"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 29, 2011

O QUE PENSA A CLASSE MÉDIA?



Os Estados Unidos não são mais aqueles.
Seja qual for a solução que venha a ser dada à questão da dívida pública, o fato é que a América expôs as suas vulnerabilidades ao mundo.
Ao menos na minha geração, ninguém esperava vir a assistir ao fim da supremacia do dólar.

O século passado é apontado pelos historiadores como o "século americano". Nos anos 70 e 80 as pessoas guardavam dólares em casa. Era uma reserva de valor.
"In God we trust" ("Em Deus confiamos") vem inscrito nas cédulas verdes.
E nós - independentemente da crença no Todo-Poderoso - botávamos alguma fé também no dólar...

Hoje os EUA ameaçam uma moratória e as cotações da sua moeda estão despencando. Algo impensável poucos anos atrás. A Europa também vai mal e, com isso, a civilização ocidental fica sem referências.

O século 21 promete ser dos Brics, que, com exceção da Rússia, são as únicas grandes economias que continuam crescendo (China, Índia, África do Sul e Brasil). E é a respeito do nosso país que falaremos agora.


O lulopetismo ficou encantado ao perceber, já no seu segundo mandato, que os ventos sopravam a favor do Brasil. Os preços das nossas commodities (ferro e soja, principalmente) subiram nos mercados internacionais e, assim, escapamos com poucos danos da crise financeira.

Além disso, foram encontradas grandes jazidas de petróleo. Mesmo que porventura elas venham a mostrar-se economicamente inviáveis, serviram, ao menos, para criar uma grande expectativa em relação ao Brasil e aos brasileiros.


O grande líder descobriu, maravilhado, que a classe média havia crescido em tamanho e poder aquisitivo. Nosso estadista-operário tratou, então, de atribuir o fenômeno ao seu governo.

"Isso foi possível graças às nossas políticas sociais", cantam seus acólitos.
"Foi tudo obra nossa".

O andor tem de ser carregado com mais apuro.

Efeitos não devem passar por causas.

Não é porque tudo isso ocorreu durante a gestão petista que lhe caberiam todos os louros.

Aliás, o único mérito que reconhecidamente lhe cabe, no campo econômico, é o de não ter interrompido o que já estava sendo feito.


A tão alardeada "nova classe média" é composta de pessoas que, com certeza, não são clientes do Bolsa-Família, nem de nenhum outro eventual mecanismo de transferência de renda.

É mais provável que tenham emergido socialmente porque a inflação acabou. Garantida a estabilidade econômica, a oferta de crédito aumentou e mais gente pôde ter acesso a ele.


Quanto às jazidas de petróleo, apesar do alarido, há que considerar que não foram descobertas pelos petistas, mas durante o governo deles.

A mais de 7 mil metros de profundidade, não há nenhuma certeza quanto à viabilidade econômica de sua extração. Nem sequer existe tecnologia para tanto, vale ressaltar.


A bem da verdade, a estabilidade não se deve tão somente ao Plano Real. O problema é que as finanças públicas estavam desarrumadas, os poderes públicos - federal, estaduais e municipais - vinham gastando muito mais do que arrecadavam.

Endividavam-se todos além do razoável e se cultivava o mau hábito de repassar tais passivos aos novos governantes.
"O dever acima de tudo!", bradavam prefeitos e governadores.
E como a inflação era alta, ela se encarregava de mascarar todo o processo.

Para estancar de vez a sangria inflacionária não bastava um engenhoso plano econômico. Isso ficou evidente com o fracasso de todos os planos anteriores.
O fim da constante elevação dos preços restabeleceu a verdade dos fatos: o problema estava no setor público.


O governo federal acabou com o déficit da União.
E assumiu para si as dívidas dos Estados e municípios.
Todos, a partir dali, poderiam recomeçar do zero.

E para evitar que eles voltassem a se endividar foi criada a Lei de Responsabilidade Fiscal. Algo assim como o preceito popular "aqui se faz, aqui se paga". Governadores e prefeitos não mais poderiam assumir dívidas que não pudessem quitar durante sua gestão.


Vários setores da economia, antes em poder do Estado, foram privatizados.
Nos anos 90, bem me recordo, não havia linhas telefônicas disponíveis.
Aqui, em São Paulo, a empresa estatal de telefonia vendia novas linhas para entrega num futuro incerto.

O jeito era alugar as já existentes.
Celulares já existiam, mas custavam caro e não completavam as ligações, davam sempre sinal de ocupado.


Não dá para afirmar que as gestões tucanas tenham sido 100% virtuosas.
Havia quase tantos escândalos como agora.
Mas tiveram a visão correta dos males de que padecia o País e a coragem de fazer as reformas necessárias.

O custo político foi alto.
Como a economia não crescia, a popularidade do governo também não.
Aos petistas, que chegaram ao poder depois, coube apenas colher os resultados. Restou aos social-democratas a oposição.


Quanto à "nova classe média", o governo acaba de encomendar pesquisa para aprender a lidar com ela. A classe média, no Brasil, já é maioria.

Ela possui casa, carro e computador. E não é tola.
Troca informações pela internet.
Qual a mensagem que a sensibiliza?
Talvez a do "espírito de fronteira".
A cultura do desafio.

Algo que no passado entusiasmava os americanos e agora não existe mais.
É triste.
A História nos ensina que a decadência dos impérios começa onde as virtudes de seus povos terminam.


O que distingue um sonhador de um realizador é que este cuida de transformar os próprios sonhos em realidade. E, para tanto sabem que é preciso dedicar muito esforço, talento e empenho. A educação também entra nessa lista.

E a "nova classe média" não espera pelas dádivas de ninguém.
Ela própria financia seus estudos.
Seus membros têm consciência de que ninguém lhes dará nada sem lhes exigir alguma coisa.

Eles têm o sagrado direito de buscar a felicidade.
E já o fazem.
Mas à sua maneira.

João Mellão Neto

Presidencialismo e coalizão partidária.

A partir desta segunda-feira, quando termina o recesso parlamentar, deve entrar em período de testes a disposição da presidente Dilma Rousseff de rever a validade do chamado presidencialismo de coalizão - intenção que parece implícita no vigor com que conduziu a onda de demissões no Ministério dos Transportes, em resposta a denúncias de práticas continuadas de corrupção.

Alguma indicação da intensidade com que as decisões da presidente feriram a sensibilidade do Partido Republicano (PR), até então administrador soberano dos poderes, e cargos, daquela pasta poderá vir do senador Alfredo Nascimento, o ministro defenestrado que inaugurou a lista de demissões, em esperado discurso na sua volta ao Congresso.

Mas será na retomada formal do andamento das relações entre Executivo e Legislativo, enquanto se dão votações de diferentes matérias, que se conhecerão eventuais consequências do enfrentamento, no grau decidido pela presidente, sobre o ânimo da base interpartidária para continuar a participar, com o Palácio do Planalto, do sistema de condomínio político em vigor desde o governo de José Sarney.

Em tese, a grande base de sustentação atual daria respaldo à atitude da presidente.
Na Câmara dos Deputados, o Planalto conta com 402 parlamentares, de um total de 513.
No Senado, são 62, no cálculo realizado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

Contudo, assim como permanecem envoltos na penumbra presumíveis cálculos políticos da presidente que devem ter se seguido aos atos imediatos de resposta à revelação dos malfeitos, também se desconhecem táticas e estratégias consideradas pelas diversas correntes de interesses em que se subdividem as frações partidárias da coalizão preservada até agora.

"O PR só reagirá se com isso tiver mais a ganhar, mas ele não tem a ganhar. O governo tem popularidade, tem boa imagem e credibilidade. Quem vai querer ir contra, quem vai votar contra?", indaga a cientista política Argelina Figueiredo, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

No entender de analistas, a série de demissões na pasta dos Transportes não abalaria o presidencialismo de coalizão também por se ter evitado, desse modo, uma crise institucional que poderia decorrer de uma intervenção explícita na pasta.

Estaria aí, talvez, um sinal de risco calculado por parte da presidente.
E também de que não é sua intenção submeter-se às exigências do sistema de coalizão, de simples troca de favores entre Executivo e Legislativo?
Sim, "a despeito de provocar insegurança no apoio dos partidos", no entender de José Álvaro Moisés, coordenador do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP.

O tratamento dispensando ao PR foi mais duro, mas outros sinais já tinham sido dados. Na troca da presidência de Furnas, em janeiro, a presidente enfrentou o PMDB. Também foram detectadas ameaças veladas ao partido quando da votação do Código Florestal.

Para Argelina Figueiredo, "a presidente está mostrando mais os limites que aceita". Renato Janine Ribeiro, professor de Filosofia da USP e colunista do Valor, crê que ela anda em busca de uma personalidade própria, que a distancie do ex-presidente Lula.

Mas Janine não acha que a escolha do combate à corrupção foi predeterminada.
"Caiu sobre ela. Ela não fez nenhum movimento nessa direção."

"Lula tinha um habeas corpus preventivo dado pela opinião pública. Ele anestesiou nosso lado mais republicano. Nada tinha consequência no Executivo. Ele criou na classe política um governo de ação entre amigos", critica o cientista político Rubens Figueiredo.
(...)
Como as denúncias envolvendo o Ministério dos Transportes surgiram na imprensa às vésperas do recesso parlamentar, o "timing" foi favorável à presidente. Sem o pleno funcionamento do Congresso, a repercussão da crise foi menor, mas a partir desta segunda-feira o ambiente político volta à normalidade, com a retomada formal dos movimentos das engrenagens do sistema de coalizão.

