"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 29, 2012

Uma oposição vitoriosa

Para quem está há dez anos longe do poder federal, o PSDB obteve nestas eleições municipais um excelente resultado. O partido avançou muito nas capitais, retomou seu ímpeto nas regiões Norte e Nordeste e demonstrou que acumula forças para contrapor-se ao projeto hegemônico que o PT busca levar adiante.

Neste domingo, o PSDB venceu na maioria das cidades onde concorreu no segundo round das eleições. Foram nove triunfos em 17 disputas, sendo três delas em importantes capitais: Manaus, Belém, Teresina, Pelotas (RS), Blumenau (SC), Campina Grande (PB), Franca, Taubaté e Sorocaba (SP).

No cômputo geral de mais uma eleição para as prefeituras brasileiras, o PSDB terminou com 702
(municípios) governados, onde vivem 18,3 milhões de eleitores. São 700 mil eleitores a mais do que em 2008.

No primeiro turno, o PSDB recebera 13,94 milhões de votos e ontem foram 5,64 milhões, num desempenho só inferior ao dos petistas. Em 7 de outubro, os tucanos também já haviam eleito 5.250
(vereadores,) só abaixo do PMDB.

No grupo das 85 cidades com mais de 200 mil eleitores, o PSDB agora tem 15 cidades sob sua gestão, das quais quatro são capitais: as três conquistadas ontem mais Maceió. As demais deste porte são Betim (MG), Piracicaba (SP), Santos (SP), Ananindeua (PA) e Jaboatão dos Guararapes (PE), com vitórias em primeiro turno. Trata-se de avanço significativo em relação a
( 2008,) quando o partido conquistara nove prefeituras deste grupo e apenas uma capital, Curitiba.

Completando o quadro com as vitórias já consolidadas no início do mês, nas médias cidades (75 mil a 200 mil eleitores) o número de prefeituras do PSDB subiu de 24 em 2008 para 29 agora; nas pequenas (de 15 mil a 75 mil eleitores), passou de 217 para 176 e nas menores localidades, de 537 para 482.

Ontem, o partido pôde comemorar a importante vitória do ex-senador Arthur Virgílio para a prefeitura de Manaus. De nada adiantou o empenho direto da presidente da República e a ira de Lula: o tucano obteve o dobro de sufrágios de sua adversária, com 65,95% dos votos válidos, num triunfo histórico.

Em Belém, Zenaldo Coutinho consolidou a supremacia tucana no Pará, onde o PSDB já tem o governador Simão Jatene e os senadores Flexa Ribeiro e Mário Couto. Depois de ter terminado o primeiro turno em segundo lugar, o deputado em quarto mandato recebeu ontem 56,61% dos votos válidos.

Já Teresina terá novamente Firmino Filho como prefeito, que ocupará o cargo pela terceira vez, depois de um interregno de oito anos. Ele foi eleito ontem com 51,54% dos votos válidos, derrotando o atual prefeito.

Às vitórias tucanas soma-se o bom desempenho de outros partidos de oposição ao governo Dilma Rousseff, contra toda a força da máquina federal. DEM (Salvador e Aracaju) e PPS (Vitória) conquistaram mais três das 26 capitais brasileiras. O PSOL, também na oposição à gestão federal, elegeu o prefeito de Macapá. Ou seja, somam oito os bastiões oposicionistas.

No cômputo geral, a eleição resultou numa fragmentação jamais vista nos municípios. As 26 capitais serão governadas por 11 diferentes legendas nos próximos quatro anos. Quando se amplia a análise para os 85 maiores municípios com mais de 200 mil eleitores, 16 partidos dividirão o poder.

O maior triunfo do partido de Lula e Dilma foi a vitória em São Paulo. Sem ela, poder-se-ia dizer que o PT saíra das eleições por baixo. O êxito na maior cidade do país deu aos petistas um contrapeso a fragorosas derrotas, como as de Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Salvador e Campinas. Cabe lembrar que, das 17 cidades em que o ex-presidente envolveu-se, em nove ele saiu derrotado.

