"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 04, 2012

O quadrilheiro do povo mensaleiro


O primeiro e decisivo passo para condenar José Dirceu e a antiga cúpula petista pelos crimes do mensalão foi dado ontem, com o voto do ministro Joaquim Barbosa. 
A pá de cal deve ser jogada nesta quinta-feira quando se espera que - se nenhum ministro não interpuser delongas injustificáveis - a mais alta corte do país considerará aqueles que, até pouco tempo atrás, comandavam o PT culpados por desviar dinheiro público para comprar apoio político no Congresso.

Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, além de outros cinco réus, foram condenados ontem por corrupção ativa pelo ministro relator. A partir da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi montada uma máquina para corromper parlamentares que se sujeitassem a sustentar o projeto de poder do PT. 

O ministro-chefe a comandava.

Barbosa empilhou um monte de evidências para mostrar que José Dirceu detinha o "domínio final de todos os fatos" do mensalão. Nada acontecia sem a sua anuência, de tratativas de liquidação de bancos à exploração do raríssimo nióbio. Marcos Valério era seu operador - "broker", ou corretor e negociador, na definição do ministro relator.

De fato, é difícil admitir que Dirceu participasse de tantas e tão díspares reuniões, com tão distintos interlocutores, sem que fosse para tratar da montagem e da atuação da quadrilha que concebeu, estruturou e operacionalizou o maior esquema de corrupção que se tem notícia na história política do Brasil.

Mais: 
como explicar que, para tratar de mineração ou de sistema financeiro, estivessem sempre sentados à mesa de reuniões com Dirceu o tesoureiro do seu partido (Delúbio Soares) e um publicitário cujo maior dom era montar esquemas de desvio de dinheiro público para molhar a mão de parlamentares (Marcos Valério)?

Mais ainda: como explicar que, logo depois de realizadas tais reuniões, uma gorda dinheirama tenha saltado das burras do Banco Rural para os cofres do PT, de onde escorreu para o bolso dos mensaleiros? 

Terão sido meras coincidências? 
Barbosa deixou claro que não:
 era o mensalão mesmo em plena ação.

A defesa de Dirceu argumenta que uma das reuniões com o pessoal do Rural serviu para tratar da exploração de nióbio. Estranhíssimo. 
Primeiro, porque, até onde se sabe, não é atribuição da Casa Civil cuidar de pesquisa mineral. 

Segundo, porque o Brasil tem um único produtor do metal - aliás, um dos únicos no mundo: 
a CBMM, que pertence, justamente, a um grupo concorrente do banco mineiro, o Moreira Salles, então à frente do Unibanco, hoje do Itaú-Unibanco. 
O que, diabos, o Rural iria querer com nióbio?
 Nada, provavelmente; o papo era outro.

Os interlocutores de Dirceu eram gente que não tinha nada a ver com assuntos de governo ou com os temas alegados pela defesa do "chefe da quadrilha", mas tudo a ver com o mensalão, como ressalta Marcelo Coelho em precisa análise sobre o voto de Barbosa ontem no Supremo, publicada na (Folha de S.Paulo).

Era uma profusão de "reuniões fechadas, jantares, encontros secretos", com Dirceu "em posição central, posição de organização e liderança da prática criminosa, como mandante das promessas de pagamentos de vantagens indevidas aos parlamentares que viessem a apoiar as votações do seu interesse", conforme resumiu, com a acuidade de sempre, Joaquim Barbosa em seu voto.

São evidências de sobra para que José Dirceu passe uns bons tempos no xadrez. Se condenado a mais de oito anos pelos ministros do STF, amargará cumprimento da pena em regime fechado. 
Um ocaso e tanto para quem foi o segundo homem mais poderoso da República e sonhava tornar-se o maioral. Dirceu terá uma ficha corrida e tanto a exibir: 
ex-ministro, deputado cassado, presidiário e quadrilheiro.

