"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 21, 2013

SOB "CONTROLE" ! Dólar dispara e fecha a R$ 2,45. Tombini cancela viagem. Brasil é o patinho feio do mundo!




O que era nervosismo começa a ganhar contornos de pânico nos mercados. O dólar saiu de controle e já sobe quase 10% em apenas um mês! A desculpa oficial de se tratar de fenômeno exclusivamente mundial perde força a cada minuto. O problema é “made in Brazil”, como fica claro no gráfico abaixo:

Fonte: Bloomberg
Outros países emergentes apresentam comportamento bem mais comedido, o que deixa evidente o fator doméstico nessa rápida desvalorização da moeda. Os investidores simplesmente perderam o que restava da confiança no governo.

O Banco Central não goza de credibilidade alguma, e os agentes do mercado não acreditam mais que haverá um choque de juros na magnitude necessária para conter a inflação. Tampouco se espera uma redução séria nos gastos públicos.

O cenário externo é o pano de fundo para nossos problemas, mas o governo acabou jogando muita gasolina na fogueira. Declarações desencontradas, negligência com o combate à inflação, malabarismos contábeis, congelamento tarifário: as medidas se mostraram equivocadas e o governo está perdido.

Enquanto não houver mudança abrupta do quadro internacional, ou alguma decisão radical à contramão do histórico dos últimos anos por parte do nosso governo, medidas paliativas podem segurar parcialmente a trajetória do dólar. Mas sua valorização tenderá a continuar. O gráfico mostra que ela está, na verdade, acelerando-se a cada momento, apesar das intervenções do BC:


Fonte: Bloomberg

Não resta mais sombra de dúvidas: 
o Brasil é o grande patinho feio do mundo agora.
 “Mérito” de nosso governo.

 Coluna do : 
Rodrigo Constantino

Quatro palpites sobre um bate-boca


Quando menino, minha avô Emerentina me solicitou um palpite para o jogo do bicho, uma atividade que ela praticava com a mesma religiosidade com que fazia as suas orações matinais.

Pensei num filme de Tarzan e chutei:
elefante! O elefante deu na cabeça e dela recebi um dinheiro que virou bombons de chocolate.

São 25 bichos, conforme determinou o cânone do Barão de Drummond, o inventor disso que Gilberto Freyre dizia ser um "brasileirismo". Algo genuinamente brasileiro, ao lado da feijoada, das almas do outro mundo, do samba, da corrupção oficial, do suposto orgasmo das prostitutas e do "rouba mas faz".

Quanta inocência existe entre nós.
É de enternecer.

Palpite 1 (avestruz)

O ministro Joaquim Barbosa tem sido tratado como um Drácula brasileiro por dizer o que pensa e sente. Mas, no Brasil, eis o meu primeiro palpite, somos todos treinados a não dizer o que pensamos.

Seja porque seríamos presos por corrupção ou tomados como desmanchadores de prazer; seja porque faz parte de nossa persistente camada aristocrática não confrontar o outro com a tal "franqueza rude" a ser reprimida por sinalizar não o desrespeito, mas um igualitarismo a ser evitado justamente porque nivela e subverte hierarquias. Somos a sociedade da casa e da rua.

Em casa somos reacionários e sinceros; na rua viramos revolucionários e ninjas - a cara encoberta. Somos imperais em casa, quando se trata das nossas filhas, e fervorosos feministas em público, com as "meninas" dos outros. Observo que, quando há hierarquia, não há debate nem discórdias; já o bate-boca é igualitário e nivelador.

Por isso ele é execrado entre nós, alérgicos a todas as igualdades. Discutir é igualar, de modo que as reações de Joaquim Barbosa assustam e surpreendem. Afinal, ele é um ministro.

Como pode se permitir tamanha sinceridade?
O superior não deveria discutir, mas ignorar e suprimir.

Palpite 2 (águia)

Um presidente da instância legal mais importante do país que esconde por educação suas valores seria um poltrão?

E isso, leitor, é justamente o que esse Joaquim Barbosa, negro e livre, não é e não quer ou pode ser. Na nossa sociedade, você está fora do eixo (ou da curva) até o eixo entrar nos eixos.
Ai você vira celebridade e começa a ser fino como um aristocrata.

