"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 12, 2013

PETEBRAS : o retrato da destruição

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Uma imagem pode valer mais do que mil palavras. 

Com isso em mente, ofereço aos leitores esse retrato da destruição de valor da Petrobras durante o governo Dilma. Trata-se da razão entre as ações da “nossa” estatal e o índice de empresas do setor de energia nos Estados Unidos (os principais nomes são Exxon e Chevron).
 
Colocando ambos em base 100 no começo de 2010, eis o que temos hoje: a Petrobras vale apenas cerca de 20% do que valia em relação ao XLE! Em outras palavras, a estatal brasileira perdeu algo como 80% de seu valor em comparação com uma cesta de empresas americanas do mesmo setor! 


É ou não é um espanto?

Agora, se o leitor quiser, ele pode continuar batendo no peito, com orgulho, e repetir que o petróleo é nosso.
Mas ao menos ele terá uma leve ideia de quanto isso custa para o país.

Principalmente se ele for um dos felizardos acionistas por meio do FGTS…


Via : Rodrigo Constantino

Barbosa muda pauta do julgamento do mensalão

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A morte da mulher do ministro Teori Zavascki adiou os planos do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, de começar a decidir nesta quarta-feira, 14, o ponto mais polêmico dos recursos do mensalão: se 11 dos 25 condenados por envolvimento com o esquema terão ou não direito a um novo julgamento.

Como Zavascki não deverá participar das sessões desta semana, Barbosa resolveu inverter a pauta. Ao invés de começar o julgamento pelos recursos que deverão render mais debates e nos quais há chances de divisão da Corte, o STF analisará pedidos mais simples e que possivelmente não levarão a mudanças no resultado.

A ideia é que a Corte esteja com sua composição completa quando for decidir se há ou não direito de réus a um novo julgamento nos casos em que a condenação não foi unânime. O prognóstico é de que a maioria dos integrantes admita os recursos.

E como a composição atual do Supremo é diferente da do ano passado, quando os réus foram condenados, há chances de parte dos acusados se livrar de cumprir penas por crimes, especialmente pelo delito de formação de quadrilha.

Um dos que poderá ser beneficiado é o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado a 10 anos e 10 meses no regime fechado por formação de quadrilha e corrupção ativa.

Com base em entendimento recente da Corte, que absolveu o senador Ivo Cassol da acusação de formação de quadrilha, num novo julgamento Dirceu poderá se livrar da condenação por formação de quadrilha, o que fará com que sua pena seja reduzida e cumprida no regime semiaberto.

Dois ministros do STF que participaram do julgamento do processo em 2012 e condenaram os réus se aposentaram. Eles foram substituídos por Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso. Mulher de Teori Zavascki, a juíza aposentada Maria Helena Marques de Castro Zavascki morreu ontem em Porto Alegre em decorrência de um câncer. A cerimônia de cremação está programada para hoje. O presidente do STF não deverá participar.

Democracia e liberalismo

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O uso equivocado ou dúbio de palavras não só dificulta a compreensão, como é potente fator de desorientação da ação humana. Quanto pior conceitualizarmos um evento, tanto menos somos capazes de entender o que está acontecendo.

Os juízos moral e político ficam sem parâmetros, ziguezagueando ao sabor das conveniências ideológicas.

Um caso particularmente relevante concerne ao modo como o dito "golpe" egípcio é avaliado e, para além dele, como a diplomacia brasileira "compreende" o que vêm a ser os "progressos" da América Latina em sua vertente socialista, bolivariana.


Ainda recentemente o Brasil sediou o Foro de São Paulo, entidade esquerdista latino-americana que se caracteriza por seu apreço a toda política liberticida, em nome - pasmem! - de uma nova "democracia".
Eles gostam mesmo é de uma "boa" ditadura.

Os representantes ideológicos do passado procuram travestir-se com um manto politicamente aceitável, para enganar os incautos.

A propósito do juízo político sobre os eventos no Egito, alguns analistas fizeram um uso muito curioso dos conceitos de "democracia" e "liberalismo", como se lá tivesse ocorrido uma colisão entre ambos. Mais comezinhamente, deveríamos dizer que lá ocorreu um divórcio entre um resultado eleitoral e os que defendem direitos e liberdades, que vinham sendo usurpados por um governo isla-mista.

