"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 04, 2014

Onde A "GERENTONA" DE NADA E COISA NENHUMA DESAVERGONHADA põe a mão dá choque‏


Surpresa não é, mas agora é oficial: 
a lambança do governo no setor elétrico vai custar caro para o consumidor. 
Os aumentos das contas de luz começarão a chegar já neste ano, vão se acelerar em 2015 e praticamente reduzirão a pó a redução anunciada pela gestão Dilma no ano passado. A experiência de diminuir tarifas na base da boa vontade mostrou-se um fracasso retumbante.

A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) anunciou ontem que o empréstimo de R$ 8 bilhões para socorrer as concessionárias em dificuldades será custeado pelos consumidores. O repasse para as tarifas de energia começará em 2015 e pode chegar a dois dígitos – as estimativas variam de 8% a 10%.

Este percentual irá se somar aos reajustes anuais a que as empresas do setor têm direito por contrato. Em geral, estes aumentos repõem a inflação e repassam para o consumidor algum ganho de eficiência e produtividade. 
Na média, acompanham mais ou menos de perto o comportamento dos índices gerais de preços – isto quando não são manipulados pelo governo.

Segundo a Aneel, o aumento para cobrir o empréstimo será escalonado em dois anos. Isso significa que, já em 2015, os consumidores de energia devem ver suas faturas subirem algo em torno de 10%. No ano seguinte, de novo o mesmo tanto. Mas este é apenas um dos desequilíbrios a serem cobertos e somente uma parcela dos reajustes que deverão ter que ser feitos. 
Tem muito mais.
Já neste ano há um reajuste adicional de 4,6% previsto para as tarifas de energia. Mas não para aí. Como os R$ 8 bilhões são apenas parte dos desequilíbrios gerados pela truculenta intervenção patrocinada no setor elétrico pela presidente Dilma Rousseff, a conta será ainda mais salgada.

No ano passado, foram injetados quase R$ 14 bilhões nas distribuidoras de energia por meio do Tesouro, dos quais R$ 9,9 bilhões ainda deverão ser repassados às tarifas de luz e outros R$ 3,7 bilhões seriam a fundo perdido. Neste ano, o governo porá mais R$ 13 bilhões. 
Tudo considerado, até agora, o buraco nas contas do setor já ultrapassa R$ 30 bilhões.

Como, até agora, o governo só admitiu incorporar uma parte disso às tarifas é de se supor que ainda haja muito mais a onerar as contas dos consumidores no futuro próximo. O governo pode até não querer fazê-lo, mas terá que arcar com uma consequência nem um pouco desejável: 
vai faltar empresa para produzir energia no Brasil.

“Se todos os aportes já feitos e anunciados pelo governo fossem repassados para a tarifa, a conta de luz teria de subir entre 28% e 30%”, calculou o Valor Econômico em sua edição de ontem. Isto é bem mais que a redução média de 16% nas tarifas patrocinada no início do ano passado pelo governo federal, medida de pernas curtíssimas, como já se pôde constatar, e de consequências que poderão ser ainda mais danosas.

A gestão Dilma mostra-se absolutamente desnorteada em relação ao assunto. Apenas um dado já ilustra isso: 
no Orçamento de 2014, fechado há poucos meses, a equipe econômica estimou os custos extras com a geração de energia – seja em razão da escassez de água, seja por causa da desorganização que se abateu sobre o setor após a intervenção federal – em R$ 9 bilhões. Passados apenas três meses do ano, a conta já passou de R$ 10 bilhões.

Não é só o consumidor que pagará a fatura. 
Bancos públicos como a Caixa e o Banco do Brasil podem ser chamados a sustentar o empréstimo às concessionárias, uma vez que instituições privadas ainda manifestam receio de assumir o risco de não receber os R$ 8 bilhões que emprestarão. É, portanto, dinheiro do contribuinte bancando a lambança.

Sem falar nas estatais do setor de energia, que simplesmente foram para o vinagre com a mudança dos marcos regulatórios – estima-se que, em pouco mais de um ano, as concessionárias viram quase R$ 60 bilhões virarem fumaça. O exemplo mais ruinoso é o da Eletrobrás, que, no ano passado, colheu seu segundo prejuízo-monstro seguido, com perda de R$ 6,3 bilhões – em 2012, o rombo fora de R$ 6,9 bilhões.