Na oposição seu senso crítico é gigantesco, mas no dia em que você vira governo surgem as etiquetas reacionárias. Eu queria ir, você diz, mas a minha assessoria impediu.
Não ficaria bem... 

Afinal ator e papel não podem operar como um conjunto?
Ou devem agir se autoenganando para serem permanentemente elogiados como "espertos" ou "malandros"?

Esse apanágio do nosso sistema político que glorifica a hipocrisia e condena a opinião pessoal sincera que, em circunstâncias gravíssimas como a que estamos vivendo no momento, exige o confronto e consequentemente a desagradável rispidez da discórdia?

Palpite 3 (burro) Como ter democracia sem conflito?

Se passamos a mão na cabeça dos mais gritantes conflitos de interesse nesta nossa sociedade de vizinhos de bairro e de parentelas adocicadas pelos compadrios, porque temos de nos sentir aporrinhados porque um juiz confrontou de modo direto um colega cujo objetivo óbvio era o de protelar o arremate de um processo que, no meu entender, vai definir o caráter de nossa democracia liberal e representativa?

Palpite 4 (borboleta)

Pergunto ao leitor:
existe sinceridade sem emoção?
Existe honestidade sem estremecimento?
Existe algum regime ético no qual se troca convicção por boas maneiras? Afinal de contas o que seria uma pessoa com "bons modos"?
Seria um cagão sem espinha dorsal? 

Como, pergunto, mudar um país com essa maldita tradição de dizer que somos assim, mas no fundo somos assado sem dissensões?
 Afinal o que preferimos: 
o golpe que silenciosamente suprime o bate-boca ou o bate-boca que é a única arma democrática contra o golpe?
Um amigo me diz que o ministro Barbosa estava certo no conteúdo, mas errado na forma; e que o ministro Levandowski estava errado no conteúdo e certo na forma. Mas, palpito eu, como separar forma de conteúdo quando se trata do futuro da democracia ou de um grande amor?

Seria possível uma noite de núpcias com um noivo certo no conteúdo, mas sem traduzir esse conteúdo formalmente?
O sinal dos tempos no Supremo tem sido, precisamente, o estilo sincero e desabrido - honesto pela raiz - do estruturalismo de Joaquim Barbosa.

Nele, forma e conteúdo estão juntos como estiveram em todos aqueles que tentam ser uma só pessoa na casa e na rua, na intimidade e no púlpito, entre os amigos e os colegas de tribunal. Para se ter uma democracia é preciso juntar forma e conteúdo.

Não se pode condenar a discórdia e o direito à diferença como somente um gesto de má educação ou de egoísmo autoritário.

É preciso abrir um lugar para o bate-boca no sistema moral brasileiro caso se queira terminar com a sujeição e a autocondescendência que nos caracteriza como uma sociedade metade aristocrática, metade igualitária.

Prova isso o agravante de que, quando essas metades entram em choque, tendemos a ficar do lado aristocrático ou do bom comportamento.

Do formal e do legalmente correto, sem nos perguntarmos se o confronto não seria a maior prova de igualdade e de respeito pelo outro. 


Será que acertei novamente no elefante, ou deu burro e avestruz?

Roberto DaMatta

ENQUANTO ISSO... Criação de vagas tem pior julho em 10 anos . Foram gerados 41,4 mil empregos formais no mês passado; ministro do Trabalho não considera dado preocupante


O saldo líquido de empregos formais gerados em julho foi de 41.463 vagas, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado nesta quarta-feira, 21, pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O resultado é o menor para o mês desde 2003, quando a série sem ajuste registrou a criação de 37.233 vagas. 

A geração de empregos em julho foi 77% menor do que em julho do ano passado, quando ficou em 183.347 pela série ajustada. Já pela série sem ajuste, a preferida do Ministério, a queda foi de 70,9% na comparação com o mesmo mês do ano passado, quando o volume de vagas criadas foi de 142.496. No acumulado do ano até julho, houve criação líquida de empregos formais de 907.214 vagas. 

Segundo o ministro do Trabalho, Manoel Dias, os números apresentados são bons, pois ainda estão no terreno positivo. "Não há preocupação do governo, pois estamos aumentando vagas", afirmou. "Sinceramente, eu não acho preocupante", acrescentou.

