"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 10, 2011

NO MATO SEM CACHORRO : SEM TER O QUE "COPIAR" O MINISTRO BUFÃO NÃO SABE O QUE FAZER. PIOR, A FRENÉTICA/EXTRAORDINÁRIA QUEBROU COM R$1,99. TAMO ...

É assustadora a tranquilidade exibida pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, diante do evidente surto inflacionário e das condições nada invejáveis das contas públicas brasileiras.
Ele tem fracassado seguidamente nas tentativas de enfrentar alguns dos mais prementes problemas, como o ingresso
maciço de dólares.


O anúncio de cada nova barreira é seguido de mais uma enxurrada de moeda americana e de mais uma rodada de valorização do real. Nada parece, no entanto, abalar seu otimismo e sua aparente confiança no sucesso de todas as suas políticas. Nessa sexta-feira, ele voltou a prometer, num discurso em São Paulo, medidas para conter o crescente desajuste cambial, como se as suas palavras desestimulassem os especuladores.

Não parece haver percebido um fato muito simples:
a reação normal dos jogadores a cada nova ameaça é antecipar seu lance e agir mais prontamente que o governo.

Mas o mundo fantástico do ministro tem muitas outras maravilhas.
Segundo ele, "o governo não titubeará em adotar medidas para ter a inflação sob controle". As autoridades, acrescentou, pretendem evitar o contágio de outros setores pelo aumento dos preços das commodities.
Ele pode não ter notado, mas, no Brasil das pessoas comuns, o contágio há muito deixou de ser um risco hipotético.


Enquanto o ministro discursava em São Paulo, a Fundação Getúlio Vargas divulgava no Rio de Janeiro o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), pesquisado em sete capitais. O aumento foi de 0,89% nos 30 dias terminados em 7 de abril. No fechamento de março havia sido de 0,71%. Um mês antes havia ficado em 0,59%. O contágio tem sido claramente confirmado pelo chamado índice de difusão.

No período encerrado na primeira semana de março, 63,34% dos itens haviam ficado mais caros. No fim do mês, esse índice havia chegado a 68,04%. Segundo a apuração recém-concluída, o surto inflacionário contaminou 68,33% dos bens e serviços incluídos na pesquisa.

A inflação brasileira, segundo insiste o ministro, é essencialmente um reflexo da valorização internacional dos produtos básicos. Mas ele decidiu, talvez por segurança, elevar de 1,5% para 3% o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente no crédito ao consumidor. Desde o ano passado muitos especialistas vinham apontando a rápida expansão do crédito como um fator inflacionário.

A reação do governo foi demorada e muito provavelmente será inócua no combate à inflação. A maior parte dos consumidores dificilmente notará o aumento do imposto e continuará tomando financiamentos, se as prestações couberem no seu orçamento. Muito mais eficaz seria uma redução do número das prestações, mas o ministro ou não percebeu esse dado ou não se dispôs a tomar uma providência realmente séria.

O aumento do imposto servirá mesmo para engordar a arrecadação do governo. Só com o aumento da carga tributária o governo conseguirá alcançar a meta fiscal deste ano - outra promessa do ministro.

Ele mencionou, naturalmente, a disposição do Executivo de cortar parte dos gastos programados para o ano, como se houvesse, de fato, a intenção de executar uma política austera.
Também isso é fantasia.
Já se fala, em Brasília, da disposição do governo de preservar certo volume de desembolsos para atender a pressões de prefeitos preocupados com as eleições de 2012. Isso é apenas parte das pressões.


Em seu surto de fantasia, o ministro comparou a expansão dos investimentos no Brasil e na China. De fato, o aumento de 21,9% apurado em 2010 deve ter sido bem maior que o verificado na China.

Mas esse aumento ocorreu sobre a base deprimida de 2009. Além disso, há uma diferença monumental entre as duas economias na relação entre investimento e PIB. Neste ano, se der tudo certo, o País investirá o equivalente a 19,1% da produção bruta, segundo a própria Fazenda.


A China deve ter investido 55% do PIB no ano passado. Em 2011, a proporção talvez diminua para 54,5%.
O Brasil precisará poupar muito mais para chegar à metade disso. Esse resultado dependerá principalmente da adoção de políticas mais sérias pelo governo. Fantasia sem ação não gera recursos.


O Estado de S.Paulo