"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 29, 2012

NAS MÃOS DE 11 : PARTIDOS FICAM SEM HEGEMONIA NAS CAPITAIS .

 
As eleições municipais deste ano mostram a pulverização de partidos na disputa das capitais e principais cidades brasileiras, com destaque para três legendas: 
PT, que levou a prefeitura de São Paulo, maior colégio eleitoral entre os municípios, e governará 636 prefeituras que somam 37 milhões de habitantes, ultrapassando o PMDB neste quesito; 
o PSB, que se fortalece como partido nacional, elegendo o maior número de prefeitos de capitais (cinco) e 442 no total; 
e o PSDB que fez 698 prefeitos, mas na eleição das capitais mudou o perfil de seu eleitorado, saindo do Centro-Sul e conquistando espaços no Norte e Nordeste do país. 

Onze partidos dividem o poder das 26 capitais a partir de janeiro.

O PMDB, embora mantenha o comando no maior número de prefeituras - elegeu este ano 1.023, com 31 milhões de habitantes - mantém sua característica de partido dos chamados grotões, com resultado forte em municípios de menor porte. 

Os peemedebistas elegeram, ainda no primeiro turno, apenas dois prefeitos de capital: Rio de Janeiro (RJ) e de Boa Vista (RR). Neste segundo turno, perdeu todas as disputas nas três capitais que concorreu e ontem ganhou em seis das 13 cidades com mais de 200 mil eleitores que disputou ontem.

O PT elegeu, nos dois turnos da eleição, quatro prefeitos de capitais - Goiânia, João Pessoa, São Paulo e Rio Branco. O PSB ganhou em Recife, Belo Horizonte, Cuiabá, Fortaleza e Porto Velho.

DEM ESCAPA DA EXTINÇÃO

O DEM consegue escapar da trajetória rumo à extinção com a conquista de duas capitais no Nordeste, Salvador e Aracaju. Contra a força da máquina pública, os partidos de oposição conquistaram ao todo oito das 26 capitais brasileiras. 

Duas no primeiro turno - Maceió (PSDB) e Aracaju (DEM) - e, no segundo turno, outras cinco: os tucanos venceram a disputa em Belém, Manaus e Teresina; o DEM ganhou em Salvador e o PPS ficou com Vitória. 

E o pequeno PSOL conseguiu eleger o prefeito de Macapá, no Amapá.

- É uma eleição que permite cada um cantar vitória da maneira que se avalia. O PSDB, de maneira expressiva, cresce no Norte e Nordeste. O PSB conquistou o maior número de vitórias nas capitais e não dá para dizer que o PT perdeu, porque quem ganha São Paulo, não perde, além de ter conquistado alguns dos maiores colégios eleitorais do estado - avaliou ontem à noite o professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais, Carlos Ranulfo. 

- Nesta eleição, três partidos se destacam: 
PT, PSB e PSDB. 
O PMDB é o transatlântico de sempre:
 continua com mais prefeituras, mas não tem rumo, bússola, direção. 
O grande destaque do PMDB é no Rio.

O PDT elegeu ao todo 310 prefeitos, entre eles os das capitais Curitiba, Porto Alegre e Natal. O novato PSD, comandado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab - que perdeu a eleição na sua cidade - surpreendeu. Ganhou apenas uma prefeitura de capital, Florianópolis (SC), mas ao final dos dois turnos elegeu 498 prefeitos.

O PP, partido da base governista em Brasília, elegeu o prefeito de Campo Grande (MS), e o nanico PTC, com o apoio do presidente da Embratur e candidato derrotado do PCdoB ao governo da Maranhão em 2010, Flávio Dino, venceu em São Luís com Edivaldo Holanda Júnior, derrotando atual prefeito da cidade, o tucano João Castelo.

 

PSB CRESCE E APARECE

Comparando-se à população de prefeituras comandadas pelos partidos em 2008 e agora, o PSB é, de novo, o que mais destaca, com um crescimento de 92%: na última eleição, o partido ganhou prefeituras de cidades com um total de mais de 10,8 milhões de habitantes e agora, governará para 20,9 milhões.

O PMDB governa hoje para 41,4 milhões de habitantes e, com o resultado desta eleição, irá comandar a partir de janeiro 30,6 milhões de brasileiros, uma queda de 26%. 

O PSDB teve uma queda pequena neste ponto, saindo de 25,8 milhões em 2008 para 25,2 milhões em 2012.

O cientista político Paulo Kramer, da Universidade de Brasília (UnB), avalia que o resultado da eleição municipal de 2012 demonstrou um equilíbrio entre forças políticas diversas e notícias boas para todas a legendas.

- Há tendências importantes a se destacar, como a busca do novo nesta eleição, com destaque para o petista Fernando Haddad. O espaço que Eduardo Campos, que não é cara nova no Nordeste, abriu no Sudeste terá reflexos em 2014. E não se pode fechar os olhos para o bom desempenho do PSD, que, na sua primeira disputa, levou 498 prefeituras. O Kassab, mesmo deixando a Prefeitura de São Paulo desgastado, se fortalece e se cacifa no jogo político - disse Paulo Kramer.

PT TAMBÉM SOFREU DERROTAS

O cientista político entende que o PT, apesar da vitória na capital paulista, sofreu derrotas significativas, como no interior de São Paulo e em outras capitais importantes, tanto no primeiro turno, em Belo Horizonte e Recife, quanto no segundo turno, com Salvador e Fortaleza. 

Também são computadas a Lula e também à presidente Dilma Rousseff derrotas de aliados que eles abraçaram, com apoios fortes, como em Manaus.

- Em Manaus, vejo como uma derrota fragorosa do Lula. É um Estado onde Lula sempre obteve votações estupendas, mas seu prestígio não foi suficiente para derrotar o PSDB -disse Krammer, referindo-se à derrota da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB). 

- Entendo que Lula nacionalizou demais algumas disputas nos estados e pode ter se queimado com alguns aliados. O resultado disso vamos ver ao longo dos próximos dois anos, se essa aliança está trincada ou não.

As eleições do segundo turno, ontem, ocorreram em 17 capitais e 33 cidades do interior do país com mais de 200 mil eleitores - distribuídas em 19 estados.

Neste universo de segundo turno, o PT teve o pior resultado, numericamente, já que disputou em 21 cidades, vencendo em apenas oito delas, quatro delas capitais. 

O PSDB concorreu em 17 cidades e ganhou em 9 delas, sendo três capitais. 

Esses dois partidos, que polarizaram a eleição deste ano, eram adversários em seis das 50 cidades deste segundo turno, e no embate, o PT venceu em quatro e o PSDB, em duas delas.

O PSB do governador Eduardo Campos venceu o embate com o PT no primeiro turno, em capitais como Belo Horizonte e Recife, e também foi vitorioso no segundo turno, derrotando o PT em Campinas, no interior de São Paulo. 

Como a maioria dos políticos que evitam prognósticos para o futuro, alguns especialistas também consideram que ainda é cedo para falar sobre a influência das eleições municipais na disputa presidencial de 2014.

- O quadro para 2014 é nebuloso. Há equilíbrio entre os principais partidos. O PSB, depois de crescer nas eleições de 2010, conquistando governos, também cresce elegendo o maior número de prefeitos de capitais. Sairá candidato à Presidência da República, em 2014 ou 2018 - diz Carlos Ranulfo.


Isabel Braga, Evandro Éboli, André Souza O Globo

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