"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 06, 2013

A inflação não é neutra

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Ata do Comitê de Política Monetária (Copom) é um dos assuntos mais chatos que existe. Mas, diante do giro de 180 graus que o Banco Central exprimiu no documento divulgado ontem, comentá-la torna-se imperativo. Até porque a montanha de jargões usados pelos técnicos trata de um aspecto crucial para a vida de cada brasileiro: 
a inflação.

Nos últimos meses, o BC vem desempenhando importante papel na guerra contra o descontrole dos preços. A autoridade monetária deixou de lado uma postura dúbia e vacilante e passou a tratar a necessidade de domar inflação com a dose de severidade que a situação exige.

Neste processo, promoveu quatro altas seguidas na taxa básica de juros, fazendo a Selic saltar de 7,25% em março para 9% em agosto. E sinaliza que o processo ainda deve continuar até lamber o patamar próximo a 10% ao ano.

Ao mesmo tempo em que o BC afiou suas garras de falcão, num outro ponto de Brasília o Ministério da Fazenda deu asas à pomba dos gastos. Ao esforço de um correspondeu a leniência do outro, na forma de esforços fiscais cada vez mais frouxos, despesas correntes cada vez mais altas e investimentos públicos cada vez mais minguados.

Apenas para se ter uma ideia: 
de janeiro a julho últimos, o aumento da despesa primária do governo federal foi de R$ 57,8 bilhões em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto nestes mesmos sete meses o investimento cresceu apenas R$ 26 milhões.

As mais recentes atas do Copom denunciavam discrepâncias como estas. Apontavam o caráter "expansionista” da política fiscal e seu efeito deletério sobre a inflação. Foi um momento de integridade do BC, que, pelo que se revelou no texto divulgado ontem, luziu mais rápido do que raio em dia de céu claro.

Agora, o pessoal do BC acha que a máquina de torrar dinheiro que funciona no Ministério da Fazenda e arredores não colide com o controle da inflação. No dizer dos técnicos, a política fiscal petista é condizente para que "o balanço do setor público em posição expansionista se desloque para a zona de neutralidade”. 
Ninguém entendeu tão radical guinada.

Entre julho e agosto, as condições fiscais do país não apresentaram melhora alguma que justificasse a mudança do BC. O superávit feito para pagar juros neste ano já será menor que o maquiado resultado de 2012. E, pior, o de 2013 será ainda mais rasteiro, descendo ao patamar mais baixo em 12 anos, conforme proposta de Orçamento enviada ao Congresso na semana passada.

Segundo Claudia Safatle, analista privilegiada do Valor Econômico, uma "leitura possível” da guinada das avaliações do BC "é que o superávit primário já caiu o que o governo acha que podia cair”.

Do segundo semestre de 2012 até julho, o superávit primário caiu praticamente à metade, de quase 3% do PIB para cerca de 1,5% do PIB. Assim, poderíamos chamar o documento divulgado ontem pela autoridade monetária de "Ata Tiririca”: 
pior do que está não fica. 
Será?

O mais importante são os efeitos que esta política zonza pode ter sobre o controle da inflação, já que o BC é, institucionalmente, o guardião da nossa moeda. Hoje de manhã saiu o IPCA de agosto, com alta de 0,24%. Embora tenha vindo em linha com o estimado pelos analistas, o índice representa elevação considerável em relação ao 0,03% registrado em julho.

No acumulado em 12 meses, o índice oficial de inflação passou de 6,27% para 6,09%, segundo o IBGE. Caiu, mas ainda é muito, muito alto para um país que cresce quase nada e tem preços relevantes – como os da gasolina e da energia – crassamente manipulados pelo governo. A inflação brasileira está bem acima dos padrões aceitáveis no mundo, e muitíssimo distante da meta de 4,5%, que o BC disse ontem que só será atingida daqui a dois anos...

