"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

fevereiro 06, 2014

Os limites de um governo de propaganda


A realidade tem se ocupado de desmentir as barbaridades que os petistas dizem ou cometem. As respostas nem demoram mais a vir. São os limites de um governo moldado no marketing e na farsa se impondo. 
Acontece tanto na política, quanto na economia ou em iniciativas que deveriam ser meramente administrativas, mas costumam ser sempre eleitoreiras.

O julgamento do mensalão, por exemplo, resultou na condenação e na detenção de réus que foram transformados, pela narrativa petista, em “presos políticos”. 
A cinematográfica fuga e a prisão de Henrique Pizzolato, ocorrida ontem na Itália, mostram, mais uma vez, que não se trata de nada disso: 
são meros petistas presidiários. 
Um bando deles.

Pizzolato é uma síntese perfeita do arrivismo e do oportunismo que acompanham petistas que ascenderam ao poder. No comando de uma das mais ricas diretorias do maior banco do Brasil, amealhou fortuna digna de nota. Descrito como “meticuloso, disciplinado e excelente estrategista”, tinha 11 imóveis em julho de 2005, época em que veio à tona que recebera R$ 326 mil do esquema do mensalão.

Sua estratégia para fugir do acerto de contas com a Justiça brasileira é antiga. Começou a ser traçada oito anos atrás, como mostrou o Correio Braziliense no domingo. Neste ínterim, o ex-diretor do Banco do Brasil desfez-se de parte dos bens e divorciou-se da mesma mulher com quem vive até hoje para tentar livrar seu patrimônio do arresto. Ainda assim, mantém até hoje fortuna avaliada em R$ 6 milhões e aposentadoria de R$ 20 mil.

Sobre Pizzolato, a maior dúvida agora é se ele será merecedor da solidariedade e dos punhos cerrados de gente como o deputado André Vargas ou se será aquinhoado com a vaquinha amiga de companheiros para pagar as multas do mensalão – cuja origem sabe-se lá qual é... Ou, quem sabe, Pizzolato merecerá um almoço-homenagem como o que mereceu João Paulo Cunha, o mais novo presidiário petista da Papuda?

Assim como implodiu a narrativa petista sobre os mensaleiros, a dura realidade também cuidou de mostrar a indignidade que acompanha o tratamento dispensado a cubanos arregimentados pelo Mais Médicos. 
E logo um dia depois de a presidente-candidata Dilma Rousseff e o ministro-candidato Alexandre Padilha brandirem o programa como bandeira eleitoral num ato que deveria ser administrativo.

Ao deixar o posto que ocupava no Pará, a médica cubana Ramona Rodriguez expôs as condições degradantes impostas aos profissionais recrutados pelo governo petista junto à ditadura dos irmãos Castro. 
Ela recebia apenas US$ 400 dos alardeados R$ 10 mil que a gestão Dilma diz oferecer como bolsa. Além disso, foi recrutada por uma S.A. cubana e não pela Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), como divulgara o governo.

Também na economia, a chata realidade teima em desmentir o trololó petista. No mesmo dia em que Dilma comandava uma operação-abafa no Planalto para negar a ameaça de racionamento e seu ministro de Minas e Energia afirmava que o risco de apagões era “zero”, 13 estados do país ficaram quase duas horas às escuras.

O sistema elétrico brasileiro está hoje no fio da navalha, operando sem sobra de energia, com os mais altos custos da história, com empresas em processo falimentar e o Tesouro vergado por subsídios bilionários decorrentes da redução truculenta das tarifas. É a realidade mostrando que, na marra, as coisas não se resolvem. Só pioram.

Para completar, logo após Dilma apresentar em Davos e enviar ao Congresso uma mensagem sobre a situação da economia brasileira que mais parece um conto de fadas suíço, o Ministério da Fazenda se vê obrigado a escalar gente talhada para conquistar a confiança do mercado e dos analistas, que só conseguem ver um futuro para o país:
 o fundo do poço. 

Se está tudo tão bem, por que Guido Mantega teve que mexer na primeiro escalão da equipe dele?

