"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 02, 2011

NÓS DÁ UM JEITINHO


A maior tragédia do Brasil?
É o jeitinho.
Sem regras claras, fica-se numa zona pantanosa.
O sim não significa sim.
O não tampouco quer dizer não.
Tudo depende.
Depende do crachá, do QI (quem indica), da conta bancária, da rede de amigos.

Às vezes, do tempo.
Outras vezes, do humor.
Daí termos mais de 50 formas de responder à pergunta “como vai?”
É um tal de vou indo, navegando, levando, como Deus quer, como o vento sopra, empurrando com a barriga. Etc. Etc. Etc.
O jeitinho faz milagres.


Apaga fatos históricos.
Graças a ele, o impeachment do Collor virou detalhe, indigno de figurar na história do Senado. Depois da grita — dos caras-pintadas aos historiadores —, o mais importante acontecimento da democracia contemporânea desta alegre Pindorama reconquistou a relevância.
Ganhou espaço no túnel do tempo da Câmara Alta.


O jeitinho confunde ciências e muda conceitos.
Erro não é mais erro.
É preconceito linguístico.
Escrever “os livro” ou “nós pega o peixe” figura em livro didático com o mesmo status de “os livros” e “nós pegamos o peixe”.

Apesar dos esperneios de pais, estudantes, professores, empresários, políticos & gente como a gente, o ministro da Educação bate pé.
Jura que os indignados estão indignados porque não leram o livro.


Há os que leram e os que não leram a obra.
Uns e outros sabem que o buraco é mais embaixo.
O ser bonzinho esconde baita discriminação.
Acredita que o aluno da escola pública nunca vai chegar lá.

Se aprender ou deixar de aprender a gramática normativa, não faz diferença.
Ele não passará das tamancas.
Não é por acaso que impera nas instituições públicas o jogo do faz de conta.
O professor finge que ensina.
O aluno finge que aprende.
O Estado se finge de cego.


O teatro não se restringe ao português.
Abrange matemática,
história,
geografia, ciências.
Mas é mais notável na língua pátria.
Sem a habilidade da leitura, o estudante não entende enunciados.


Prejudica-se em todas as disciplinas.
Sem a habilidade da escrita, não pode exprimir-se.
Se sabe a resposta da questão, não consegue escrevê-la.
Assim, cada macaco mantém-se no seu galho.
Em resumo:
o ensinar que “nós pega” está correto foi a gota d’água.
Os que leram e os que não leram o livro sofrem na carne,
no coração
e no bolso o resultado do preconceito.

Dad Squarisi Correio Braziliense

PAÍS RICO É PAÍS SEM POBREZA :“Nossa ideia é acabar com essa discussão anual e oficializar uma situação mais justa." SÚCIA!

Os deputados federais querem acabar com o desgaste diante da opinião pública em torno dos reajustes dos próprios salários, sem no entanto deixarem de inchar as contas bancárias todos os anos.

Encontraram a saída em uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) aprovada ontem na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que formaliza a equiparação dos valores pagos a congressistas e integrantes do Executivo aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Dessa forma, os parlamentares não precisarão mais propor e discutir projetos separadamente. Vão apenas votar as propostas e os pedidos de reajustes encaminhados pelos integrantes da Corte e se beneficiar deles automaticamente.


Desde fevereiro, os R$ 26.723,13 pagos aos integrantes do STF passaram a ser o valor dos salários dos deputados, senadores, da presidente da República, do vice-presidente da República e dos ministros do Executivo.
Uma equiparação extraoficial, que vai passar a ser lei depois que o Congresso aprovar a matéria.

“Nossa ideia é acabar com essa discussão anual e oficializar uma situação mais justa.
Não há motivos para diferenciar os salários dos integrantes dos poderes da República. É uma garantia de tratamento igual a todos”, diz o autor da PEC, Nelson Marquezelli (PTB-SP).

Entre as vantagens citadas informalmente entre os deputados que votaram ontem a favor da tramitação da matéria — e insistiram na necessidade de dar celeridade ao projeto — está a garantia de um novo reajuste salarial iminente.