A força que a oposição demonstrou nestas eleições municipais permite ao PSDB, ao DEM, ao PPS e até mesmo ao PSOL sustentarem, sem pestanejar, que contam com apoio decidido da população brasileira para continuar a serem polos antagônicos ao projeto de poder do PT. O partido dos mensaleiros sempre sonhou em ser hegemônico, mas, cada vez mais, viu este seu delírio distanciar-se. Para o bem da democracia.


Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Uma oposição vitoriosa  

Ações da PETEBRAS perdem mais de 4% e mantêm Ibovespa em queda

 
As ações da Petrobras caem mais de 4% e mantêm o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), no campo negativo. Às 15h17m, o índice perdia 0,59% aoos 56.940 pontos. Nos Estados Unidos, as bolsas não abriram por causa do furacão Sandy. 

Na Europa, persistem as incertezas em relação à negociação de ajuda financeira para Espanha e Grécia e os pregões fecharam em queda. No Brasil, o dólar comercial opera em alta de 0,29% frente ao real e é negociado a R$ 2,031 na compra e R$ 2,033 na venda.

As ações da Petrobras estão entre as maiores quedas do índice. Os papéis ON perdem 3,67% a R$ 22,05 e as ações PN caem 3,44% a R$ 21,34. A Petrobras anunciou na sexta-feira que teve um lucro líquido de R$ 5,56 bilhões no terceiro trimestre. O resultado representa uma queda de 12,1%, na comparação com o mesmo período do ano passado, quando o resultado chegou a R$ 6,336 bilhões. 

No mercado, havia a expectativa de que o lucro ficasse entre R$ 6,5 bilhões e R$ 8 bilhões, segundo o estrategista da corretora SLW Pedro Galdi. Mesmo revertendo o prejuízo de R$ 1,34 bilhão do segundo trimestre, o número ficou abaixo da expectativa.

"Mas o resultado evidenciou que no médio prazo ações estratégias voltadas à elevação de eficiência e alinhamento de preços de derivados contribuem diretamente para melhores resultados e perspectivas positivas de valorização da empresa, enquanto a produção estiver estável e o impacto de importação de derivados e petróleo ainda infuenciar negativamente", dizem em relatório os analistas do BB Investimentos Nataniel Cezimbra, Andréa Aznar e Carolina Flesch.

Entre as demais ações com maior liquidez no índice, Vale PNA cai 0,47% a R$ 35,78; OGX Petrobras avança 3,11% a R$ 4,64; Itaú Unibanco PN perde 0,30% a R$ 29,52 e PDG Realty ON recua 1,15% a R$ 3,42. A maior alta do Ibovespa é dos papéis On da Hypermarcas na expectativa de que a empresa divulgue bons números referentes ao terceiro trimestre.

Outros balanços também influenciam o pregão desta segunda. A Fibria, maior produtora mundial de celulose de eucalipto, apresentou prejuízo de R$ 212 milhões no terceiro trimestre. Os papéis ON da empresa sobem 1,58% a R$ 18,00.

O fechamento das Bolsas nos EUA reduz o volume financeiro na Bolsa brasileira. Dados de gastos e renda dos americanos, divulgados nesta segunda-feira, vieram mais positivos. Segundo o Departamento do Comércio, os gastos subiram 0,8% em setembro, acima da previsão de alta de 0,6%, enquanto a renda aumentou 0,4%, em linha com o esperado.

Na Europa, as principais Bolsas fecharam em queda. O índice Ibex, da Bolsa de Madri, perdeu 0,60%; o Dax, do pregão de Frankfurt, recuou 0,40%; o Cac, da Bolsa de Paris, caiu 0,76% e o FTSE, de Londres, perdeu 0,20%. As ações de seguradoras puxaram as quedas no mercado europeu com possíveis perdas nos Estados Unidos com a passagem do furacão Sandy.

O Globo

Produção da "Ptrobras" no Brasil tem menor nível desde 2008

A Petrobras produziu 1,843 milhão de barris de petróleo por dia em setembro, o menor volume desde o registrado em abril de 2008, quando produziu 1,842 milhão de barris, de acordo com dados da estatal.

Ante agosto, a queda na produção foi de 4,4%, informou a empresa nesta segunda-feira. Segundo o diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa, porém, a Petrobras a atingirá meta de produção para 2012.

A meta de produção da Petrobras, de 2,02 milhões de barris de petróleo por dia para 2012, será atingida afirmou Barbassa nesta segunda-feira, em teleconferência.

Os principais motivos da queda, segundo a empresa informou, em nota, foram as paradas programadas da P-52 no campo de Roncador e P-19 no campo de Marlim, iniciadas em agosto.

A produção nacional de gás natural da estatal, sem liquefeito, atingiu 60,343 milhões de metros cúbicos em setembro, alta de 0,3% ante agosto.

Já a produção total de petróleo e gás da Petrobras, incluindo Brasil e exterior, atingiu 2,472 milhões de barris/dia em óleo equivalente em setembro.

Em setembro entrou em operação o FPSO Cidade de Anchieta, no campo de Baleia Azul, litoral do Espírito Santo. Essa nova plataforma tem capacidade para produzir até 100 mil bpd quando atingir o seu pico de produção, nos próximos meses completou a empresa em nota.

O diretor de Exploração e Produção da Petrobras, José Fomigli, explicou que as paradas programadas nas plataformas se estenderam mais que o previsto porque as condições climáticas afetaram os reparos. Para outubro, ele trabalha com previsão de 1,941 milhão de barris por dia de produção de petróleo.

O executivo disse ainda que entre novembro e dezembro entrarão em operação novos poços no campo de Baleia Azul, na Bacia de Campos, e que não há tantas paradas programadas. Assim, ele espera que a empresa alcance a meta para o ano de 2,022 milhões de barris diários de petróleo.

Fomigli também adiantou que no próximo dia 19 a Petrobras vai lançar o Programa de Aumento da Eficiência Operacional (Proef) da unidade Rio de Janeiro, a exemplo do que foi feito em julho com a Bacia de Campos. O objetivo é elevar a produção de petróleo nas plataformas já existentes, com ajustes operacionais que elevem a eficiência da atividade.

R$ 1,25 bilhão ! Economia do governo para pagar juros cai 76% em setembro. No ano, superávit primário do governo central está 27% menor do que no mesmo período de 2011

O governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) teve um superávit primário de R$ 1,25 bilhão em setembro. A economia feita para o pagamento de juros da dívida representou uma queda de 76,8% com relação ao resultado do mesmo mês do ano passado, quando ficou em R$ 5,41 bilhões.

Na comparação com agosto, quando o superávit primário foi de R$ 1,59 bilhão, a queda foi de 21,5%. A economia feita no mês passado é a segunda menor deste ano, só atrás do resultado de junho, quando o superávit foi de R$ 1,11 bilhão.

Com o desempenho, o superávit do governo central está positivo em R$ 54,7 bilhões no acumulado de janeiro a setembro, ou equivalente a 1,68% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país). O total representa um recuo de 27,3% com relação ao registrado nos nove primeiros meses de 2011, de R$ 75,2 bilhões. A meta de superávit primário estabelecida para todo este ano é de R$ 96,97 bilhões.

Jornalismo, âncora da democracia

As virtudes e as fraquezas dos jornais não são recatadas. 
Registram-nas fielmente os sensíveis radares dos leitores. 
Precisamos, por isso, derrubar inúmeros desvios que conspiram contra a qualidade dos jornais.

Um deles, talvez o mais resistente, é o dogma da objetividade absoluta. Transmite, num pomposo tom de verdade, a falsa certeza da neutralidade jornalística. Só que essa separação radical entre fatos e interpretações simplesmente não existe. 

É uma bobagem.

Jornalismo não é ciência exata e jornalistas não são autômatos. 
Além disso, não se faz bom jornalismo sem emoção. 
A frieza não é humana e, portanto, é antijornalística. 
A neutralidade é uma mentira, mas a isenção é uma meta a ser perseguida. 

Todos os dias. 
A imprensa honesta e desengajada tem um compromisso com a verdade. 
E é isso que conta.
Mas a busca da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, a falta de rigor e o excesso de declarações entre aspas.

O jornalista engajado é sempre um mau repórter. 
Militância e jornalismo não combinam. 
Trata-se de uma mescla talvez compreensível e legítima nos anos sombrios da ditadura, mas que, agora, tem a marca do atraso e o vestígio do sectarismo.

O militante não sabe que o importante é saber escutar. 
Esquece, ofuscado pela arrogância ideológica ou pela névoa do partidarismo, que as respostas são sempre mais importantes que as perguntas. A grande surpresa no jornalismo é descobrir que quase nunca uma história corresponde àquilo que imaginávamos.

O bom repórter é um curioso essencial, um profissional que é pago para se surpreender. Pode haver algo mais fascinante? O jornalista ético esquadrinha a realidade, o profissional preconceituoso constrói a história.

Todos os manuais de redação consagram a necessidade de ouvir os dois lados de um mesmo assunto. Trata-se de um esforço de isenção mínimo e incontornável. Mas alguns desvios transformam um princípio irretocável num jogo de cena.

Matérias previamente decididas em guetos engajados buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é sincera, não se fundamenta na busca da verdade. 
É uma estratégia. 

O assalto à verdade culmina com uma tática exemplar: 
a repercussão seletiva. O pluralismo de fachada convoca, então, pretensos especialistas para declararem o que o repórter quer ouvir. 

Personalidades entrevistadas avalizam a "seriedade" da reportagem. 
Mata-se o jornalismo. 
Cria-se a ideologia.

É necessário cobrir os fatos com uma perspectiva mais profunda. 
Convém fugir das armadilhas do politicamente correto e do contrabando opinativo semeado pelos profetas das ideologias.

A precipitação e a falta de rigor são outros vírus que ameaçam a qualidade da informação. A manchete de impacto, oposta ao fato ou fora do contexto da matéria, transmite ao leitor a sensação de uma fraude.

Mesmo assim, os jornais têm prestado um magnífico serviço no combate à corrupção e na construção da democracia. Alguém imagina que o saldo extraordinário do julgamento do mensalão teria sido possível sem uma imprensa independente? Os réus do mensalão podem fazer absurdas declarações de inocência, desmentidas por um conjunto sólido de provas. 

Podem até mesmo manifestar desprezo pelas instituições da República. 
Para o ex-presidente Lula, por exemplo, o povo não está interessado no mensalão, mas no desempenho do Palmeiras. 

A declaração, lamentável, pode até corresponder ao atual estágio da consciência política de grandes parcelas da sociedade. Mas o julgamento do mensalão, ao contrário do que pensa Lula, vai mudar muita coisa. Vai, sobretudo, dar um basta ao pragmatismo aético que tanto mal tem feito ao Brasil. O mensalão, que Lula pateticamente insiste em dizer que não existiu, não foi uma invenção da imprensa. Foi o resultado acabado de uma trama criminosa articulada no seu governo. A imprensa apenas cumpriu o seu papel de denúncia e de cobrança. É sempre assim. 

Foi assim com Fernando Collor. 
E será assim no futuro. 
Jornais de credibilidade oxigenam a democracia. 
As tentativas de controle da mídia, abertas ou disfarçadas, são sempre uma tentativa de asfixiar a liberdade.

A democracia reclama um jornalismo vigoroso e rigoroso. Recentemente, Arthur Sulzberger Jr., chairman e publisher do jornal The New York Times, em entrevista a O Estado de S. Paulo, sublinhou a importância de uma marca de credibilidade, independentemente da plataforma informativa: 
 "A tradição é a maior qualidade do nosso jornalismo. É a maneira como as coisas são vistas, é a precisão de investigar, são os core values com que trabalhamos. Queremos continuar fazendo algo em que se pode confiar. Mudar para o mundo digital significa apenas contar com novas ferramentas para fazer exatamente o mesmo. A experiência diária do jornalismo não muda, é essencialmente única".

É isso aí. 
Num momento de crise no modelo de negócio, evidente e desafiante, o que não podemos é perder o norte. E o foco é claro: 
produzir conteúdo de alta qualidade técnica e ética. 
Só isso atrairá consumidores, no papel, no tablet, no celular, em qualquer plataforma. 

E só isso garantirá a permanência da democracia. 

Por isso governos autoritários, apoiados em currais eleitorais comprados ao preço da cruel perenização da ignorância e, consequentemente, da falta de senso crítico, investem contra a imprensa de qualidade e contra os formadores de opinião que não admitem barganha com a verdade.

