"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 04, 2014

LITERALMENTE UMA "FOSSA" ! Tubo de aço de 2,3 quilômetros da Petrobras afunda no mar. Acidente ocorreu em março no campo de Roncador, mas só agora foi confirmado pela estatal. Equipamento custou US$ 2 milhões e ligaria plataforma a oleoduto



Um acidente com um tubo de aço de 2,3 quilômetros no campo de Roncador, no Oceano Atlântico, pode dificultar a capacidade da Petrobras de aumentar a produção de petróleo. No mês passado, o equipamento, operado pela companhia italiana Saipem SpA, contratada pela estatal, se desligou da estrutura que o ligava a uma plataforma flutuante e caiu no fundo do mar, ficando destruído, com perda total. O acidente ocorreu em 16 de março, mas só foi divulgado pela agência Reuters nesta quinta-feira.

Segundo fontes com conhecimento do assunto ouvidas pela agência de notícias, a falha pode retardar a expansão do campo de Roncador, custando dezenas de milhões de dólares, bem mais que os US$ 2 milhões pagos pelo tubo destruído, construído para ligar a plataforma a um oleoduto no fundo do mar.
A série de problemas de gestão e de engenharia que a empresa enfrenta é espantosa — disse o professor e pesquisador do Instituto Brasileiro do Petróleo na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Cleveland Jones. — Esse pode ter sido um acidente infeliz, mas ocorre quando os problemas organizacionais da empresa estão se tornando mais evidentes.


Em resposta à Reuters, a Petrobras afirmou que o acidente não vai afetar os esforços para aumentar a produção no campo de Roncador. A nova tubulação, do estoque atual da Petrobras, será entregue à Saipem, acrescentou a empresa. De outro modo, levaria cerca de seis meses para a encomenda e fabricação de uma peça substituta. A Saipem não quis comentar.retardará os trabalhos até o fim deste mês, no mínimo, enquanto a Petrobras e a Saipem elaboram um plano para remediar a situação.


Impacto nas contas

A produção de petróleo e gás da Petrobras voltou a subir em fevereiro, registrando alta de 0,7%, na comparação com janeiro. O desempenho, no entanto, poderia ter sido melhor, já que a produção do mês foi afetada pela parada de duas plataformas. A extração da estatal está estagnada há cinco anos.

Problemas técnicos como esses estão consumindo a receita da Petrobras e contribuindo para elevar sua dívida. Apesar de ter um plano de investimento de US$ 221 bilhões em cinco anos, a empresa tem tido pouco sucesso em fazer com que as novas descobertas marítimas gigantes resultem em aumento de produção.

A Petrobras informou em fevereiro que planeja aumentar a produção no Brasil entre 6,5% e 8,5%, para até 2,07 milhões de barris por dia (bpd), em 2014. Isso seria o seu primeiro ganho anual desde 2011. Com a produção dos campos mais antigos em queda, os atrasos com novos campos poderiam trazer risco a essa meta. Entre as grandes petroleiras, a empresa já é a mais endividada e menos rentável do mundo.

Sem melhorar o nível de produção, a Petrobras deve ter mais dificuldade para financiar seus planos de investimento e pagar os retornos aos investidores, sem um aumento da produção. O governo brasileiro, principal acionista da empresa, também precisa da produção para ajudar a custear um grande aumento de investimento em programas de educação e de saúde.

Atrasos em outras plataformas

A operação da plataforma P-55 “semisubmersível” em Roncador, projetada para produzir 180 mil bpd em um campo que produziu 255 mil barris por dia em fevereiro, já registrava atrasos de meses ​​quando o tubo foi perdido. A Petrobras esperava originalmente começar a produção no ano passado.
Se fosse Roncador um caso isolado, a Petrobras provavelmente seria capaz de lidar mais facilmente com a situação. Mas as plataformas P-58 e P-61 nos campos de Parque das Baleias e Papa Terra também estão atrasadas​.

No total, dois dos sete sistemas de produção previstos para começar no ano passado ainda estão desligados. 

A P-58 começou a produção em 17 de março. A P-62, que chegou a Roncador em janeiro, sofreu um incêndio em um gerador de eletricidade. O Ministério do Trabalho tem barrado a unidade de produção de petróleo até que as questões de segurança sejam resolvidas.

O gerador fornecia energia enquanto os trabalhadores instalavam sistemas elétricos, âncora e outros itens essenciais no mar.

Esses sistemas não estavam completos quando a unidade foi lançada com grande alarde em estaleiro brasileiro em 17 de dezembro pela presidente Dilma Rousseff, que está ansiosa para mostrar as proezas de engenharia da Petrobras em um ano eleitoral.


— Todas as grandes empresas têm seus problemas, mas a Petrobras tornou-se uma criatura de políticos — disse John Forman, por muito tempo um executivo da indústria brasileira de petróleo e mineração e geólogo da consultoria J. Forman.

Enquanto a Petrobras conseguiu completar um número recorde de embarcações de produção nos últimos meses, vários têm ido ao mar sem os sistemas “submarinos” que controlam o fluxo do poço e canalizam o óleo para as plataformas, um problema sério em um setor no qual o custo de locação de plataformas pode custar meio milhão de dólares por dia ou mais.

— A ironia é que esses custosos erros são o resultado de tentar reduzir os custos — disse um alto funcionário da indústria com conhecimento direto dos contratos da Petrobras. — Eles forçaram todos a licitar seus serviços a preços mais baixos, e quando os navios finalmente chegaram eles não tinham nada para conectá-los.


O GLOBO, COM REUTERS

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