"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 08, 2011

INFLAÇÃO SEM CONTROLE "PARA O BRASIL SEGUIR MUDANDO".

O IPCA de março divulgado esta semana ficou acima das expectativas do mercado. O ministro Mantega chegou a culpar a chuva pela alta dos preços dos alimentos. O governo parece ainda viver em negação da realidade. O IPCA já acumula alta de 2,44% no primeiro trimestre do ano, o que representa mais de 10% de inflação anualizada. Nos últimos 12 meses, a inflação já chega a 6,3%, muito perto do topo da meta do governo, que é 6,5%.

O governo e alguns analistas “chapa-branca” ainda culpam apenas as commodities pela inflação, mas o item de serviços subiu 8,5% nos últimos 12 meses, com índice de difusão de 68,2%. Ou seja, mais de dois terços dos itens que compõem o setor de serviços estão aumentando de preço, e de forma acelerada. Será que os honorários de um advogado aumentam muito porque o preço do tomate subiu?

Enquanto a inflação foge do controle do governo, o Banco Central divulga ata negligente, sinalizando aumento reduzido nas taxas de juros à frente. E o governo continua adotando medidas paliativas, enquanto o BNDES jorra crédito no mercado. As medidas “macroprudenciais” são um tiro no escuro, e o governo está contando com a sorte de forma irresponsável.

Ataca os efeitos, mas não mexe nas causas principais do problema. A economia segue superaquecida, com elevada capacidade utilizada, dados de emprego no limite, e fortes estímulos monetários, liderados pelo próprio governo.

O ministro Mantega tem aparecido em público para anúncios oficiais quase diariamente, comunicando novas medidas, como o recente aumento de IOF sobre crédito para pessoa física. A imagem que ele passa me remete aos desenhos animados de minha infância.

Quando começava um vazamento, o personagem tentava, desesperado, tampar o buraco, apenas para ver outro buraco vazando. No final, ele estava todo enrolado, tampando buracos com as mãos e os pés, mas nada impedia o rompimento final do recipiente.

Rodrigo Constantino

" ATÉ QUE UM NOVO DURVAL PROVE O CONTRÁRIO"

Parece inacreditável. Mas não é.
Num país onde sempre falta dinheiro para a saúde, a educação, as estradas, o Congresso Nacional trama mais um assalto ao bolso dos brasileiros. O golpe da vez se chama financiamento público de campanha.

Faz parte da reforma política ora em discussão na Câmara e no Senado. Em tese, a artimanha se destina a acabar com o caixa dois e o financiamento ilegal.

Mas só um demente acreditaria nisso.
E, como bem sabemos, não há tolos no Poder Legislativo em Brasília. O mais bobo deles, costuma brincar um colega jornalista, é capaz de consertar relógio embaixo d’água usando luvas de boxe.

Pois é.
Eles não se cansam de tripudiar sobre o dinheiro que pagamos via impostos. E qualquer piada serve de justificativa ao avanço sobre recursos que poderiam, por exemplo, serem usados para tirar o país das trevas no ensino fundamental e médio nas escolas públicas.

Em vez de cotas para que alunos dessas escolas cheguem às melhores universidades, os nobres parlamentares deveriam brigar pela excelência na qualidade da educação oferecida pelo Estado.

Assim, o estudante pobre — negro, pardo, branco, amarelo — chegaria à faculdade pela porta da frente. Respaldado pelo conhecimento. E não por uma compensação porque estudou em escola ruim.

E vejam só:
hoje, parte dos impostos arrecadados já banca a verba partidária. Só este ano, mais de R$ 400 milhões vão irrigar os cofres dos partidos. Sem contar outros R$ 200 milhões destinados à propaganda eleitoral no rádio e na TV, que nada tem de gratuita, pelo menos para a sociedade. Na verdade, trata-se de renúncia fiscal.


É o Estado abrindo mão de receita para bancar proselitismo político.

Nos Estados Unidos, Obama pretende arrecadar US$ 1 bilhão para a campanha da reeleição. Mas terá de convencer os eleitores a doar a dinheirama.

No Brasil, convencer o eleitor a doar? Nem pensar!
Sem a sua permissão, eles pretendem usar seu dinheiro para fazer campanha e ainda terão a cara de pau de, mais uma vez, pedir seu voto.

Mas prometem:
daqui pra frente, nada de mensalão, recursos não contabilizados, caixa dois, doações ilegais...
Até que um novo Durval prove o contrário.

Plácido Fernandes Correio Braziliense