"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 01, 2014

Grandes empresas terão que buscar alternativas ao BNDES, diz novo ministro do Desenvolvimento

O futuro ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, senador Armando Monteiro Neto (PTB-PE), indicou nesta segunda-feira que o BNDES deve focar sua atuação no médio prazo para atender pequenas e médias empresas, acrescentando que até o final deste ano será definido o novo comando do banco. 

Ele comentou ainda que não é plausível falar em corte de impostos neste momento. O senador também defendeu "reformas microeconômicas de reduzido impacto fiscal" para melhorar o ambiente tributário e regulatório; uma política fiscal mais ativa que produza uma ampliação dos acordos comerciais do país. 

Além disso, Monteiro defendeu renovação do parque fabril brasileiro; um novo arranjo institucional que estimule a inovação; e o estabelecimento de metas claras para medir o avanço da competitividade no país. Ele evitou, porém, comentar qual seria a taxa de câmbio ideal para incentivar o aumento das exportações brasileiras. 

Monteiro é o terceiro novo ministro a ser anunciado pela presidente Dilma Rousseff após sua reeleição e sua nomeação só foi costurada com o PTB nesta segunda-feira, apesar de sua escolha ser conhecida desde a semana passada. Na quinta-feira, foram anunciados os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, além da recondução de Alexandre Tombini para presidência do Banco Central. 

Monteiro disse que é necessária "a adoção de um modelo de financiamento dos bancos públicos que viabilize, crescentemente, um maior acesso a recursos para pequenas e médias empresas", discursou. 

Questionado por jornalistas sobre qual seria papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no segundo mandato da presidente Dilma, Monteiro disse que o ideal é que o país "estimule a criação de um mercado de financiamento a prazo longo com os agentes privados, porque evidentemente o BNDES não pode suportar sozinho toda a demanda de financiamento do país".

 "Na perspectiva do novo modelo de financiamento que nós queremos ver implantando, precisa ampliar o acesso das médias e pequenas empresas a esses instrumentos de financiamento (público), o que significará que você poderá atender à demanda das grandes empresas crescentemente através de outros mecanismos de financiamento", disse o senador a jornalistas no Palácio do Planalto. 

Além do novo foco, Monteiro disse que o BNDES cumpriu um papel importante durante a política anticíclica adotada pelo governo federal para animar o investimento no país. "Mas evidentemente que as políticas têm de ser sempre reavaliadas à luz das novas condições da economia brasileira", argumentou, indicando que a instituição poderá rever seu papel no estímulo à economia. 

"O BNDES em qualquer circunstância terá sempre um orçamento importante, porque o próprio retorno das operações ativas já garante ao banco um orçamento expressivo", afirmou. Questionado se isso significaria que os aportes do Tesouro no banco diminuiriam ou cessariam, o futuro ministro disse que isso ainda não está definido. 

Monteiro afirmou ainda que está sendo analisada a possibilidade de mudança na presidência do BNDES. "Nesse momento essa é uma questão (a sucessão no BNDES) que está sendo analisada. Essa questão será definida agora, ainda neste ano, mas não sei ainda qual será a solução", disse ele. 

REUTERS 
(Por Jeferson Ribeiro e Maria Carolina Marcello)

O TEMPO É O SENHOR DA RAZÃO ! BRASIL REAL : "GUVERNU" muda projeção e agora fala em déficit comercial em 2014

O governo não trabalha mais com a perspectiva de superávit na balança comercial em 2014. Mesmo que dezembro seja positivo, não será suficiente para transformar o resultado em superávit, admitiu nesta segunda-feira o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Apesar da mudança na projeção, a pasta não divulgou o tamanho do déficit previsto.

No ano até novembro, a balança comercial acumula resultado negativo de US$ 4,2 bilhões - cifra que foi minimizada pelo futuro ministro do MDIC, Armando Monteiro. "Nós temos uma situação que não chega a configurar no que diz respeito à balança comercial um déficit assustador. Não é esse o quadro", comentou.

"O que nos preocupa é a queda do desempenho das exportações de manufaturados, é algo muito significativo, 10% de queda, é evidente que isso se deveu a alguns fatores, o mercado argentino que sofreu uma grande retração e esse maior acirramento da competição na área de manufaturados pelo menor crescimento do comércio internacional. Mas aí é que precisamos estar atentos para melhorar a competitividade da indústria, senão não recuperaremos espaço no comércio internacional", ressaltou.