Há um temor de que a nova visão expressa pelo Banco Central indique que a espinha da autoridade monetária se dobrou diante de outras conveniências, forçando a política monetária (juros) a dizer amém à política eleitoral. O risco, com isso, é deixar de atacar com o ímpeto necessário o mal maior: 
a inflação que a todos penaliza. 
Neste jogo, não há neutralidade possível.

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Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica
estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

Esqueçam o que escrevi

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O Banco Central parece ter-se encolhido às lambadas recebidas da área econômica do governo.

Depois de passar meses denunciando “o balanço do setor público em posição expansionista”, ou seja, denunciando as despesas excessivas do governo como causa importante de inflação, a Ata do Copom divulgada nesta quinta-feira mostrou plácido enquadramento não só ao sentido, mas até mesmo às expressões usadas pelas autoridades da Fazenda.

Ao longo das últimas semanas, em oposição ao Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, tanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como o secretário do Tesouro, Arno Augustin, vinham insistindo em que “a política fiscal é neutra” enquanto fonte de inflação. É o jeito de dizer que a política fiscal não joga nem a favor nem contra a alta de preços. De julho para cá, a percepção geral é de que as condições fiscais, se não pioraram, pelo menos não melhoraram. No entanto, o parágrafo 21 da Ata não só deixou de qualificar como expansionista a condução das despesas públicas do governo, como, também, comprou o discurso de Mantega e de Augustin: “Para o Comitê, criam-se condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade”.

Tudo se passou como se, depois das queixas internas de que se tornara fonte propagadora do pessimismo sobre a economia, o Banco Central tratasse de desfazer essa impressão.

De todo modo, como das outras vezes, continua apontando outros fatores de inflação. O primeiro deles, “a estreita margem de ociosidade do mercado de trabalho”, cujo maior risco é o aumento de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade. É o emprego aquecido demais.

Um segundo fator é a “depreciação cambial” (alta da moeda estrangeira em reais), que a curto prazo tende a puxar os preços para cima. A cotação de referência do câmbio deixou de ser R$ 2,25 por dólar e passou a R$ 2,40 por dólar. Faltou quantificar o repasse à inflação esperado e o impacto sobre a alteração dos preços relativos não apenas desses 15 pontos adicionais na cotação do dólar, mas, também, o dos outros 25 que aconteceram nos meses anteriores.

O Banco Central também volta a acusar dois agentes que perpetuam a alta de preços: a inflação elevada que, por si só, induz à excessiva utilização de mecanismos de reindexação (correções automáticas de preços) que realimenta e aumenta a resistência da inflação. E “a piora da percepção”, ou seja, o crescimento do desânimo.

A Ata não esclareceu se o governo pretende ou não reajustar os preços dos combustíveis, fato que teria impacto relevante sobre os preços.

Desta vez, o Banco Central não contribuiu para a boa administração das expectativas em direção a uma inflação mais baixa em relação à hoje percebida pelo mercado. Ao contrário, ao retirar sem maiores justificativas as denúncias sobre a falta de colaboração da política fiscal no combate à inflação e ao acentuar que o que antes era ruim passou a ser bom, sem que nada tenha mudado, reforça a convicção de que a política de juros voltou a se pautar por outros critérios e não exclusivamente pelo de provocar a convergência da inflação à meta (veja ainda o Confira).


Tabu. 
A repentina mudança de diagnóstico do Banco Central em relação à qualidade e aos efeitos da política fiscal do governo poderá agora reforçar as apostas do mercado financeiro e dos remarcadores de preços de que os juros básicos (Selic) não subirão necessariamente para onde tiveram de subir para segurar a inflação. Mas subirão até um degrau antes dos dois dígitos (10% ao ano). E por que? Porque, afinal, este foi até agora o limite tabu do governo Dilma.

Celso Ming

ENQUANTO ISSO NO BRASIL REAL SEM "MARQUETINGUE" : Inflação oficial acelera alta para 0,24% em agosto.

 A inflação oficial do País, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), se acelerou em agosto, mês que registrou alta de 0,24%. Em julho, o IPCA havia subido 0,03%, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

A variação no ano foi de 3,43% e nos últimos 12 meses, de 6,09%, porcentual abaixo do teto da meta do governo, de 6,5%.
O resultado veio dentro do intervalo das estimativas dos analistas ouvidos pelo AE Projeções, que esperavam uma taxa de 0,20% a 0,32%, com mediana de 0,25%. 

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Os setores de Alimentos e Bebidas e Vestuário foram os principais responsáveis pela alta na inflação. O item de alimentos e bebidas, saiu de queda de 0,33% em julho para um índice de estabilidade em 0,01%. O Leite Longa Vida liderou o impacto do mês, com alta de 3,75% em agosto.

Em julho, o item já havia apresentado alta de 5,06%. O item de refeição consumida fora do domicílio também teve alta, saindo de 0,21% em julho para 0,76% em agosto. No outro vetor, a cebola teve a maior retração, com 22,84% ante julho.

Já no segmento de Vestuários também houve inversão na tendência de deflação verificada em julho, com queda de 0,39%. Em agosto, o item teve alta de 0,08%. Segundo o IBGE, a alta representa a chegada de nova coleção às lojas.

Em transportes, o ritmo de queda diminuiu em agosto, com o fim das revogações de aumentos nas tarifas de ônibus urbano. Ainda assim, o item caiu 0,06%, ante -0,66% em julho. A queda é explicada por novas reduções de tarifas em Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre. Em dois meses, segundo o IBGE, as reduções no item já chegam a 3,51%.

Já em Artigos para Residência, a alta foi puxada por eletrodomésticos (0,89% em agosto ante 0,28% em julho) e mobiliário (1,22% em agosto ante 0,22% em julho).

Dólar

A desvalorização do real ante o dólar já começa a ter reflexos na inflação de alguns produtos alimentícios no País, segundo a coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. Entre os itens que já sentem esse reflexo, está a Farinha de Trigo, que impacta diretamente preços de pães e cerveja, por exemplo.

"No índice desse mês a gente já vê alguma informação que nos leva a concluir que o dólar teve efeito, como a farinha de trigo 1,33% em julho para 2,68%", afirmou a coordenadora. Segundo Eulina, o impacto do dólar "está espalhado em toda a economia, em empréstimos da indústria, mas nos alimentos os efeitos já aparecem neste mês."

Outro produto influenciado foi o Leite Longa Vida, que foi o item com maior alta em toda a pesquisa de inflação para agosto.

O item registrou alta de 3,75% em agosto, e contribuiu com 0,04 p.p no IPCA. A desvalorização cambial afeta produtos como adubo, farelo de milho e ração, que pesam na composição do preço do leite.

"O leite também é influenciado pelo período de entressafra, que sofre com a onda de frio, e pela alta da demanda também em vista de grandes períodos de frio que o pais vem enfrentando", completa a pesquisadora.

"O câmbio já vem se depreciando desde maio. É natural que o número do IBGE incorpore esses efeitos", afirmou o economista e sócio da Tendências Consultoria Integrada Juan Jensen.

De acordo com o economista, o impacto significativo do dólar pode ser visto na alta de bens comercializáveis, de 0,43%, bem como na de bens duráveis (0,48%), este último porque utiliza insumos importados.

"Este ano tivemos uma alta em torno de 20% no câmbio, variação agora mais próxima de 15%, o que implica de 0,75 a 1,0 ponto porcentual na inflação", comentou Jensen
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Baixa renda

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) subiu 0,16% em agosto, após ter registrado queda de 0,13% em julho. Com o resultado, o índice acumulou uma alta de 3,33% no ano, e de 6,07% nos 12 meses encerrados em agosto.

O INPC mede a variação dos preços para as famílias com renda de um a cinco salários mínimos e chefiadas por assalariados. 

Economia & Negócios e Antonio Pita, da Agência Estado