Para Manoel Dias, os números do emprego estão de acordo com outras taxas da economia. "Eu não fiquei desapontado, porque nossa realidade é de um PIB de 1% ou 2%. Não é um número que eu gostaria de divulgar, mas é o que temos com um PIB de 1% ou 2%", considerou. Depois, o ministro disse que "o número de hoje não é ótimo; ótimo seria criar 1 milhão de vagas."

Dias evitou fazer uma projeção para os dados do Caged de agosto e do ano. "Nem eu nem ninguém tem condições de prever números do ano", disse o ministro. O resultado de julho ficou abaixo do piso das estimativas do AE Projeções (de 70 mil a 138,8 mil).
 A mediana esperada era de 100 mil novas vagas.

Mesmo com números abaixo do esperado, o ministro argumentou que há uma previsão muito negativa da economia que não corresponde à realidade do País. Ele citou que os investimentos continuam no Brasil, que há o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a Copa do Mundo e a Olimpíada ainda.


Regiões metropolitanas no negativo. 
O conjunto das nove áreas metropolitanas pesquisadas pelo MTE apresentou perda de 11.058 postos com carteira assinada em julho.
As regiões estão nos Estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. De acordo com a Pasta, o resultado é fruto da redução de emprego em sete delas, com exceção de Belém (1.473) e Fortaleza (803).

As demais registraram as seguintes perdas:
Recife (5.213), 
Porto Alegre (2.280), 
Belo Horizonte (1.657), 
São Paulo (1.455), 
Salvador (1.069), 
Curitiba (1.038) e Rio de Janeiro (622). 

Já os interiores dos aglomerados tiveram um aumento quase que generalizado do emprego, com a criação conjunta de 35.587 postos. 
As quedas foram vistas no interior do Rio Grande do Sul (1.364) e Rio de Janeiro (136).  

Já os que mais geraram emprego no mês passado foram Minas Gerais (13.290), São Paulo (9.929) e Bahia (4.349).

O diretor do Departamento de Emprego e Salário do Ministério, Rodolfo Torelly, destacou que o interior não está sendo tão afetado pela preocupação dos mercados, que atinge as capitais e grandes cidades. "Lá, as coisas estão acontecendo", afirmou.

A avaliação do diretor é a de que o mercado de trabalho está muito irregular, principalmente nas áreas metropolitanas. Tanto que esta é a primeira vez em um mês de julho que a região metropolitana fica negativa desde 2003. "A situação está mais estável no interior, onde o capital é mais 'verde e amarelo'", disse. Por este raciocínio, os investimentos no interior do País são mais "brasileiros" e, portanto, menos contaminados pela situação global.


Setores.
 Os segmentos que mais fecharam vagas foram os de serviços (4.545) e indústria (3.610). Nos setores de extração mineral e de serviços industriais de utilidade pública, as demissões superaram as contratações em 236 e 1.321 postos respectivamente.

No comércio, a geração foi positiva, mas muito fraca, de 1.545 vagas. Nos serviços, a contratação foi de 11.234 trabalhadores em julho e, na construção civil, de 4.899. Na administração pública houve estabilidade (55 novos postos). A agricultura foi o segmento que mais ajudou a sustentar o resultado positivo do Caged, ao contratar 18.133 pessoas a mais do que demitiu.

A Região Sul do País fechou 500 vagas de trabalho com carteira assinada em julho e o Rio Grande do Sul foi o Estado que mais suprimiu postos: 3.644 vagas, já descontadas as contratações do período.

A liderança das admissões seguiu com o Sudeste, com a geração de 17.418 postos. A região foi seguida por Centro-Oeste (16.775), Nordeste (10.005) e Norte (7.765). Das 27 unidades da federação, em seis houve mais demissões do que contratações no mês passado.

Além do Rio Grande do Sul, também apresentaram números negativos os Estados de Pernambuco (2.901), 
Espírito Santo (1.934), 
Rio de Janeiro (755), 
mato Grosso do Sul (105) 
e Paraíba (92). 
Já o destaque positivo ficou com Minas Gerais (11.633), 
seguido por São Paulo (8.474), 
Mato Grosso (4.396), 
Pará (3.742) 
e Amazonas (3.335).

Agência Estado
 

Patrimônio de promessas não cumpridas


A presidente Dilma Rousseff foi ontem a Minas Gerais "lançar" um pacote de obras de recuperação do patrimônio histórico.
 Seria ótima iniciativa, se fosse algo realmente sério. 
Desde 2009, o governo do PT vem prometendo a mesma coisa, sem, contudo, honrar nadinha do que anuncia. 

Trata-se de uma tônica desta gestão: 
transformar o país num cemitério de obras inacabadas e de promessas não cumpridas. 

O chamado PAC das Cidades Históricas já foi lançado cinco vezes pelo governo petista: 
duas vezes na gestão Lula e três na atual. 
Em três ocasiões, o anúncio foi feito pela própria Dilma, seja como ministra-chefe da Casa Civil, seja já como presidente da República. 

Nada, porém, saiu do papel nestes quatro anos.

Os valores a serem investidos crescem ao sabor do vento (já foram R$ 890 milhões e agora são R$ 1,6 bilhão), mas nenhum centavo foi efetivamente aplicado em obras de restauro do nosso patrimônio histórico. Mais estranho é que entre o primeiro anúncio, em outubro de 2009, e o mais recente (nunca se sabe se será de fato o último), o número de cidades atendidas em todo o país caiu a um quarto:
 eram 173 e sobraram agora apenas 44.

"O Iphan não conseguiu usar recursos do PAC específico de patrimônio. O recurso com as garantias que a presidenta informou só teremos a partir de amanhã [hoje]", admitiu Jurema Machado, presidente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) à Folha de S.Paulo. 

Por que tanta enganação e tanto desrespeito com o cidadão?

O que se vê agora em relação ao patrimônio histórico e cultural brasileiro é recorrente em todos os demais setores da administração pública federal nestes últimos anos: 
as promessas se multiplicam, mas as realizações nunca chegam. 
É assim na saúde, na educação, na infraestrutura e onde mais se observe. 

Onde estão as UPAs e as UBSs prometidas na campanha de 2010 para ampliar o acesso dos brasileiros à saúde? 
Dilma não entregou nem 5% delas... 

Onde estão as creches, tão necessárias para garantir uma primeira infância melhor a nossas crianças e melhores condições às mães que trabalham?

Aí é pior:
só 60 das 6.000 prometidas ficaram prontas.

Onde estão as necessárias obras em rodovias, ferrovias, aeroportos e portos que iriam destravar o desenvolvimento do país e dar mais competitividade a nossos produtos e bem-estar aos brasileiros? Nenhuma ferrovia foi licitada, nenhuma rodovia foi concedida à iniciativa privada e a maior parte dos aeroportos continua em obras que não se sabe quando acabarão.

Por que isso acontece? 
Em uma linha, falta planejamento e capacidade ao governo petista para transformar promessas em necessidades atendidas. 
Em sua concepção, o Programa de Aceleração do Crescimento até tinha seus méritos: 
listar um rol de obras públicas prioritárias que mereceriam atenção diuturna dos gestores a fim de se tornarem realidade. 

Na prática, isso se mostrou mero sonho. 

Infelizmente a incúria com o dinheiro público não se restringe ao PAC. A execução orçamentária também se dá no mesmo ritmo da ineficiência, do descaso e da malversação. Dinheiro para fazer o que os cidadãos precisam - e pelo que pagam caro na forma de tributos - tem, mas as obras não acontecem, os benefícios não chegam. 

O Tribunal de Contas da União examinou a execução do Orçamento da União de 2012 e concluiu que apenas 27% da verba destinada pelo governo federal à área de saúde foi utilizada no ano passado. Em saneamento, o percentual é ainda menor, de 9%, e na educação foram aplicados 45% do previsto, como mostra o Valor Econômico em sua edição de hoje. 

O governo petista acumulou um patrimônio considerável de promessas. Mas o que se tem constatado é que elas vão, dia após dia, se transformando num imenso canteiro de obras inacabadas. Nossos carcomidos bens históricos e culturais correm o risco de ser apenas mais uma atração desta paisagem em ruínas.

Instituto Teotônio Vilela