Se não tivesse tido que engolir o pacote indigesto do governo Dilma e sido forçada a renovar contratos de concessão danosos na marra, a Eletrobrás poderia ter tido ganho extra de R$ 19 bilhões em 2013, segundo publica o Valor hoje. 

A consequência é direta: 
a empresa precisará de aporte de pelo menos R$ 12 bilhões para se manter ativa, segundo a Folha de S.Paulo
Mais uma conta que vai sobrar para o contribuinte...


Toda esta crise monumental no setor energético é de lavra exclusiva da presidente Dilma. Não apenas pela desastrada medida provisória n° 579, editada em setembro de 2012 sob viés eleitoral. Mas, principalmente, porque todo o modelo em vigor no país foi bolado e implantado sob a orientação dela, seja na condição de ministra de Minas e Energia, de ministra-chefe da Casa Civil ou de presidente da República. Onde Dilma Rousseff põe a mão dá choque.


Onde Dilma põe a mão dá choque‏
Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela



LITERALMENTE UMA "FOSSA" ! Tubo de aço de 2,3 quilômetros da Petrobras afunda no mar. Acidente ocorreu em março no campo de Roncador, mas só agora foi confirmado pela estatal. Equipamento custou US$ 2 milhões e ligaria plataforma a oleoduto



Um acidente com um tubo de aço de 2,3 quilômetros no campo de Roncador, no Oceano Atlântico, pode dificultar a capacidade da Petrobras de aumentar a produção de petróleo. No mês passado, o equipamento, operado pela companhia italiana Saipem SpA, contratada pela estatal, se desligou da estrutura que o ligava a uma plataforma flutuante e caiu no fundo do mar, ficando destruído, com perda total. O acidente ocorreu em 16 de março, mas só foi divulgado pela agência Reuters nesta quinta-feira.

Segundo fontes com conhecimento do assunto ouvidas pela agência de notícias, a falha pode retardar a expansão do campo de Roncador, custando dezenas de milhões de dólares, bem mais que os US$ 2 milhões pagos pelo tubo destruído, construído para ligar a plataforma a um oleoduto no fundo do mar.
A série de problemas de gestão e de engenharia que a empresa enfrenta é espantosa — disse o professor e pesquisador do Instituto Brasileiro do Petróleo na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Cleveland Jones. — Esse pode ter sido um acidente infeliz, mas ocorre quando os problemas organizacionais da empresa estão se tornando mais evidentes.


Em resposta à Reuters, a Petrobras afirmou que o acidente não vai afetar os esforços para aumentar a produção no campo de Roncador. A nova tubulação, do estoque atual da Petrobras, será entregue à Saipem, acrescentou a empresa. De outro modo, levaria cerca de seis meses para a encomenda e fabricação de uma peça substituta. A Saipem não quis comentar.retardará os trabalhos até o fim deste mês, no mínimo, enquanto a Petrobras e a Saipem elaboram um plano para remediar a situação.


Impacto nas contas

A produção de petróleo e gás da Petrobras voltou a subir em fevereiro, registrando alta de 0,7%, na comparação com janeiro. O desempenho, no entanto, poderia ter sido melhor, já que a produção do mês foi afetada pela parada de duas plataformas. A extração da estatal está estagnada há cinco anos.

Problemas técnicos como esses estão consumindo a receita da Petrobras e contribuindo para elevar sua dívida. Apesar de ter um plano de investimento de US$ 221 bilhões em cinco anos, a empresa tem tido pouco sucesso em fazer com que as novas descobertas marítimas gigantes resultem em aumento de produção.

A Petrobras informou em fevereiro que planeja aumentar a produção no Brasil entre 6,5% e 8,5%, para até 2,07 milhões de barris por dia (bpd), em 2014. Isso seria o seu primeiro ganho anual desde 2011. Com a produção dos campos mais antigos em queda, os atrasos com novos campos poderiam trazer risco a essa meta. Entre as grandes petroleiras, a empresa já é a mais endividada e menos rentável do mundo.

Sem melhorar o nível de produção, a Petrobras deve ter mais dificuldade para financiar seus planos de investimento e pagar os retornos aos investidores, sem um aumento da produção. O governo brasileiro, principal acionista da empresa, também precisa da produção para ajudar a custear um grande aumento de investimento em programas de educação e de saúde.

Atrasos em outras plataformas

A operação da plataforma P-55 “semisubmersível” em Roncador, projetada para produzir 180 mil bpd em um campo que produziu 255 mil barris por dia em fevereiro, já registrava atrasos de meses ​​quando o tubo foi perdido. A Petrobras esperava originalmente começar a produção no ano passado.
Se fosse Roncador um caso isolado, a Petrobras provavelmente seria capaz de lidar mais facilmente com a situação. Mas as plataformas P-58 e P-61 nos campos de Parque das Baleias e Papa Terra também estão atrasadas​.

No total, dois dos sete sistemas de produção previstos para começar no ano passado ainda estão desligados. 

A P-58 começou a produção em 17 de março. A P-62, que chegou a Roncador em janeiro, sofreu um incêndio em um gerador de eletricidade. O Ministério do Trabalho tem barrado a unidade de produção de petróleo até que as questões de segurança sejam resolvidas.

O gerador fornecia energia enquanto os trabalhadores instalavam sistemas elétricos, âncora e outros itens essenciais no mar.

Esses sistemas não estavam completos quando a unidade foi lançada com grande alarde em estaleiro brasileiro em 17 de dezembro pela presidente Dilma Rousseff, que está ansiosa para mostrar as proezas de engenharia da Petrobras em um ano eleitoral.


— Todas as grandes empresas têm seus problemas, mas a Petrobras tornou-se uma criatura de políticos — disse John Forman, por muito tempo um executivo da indústria brasileira de petróleo e mineração e geólogo da consultoria J. Forman.

Enquanto a Petrobras conseguiu completar um número recorde de embarcações de produção nos últimos meses, vários têm ido ao mar sem os sistemas “submarinos” que controlam o fluxo do poço e canalizam o óleo para as plataformas, um problema sério em um setor no qual o custo de locação de plataformas pode custar meio milhão de dólares por dia ou mais.

— A ironia é que esses custosos erros são o resultado de tentar reduzir os custos — disse um alto funcionário da indústria com conhecimento direto dos contratos da Petrobras. — Eles forçaram todos a licitar seus serviços a preços mais baixos, e quando os navios finalmente chegaram eles não tinham nada para conectá-los.


O GLOBO, COM REUTERS

As assombrações da Petrobrás


Há um senador, atual, mais conhecido como o "senador de todos", que é um político e um técnico experimentado. Sua especialidade é engenharia elétrica. Mas a sorte só começou a sorrir-lhe - reza o ditado que os que não a têm morrem pagãos - quando Lula chegou à Presidência da República. Ele, então, logrou indicar para diretor da BR Distribuidora o pivô do presente escândalo da Petrobrás, o qual permaneceu na empresa até meados de março, quando estourou a hecatombe. Habituado a ser cortejado por todos, esse ex-diretor da BR, de repente, se viu só.

O senador que o apadrinhava negou anteontem ter tido qualquer responsabilidade na indicação do acusado e até o presidente do Senado se apressou a seguir-lhe os passos. Enquanto o presidente do Senado troca acusações com o senador do povo sobre quem fez a tal indicação, o distinto público fica na dúvida sobre quem está com a razão:
 se ambos, um deles ou nenhum.

O cidadão ex-diretor da BR, homem de múltiplos padrinhos, de repente se viu órfão e, ainda por cima, desempregado. O máximo que a presidente Dilma Rousseff fez foi redigir um lacônico desagravo a ele, perdido em algum pé de página. Já o primeiro senador citado tem procurado de todas as maneiras possíveis se desvencilhar do suposto apadrinhamento de seu pupilo. 

Remando em sentido contrário, encontra-se o líder do partido no Senado. Ambas as cabeças estão a prêmio. Perderá a corrida aquele que for menos convincente.

Todo mundo tem ciência do que aconteceu. 
Mas não custa relembrar os fatos.

Albert Frère é um empresário belga que está acostumado a ganhar dinheiro e odeia perdê-lo. Entre outros negócios, era o proprietário da refinaria de Pasadena, no Texas, cujos primeiros 50% vendidos à Petrobrás foram avaliados por ele mesmo em US$ 360 milhões. Na verdade, o valor de mercado do total da usina não ultrapassava os US$ 42 milhões, uma vez que seus equipamentos já estavam sucateados e pouco restava de útil no local. 