É que, desde agosto do ano passado, tramita na Casa um projeto apresentado pelo presidente do STF, Cezar Peluso, que propôe elevar o salário dos ministros dos atuais R$ 26.723 para R$ 30.675.

O texto prevê ainda uma política contínua de reajuste anual nos meses de janeiro, sem a necessidade de aprovação de propostas pelo Congresso.


Ao aprovar a proposta do STF, os deputados estariam formalizando também uma política salarial para eles mesmos.

Estamos defendendo a aprovação da PEC por uma questão de justiça e para legalizar a situação salarial dos poderes. Não estamos tratando de reajustes ou do projeto do STF. Qualquer discussão sobre esse assunto só deve entrar na pauta no fim do ano”, afirma Marquezelli.


Limites mantidos
O texto da PEC acaba com o efeito cascata imediato em estados e municípios, estabelecendo que depois dos reajustes federais, o efeito só poderá ocorrer por meio da edição de leis específicas. Mas os limites dos vencimentos continuam sendo os previstos na Constituição atualmente.

Dessa forma, com base no salário pleiteado pelos ministros do STF, de R$ 30.675, as assembleias legislativas dos estados poderão editar normas regionais estabelecendo os vencimentos dos seus integrantes em até R$ 23.006,25 nos estados, ou 75% dos valores federais.


Se a PEC que equipara todos os cargos de comando nos Três Poderes for aprovada em plenário e no Senado, o impacto financeiro da proposta do STF que tramita na Casa seria de mais de R$ 82,5 milhões por ano, considerando os percentuais máximos estabelecidos pela proposta para os vencimentos dos políticos nos estados e nos municípios.
Para o relator da PEC na CCJ, deputado Arthur Oliveira Maia (PMDB-BA), a proposta em discussão é boa e promove isonomia.
“A própria Constituição atribui prerrogativas comuns às autoridades elencadas na proposta, como a iniciativa de leis e o direito de serem processados e julgados originalmente pelo STF”, argumenta.

A matéria será analisada por uma comissão especial e encaminhada ao plenário da Câmara.
A depender dos discursos de ontem, uma tramitação que deve ser célere, ao contrário do que acontece com a maior parte dos projetos na Casa.

Izabelle Torres e Isabella Souto Correio Braziliense

JESUS ME CHICOTEIA E ME FAZ AJOELHAR NO MILHO: UM GOVERNO À ESPERA DA FRENÉTICA E EXTRAORDINÁRIA.

A pergunta padrão do momento nos gabinetes do poder reproduz a questão em alta no mercado financeiro e a dúvida em voga entre os empresários:
Antonio Palocci, ministro-chefe da Casa Civil da Presidência, fiador do governo Dilma para boa parte desse público neoperplexo, ponte confiável para a ampla aliança partidária no trânsito entre o Legislativo e o Executivo, fica ou sai do governo?

Desprezemos o testemunho dos que garantem que ele não sairá porque não há substitutos.


Bobagem, sempre os há.
E os nomes mais óbvios já estão há muito declamados por petistas:
Paulo Bernardo,
Fernando Pimentel,
Jaques Wagner,
Luciano Coutinho (com reforço na coordenação política),
Alexandre Padilha, empresário gaúcho amigo (com outra vocação ao posto), o ex-presidente Lula (numa troca possível mas pouco provável de papéis), enfim, um mundo de possibilidades.

Tantas, e nenhuma, por enquanto, pois a presidente ainda está naquela fase de esperar que uma solução caia dos céus.


A questão a que se deve dar sentido é se haverá alguma diferença em ter ou não Palocci no governo.

A resposta, por enquanto, é também não.

Enfraquecido e sofrendo a desconfiança generalizada de que há algo por trás dessa fumaça que lhe cobre o rosto e que ele teima em não dissipar, já está.
A descoberta sobre os valores que o ministro acha ou não importante preservar abalou também o conjunto do governo, levando à vertigem a própria presidente.