Hoje, (O Estado de S.Paulo) diz que o PT prepara manifestações de desagravo para seus próceres condenados pelo Supremo. A turba petista costuma saldar gente como o ex-ministro com urros e palavras de ordem do tipo "Dirceu, guerreiro do povo brasileiro". 
No encontro que terão após a conclusão do julgamento do mensalão pelo STF, poderá inaugurar um novo brado retumbante: "Dirceu, quadrilheiro do povo mensaleiro".

Fonte: Instituto Teotônio Vilela 
 O quadrilheiro do povo mensaleiro

O LIXO DA HISTÓRIA ! CACHACEIRO PARLAPATÃO O FILHO... DO brasil TRAÍDO ? NÃO, VELHACO TRAIDOR.

 
No auge das denúncias do mensalão, em agosto de 2005, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva leu um discurso de 12 minutos, durante a parte da reunião ministerial aberta às transmissões de tevê, no qual se posicionava oficialmente sobre o maior escândalo do governo.

“Fui traído”, disse um contrariado líder à nação, quase sem olhar para as câmeras, reconhecendo a gravidade da crise política que um mês antes havia derrubado o seu “primeiro ministro” José Dirceu e retiraria de cena líderes históricos do partido, o PT. 

“Estou indignado”, declarava o mito Lula, blindado até hoje do peso das acusações cujos réus estão na reta final do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

No único improviso que fez durante a fala, afirmou que não tinha vergonha de dizer que o governo e o PT tinham de “pedir desculpas” ao povo brasileiro pelos erros cometidos. Dias antes, o publicitário Duda Mendonça declarou à CPI dos Correios que campanhas eleitorais petistas de 2002 foram pagas com depósitos em um paraíso fiscal.

O exame em retrospecto das declarações do ex-chefe do Executivo sobre o escândalo revela contradições se cotejado com o desfecho que a Justiça está acenando para a emblemática Ação Penal 470. 

Já caiu por terra a tese, defendida depois do “fui traído” e sustentada até hoje, de que não houve corrupção ativa com desvio de dinheiro público para compra de apoio parlamentar, mas o suposto “crime comum de todos os partidos” conhecido como caixa dois ou “recursos não contabilizados”.

Em entrevista exclusiva a uma jornalista em Paris, Lula martelou na tecla do esquema irregular de financiamento de campanha. Ele tentou (e conseguiu) separar o Planalto do malfeito partidário. Até dias antes de passar a faixa à sucessora Dilma Rousseff , resistia a dizer quem e como o traiu. 

Avisou que aproveitaria a sua volta à planície para provar que o mensalão, no modo como ficou conhecido, foi uma grande farsa, construída pelos rivais políticos e golpistas invejosos.

Quase dois anos depois, a única coisa que o ex-presidente fez nesse sentido foi ter uma conversa reservada com o ministro do STF Gilmar Mendes para tentar convencê-lo da “inconveniência” de realizar a polêmica análise do mensalão durante o período eleitoral. 

A vontade de esclarecer o caso, quase sete anos depois que veio à tona, parecia menos que fraca. Lula foi traído… por suas palavras.

Sílvio Ribas Correio Braziliense  
Lula traído

E NO STF... AO INVÉS DE UM PAPEL DE REVISOR, UM ELEFANTE E SEU DESARRANJO(CÉREBRO) INTESTINAL



Contrariando seu comportamento ao longo de todo o julgamento, o ministro revisor Ricardo Lewandowski fez questão de começar a votar ontem mesmo, ao final do voto do relator, com o objetivo, que alcançou, de fazer um contraponto ao voto do relator Joaquim Barbosa.

Não será surpreendente se hoje Lewandowski ocupar boa parte da sessão, se não toda ela, para definir a não participação do ex-ministro José Dirceu no caso do mensalão.Lewandowski agiu com insuspeitada rapidez, e possivelmente voltará aos seus longos votos hoje, simplesmente com o objetivo de não deixar o noticiário sobre o mensalão ser dominado pela condenação em massa do relator.

Se os primeiros votos dos demais ministros não forem dados amanhã — ou se poucos deles forem proferidos — não haverá decisão definitiva antes das eleições de domingo.

O voto do revisor a favor de Dirceu é inferência lógica da absolvição do ex-presidente do PT José Genoino e da condenação do ex-tesoureiro Delúbio Soares. O revisor caminha para pôr toda a culpa do ocorrido em Delúbio, como se o PT fosse partido sem comando em que o tesoureiro fosse o responsável por toda sorte de falcatruas e corrupções já apuradas durante o processo em julgamento.

Se Genoino, que assinou os empréstimos falsos do PT, não tem culpa alguma no cartório, o que dizer do ex-ministro-chefe da Casa Civil, que se declara na sua defesa completamente alheio ao que acontecia no partido que até então dominava politicamente e do qual fora o último presidente antes de assumir seu posto de “capitão” do time de Lula que chegava ao Palácio do Planalto?

Lewandowski, na defesa de sua tese, que, indicam os votos anteriores, está isolada no plenário do STF, praticamente acusou seus confrades e confreiras de estar julgando com base em teses não comprovadas nos autos, atribuindo ao plenário da Corte atitudes que usualmente têm sido apontadas pelos advogados dos réus e pelos grupos petistas na política e na mídia.

A tal ponto que Marco Aurélio Mello sentiu-se obrigado a ironizar a atitude do colega, dizendo entre sorrisos que estava “quase” se convencendo de que o PT não comprara votos.Duas teses de Lewandowski para absolver Genoino não encontram respaldo nos fatos. Dizer que o aval que ele deu aos empréstimos era “moral” significa que não valia, e é de se perguntar qual banco emprestaria altas somas de dinheiro apenas com um “aval moral”.

Além do mais, alegar que o estatuto partidário o obrigava a assinar os empréstimos é, data venia, uma falácia. A assinatura do presidente do partido é exigida justamente para que o tesoureiro não tenha a possibilidade de agir sozinho, como quer provar o revisor.

Ao presidente Genoino cabia recusar-se a assinar tal documento se não estivesse convencido de que era transação legítima.

Como o STF, por maioria, já deliberou que os empréstimos foram fraudulentos, de nada vale a presumida boa intenção de Genoino e muito menos o documento de quitação da dívida oito anos depois, dias antes do início do julgamento.
Mesmo assim, quem chamou a atenção para as datas foi o presidente do Supremo, Ayres Britto, pois o revisor apresentara o documento como a prova do pagamento sem especificar quando fora feito.

Joaquim Barbosa rebateu a nova tese do revisor afirmando que não se pode dar crédito a documento do Banco Rural (pertencente a Katia Rabello e não Katia Abreu, como escrevi ontem, já condenada pelo STF por gestão fraudulenta).
Houve momento no voto de Lewandowski em que uma afirmação sua foi contestada por dois ministros.

Foi quando afirmou que o corréu Roberto Jefferson não havia confirmado em juízo as afirmações que fizera anteriormente em entrevistas e na CPI dos Correios. Luis Fux perguntou se o revisor estava afirmando que Jefferson havia negado em juízo todas as acusações que fizera, e Lewandowski saiu pela tangente, dizendo que o líder do PTB fora “reticente”.

Foi a vez então do presidente do Supremo lembrar-lhe de que há nos autos a confirmação de Jefferson diante do juiz, ao que Lewandowski disse que seria confirmação apenas formal, não corroborada pelas declarações seguintes, sempre vagas, segundo ele.

De fato, foi dia sem surpresas, com o relator condenando quase todos os envolvidos no caso, e o revisor tentando livrar o ex-presidente do PT José Genoino de responsabilidades, encaminhando o voto para absolvição do ex-ministro José Dirceu.

O papel do revisor/Merval Pereira