"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 22, 2012

O Brasil implodiu a Rio+20

A Rio+20 termina hoje com saldo muito aquém do que dela se esperava. O mais lastimável é que a atuação do governo brasileiro foi decisiva para a frustração. Em busca de um consenso amorfo, a nossa diplomacia construiu um documento final desidratado de avanços. O Brasil foi protagonista de um fracasso.

Desde que foi apresentado na última terça-feira, o texto da declaração final da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável - da lavra do Itamaraty - foi alvo de críticas. A insatisfação com os seus 283 parágrafos, esparramados por 49 páginas de muita retórica e pouca decisão, é geral.

As primeiras a estrilar foram as ONGs. Anteontem, pediram que uma expressão ("com plena participação da sociedade civil") fosse retirada do documento oficial, como forma de deixar registrado que não compactuam com a solução construída pelo Brasil. Não foram atendidas.

Mas as ONGs não falaram sozinhas.
Para espanto geral, críticas ainda mais contundentes vieram da delegação da Comunidade Europeia - decepcionada com a timidez dos negociadores brasileiros - e até mesmo do secretário-geral da ONU:
Ban Ki-Moon causou tamanha contrariedade ao governo brasileiro que ontem teve que se desdizer.


Também contrariados se manifestaram representantes de empresas e academia.
No
documento "A Rio+20 que não queremos", repudiaram o caminho trilhado pelos governos, guiados pela diplomacia brasileira, na Rio+20, seja pela timidez das deliberações, seja pela falta de ambição com compromissos objetivos.

"A Rio+20 passará para a história como uma conferência da ONU que ofereceu à sociedade mundial um texto marcado por graves omissões que comprometem a preservação e a capacidade de recuperação socioambiental do planeta, bem como a garantia, às atuais e futuras gerações, de direitos humanos adquiridos", diz o texto.

Ex-líderes políticos mundiais, como Fernando Henrique Cardoso, Gro Harlem Brundtland (Noruega) e Mary Robinson (Irlanda), também externaram sua decepção com a conferência recepcionada pelo Brasil. Reunidos no grupo denominado "The Elders", disseram, num comunicado, que a Rio+20 não fez o suficiente para pôr a humanidade na trajetória de desenvolvimento sustentável.

Vale recordar que, até o início da semana, era generalizada a expectativa de que a conferência resultasse em pelo menos três avanços:
a criação de um fundo para promover o desenvolvimento sustentável em países pobres; a definição de metas de produção e consumo sustentáveis; e o fortalecimento de órgãos de governança da ONU voltados ao meio ambiente, em substituição ao Pnuma.


As discussões preliminares, que se desenrolaram por meses a fio, não haviam conseguido lograr êxito em atingir o consenso em torno destes objetivos. Mas, em compensação, os negociadores também ainda não haviam jogado a toalha: apostava-se no diálogo de alto nível dos chefes de Estado para se chegar a um entendimento no Rio.

Bastou, porém, o Brasil assumir as negociações para, em quatro dias, as esperanças estarem sepultadas. Nenhum dos três principais pontos em torno dos quais havia maiores expectativas foi preservado pelo Itamaraty no documento final.
Tudo em nome de um mínimo denominador comum que compromete ao máximo o futuro do planeta.


Não apenas a busca de avanços mais evidentes foi abandonada, como alguns compromissos que estavam quase fechados foram dizimados do texto final pela diplomacia brasileira. É o caso, por exemplo, de um programa de ação de mudança nos padrões de produção e consumo que havia levado oito anos para ficar pronto e agora deixou de constar da declaração final da Rio+20.

Dada antes como certa, a proteção dos oceanos nas áreas além das fronteiras territoriais também naufragou.


Com seu trator, o governo brasileiro reduziu a cúpula dos chefes de Estado, iniciada na quarta-feira, a um mero referendo das decisões insossas costuradas pelos ministros. As contribuições da sociedade civil, elaboradas num ciclo de diálogos de alto nível integrante da Rio+20, também foram simplesmente ignoradas - o texto final foi fechado antes que os debates fossem finalizados.

Até a proverbial rispidez que cerca os modos da presidente brasileira marcou presença na conferência do Rio. Os jornais registram a maneira "pouco suave" com que Dilma Rousseff reclamou de críticas feitas ao Brasil pela ONU. Também salientam gestos de "truculência e constrangimento" exibidos pelos negociadores brasileiros junto às delegações de outros países na pressa por fechar o documento final da Rio+20.

Tudo considerado, as atitudes do governo brasileiro nos últimos dias parecem indicar que a Brasília importou muito mais salvar o país-anfitrião do vexame de não conseguir produzir um texto de consenso, qualquer que fosse ele, do que pavimentar avanços globais rumo a um mundo mais sustentável. Na Rio+20, prevaleceram o interesse menor e as veleidades da diplomacia do governo Dilma Rousseff.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela
O Brasil implodiu a Rio+20

A CONSTÂNCIA DA EXPECTATIVA X REALIDADE E A INSUSTENTÁVEL NÃO LEVEZA DO CRESCIMENTO ! Para BC, reação da economia fica para 2013

Às vésperas do anúncio da nova previsão de crescimento da economia, o Banco Central prepara o terreno para mostrar que desempenho como desejado pelo Palácio do Planalto só vai acontecer de forma plena em 2013.

Nos últimos dias, o presidente Alexandre Tombini chancelou números do mercado que preveem dinâmica mais forte da atividade no último trimestre de 2012 e, pela primeira vez, alongou o horizonte das estimativas para o próximo ano.

Para o BC, o esforço do governo em acelerar a economia para 4,5% ao ano, como quer a presidente Dilma Rousseff, só vai gerar resultados completos no próximo ano.


Em discurso na terça-feira, o presidente do BC repetiu a avaliação de que a economia deve ganhar ritmo, mas com um tom diferente.

"O crescimento econômico irá se acelerar ao longo dos próximos trimestres. De acordo com estimativas do próprio mercado, uma visão com a qual eu compartilho, no quarto trimestre de 2012 o Brasil estará crescendo a um ritmo de 4% na comparação com igual período de 2011", citou Tombini, em São Paulo.


Mais que concordar com analistas de que a economia deve ter velocidade de 4% ao ano no fechamento de 2012, Tombini foi além e empurrou o horizonte dos prognósticos. "E crescerá acima de 4,5% no primeiro semestre de 2013", disse, ao citar previsão de mercado com a qual concorda.

O discurso pode ser entendido como um sinal de que, para o BC, os resultados das diversas medidas para incrementar o ritmo da economia não se limitarão exclusivamente a 2012:
na verdade, o efeito pleno - com crescimento a um ritmo anual de 4,5% - só deve ser alcançado no decorrer de 2013.


Mudança

A avaliação mudou nas últimas duas semanas. Em 5 de junho, na Câmara dos Deputados, Tombini dizia que "o ritmo da atividade econômica no Brasil irá se acelerar ao longo de 2012".

Naquele dia, 2013 parecia mais distante.
Dias depois, em 12 de junho, citou discretamente no Senado Federal as previsões do mercado de que a economia deve crescer com ritmo mais forte no final de 2012, se estendendo para 2013. Mas, na ocasião, não fez uma defesa do cenário.
Apenas citou.


Desinflação.

Outra mudança no discurso é relacionada aos preços. Após meses com a percepção de que a influência do cenário internacional em crise é "desinflacionária" para o Brasil, o presidente do BC mudou o tom e, agora, avalia que o impacto deve oscilar de "neutro para desinflacionário".


Uma semana antes, porém, as palavras foram um pouco diferentes no Senado:
"O cenário internacional caracterizado por mercados voláteis, baixo crescimento da economia mundial e com viés desinflacionário para o País", disse.

Ou seja, antes era certo que a crise desaceleraria preços no País. Agora, não há tanta certeza.

As novas previsões do BC para o crescimento da economia e inflação serão divulgadas na próxima semana no Relatório Trimestral de Inflação.

Fernando Nakagawa, da Agência Estado

Memória :
DA SÉRIE , QUE TE COMPRE QUEM NÃO TE ...
DE NOVO A EXPECTATIVA E A REALIDADE