A intervenção de Lula em dois Poderes de uma só vez, o Executivo e o Legislativo, desequilibrou ainda mais a presidente e mostrou que, se já volta agora às rédeas do poder, mais ainda daqui a três anos e sete meses, o que cristaliza a tese de que o atual é mesmo um mandato tampão.


Independe da sorte de Palocci, porém, a constatação de que o governo Dilma foi mal construído e funciona precariamente, a mudança exige mais que a troca de uma peça.
Até mesmo em comparação com o governo Lula, e fiquemos apenas nesse, da mesma estirpe, do qual foi parte importante.


O ex-presidente Lula nomeou líderes fortes, cada um com sua vocação e instrumentos, para ajudá-lo na política.
Não significa que tenha feito um bom governo. Sem juízo de valor, armou-se das chances políticas.


José Dirceu, na Casa Civil, fazia a coordenação política maior, tendo como tinha o controle do PT e o acesso privilegiado ao PMDB, o maior partido do Congresso que levou para perto do governo.

Luiz Gushiken teve a missão de ser um ministro forte e poderoso para atuar na forte e poderosa área de Comunicação. Gilberto Carvalho foi a ponte com a Igreja, os movimentos sociais e sindicatos.


Na liderança da política econômica, Lula colocou Antonio Palocci, já apoiado pelo mercado e empresários aos primeiros acordes da campanha eleitoral, desde a Carta aos Brasileiros que amarrou o compromisso do petismo com a estabilização.

Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, atuou mais na articulação política que qualquer coordenador formal, e deu sustentação jurídica a todo o governo.

Nelson Jobim levou para Lula as vantagens do seu acesso ao Supremo Tribunal Federal e garantiu-lhe uma tranquilidade ímpar no seu relacionamento com os militares.
Jobim implantou para valer o Ministério da Defesa.


A coordenação política formal foi exercida por sucessivos políticos de peso, de Aldo Rebelo, ex-presidente da Câmara, aos jeitosos mineiro Walfrido dos Mares Guia e o baiano Jaques Wagner.

No fim, quando o governo Lula já estava desfigurado e restavam em cena o presidente e sua voz, a tarefa da política foi entregue a Alexandre Padilha, um médico neófito no exercício do poder que fez um varejo bem sucedido na articulação com o Congresso.


No governo Dilma Rousseff não há esse tipo de peças no jogo.
José Eduardo Cardoso, ministro da Justiça, está realizando um trabalho interno de gestão, mais afeito à tarefa de secretário-executivo.
Alexandre Padilha ficou com a área da Saúde, missão acachapante que não permite desvio do foco.

A articulação formal com o Congresso foi entregue a um deputado do PT sem maior expressão ou acesso aos partidos, Luiz Sérgio.
Fernando Pimentel assumiu como ministro forte o Desenvolvimento. Amigo da presidente, acesso total à política, mas em litígio com seu partido, o PT, em Minas, optou pela discrição.


Em três áreas importantes a presidente teve que engolir ministros impostos, e em duas delas vem tendo que dirimir conflitos.
Lula pediu para deixar Guido Mantega no Ministério da Fazenda, posto para o qual Dilma já havia escolhido nome de sua confiança e predileção, e Fernando Haddad, para quem o ex-presidente quis manter a vitrine da Educação para garantir chance de disputa eleitoral em 2012.
Plano, aliás, que não decola, a gestão do Ministério da Educação é uma sucessão de problemas.


Lula pediu, também, a manutenção de Nelson Jobim no Ministério da Defesa. Foi o apelo que Dilma recebeu pior, ela o identifica com adversários políticos, mas é, hoje, a autoridade que melhor atua politicamente para seu governo.

A última proeza de Jobim foi negociar, discretamente e com sucesso, entre o Executivo e o Legislativo, um dos impasses mais intrincados na sua área, a Comissão da Verdade.
A presidente não teve oportunidade de tomar conhecimento da desenvoltura do seu ministro.

(...)
O governo, no entanto, não dá respostas e não tem como:
está despreparado estrutural e funcionalmente.
Defenestrar só o ministro atingido não é garantia de que o governo sairá da paralisia e voltará a funcionar.
É necessário muito mais.


Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras