento com a base, ora no cotidiano administrativo. O problema central é que Dilma não se conseguiu firmar como liderança com vida própria. É vista pelos líderes da base como alguém que deve ser suportada até o retorno de Lula. A questão - para eles - é aguentar a destemperança presidencial. Claro que o preço compensa.

Porém a rispidez e os gritos da presidente revelam que ela própria sabe que não é levada a sério. Vez por outra, o passado deve rondar os pensamentos da presidente. Ela, em alguns momentos, exige uma obediência ao estilo do velho "centralismo democrático" leninista.

Sonha com Trotsky, Bukharin e Kamenev, mas convive com Collor, Sarney e Renan.


Nas crises que enfrentou, não conseguiu encontrar solução razoável.
Ao contrário, desarrumou a articulação existente e foi incapaz de substituí-la por algo mais eficiente.

Deixou rastros de insatisfação e desejos de vingança. A trapalhada com o PR e a demora em resolver de vez as denúncias são mais evidências da falta de capacidade política.


Criou na Esplanada dos Ministérios a versão petista do "onde está Wally?".
Agora o jogo é adivinhar, entre mais de três dúzias de ministros, quem será o próximo a cair em desgraça.
Algo meio stalinista (é o passado novamente?).

Com tanto estardalhaço, Dilma nem acabou com a corrupção nem conseguiu fazer a máquina governamental funcionar.
E quem perde é o País.


A cada fracasso de Dilma, mais cresce o clamor da base (e do PT, principalmente) para o retorno de Lula. Difícil acreditar que o criador não imaginasse como seria o governo da sua criatura.

Pode ter sido uma jogada de mestre.
Respeitou a Constituição (não patrocinando o terceiro mandato), impôs uma candidatura-poste, venceu com o seu prestígio a eleição e será chamado cada vez mais para apagar incêndios.

Ou seja, a possibilidade de ser passado para trás é nula. Dessa forma, transformou-se no personagem fundamental para manter a estabilidade da aliança do grande capital nacional e estrangeiro, fundos de pensão das estatais, políticos corruptos e oportunistas de toda ordem.

É também o único que consegue fazer a articulação com o andar de baixo, dando legitimidade ao projeto antinacional. Sem ele, tudo desmorona.


Dilma vai administrando (e mal) o cotidiano.
A fantasia de excelente gestora, envergada no governo Lula e na campanha presidencial, revelou-se um figurino de péssima qualidade.
Como nos velhos sambas, a quarta-feira já chegou.

Um pouco cedo, é verdade.
O carnaval ma
l começou.
E dos quatro dias de folia, nem acabou o primeiro.

Marco Antônio Villa