"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 28, 2014

COPA DAS COPAS : Não houve caos nos aeroportos, mas serviço precisa melhorar . E... Turistas se queixam de obras inacabadas, informação deficiente e até falta de comida


A previsão de caos aéreo durante a Copa não vingou. 
Cenários de filas intermináveis no saguão dos aeroportos ou congestionamento de aeronaves não foram cenas corriqueiras na primeira quinzena do Mundial. Mas não faltaram percalços nesta primeira fase do torneio, de falta de comida a dificuldades na comunicação com os turistas.

Em Cuiabá, o dia mais confuso foi terça-feira passada, dia do último jogo na Arena Pantanal, entre Colômbia e Japão. Tinha tanta gente no aeroporto que faltou comida, e a Infraero teve que providenciar às pressas um carrinho com lanches.

Em Porto Alegre e no Rio, foram tantos turistas que os aeroportos se transformaram em dormitórios. O idioma foi outro problema. Houve queixas da falta de orientação em espanhol. A falha foi percebida pela Secretaria de Aviação Civil (SAC):

— Não faz sentido não ter informação em espanhol. A maior parte dos turistas que recebemos fala essa língua — diz o ministro da SAC, Moreira Franco, que já ordenou a instalação de sinalização na língua dos hermanos.

A Infraero informou que quando é identificada alguma dificuldade de comunicação, os turistas são orientados a procurar o balcão de informações, onde ficam os empregados terceirizados bilíngues.

Acostumado ao movimento intenso do carnaval, o aeroporto de Salvador apresentou obras inacabadas. Brasília também sofreu com infraestrutura precária: os alagamentos foram recorrentes. Congonhas (SP), por sua vez, viveu uma experiência única na Copa. Com a queda das viagens de negócios, o movimento de passageiros desde o início do Mundial está 13% abaixo do mesmo período de 2013.

Pelos 20 aeroportos que atendem as cidades-sede já passaram 7,6 milhões de pessoas . O governo trabalha com uma previsão de até 11,6 milhões considerando o período de 6 de junho a 16 de julho. Com o fluxo de passageiros dentro da expectativa e com o clima ajudando — em Curitiba, até a neblina, que costuma tumultuar o tráfego aéreo nesta época do ano, deu uma trégua —, o índice de atrasos de voos nos aeroportos da Copa tem girado em torno de 7,5%, abaixo da média europeia (8,4%)

LANCHINHO NO MEIO-FIO

No Aeroporto Marechal Rondon, em Cuiabá, o dia mais cheio foi a terça-feira passada, quando aconteceu o último jogo na Arena Pantanal, entre Colômbia e Japão. Com cerca de 30 mil turistas estrangeiros na cidade, a praça de alimentação do aeroporto não foi suficiente para dar conta da fome dos passageiros. 

Com apenas um restaurante fast food, uma choperia, uma gelateria e uma lanchonete, a Infraero contratou emergencialmente um carrinho de lanches, que foi instalado no meio-fio do terminal de passageiros, para ampliar a oferta de alimentação. Uma funcionária da lanchonete contou que foi confuso.

TERMINAL-DORMITÓRIO

No terminal 1 do Galeão, a Fun Zone tem videogame, mesa de totó, telão, wi-fi e máquinas de lanches. Mas o que os passageiros mais têm aproveitado nas esperas por conexões são os sofás e almofadas espalhadas pelo chão, que se tornaram camas para os cansados. A qualquer momento em que se entre na Fun Zone, há alguém tirando um cochilo. Na terça-feira passada, por exemplo, um menino de cerca de dez anos dormia enrolado em uma bandeira do Chile. 
Quem não encontra lugar nas almofadas não faz cerimônia:
 dorme no chão mesmo.

Em Porto Alegre, cerca de 400 torcedores argentinos que não tinham reserva em hotéis dormiram no terminal Salgado Filho, acomodados em sacos de dormir ou nas poltronas da área de desembarque. A Infraero autorizou a permanência dos turistas durante a madrugada do dia 25 e não registrou tumultos.
(...)
DESCULPE, ESTAMOS EM OBRAS

Com apenas uma das novas alas operando e o restante das obras de ampliação suspenso por causa da Copa, o aeroporto de Brasília enfrentou problemas hidráulicos, mas os passageiros saíram ilesos. Esta semana, pela terceira vez em menos de um mês, o aeroporto da capital teve problemas de alagamento. 
Uma tubulação se rompeu, e a água que desceu pelo teto inundou a área de desembarque doméstico, danificando caixas eletrônicos.

O aeroporto de Salvador passou por uma reforma para a Copa, mas as obras não terminaram a tempo, o que deixa visíveis vigas e tapumes em sua área externa, logo na saída do desembarque. Mas, internamente, o local parece funcionar bem. A capital paranaense foi outro local onde as obras não ficaram prontas. Os turistas que desembarcaram no terminal da Infraero ouviram o barulho das obras e viram tapumes e escadas.

FALE BEEEEEEEM DEVAGAR

Em uma Copa lotada de turistas hermanos, muitos reclamam da dificuldade de obter informações em espanhol nos aeroportos.

— Só entendo um pouco de português se a pessoa falar beeeem devagar. Quase não havia gente que falasse espanhol para nos dar informação — disse o colombiano Oscar Roa, no Galeão. — O problema foi ainda maior em Guarulhos (SP). Na área doméstica não tinha ninguém mesmo.

Coordenadora de uma equipe de voluntários no aeroporto de Porto Alegre, Cristiane Grahl Baptista relatou que até em algumas companhias aéreas pediram ajuda para dar informações . Funcionária de uma lotérica no aeroporto de Brasília, Maria Elineuza Ribeiro passou apuros para atender um francês que queria um chip de celular. Compra feita, ele não conseguia fazer a ligação e não entendia os motivos.
— Viramos um balcão de informações — diz ela.


ANDRÉ MIRANDA, CATHARINA WREDE, DANIELLE NOGUEIRA, FLÁVIO ILHA, GERALDA DOCA, HENRIQUE GOMES BATISTA, LAURO NETO E LINO RODRIGUES
O Globo

O PAC do trem fantasma ! COISAS DA GERENTONA DE NADA E COISA NENHUMA DESAVERGONHADA QUE NÃO SABE O QUE ACONTECE OU: "é propaganda ruim, nem sequer enganadora."


Um trem fantasma circula entre Campinas e Rio de Janeiro, correndo nos trilhos imaginários do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 

Prometido inicialmente para este ano, o trem-bala nunca saiu da promessa, continua como um vago projeto e, assim mesmo, seu status aparece como "adequado" no 10.º balanço do PAC, apresentado na sexta-feira pela ministra do Planejamento, Míriam Belchior. Em agosto do ano passado o leilão do trem de alta velocidade, com percurso de 511 quilômetros e custo estimado de R$ 32 bilhões, foi adiado pela terceira vez. 

Mas oficialmente o projeto está em dia.

Bastaria essa classificação para minar a credibilidade de mais um balanço triunfal de realizações federais. Mas outros dados comprovam, mais uma vez, o baixo grau de sucesso de um programa destinado principalmente, como indica seu nome, a ampliar a capacidade de expansão da economia brasileira.

O novo relatório comprova, mais uma vez, a predominância dos gastos com habitação no mais vistoso programa do governo central. 

A execução orçamentária do PAC 2 até 30 de abril deste ano envolveu aplicações de R$ 871 bilhões, 84,6% do total previsto para o período 2011-2014. Os financiamentos habitacionais, R$ 285,3 bilhões, corresponderam a 32,7% do valor aplicado. Nem sequer se poderia classificar esse montante como investimento, até porque o dinheiro pode ter sido gasto, no todo ou em parte, em imóveis velhos.

Somando-se a isso as aplicações do programa Minha Casa, Minha Vida, R$ 78 bilhões, chega-se a R$ 361,6 bilhões, ou 41,7% dos R$ 871,4 bilhões comprometidos entre 2011 e o fim de abril. O resto é dividido entre os demais setores, com destaque para os de energia e de transportes.

Não há como desmentir: 
o PAC é essencialmente um conjunto de financiamentos e investimentos habitacionais. Os programas de moradia podem ser importantes socialmente, economicamente úteis e louváveis sob vários aspectos, mas a aceleração do crescimento, finalidade explícita do programa, depende muito mais de investimentos em infraestrutura.

Os dispêndios das estatais, R$ 231,4 bilhões desde o início do PAC 2 até 30 de abril, corresponderam a 26,6% das aplicações totais. Somados os gastos do Orçamento-Geral da União chega-se a R$ 324,2 bilhões, valor bem menor que o dedicado à habitação.

Como explicar o peso desproporcional dos gastos com habitação?
 A resposta provavelmente envolve a dificuldade muito maior de planejar, projetar e executar obras de estradas, 
ferrovias, 
portos,
 armazéns, 
aeroportos, 
centrais elétricas, 
sistemas de transmissão e de pesquisa, 
exploração e refino de petróleo.

A escassa competência do governo federal no tratamento dessas questões já foi comprovada muitas vezes, especialmente a partir do primeiro PAC. Muitos projetos emperram antes de sair do papel, ou já nas primeiras fases de execução, por descumprimento, por exemplo, dos padrões financeiros cobrados pelo Tribunal de Contas da União. Outros emperram por má administração ou mesmo por falhas escandalosas de planejamento, como, por exemplo, nos casos de centrais elétricas impedidas de funcionar por falta de linhas de transmissão.

O PAC nunca foi, de fato, mais que uma sigla usada para marketing político. Desde a primeira versão, esse nome serviu basicamente para designar uma colcha formada pela costura apenas formal de várias ações desenvolvidas, em nível federal, pela administração direta e pelas várias estatais.

Já existiam os grandes projetos do setor elétrico. 
O planejamento da Petrobrás, periodicamente revisto e atualizado, era parte da rotina da empresa. As necessidades do setor de transportes eram conhecidas e obras importantes estavam em execução. O PAC nada acrescentou a esse conjunto, além de um nome de fantasia e de uma bandeira de propaganda.

Esse programa - ou "programa" - teria algum valor prático se tivesse ao menos servido para introduzir maior racionalidade no planejamento federal. Nada semelhante ocorreu. Ao contrário: a qualidade gerencial decaiu, como ficou demonstrado com a desastrosa intervenção na política de tarifas de energia, com a manutenção do controle de preços da Petrobrás e com o uso das estatais para remendar as contas públicas. 
O resto é propaganda ruim, nem sequer enganadora.

O Estado de São Paulo