A oposição, que chegou a ensaiar aprovação à atitude da presidente, pretende retomar a tentativa de instalar uma comissão parlamentar de inquérito no Senado para investigar as denúncias. Até o início do recesso, em 18 de julho, havia obtido 23 das 27 assinaturas necessárias.

"Acho muito pouco as medidas da presidente Dilma. Pode satisfazer os ingênuos. Pode aplacar a consciência de governistas. Cai bem como pretexto para omissão, para não avançar em providências mais sérias, porque o esquema é muito grave. Era esquema coletivo e não individual", argumenta o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que procura reunir assinaturas para a CPI.

(Carmen Munari, com a colaboração de Cyro Andrade) VALOR

ENTRA EM CENA O "MARQUETING" TORPE DO ME ENGANA QUE EU GOSTO : GOVERNO(?) APRESENTARÁ "BALANÇO DA GESTÃO" DA FAXINEIRA FRENÉTICA E EXTRAORDINÁRIA.



O Palácio do Planalto quer aproveitar hoje a apresentação do primeiro balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo da presidente Dilma Rousseff para sair da agenda da "faxina" e introduzir o marketing da "gestão".

O balanço que será apresentado pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior, deve retomar a fórmula que, no governo Lula, deu visibilidade e projetou a então chefe da Casa Civil como a mãe do PAC.

A estratégia palaciana não é por acaso. Pesquisas que chegaram às mãos de Dilma indicam que a postura firme dela na "faxina" do Ministério dos Transportes foi amplamente aprovada pela população, especialmente pela classe média.

Mas analistas ouvidos pelo Planalto alertam que não basta apenas o marketing da "vassoura", porque a população quer ações concretas.

Segundo essa avaliação, a população quer resultado naquilo que Dilma apresentou como sendo o seu principal atributo na campanha eleitoral: o fator gerencial. A estratégia é ressaltar a ação de bom gestor do governo como um todo.

- A ideia não é destacar a ação de Dilma como a gerente do governo, até porque ela é a presidente. A ideia é dar visibilidade às ações de governo e mostrar resultado concreto da gestão. Até porque ficar na agenda da limpeza nos Transportes tem um limite. Está na hora de começar a apresentar números - explicou um assessor palaciano.

A crise dos Transportes pode afetar, de alguma forma, o resultado do PAC nas obras rodoviárias e ferroviárias, mas o discurso de hoje será no sentido de que medidas estão sendo tomadas para garantir a volta da normalidade ao setor.

Gerson Camarotti O Globo
Governo divulga hoje balanço do PAC

CORAGEM E GENEROSIDADE.


Se o futuro do Brasil está nas mãos dos estudantes e quem os representa é a UNE, então é bom começar a pensar em um plano B.

Em artigo no GLOBO, o novo presidente, Daniel Iliescu, nem tão novo assim, porque tem 26 anos e já poderia estar formado e trabalhando, nega ser chapa-branca argumentando que a UNE é preta, vermelha, amarela, de todas as cores.

Que fofura!
Igualzinha ao comercial do agrobusiness com Lima Duarte na televisão.


O companheiro Iliescu afirma o pluralismo da entidade, que tem filiados de todos os partidos, embora seja um braço do PCdoB governista há mais de nove anos.
Para ele a presença de 10 mil estudantes no congresso de Goiânia "é indicativo de uma juventude corajosa, generosa e mobilizada".


Que coragem !
Que generosidade ir a uma boca-livre oferecida pela Petrobras.
Mas ao menos ele reconhece que a grande maioria dos estudantes não se interessa pelos partidos nem pela UNE.

Melhor assim.
A UNE está cada vez mais parecida com um sindicato lulista.


A pérola de seu artigo é a justificativa do patrocínio oficial à UNE comparando-a aos principais veículos da imprensa brasileira, "que recebem milhões de reais em verbas publicitárias e não têm sua independência e seu senso critico questionados".

A grande midia pode ser independente porque não vive só de anuncios oficiais, como os "blogueiros progressistas".

A Petrobras precisa anunciar para vender mais óleo e gasolina e não para comprar opiniões. Talvez nem seja o caso de estudar mais, bastaria ler jornais e revistas.


O pior é tentar fugir da chapa-branca alegando que "as principais bandeiras da UNE têm pontos de dissenso com o governo federal", tipo o governo quer dar 7% do PIB ao Plano Nacional de Educação e a UNE quer 10%.

Mas hoje o que mais falta para a educação não é dinheiro, é bom uso dos recursos, menos roubo e melhor qualidade do ensino.


A UNE também é "radicalmente contra as abusivas taxas de juros do Banco Central e a favor de mais investimentos e desenvolvimento", mas quem não é?

Resta aos caras-pintadas ir para as ruas com coragem, generosidade e mobilização, e derrubar os juros.

Nelson Motta