Houvesse consistência em suas ações e palavras, os atos do governo e dos petistas não estariam esboroando como castelos de areia na beira da praia. 
Nem é a oposição que os derrota; é a mera realidade dos fatos. 
Num governo em que a presidente é tutelada desde o primeiro dia e o mais poderoso ministro é o da propaganda, não poderia ser diferente.
Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

E NA COPA DAS COPAS DOS DESAVERGONHADOS : Na reta final para a Copa, 22% das obras de energia estão atrasadas

O cenário desanimador para a infraestrutura do país durante a Copa do Mundo de 2014 não se restringe aos estádios, estradas e aeroportos. No setor elétrico, a situação é preocupante. A quatro meses do início dos jogos, das 148 obras de ampliação da transmissão de energia nas cidades-sede, 33 estão atrasadas, segundo relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O documento ao qual o site de VEJA teve acesso foi concluído no final de 2013 e a agência ainda não tem uma atualização sobre os números de janeiro. Há 12 meses, a agência já havia alertado para o risco de desabastecimento de energia durante o Mundial.

Segundo o relatório, a situação do Sul do país é a mais crítica, já que 19 dos 33 projetos em atraso são executados pelas concessionárias da região. A Companhia Estadual de Energia do Rio Grande do Sul (CEEE) era responsável pela execução de 25 projetos. De acordo com o texto, 12 estavam atrasados e apenas três foram concluídos — o restante estava dentro dos prazos estipulados. Contudo, a empresa informou à Aneel, em 15 de outubro, que havia revisto seu planejamento para a Copa e sugeriu reduzir seus projetos para apenas oito.

A respeito do pedido, a agência informou, no relatório, que "a exigência da Fifa de que o atendimento dos estádios e áreas adjacentes deve ser realizado com dupla alimentação de energia possivelmente não será atendida" no Estado. O texto ainda aponta que a CEEE não havia progredido nas obras ao longo de todo o ano — e que os resultados referentes ao final de 2013 eram similares ao mês de janeiro. "A CEEE não está realizando as obras propostas, mantendo o cronograma de execução inalterado desde janeiro de 2013. E mesmo nos novos prazos propostos, há risco de não serem cumpridos", diz a agência.
No caso da Copel, do Paraná, das 18 obras prioritárias para a Copa, apenas duas estavam concluídas e sete apresentam atrasos em relação ao cronograma original — sendo que cinco obras ainda não haviam sido sequer iniciadas. "Tal situação deixa os cronogramas de implantação dos empreendimentos sem folgas que acomodem eventuais atrasos, comuns na etapa de construção de linhas de transmissão que atravessam áreas urbanas", afirmou a Aneel.

A agência negou que os atrasos poderão resultar em grandes blecautes nas cidades-sede. Mas não descarta o risco de "interrupções pontuais no fornecimento de energia elétrica que impliquem em desligamentos temporários e localizados em determinados bairros".

Segundo a Aneel, todas as distribuidoras de energia entregaram, no último dia 15, planos de operação e manutenção do sistema de abastecimento para as doze cidades que contarão com jogos durante os meses de junho e julho. Agora, caberá à agência fiscalizar as instalações e verificar a capacidade das empresas de cumprir o que foi prometido.
Setor em apuros -
 Os atrasos ganham contornos preocupantes num contexto de aumento da demanda e redução da oferta de energia no país, devido à escassez de chuvas. "Vivemos uma fórmula difícil. Muito calor, poucas chuvas, recordes de consumo de energia e térmicas já ligadas", explica o consultor de energia Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) , acrescentando que a política de preço baixo da presidente Dilma aliada ao estímulo ao consumo doméstico também ajudou a agravar a situação. 

Na terça-feira, um apagão deixou cidades de treze Estados e o Distrito Federal sem luz por cerca de 40 minutos — o equivalente a quase todo o primeiro tempo de um jogo de futebol. O governo negou que a situação que afetou mais de 6 milhões de brasileiros foi causada pela sobrecarga de energia, mas não deu outra explicação para o problema. Estima-se que 6 milhões de pessoas tenham sido afetadas.

Ana Clara Costa e Naiara Infante Bertão
Veja.com