Este foi sufocando as liberdades, impondo suaparticu-lar interpretação dos valores islâmicos, os defendidos pela Irmandade Muçulmana.
Convém não esquecer que essa mesma organização religiosa foi a responsável pelo assassinato do presidente egípcio Anuar Sadat, paiticipou da fundação da AI-Qaeda e apoia o terrorismo do Hamas na Faixa de Gaza. Aliás, o atual líder da Al-Qaeda é egresso da mesma Irmandade Muçulmana.

As credenciais "democratas" desse "partido" são, portanto, de difícil aceitação!

Há um problema conceituai de monta aqui envolvido.. A democracia, assim entendida, viria a significar exclusivamente a reali zação de eleições e a adesão incondicional aos eleitos, como se daí em diante tivessem eles o "direito" de tudo fazer, ficando a sociedade submetida ao seu arbítrio.

A democracia seria mero instrumento de conquista do poder, que uma vez garantido asseguraria a seus detentores a prerrogativa de tudo decidir, sendo soberanos no sentido ilimitado do termo. Nenhuma lei os limitaria, salvo a de fachada que eles mesmos se outorgam.

O próprio Poder Judiciário torna-se um mero joguete em suas mãos, nada decidindo verdadeiramente, devendo subordinar-se aos ditames do Executivo.

Logo, os direitos individuais sao abolidos - valores burgueses, no dizer bolivariano; valores ocidentais, para os islamis-tas. As liberdades são progressivamente sufocadas em nome desses "outros" valores socialis-tas/islamistas, conforme o caso, como Estado vedando todos os poros 

por onde uma sociedade respira.

Normalmente seus alvos mais diretos são os grupos de mídia e imprensa, porque quem proc
ura impor seus valores e ideias tem como objetivo eliminar toda liberdade de expressão. Não espanta, pois, que advoguem por uma "democratização dos meios de comunicação", forma velada de controlar a mente das pessoas e, por intermédio delas, a
sociedade em geral.

Ainda no Foro de São Paulo o presidente da Bolívia, Evo Mo-rales, julgou- na ausência de juízo que o caracteriza - que "sobra" liberdade de imprensa na América Latina. Ou seja, o que "sobra" é o que ainda não conseguiram eliminar. Teve a adesão dos "companheiros".

Se a democracia é definida apenas em termos eleitorais, ela é reduzida a uma de suas condições, eliminando todas as outras. E a alternância no poder termina por não se concretizar, porque os que detêm as rédeas de comando da máquina do Estado eliminam tal possibilidade. Medidas arbitrárias são tomadas contra os opositores, tratados como se criminosos fossem. São comuns os processos contra os que se rebelam contra essa situação, pois tidos como inimigos a serem aniquilados.

A liberdade de imprensa, condição fundamental de toda sociedade livre, vê-se afrontada por restrições crescentes, como na Venezuela, onde empresas são fechadas ou vendidas a "empresários" amigos. Observe-se, nesse sentido, a nova lei de controle da imprensa e dos meios de comunicação, recém-aprovadano Equador: doravante eles serão submetidos ao governo, que passará a agir por intermédio de "censores legais".

Nos países bolivarianos a "democracia" está sendo instrumentalizada para a implementação de seu projeto socialista, destroçando as liberdades, destruindo as instituições, tomando as oposições inviáveis, calando os meios de comunicação e implantando a dominação do "líder máximo" e de seu partido. Embora ditos não religiosos, sua ideologia se caracteriza por concepções teológico-políticas.

No caso do presidente Nicolás Maduro não lhe falta nem sua comunicação espiritual com o ex-protoditador Hugo Chávez, que "fala" com ele através de uma "pomba". É um homem abençoado, particularmente bem-aventurado! 


Acrescentem-se as restrições infligidas pelos que buscam impor normas religiosas ao conjunto da população, pelo controle absoluto dos costumes, atingindo mulheres e homossexuais, para que se tenha uma melhor visão de como a democracia é, dessa forma, pervertida. Ou seja, os que dissociam democracia de liberalismo, dizendo defender aquela, têm forte pendor liberticida. Mascaramno, porém, ao atribuírem ao liberalismo um viés não democrático.

Eis o contexto ideológico em q ue se move a diplomacia brasileira, acatando todas as medidas liberticidas dos países bolivarianos e islâmicos, conivente com seus desmandos de subversão da democracia por meios democráticos. O País acaba se alinhando à escória mundial em nome da democracia - e os mais afoitos, em nome da luta contra o neoliberalismo. O Foro de São Paulo é a sua celebração!


Denis Rosenfield O Estado de S. Paulo

A conta-petróleo

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A Petrobras sempre foi motivo de orgulho para os brasileiros e tem tudo para continuar a sê-lo. Principalmente quando se vir novamente livre das ervas daninhas que lhe sugam a energia e canibalizam a empresa. Neste fim de semana, a revista Época revelou, com riqueza de detalhes, como interesses político-partidários se incrustaram na estatal para drenar recursos. Era algo de que há muito já se falava, mas que ainda não fora conhecido com tanta minúcia. A reportagem fornece um roteiro incontestável a ser investigado.

O cerne dos desvios era (ou ainda é) a diretoria internacional da Petrobras. De lá, transformada em feudo do PMDB, saía (ou ainda sai) grosso dinheiro para campanhas políticas e para bolsos aliados, segundo a revista.
Uma das fontes do dinheiro sujo são as vendas de ativos da estatal no exterior. Em março, a Época já havia tratado de uma delas: a estranhíssima operação de alienação de uma refinaria na Argentina para um empresário ligado a Cristina Kirchner. Sabe-se agora que, da transação, fechada em maio de 2010, saíram pelo menos US$ 10 milhões para cofres partidários.

Segundo a revista, os peemedebistas não foram os únicos beneficiários. A campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010 também teria recebido US$ 8 milhões. E contratos fechados pela Petrobras ao redor do mundo com empresas privadas brasileiras teriam, ainda, ajudado estas a irrigar campanhas eleitorais aliadas.

O descalabro relatado pela revista obriga a uma investigação de como age a área internacional da Petrobras. Para começar, a empresa tem em marcha um programa de "desinvestimentos" que envolve a venda de US$ 10 bilhões em ativos situados no exterior. Pelo que Época divulgou, destas operações pode vir muita grana para o PT e seus aliados, por meio de "pedágios" arrecadados.
Hoje, a estatal está presente 17 países, mas já esteve em muitos outros. Nos últimos seis meses, encerrou negócios que mantinha em outras seis nações. Só a venda de ativos que detinha na África contribuiu com R$ 1,906 bilhão para o resultado que a Petrobras obteve no segundo trimestre, divulgado na última sexta-feira.

Embora tenha apresentado lucro surpreendente no período, o resultado ainda representa queda de 19% quando comparado ao obtido no primeiro trimestre. Sem uma manobra contábil (legal pelos padrões vigentes no país), a Petrobras poderia ter tido novo prejuízo, repetindo o feito de um ano atrás - ainda que em proporções, felizmente, menores.


Os negócios suspeitos mantidos pela Petrobras no exterior, bem como as temerárias gestões que levaram nossa maior empresa a claudicar, são motivo de interesse e investigação do Congresso. Só o governo, claro, não concorda em ver escrutinadas as operações de sua galinha dos ovos de ouro negro.

Já há um pedido de instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com apoio suficiente para sua aprovação:
tem 199 assinaturas, 28 a mais que o mínimo necessário. Para não gramar na fila de CPIs à espera no Congresso, uma alternativa para viabilizá-la é recorrer ao Judiciário, como adiantam alguns jornais hoje.
O mais importante é passar a limpo as atividades da Petrobras nos últimos anos, em especial quando esteve sob o comando de José Sergio Gabrielli, para quem um negócio tão ruinoso como a compra da refinaria de Pasadena - pela qual a empresa brasileira pagou 27 vezes mais que uma concorrente pagara meses antes - foi "normal".


Uma investigação adequada pode mostrar que na Petrobras vinha funcionando uma verdadeira "conta-petróleo", cuja finalidade era irrigar os cofres partidários e drenar recursos que deveriam servir aos interesses dos brasileiros e não ao de uns poucos.
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Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

EM REPÚBLICA TORPE... O RESULTADO É OUTRO



O termo sugere um tratamento especial, VIP, para a casta de políticos e autoridades. É provável que, por isso mesmo, a revogação do chamado "foro privilegiado" tenha entrado em alguma das "agendas positivas" que o Congresso formulou às pressas, para atender à onda de manifestações de rua em que o combate à corrupção e, em sentido amplo, a privilégios na vida pública foi uma das bandeiras.
Infelizmente, como quase sempre, o senso comum erra ao considerar o foro privilegiado um instrumento a serviço da impunidade, um dos graves males do país. Pois é o oposto.
Inevitável lembrar, neste debate, que o primeiro movimento feito pela defesa de mensaleiros no julgamento do Supremo foi pedir a transferência para a primeira instância dos processos de seus clientes não enquadrados formalmente no foro privilegiado.
A intenção era evidente: 
apostar na prescrição dos crimes. 
Uma aposta com cem por cento de possibilidade de acerto, dada a conhecida e resistente característica de lentidão e burocracia do Judiciário - apesar da atuação do Conselho Nacional de Justiça contra o atravancamento da máquina dos tribunais, um mal a ser combatido não apenas com aperfeiçoamentos legais, mas também aprimoramentos administrativos.
A lerdeza da Justiça tanto é uma salvação para políticos e autoridades que já houve quem renunciasse no Congresso para escapar do STF e poder se beneficiar do longo, tortuoso e infindável trajeto entre a primeira instância e a última.
Por este motivo, a Lei da Ficha Limpa estabeleceu como parâmetro para a não concessão de registro a candidatos uma condenação por colegiado, na Justiça e na esfera administrativa. A lei acabou com a boia salva-vidas do "transitado em julgado", ou seja, da última sentença. A que demora tanto que poucas vezes é lavrada.

Também beneficiados pela lentidão com que os processos tramitam, donos de prontuários policiais e/ou volumosos e ricos registros no Judiciário costumavam buscar proteção nas imunidades concedidas aos parlamentares. E tinham sucesso - até a Ficha Limpa.

Acabar com o foro privilegiado é colocar à disposição de políticos e autoridades acusados de delitos este escudo poderoso da impunidade, por meio da prescrição forçada pela demora na tramitação dos processos. É certo que a Justiça precisa ser menos lenta, ganhar velocidade em suas decisões, sem, óbvio, precarizar direitos. Mas, mesmo num Judiciário eficiente, faz sentido o tratamento especial a representantes do poder público.
Não só por ser impossível protegê-los de vendetas políticas engendradas na Justiça e no Ministério Público, mas também porque a rapidez nos julgamentos - claro, garantido o direito pleno de defesa - de qualquer agente público, dos três poderes, é básica para impedir o corrosivo sentimento de impunidade, incentivo infalível à criminalidade continuada.
O Globo

Populismo improdutivo


O Brasil vem operando de acordo com um modelo de forte expansão do consumo, cujos contornos já expliquei neste espaço. No início, a taxa de crescimento potencial da economia brasileira atingiu a quase 4,5% ao ano, acompanhando a expressiva elevação dos investimentos. De 2009 para cá, contudo, o volume de investimentos, que subira de 14% para 18% do PIB, parou de aumentar. Consequentemente, o crescimento sustentável voltou a cair para uma faixa entre 2 e 3% ao ano.

Passada a crise do subprime , certo amortecimento da força do modelo de expansão do consumo era esperado, resultado de um freio natural na forte expansão do crédito ao consumidor, em resposta ao aumento das taxas de inadimplência. Outro ajuste viria da desaceleração do crescimento chinês, também previsível, que poria alguma trava no forte aumento dos preços externos de commodities e nos benefícios que isso agregava ao Brasil. Mas nunca se deveria esperar que, tudo o mais constante, a relação investimento/PIB parasse de subir no Brasil, acarretando queda do PIB sustentável, inclusive em comparação com os demais emergentes.