De qualquer forma, a Petrobrás acabou se desentendendo com os belgas e foi obrigada a pagar na Justiça US$ 1,18 bilhão à ex-sócia para ficar com a usina. Como se percebe, um péssimo negócio.

Como é próprio da natureza humana, todos querem compartilhar o sucesso, já o fracasso é sempre órfão. O problema maior é que, desta vez, a propalada competência da presidente Dilma se encontra em jogo. 
Como os papéis referentes ao negócio passaram por suas mãos, de duas, uma:
 ou ela não entendeu o que leu ou não dedicou aos documentos a merecida atenção. Seja qual for o caso, a sua propalada competência fica posta em dúvida.

Esta talvez seja a pior crise por que passa o governo Dilma. 
Ao menos, é a mais grave. Ou ela encontra uma saída plausível, ou minimamente verossímil, ou sua propalada reputação despencará em queda livre. 
Com certeza, é a sua crise mais desgastante em termos de imagem. 
Isso sinalizou à Nação que ela não é tão infalível, como afirma ser.

Essa é também a grande chance que os oposicionistas sempre esperaram e agora lhes cai no colo, sem mais nem por quê. Quem souber se aproveitar disso acabará por herdar o Palácio do Planalto. Quanto aos outros, haverão de continuar pagando "placê".

Não é à toa que a presidente se mostra irascível e irritadiça. 
Ela cultuou pela vida toda a imagem de boa de tiro e agora, por um lapso de estratégia, assiste ao desmoronamento de toda a sua fama e reputação.
 Dona Dilma, que se manteve inabalável durante três anos e meio de mandato, sofre um desgaste que nunca lhe ocorreu que pudesse vir a enfrentar. 
Para reduzir os danos à sua imagem, terá de negociar muito com o Congresso Nacional e isso implica ouvir todo tipo de sugestões e propostas indecorosas. 

Tudo isso sem jamais perder a calma ou a paciência. 
Ela terá também de estar disposta a ceder cargos indispensáveis, negociar o inegociável e transigir com o intransigível. Há de ter em conta que tudo é necessário para se manter no cargo com um mínimo de dignidade.

A pergunta que não quer calar diz respeito à sua capacidade de resistir e virar o jogo. A palavra para isso é resiliência. E ninguém sabe se ela a tem, até que seja posta à prova.

Hércules, segundo a mitologia grega, também foi testado nesse quesito e conseguiu sagrar-se campeão. Por orientação do Oráculo de Delfos, precisou cumprir 12 tarefas praticamente impossíveis para se penitenciar por ter matado sua esposa e seus três filhos num acesso de loucura.

No Peloponeso, teve de matar o leão de Nemeia. 

Após estrangulá-lo, arrancou-lhe a pele e passou a usá-la como indumentária. 

A seguir matou a hidra de Lerna, uma serpente com corpo de dragão, que tinha nove cabeças. 

Depois correu atrás da corça de Cerineia, o que lhe demandou um ano de trabalho. Mas suas tarefas não se resumiram a isso. 

Para purgar a loucura que cometera e novamente se credenciar perante a opinião pública, couberam ainda outros trabalhos, entre eles, capturar o touro de Creta, limpar os currais de Augias, capturar vivo Diomedes - que possuía éguas que cuspiam sangue - e capturar também vivos os javalis de Erimanto. 

Tudo isso para provar ao povo que era capaz de governá-lo.

Quanto a Dilma Rousseff, o maior problema agora é a exiguidade de tempo. 
Ela deve à Nação, no mínimo, US$ 1,18 bilhão. 
Se Dilma for capaz de vencer todas as barreiras, bem poderá ser ungida novamente. 

Se não for, é de prever a extinção do PT da face da Terra. 
Com tudo o que ele representa de ruim: 
fanatismo, 
radicalismo, 
tumultos, 
pancadaria e muito mais. 
Finalmente os mansos herdarão a Terra. 
E tudo será como deve ser. 
Ou, ao menos, como deveria ser. 
Que tal desarmarmos nossos espíritos e imaginar um Paraíso despojado dessa gente belicosa, onde haja paz e concórdia sem essas ideias de luta de classes e beligerância?
Pensando bem, até que não seria uma ideia de todo ruim... 


João Mellão Neto* - O Estado de S.Paulo 
*João Mellão Neto é jornalista, foi deputado, secretário e ministro de Estado.