O jornalismo tropeça em armadilhas. 
Nossa profissão enfrenta desafios, dificuldades e riscos sem fim. 
E é aí que mora o desafio.

Carlos Alberto Di Franco O Estado de S. Paulo

brasil maravilha dos FARSANTES X BRASIL REAL OU : EUFORIA X REALIDADE

De um lado, a euforia da sexta economia mundial ( EX-6ª economia do mundo),
do trânsito fácil - tem sido fácil mesmo? - pela crise global, da ascensão de milhões da pobreza à classe média. 

E do outro, a realidade escamoteada do discurso ufanista.
Vale a pena comentar essa realidade.

Existem indicadores positivos na economia - juros em baixa, crédito abundante, demanda ativa... -, mas a avaliação imune à euforia oficialista sugere apreensão. A infraestrutura precária freia o desenvolvimento - o nosso é o segundo pior da América Latina em 2012 (Cepal) -, o investimento em produtividade não atende a esse problema da competição global, o crescimento do PIB será inferior a 2% em 2012 (abaixo da média sul-americana) e a meta fiscal não será cumprida. 

Projetos esfuziantes capengam ou não decolam - transposição do São Francisco, Comperj, 
refinarias do Maranhão 
e do Ceará, 
trem-bala, 
Transnordestina... -, a inflação volta a preocupar, a balança comercial perde fôlego e recaímos no protecionismo, com seus percalços na OMC.
É constrangedora a simultaneidade da sexta economia global com a quarta pior desigualdade na América Latina (ONU, agosto/2012). 

A vida de parte do povo melhorou com o controle da inflação, o assistencialismo que alivia sem resolver, quando não estimula a conformidade na pobreza, tem reduzido a miséria e a desigualdade decresceu, mas ainda é uma aberração, transparente nas favelas ao lado de bairros de bom padrão, no povão empilhado em péssimo transporte coletivo, enquanto milhares de carros congestionam o trânsito com uma só pessoa! 

A ascensão à classe média aferida pela renda é questionável: 
renda mensal de R$ 291 per capita significa mesmo classe média, ainda que baixa? Além de questionável, é viciada pelo poder aquisitivo fictício, pelo consumismo na dívida, feito atestado de classe na lógica populista e do mercado, pondo em dúvida a virtude do crédito fácil, já objeto de alerta do FMI. 
 Carro, 
moto, 
iPhone 
e tablet são prioridades da nova classe média.

A precariedade do nosso ensino fundamental e médio foi evidenciada em pesquisa do Ideb, em agosto - as escolas públicas em pior situação, mas as particulares tampouco satisfazem. 
O ensino técnico não responde à necessidade do País e o fundamental não atende a seu papel de alicerce da cidadania da base da pirâmide social, subempregada ou na informalidade, legal e ilegal. 

A propósito: 
ser "normalista" e professora do ensino fundamental era meta de moças da classe média até meado do século passado. 
Não é mais...

O número das instituições de ensino superior explodiu nas últimas décadas, muitas delas ficções sem viabilidade de funcionamento razoável, de negócio as privadas e fantasia política as públicas. Nossas universidades estão mal hierarquizadas no ranking global e mesmo as de bom ensino profissional deixam a desejar na moldura cultural. 

E os artifícios que pretendem a igualdade "na marra" ameaçam agravar a situação (a proteção de todos, obrigação do Estado, exige bom ensino público fundamental e médio, sem viciar o jogo do mérito).

Na saúde e temas correlatos - saneamento, água tratada - o quadro é desolador. Passamos (ideia em tese correta) dos institutos corporativos, que atendiam satisfatoriamente seus afiliados (é bem verdade que parte pequena do povo), para o sistema único (SUS), que atende insatisfatoriamente, se tanto, todo o povo sem plano de saúde, com consequências trágicas no cotidiano da mídia. 

E os planos de saúde também não vêm atendendo a contento.

A previdência (INSS) corteja o desastre. Estruturada na transferência geracional e em legislação permissiva - em realce a aposentadoria precoce, na contramão do aumento da longevidade e dos países ricos, que, diferentemente do Brasil, não podem sustentá-la... -, seu déficit já pesa na equação fiscal. O problema é ainda mais complexo no setor público.

Nos últimos 80 anos subimos de 30 milhões para 193 milhões de brasileiros, sem que a cultura tenha acompanhado o aumento. Existem destaques, mas em menor número relativamente à população. 

Na literatura, quem substitui hoje (os nomes citados são exemplos, não esgotam o passado) Machado de Assis, 
Monteiro Lobato, 
Érico Veríssimo, 
Guimarães Rosa, 
Jorge Amado, 
José Lins do Rego, 
Graciliano Ramos...? 

Na sociologia, 
Euclides da Cunha, 
Oliveira Viana, 
Gilberto Freire...? 

Na música temos bons intérpretes, mas faltam-nos (faltam no mundo) criadores: 
quem substitui hoje Carlos Gomes, 
Alberto Nepomuceno, 
Henrique Oswald, 
Villa Lobos 
e, mais perto do povo, Ernesto Nazareth, 
Ary Barroso, Pixinguinha...? 

No canto popular, exotismo na coreografia e aparência pessoal pretendem substituir a arte - Francisco Alves, Elizeth Cardoso e, há menos tempo, Chico Buarque não precisavam desses recursos. 

Nas artes plásticas, quem substitui Portinari, 
Tarsila do Amaral, 
Guignard, Pancetti...?

O potencial para a ascensão cultural do povo é pouco ou não usado na TV, o meio de entretenimento e informação a que hoje mais se recorre. São comuns os shows, 
filmes, 
novelas, 
programas de auditório 
e noticiosos que mais sensacionalizam do que noticiam, de discutível padrão estético e mental, entremeados por propaganda de nível similar.

A lógica é a da audiência não exigente de qualidade.

Finalmente, o desrespeito epidêmico à lei vem tomando proporções de tragédia fora do controle, do atravessar a rua fora da faixa de pedestre à sonegação de impostos, à corrupção, violência e criminalidade generalizadas. 

Agravam-no o despreparo policial, nossa legislação complacente (na qual se insere o "de menor"), a indulgência lúdica do brasileiro, com sua propensão antipolícia (nos confrontos as vítimas de balas perdidas são sistematicamente atribuídas aos policiais...) e um perigo hoje em ascensão: 
o estímulo ao consumismo paranoico, no quadro social exacerbado pelas manifestações de desigualdade excessiva e sem que a renda legal da massa consumista lhe corresponda.

Mario Cesar Flores O Estado de S. Paulo 

NAS MÃOS DE 11 : PARTIDOS FICAM SEM HEGEMONIA NAS CAPITAIS .

 
As eleições municipais deste ano mostram a pulverização de partidos na disputa das capitais e principais cidades brasileiras, com destaque para três legendas: 
PT, que levou a prefeitura de São Paulo, maior colégio eleitoral entre os municípios, e governará 636 prefeituras que somam 37 milhões de habitantes, ultrapassando o PMDB neste quesito; 
o PSB, que se fortalece como partido nacional, elegendo o maior número de prefeitos de capitais (cinco) e 442 no total; 
e o PSDB que fez 698 prefeitos, mas na eleição das capitais mudou o perfil de seu eleitorado, saindo do Centro-Sul e conquistando espaços no Norte e Nordeste do país. 

Onze partidos dividem o poder das 26 capitais a partir de janeiro.

O PMDB, embora mantenha o comando no maior número de prefeituras - elegeu este ano 1.023, com 31 milhões de habitantes - mantém sua característica de partido dos chamados grotões, com resultado forte em municípios de menor porte. 

Os peemedebistas elegeram, ainda no primeiro turno, apenas dois prefeitos de capital: Rio de Janeiro (RJ) e de Boa Vista (RR). Neste segundo turno, perdeu todas as disputas nas três capitais que concorreu e ontem ganhou em seis das 13 cidades com mais de 200 mil eleitores que disputou ontem.

O PT elegeu, nos dois turnos da eleição, quatro prefeitos de capitais - Goiânia, João Pessoa, São Paulo e Rio Branco. O PSB ganhou em Recife, Belo Horizonte, Cuiabá, Fortaleza e Porto Velho.

DEM ESCAPA DA EXTINÇÃO

O DEM consegue escapar da trajetória rumo à extinção com a conquista de duas capitais no Nordeste, Salvador e Aracaju. Contra a força da máquina pública, os partidos de oposição conquistaram ao todo oito das 26 capitais brasileiras. 

Duas no primeiro turno - Maceió (PSDB) e Aracaju (DEM) - e, no segundo turno, outras cinco: os tucanos venceram a disputa em Belém, Manaus e Teresina; o DEM ganhou em Salvador e o PPS ficou com Vitória. 

E o pequeno PSOL conseguiu eleger o prefeito de Macapá, no Amapá.

- É uma eleição que permite cada um cantar vitória da maneira que se avalia. O PSDB, de maneira expressiva, cresce no Norte e Nordeste. O PSB conquistou o maior número de vitórias nas capitais e não dá para dizer que o PT perdeu, porque quem ganha São Paulo, não perde, além de ter conquistado alguns dos maiores colégios eleitorais do estado - avaliou ontem à noite o professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais, Carlos Ranulfo. 

- Nesta eleição, três partidos se destacam: 
PT, PSB e PSDB. 
O PMDB é o transatlântico de sempre:
 continua com mais prefeituras, mas não tem rumo, bússola, direção. 
O grande destaque do PMDB é no Rio.

O PDT elegeu ao todo 310 prefeitos, entre eles os das capitais Curitiba, Porto Alegre e Natal. O novato PSD, comandado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab - que perdeu a eleição na sua cidade - surpreendeu. Ganhou apenas uma prefeitura de capital, Florianópolis (SC), mas ao final dos dois turnos elegeu 498 prefeitos.

O PP, partido da base governista em Brasília, elegeu o prefeito de Campo Grande (MS), e o nanico PTC, com o apoio do presidente da Embratur e candidato derrotado do PCdoB ao governo da Maranhão em 2010, Flávio Dino, venceu em São Luís com Edivaldo Holanda Júnior, derrotando atual prefeito da cidade, o tucano João Castelo.

 

PSB CRESCE E APARECE

Comparando-se à população de prefeituras comandadas pelos partidos em 2008 e agora, o PSB é, de novo, o que mais destaca, com um crescimento de 92%: na última eleição, o partido ganhou prefeituras de cidades com um total de mais de 10,8 milhões de habitantes e agora, governará para 20,9 milhões.

O PMDB governa hoje para 41,4 milhões de habitantes e, com o resultado desta eleição, irá comandar a partir de janeiro 30,6 milhões de brasileiros, uma queda de 26%. 

O PSDB teve uma queda pequena neste ponto, saindo de 25,8 milhões em 2008 para 25,2 milhões em 2012.

O cientista político Paulo Kramer, da Universidade de Brasília (UnB), avalia que o resultado da eleição municipal de 2012 demonstrou um equilíbrio entre forças políticas diversas e notícias boas para todas a legendas.

- Há tendências importantes a se destacar, como a busca do novo nesta eleição, com destaque para o petista Fernando Haddad. O espaço que Eduardo Campos, que não é cara nova no Nordeste, abriu no Sudeste terá reflexos em 2014. E não se pode fechar os olhos para o bom desempenho do PSD, que, na sua primeira disputa, levou 498 prefeituras. O Kassab, mesmo deixando a Prefeitura de São Paulo desgastado, se fortalece e se cacifa no jogo político - disse Paulo Kramer.

PT TAMBÉM SOFREU DERROTAS

O cientista político entende que o PT, apesar da vitória na capital paulista, sofreu derrotas significativas, como no interior de São Paulo e em outras capitais importantes, tanto no primeiro turno, em Belo Horizonte e Recife, quanto no segundo turno, com Salvador e Fortaleza. 

Também são computadas a Lula e também à presidente Dilma Rousseff derrotas de aliados que eles abraçaram, com apoios fortes, como em Manaus.

- Em Manaus, vejo como uma derrota fragorosa do Lula. É um Estado onde Lula sempre obteve votações estupendas, mas seu prestígio não foi suficiente para derrotar o PSDB -disse Krammer, referindo-se à derrota da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB). 

- Entendo que Lula nacionalizou demais algumas disputas nos estados e pode ter se queimado com alguns aliados. O resultado disso vamos ver ao longo dos próximos dois anos, se essa aliança está trincada ou não.

As eleições do segundo turno, ontem, ocorreram em 17 capitais e 33 cidades do interior do país com mais de 200 mil eleitores - distribuídas em 19 estados.

Neste universo de segundo turno, o PT teve o pior resultado, numericamente, já que disputou em 21 cidades, vencendo em apenas oito delas, quatro delas capitais. 

O PSDB concorreu em 17 cidades e ganhou em 9 delas, sendo três capitais. 

Esses dois partidos, que polarizaram a eleição deste ano, eram adversários em seis das 50 cidades deste segundo turno, e no embate, o PT venceu em quatro e o PSDB, em duas delas.

O PSB do governador Eduardo Campos venceu o embate com o PT no primeiro turno, em capitais como Belo Horizonte e Recife, e também foi vitorioso no segundo turno, derrotando o PT em Campinas, no interior de São Paulo. 

Como a maioria dos políticos que evitam prognósticos para o futuro, alguns especialistas também consideram que ainda é cedo para falar sobre a influência das eleições municipais na disputa presidencial de 2014.

- O quadro para 2014 é nebuloso. Há equilíbrio entre os principais partidos. O PSB, depois de crescer nas eleições de 2010, conquistando governos, também cresce elegendo o maior número de prefeitos de capitais. Sairá candidato à Presidência da República, em 2014 ou 2018 - diz Carlos Ranulfo.


Isabel Braga, Evandro Éboli, André Souza O Globo

As apostas que não deram certo


Embora tenham vencido na maior cidade do país, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fizeram apostas erradas e sofreram derrotas em capitais e importantes municípios, onde colocaram seu patrimônio político em jogo no segundo turno das eleições municipais.
 
Uma das derrotas mais simbólicas foi em Salvador, onde Lula e Dilma subiram no palanque do petista Nelson Pelegrino, derrotado pelo deputado ACM Neto (DEM), crítico feroz dos governos do PT.

Lula esteve em Salvador no primeiro e no segundo turnos. Dilma fez comício com Pelegrino no segundo turno, embora o PMDB do ex-deputado e vice-presidente da Caixa, Geddel Vieira Lima, estivesse com ACM Neto. 

No comício, Dilma disse que não faz um governo de "perseguição e vingança", mas afirmou que seu time estava naquele palanque.
A presidente levou para o comício as ministras de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e da Igualdade Racial, Luiza Bairros.

Lula convenceu a presidente a apoiar explicitamente o ex-presidente do Ipea Márcio Pochmann, candidato do PT a prefeito de Campinas, contra Jonas Donizete (PSB), que foi eleito. Dilma havia prometido que não iria fazer campanha em municípios onde os aliados estivessem divididos para evitar racha nos partidos governistas no Congresso.

A presidente também investiu na candidatura da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que perdeu para o tucano Arthur Virgílio Neto, ex-líder do PSDB que atacou duramente o governo do ex-presidente Lula e o PT. Em reunião com a própria candidata e o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, Dilma acertou sua presença na campanha de Manaus, embora a derrota fosse praticamente certa.

Foi um gesto político para premiar a lealdade do PCdoB ao Planalto e demonstrar que o partido é uma legenda preferencial em alianças futuras.

Lula resolveu peitar o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e foi derrotado em Fortaleza e Cuiabá. Na capital cearense, prevaleceu a força política do governador Cid Gomes e de seu irmão Ciro Gomes, que apoiaram Roberto Cláudio contra o petista Elmano de Freitas, candidato de Lula.

Em Cuiabá, o petista Lúdio Cabral perdeu para Mauro Mendes (PSB). Lula esteve pessoalmente nessas duas capitais, enquanto a presidente preferiu evitar conflitos com os aliados.

O vice Michel Temer também sofreu derrotas, como em Florianópolis, onde Gean Loureiro (PMDB) perdeu para César Souza Júnior (PSD). Semana passada, Temer desembarcou em Florianópolis, com Ideli, para pedir votos a Loureiro.

Luiza Damé O Globo