Temo, assim, que boa parte da explicação do pífio desempenho da economia de 2009 para cá esteja na excessiva interferência do governo, algo que se acentuou após a crise, e que poderia perfeitamente ser evitado. Crise que, aliás, foi usada como bode expiatório para justificar o forte incremento nos gastos da União e dos empréstimos do BNDES financiados com a emissão de títulos públicos. Passado o pior, o governo resiste em retirar os instrumentos de exceção.

Nesse contexto, uma ampla lista de ingerências governamentais, com nítido cunho populista, contribuiu para a redução das intenções de investimento. Tal comportamento pautou não apenas parte das empresas localizadas no País, como investidores em potencial, internos ou externos. Um deles foi o congelamento dos preços dos derivados de petróleo, que levou à forte expansão de seu uso, aumento das importações e queda no consumo de etanol, prejudicando a Petrobras e o setor alcooleiro.

Outro foi a redução das tarifas de energia elétrica na confusa operação em que as empresas em final de prazo de concessão foram estimuladas a aderir ao plano do governo, em troca de mais uma renovação. Outro item, ainda na área de controle de preços, foi o adiamento do reajuste das passagens de ônibus urbanos que o governo pediu às principais prefeituras no início do ano, tudo isso implicando a necessidade de uma inflação corretiva entre 2 e 3% ao ano, que, como na Argentina, não aparece nas estatísticas oficiais e aguarda diluição.

Finalmente, diante das manifestações de junho, o governo federal e o de São Paulo preparam-se para adiar o reajuste de pedágios previsto para estes dias, o que pode levar a um represamento ainda maior de inflação. As atuais concessionárias estão, obviamente, com as barbas de molho, esperando algo pior à frente e revendo planos de investimento.

Também bateu de frente com a avaliação de risco do País a criação de novos controles à entrada de capitais externos, que ocorreu no ano passado, com vistas a forçar uma depreciação do real acima da inflação, algo que acabou acontecendo, e aumentar a competitividade da indústria de transformação. Isso acabou antecipando, de certa forma, um movimento de desvalorização da moeda que acabaria acontecendo de forma natural este ano, diante do anunciado aperto que deverá ocorrer na política monetária americana, mas não parece ter sido capaz de despertar o espírito animal dos empreendedores na indústria.

A piora da percepção de risco - e o resultante desestímulo aos investimentos - veio também da sensação de que o governo havia abandonado a tríade superávit primário alto/meta de inflação/câmbio flutuante, herdada de FHC. A queda dos superávits resultou em parte do maior aumento dos gastos, mas principalmente da queda inicial de arrecadação, posteriormente acentuada pela desoneração tributária concedida a segmentos escolhidos arbitrariamente. Em vez de explicar que pelo menos parte disso poderia se justificar pela necessidade de responder à crise, o governo manteve a meta de superávit ambiciosa de antes, e introduziu vários artifícios contábeis para esconder a piora fiscal.

Quanto à inflação, parece que o centro do intervalo de metas aumentou informalmente para 5,5% ao ano, e só mais recentemente o Banco Central se mostrou efetivamente empenhado em demonstrar que perseguiria a antiga meta oficial. Nada se disse porém em relação ao "passivo" representado pelos reajustes tarifários não concedidos nas épocas previstas.

Não se pode esquecer a novela das concessões privadas de infraestrutura. O governo sabe que não tem recursos para investir em transportes, se empenhou no lançamento de um parrudo programa de concessões, mas insiste em impor retornos inaceitáveis e outras práticas afugentadoras dos candidatos sérios. 

Assim não dá.

Raul Velloso 

"a História é uma piranha", pois "sempre fica com quem paga mais". Olhem o balanço de pagamentos.

Lester Thurow, antigo professor do MIT, dizia que "as sociedades têm uma tendência a cometer erros fundamentais a intervalos de 60 anos, uma vez que todo mundo com idade bastante para se lembrar do engano anterior a essa altura já está morto ou senil".