Segundo o diretor do Departamento de Estatística e Apoio à Exportação do MDIC, Roberto Dantas, embora dezembro seja tradicionalmente superavitário, ainda assim o número não deverá superar o déficit acumulado do ano. "Houve essa mudança nas expectativas", observou Dantas sobre a perspectiva de déficit comercial no ano. 

Dantas explicou que fatores que poderiam ter ajudado na manutenção de um superávit não se realizaram, como a recuperação do preço do minério de ferro. Dantas ainda destacou que houve redução nas exportações de carne em novembro, o que afetou o desempenho. 

"Teve queda de exportações para Venezuela de carne bovina e de frango; para a Arábia Saudita, de frango", justificou. "Houve queda de 10% em volume de carne. Isso afetou o desempenho de novembro", frisou. 

Déficit 'marginal'. Dantas também relativizou o déficit acumulado até novembro. Segundo ele, é um déficit “marginal” porque representa apenas 2% das exportações no período. “É importante relativarmos o déficit em relação ao que ocorreu em relação a outros anos”, disse.

Dantas comparou com os dados de 1998, até então o pior resultado da balança para os 11 meses do ano. Em 1998, o déficit da balança foi de US$ 6,1 bilhões, 13% do volume exportado de janeiro a novembro daquele ano. 

“O déficit desse ano é seis vezes menor, em termos relativos, do que o déficit computado em 98”, comparou. “Em termos de magnitude, o déficit de 1998 foi mais importante do que o de agora”, continuou. 

Agência Estado
(Reportagem de Victor Martins, Renata Veríssimo, Laís Alegretti, Rafael Moraes Moura e Ricardo Della Coletta)

Os Funerais da Nova Matriz

Sempre que o PT pôs suas ideias econômicas em prática, elas falharam. Daí a opção pela ortodoxia, sinal evidente de que Dilma Rousseff elegeu-se sem saber o que fazer pelo país

Os últimos dias têm marcado as exéquias da matriz econômica adotada no país ao longo do primeiro mandato de Dilma Rousseff. 

Nenhuma novidade quanto ao fracasso da empreitada:
 na realidade, sempre que o PT pôs suas ideias econômicas em prática, elas falharam.

Até a eleição de Lula, em 2002, o partido defendia plataforma de mudanças radicais no modelo econômico, pregava a "ruptura necessária" - nome da tese que orientava o PT até o início daquela eleição - com o sistema capitalista e ações no rumo do socialismo. Com a conquista do poder, isso virou peça de museu.

Durante seu primeiro mandato, Lula valeu-se de uma agenda liberal e de talentos idem para levar o país a uma trajetória de crescimento sustentado que aproveitou adequadamente os ventos da bonança mundial. Deu certo enquanto durou a experiência baseada no respeito a contratos e na melhoria do ambiente de negócios.

Os petistas viram na crise de 2008 oportunidade para finalmente tirar suas empoeiradas teses da gaveta. Nasceu, assim, a "nova matriz econômica" que ora dá seus últimos suspiros sem ter produzido praticamente nada de bom enquanto existiu.

O modelo tinha suas pernas - ou seriam patas° - fincadas no aumento da demanda. Mais crédito, principalmente das generosas linhas da "bolsa empresário" do BNDES, mais gasto público, mais consumo, temperados por juros baixados à força e desonerações pontuais.

Os resultados estão aí para qualquer um ver: crescimento ridículo do PIB, inflação renitentemente alta, descontrole dos gastos públicos, descompromisso com a gestão fiscal, azedume generalizado no ambiente de negócios em função da falta de perspectivas, incertezas e intervencionismo exacerbado do governo.

Mais uma vez, a saída do PT está em fazer o inverso do que sempre pregou. Para tirar o país do atoleiro, mais uma vez terá de recorrer a uma agenda que não é a sua, mas que se tornou a única salvação diante do colapso generalizado por que passa nossa economia.

A opção pela ortodoxia econômica é sinal evidente de que Dilma elegeu-se sem saber o que fazer pelo país. Passado um mês das eleições que lhe deram mais quatro anos de mandato, a reeleita continua sem enunciar o que fato pretende para o país. O que poderia ser apenas prosaico torna-se bem mais grave diante da inexistência de um programa de governo apresentado aos eleitores ao longo da campanha. 

Dilma Rousseff recusou-se a participar da cerimônia na qual a nova equipe econômica foi apresentada ao país na semana passada. É possível que tenha, na realidade, evitado estar na missa de corpo presente do modelo que ela pôs em prática e que redundou num fiasco de proporções como há muito tempo não se via neste país.

Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela