"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 20, 2012

Um fim lamentável para a Rio+20


Ser
ão muito pequenas, quase invisíveis, as conquistas que sairão da Rio+20. A diplomacia brasileira conseguiu uma proeza: a aprovação de uma declaração final que até poucos dias atrás parecia improvável.

Mas, para isso, tornou o texto tão anêmico que "o futuro que queremos" buscado pelas 193 nações participantes da conferência se tornou bem mais longínquo.


O documento-base a ser referendado pelos chefes de Estado a partir de hoje não contempla boa parte dos temas e propostas que poderiam representar avanços e novos compromissos dos signatários em prol do desenvolvimento sustentável. As expectativas positivas que cercavam a Rio+20 se frustraram.

No texto, não há definição de objetivos e metas; não há fontes de recursos estipuladas; não subsistem instituições com força capaz de enquadrar as nações do planeta. Há apenas princípios genéricos, reafirmações de intenções firmadas há 20 anos e rigorosamente nada mais. No bom e velho diplomatiquês, há muito "consideramos" e pouco "decidimos".

A diplomacia brasileira se deu por satisfeita com o simples fato de não ter havido retrocessos. Lutou a todo o custo para fechar um texto que evitasse o fracasso absoluto, isto é, a Rio+20 acabar sem documento algum. Entre o nada e o desejável, parou nas platitudes.

"Decisões concretas, com metas e objetivos, não saíram do Riocentro", resumiu o Valor Econômico. O documento final é "muito mais fraco do que se poderia esperar", decretou O Globo. É significativo que o Brasil tenha sido o único país a comemorar abertamente o resultado das negociações da Rio+20, como mostrou O Estado de S.Paulo.

A solução costurada pelo Brasil é muito tímida diante da necessidade premente de que se construam avanços globais rumo a formas sustentáveis e menos agressivas de desenvolvimento. É ainda mais frustrante diante do protagonismo que se esperava da nação que guarda a maior reserva de biodiversidade do mundo.

O resultado formal da Rio+20 é uma decepção e o documento que o Itamaraty fez aprovar ontem é apenas uma manifestação disso. Textos diplomáticos são sempre enfadonhos e rocambolescos. Mas a declaração final da conferência é ainda mais lamentável pelo que demonstra de falta de ousadia, de imprecisão e de incerteza quanto aos objetivos que se deve perseguir rumo ao desenvolvimento sustentável.

Na busca do consenso, o Brasil optou por afastar os pontos de conflito - justamente os que representavam alguma esperança de avanços e novas conquistas. Nossa diplomacia optou por empurrar para um futuro incerto o enfrentamento dos problemas, deixados a cargo de grupos de trabalho que nunca se sabe bem aonde conseguirão chegar.

Apenas reiterar rumos que foram traçados na Eco-92, como se limitou a fazer o Brasil, é muito pouco, uma vez que já há um razoável consenso em torno da necessidade de agir para assegurar um desenvolvimento sustentável doravante. Desperdiçar a disposição demonstrada pelos vários tipos de atores para assumir compromissos imediatos poderá mostrar-se uma falha imperdoável.

Apesar dos ecocéticos de sempre, entidades civis, academia, investidores e empresas deixaram claro nas centenas de discussões havidas nos últimos dias no Rio que é preciso modificar a forma como lidamos com os recursos naturais. Sem isso, ficará difícil, para não dizer impossível, manter os padrões atuais de produção e consumo e até mesmo garantir a disponibilidade de alimentos.

Se as coisas continuarem caminhando tal como são hoje, a consequência será a escassez e, com ela, a escalada de custos. Numa situação assim, quem mais perderá serão justamente os mais pobres. Por isso, era tão desejável que houvesse na Rio+20 um sinal de que os exageros e equívocos do passado não continuarão a se repetir.

Em resumo, saímos da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável menores do que entramos, com perspectivas menos animadoras. Sob a batuta do Brasil, as nações mostraram-se muito aquém do que delas espera a sociedade civil.

Para nossa sorte, independentemente da tibieza da diplomacia, empresas, organizações não governamentais e pesquisadores já estão agindo para mudar o planeta.


Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Um fim lamentável para a Rio+20

E NO brasil maravilha "CONSUMISTA E PREPARADO" : Inadimplência volta a crescer em maio


A inadimplência do consumidor voltou a subir com força entre abril e maio, sinalizando que a capacidade de consumo das famílias brasileiras continua comprometida. Dois indicadores de entidades privadas mostram que o atraso de pagamentos atingiu, em maio, nível recorde.

Ao mesmo tempo, a demanda por crédito voltou a crescer, principalmente entre as camadas de menor renda. Os dois movimentos - atrasos e demanda pro crédito - coincidem com os anúncios de redução de juros por parte dos bancos e os cortes no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em veículos, linha branca, móveis e outros produtos.

"O aumento da procura por financiamento em maio também foi devido ao Dia das Mães. A data responde, ainda, por parte do crescimento da inadimplência, embora o maior reflexo desse crédito vá aparecer lá na frente", diz Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa Experian.

Segundo levantamento da instituição, o índice de inadimplência saltou 6,2% entre abril e maio, atingindo o maior patamar da série iniciada em janeiro de 1999. O indicador considera os registros de cheques sem fundos, títulos protestados, dívidas vencidas com bancos, lojas, administradoras de cartões de crédito, financeiras e prestadoras de serviços, como fornecedoras de energia elétrica e água.

Nesse conjunto, quem determina a inadimplência é quem registra a dívida, e os dias de atraso podem variar.

Também de abril para maio a demanda por crédito aumentou 14% nos indicadores da Serasa, puxada pelos consumidores de menor poder aquisitivo. Entre os que recebem até R$ 500, a procura por crédito cresceu 16,3% no período, enquanto o avanço na faixa de R$ 500 a R$ 1.000 foi de 15%.

"O consumidor continua com um gargalo no orçamento. Isso está relacionado à inflação e à alta carga tributária, que comeu parte da renda", diz o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas. Para ele, as famílias estão usando o crédito de curto prazo, como cheque especial e cartão de crédito, para financiar o aumento de despesas.

"As contas não fecham e o consumidor acaba tomando um crédito caro, que dificulta ainda mais sua situação financeira."

Na região Sudeste, a inadimplência com cheques em maio subiu 10,61%, em relação a abril, e 6,5% se comparada a maio de 2011, de acordo com dados da Telecheque. Do total de cheques devolvidos, 80% deles voltaram por falta de fundos. O uso do cheque especial nos quatro primeiros meses deste ano, segundo o Banco Central, aumentou 10% na comparação com igual período do ano passado. No cartão de crédito, o crescimento foi maior, de 15,6%.

Os dois instrumentos são apontados pelos consumidores ouvidos pela Boa Vista Serviços como as principais fontes de dívidas não pagas - 39,8% dizem estar inadimplentes no cartão e 32,3% em cheques. O descontrole orçamentário é considerado a segunda maior causa de inadimplência entre as famílias brasileiras, ficando atrás somente do desemprego.

Na avaliação do presidente da Boa Vista, Dorival Dourado, o comprometimento de renda com dívidas não deveria ultrapassar 30% da renda, mas desde 2008 esse nível vem sendo superado. O dado mais recente do Banco Central mostra que, em março, o endividamento chegou a 42,95% da renda, o maior patamar da série histórica iniciada em janeiro de 2005.

"Como o consumidor compromete a renda muito mais do que o recomendável, quando surge um imprevisto, ele fica inadimplente", diz Dourado.

Entre abril e maio, a quantidade de novos registros de inadimplentes na base de dados da Boa Vista (que inclui informações de bancos, financeiras, prestadoras de serviços e do varejo) cresceu 1,8%, feitos os ajustes sazonais, alcançando o maior nível desde janeiro de 2006, quando o levantamento começou a ser feito.

No mesmo período, houve recuo de 1,7% na recuperação de crédito, também descontados os efeitos sazonais.

Os números do BC, embora não apontem recorde de inadimplência, mostram que os atrasos de mais de 90 dias nos pagamentos de empréstimos feitos junto a instituições financeiras subiu para 7,64% em abril, maior percentual desde dezembro de 2009, quando o Brasil sofria os reflexos da crise financeira internacional.

Francine De Lorenzo | De São Paulo Valor Econômico