Já nosso Ivan Lessa disse a mesma coisa, mas com outra métrica, quando escreveu que "de 15 em 15 anos, o Brasil se esquece do que aconteceu nos últimos 15 anos".

Independentemente do intervalo de tempo em que as sociedades esquecem o passado, é natural que aqueles que vivenciamos as agruras dele observemos o presente com olhos diferentes daqueles que só conhecem o passado pelos livros de História. E, nesse sentido, para os mais velhos, a trajetória recente do nosso balanço de pagamentos é bastante preocupante.

É verdade que o funcionamento da economia em um regime de câmbio flutuante é muito diferente da forma em que uma economia opera com câmbio fixo ou rígido. Basicamente, com câmbio flutuante, na presença de uma desvalorização entram em jogo estabilizadores automáticos que não estão presentes quando a política cambial é rígida.

Primeiro, pela mudança da paridade cambial em si, que altera os preços relativos de exportações e importações e modifica com o passar do tempo o resultado da balança comercial. E, segundo, porque enquanto que numa economia com câmbio fixo ou semifixo, há um certo valor em US$ de diversos itens da despesa, com câmbio flutuante tal valor é uma função da própria cotação cambial.

Um exemplo simples ajuda a entender isso: 
se há R$ 30 bilhões a serem remetidos por conta de lucros e dividendos a uma cotação de R$ 2 por dólar, a remessa dessa rubrica será de US$ 15 bilhões, mas, se a cotação pular, só como hipótese de raciocínio, para R$ 3, o mesmo valor na moeda local, se medido em dólares, passa a ser de US$ 10 bilhões.

De qualquer forma, qualquer que seja a política cambial, desequilíbrios elevados na conta corrente de um país submetem este a um risco importante:
o de o financiamento externo "secar".
Nesse caso, o país terá que se ajustar, tão rapidamente quanto for a
intensidade do movimento da conta de capitais.

O que nos mostram os números?
Vejamos a trajetória do déficit em conta corrente do país.
Até 2007, tinhamos um pequeno superávit.
Em 2008, tivemos um déficit de US$ 28 bilhões, contido no ano seguinte para US$ 24 bilhões por conta da crise.


Depois, ele só fez aumentar, chegando a US$ 54 bilhões em 2012, com perspectiva de chegar perto de US$ 80 bilhões em 2013.

Esses números, que em épocas anteriores teriam ligado o sinal vermelho da política econômica, são vistos com tranqüilidade tanto pelos gabinetes oficiais como por analistas privados, com dois argumentos.

Um, de que haveria financiamento externo disponível.
E o segundo, de que em termos relativos seria da ordem de 3% do PIB - percentual considerado aceitável. O problema é que ambos argumentos têm sua dose de vulnerabilidade.


O financiamento externo existe até que deixa de existir - e, muitas vezes, isso ocorre subitamente. E o percentual do déficit é ele mesmo função da taxa de câmbio:
se a fonte externa de recursos secar e o câmbio se desvalorizar, o valor do PIB em US$ cai e 3% do PIB podem virar 4% do PIB em pouco tempo - entrando em terreno mais delicado.
Além disso, o déficit em dólares continua aumentando.

O país, que fez um ótimo ajuste externo na década passada, a ponto de ter eliminado a dívida externa líquida, parece ter se deixado seduzir pelo "canto de sereia" do financiamento externo. Tomás Eloy Martinez, autor de "La novela de Perón", coloca em boca deste a frase que ele teria dito ao afirmar que "a História é uma piranha", pois "sempre fica com quem paga mais". E quem paga mais é sempre o último, porque o relato que conta na História é sempre o derradeiro.

Desde 2004, a demanda doméstica avançou na frente da produção, "festa" essa financiada pelo resto do mundo. 
Se essa relação não for revertida, cedo ou tarde teremos uma crise.

O Governo precisa tomar cuidado: 
se o financiamento externo "secar", a história das gestões Lula-Dilma acabará sendo reescrita - e, se tanta gente foi para a rua mesmo com desemprego baixo, dá para imaginar o tamanho da confusão se tivermos uma crise para valer.

Fabio Giambiagi O Globo