Dilma Rousseff é caso único na História do Brasil.
Já iniciou, em apenas sete meses, três vezes o seu governo.
Em janeiro assumiu a Presidência.
Parecia que a sua gestão iria começar.
Ledo engano.
Veio a crise em maio - caso Palocci - e ela rearranjou o núcleo duro do poder.
Seus entusiastas saudaram a mudança e espalharam aos quatro ventos que, naquele momento, iria efetivamente dar início ao seu governo.
Mera ilusão.
Veio nova crise em junho, esta no Ministério dos Transportes.
Seguiram-se demissões de altos funcionários - ontem já chegaram a 27. Em seguida, foi anunciado que agora - agora mesmo - é que iria começar a sua Presidência. Será?
No país das Polianas, sempre encontramos justificativas para o injustificável.
Os defensores, meio que envergonhados da presidente, argumentam que ela recebeu uma herança maldita. Mas não foi essa "herança" que a elegeu presidente?
Não permaneceu cinco anos na Casa Civil participando e organizando essa "herança"? Herança, como é sabido, é algo recebido de outrem.
Não é o caso.
A então ministra da Casa Civil foi uma participante ativa na organização da base partidária que sustenta o governo no Congresso Nacional. Tinha e tem absoluta ciência do que representam essas alianças para o erário.
Fingir indignação, falar em limpeza - quando o vocabulário doméstico invade a política, é sinal de pobreza ideológica -, dizer que agora, sempre agora, só vai aceitar indicações que tenham a ficha limpa, isso é um engodo.
Quer dizer que no momento em que formou o Ministério a ficha limpa era irrelevante?
Ficha limpa é para coagir aliados?
E que aliados são esses que são constrangidos pelo currículo?
Os sucessivos reinícios de governo são demonstrações de falta de rumo e de liderança. O PAC não é um plano de governo.
É uma junção aleatória de obras realizadas principalmente pelo governo e por empresas estatais.
É um todo sem unidade alguma.
Não há uma concepção de projeto nacional, nada disso.
Além da falta de organicidade, os cronogramas de todas as obras estão atrasados.
O governo não consegue realizar, de forma eficaz, nenhum empreendimento. Quando algo chama a atenção, não é por seu efeito para o desenvolvimento do País. Muito ao contrário. É por gasto excessivo, desvio de recursos, inutilidade da obra ou atraso no prazo de entrega. E, algumas vezes, é uma cruel somatória desses quatro fatores.
O País está sem rumo.
Mantém indicadores razoáveis no campo econômico, contudo muito abaixo das nossas potencialidades. Basta lembrar que neste ano a taxa de crescimento será a mais baixa entre os países da América do Sul (não estamos falando de China, Índia ou Coreia do Sul, mas de Paraguai, Equador e Peru).
A economia ainda é movida pelo que foi estruturado durante os primeiros anos do Plano Real e por medidas adotadas em 2009, ante a crise internacional.
A falta de liderança é evidente.
Os últimos quatro meses foram de abalos permanentes. E nos primeiros cem dias a presidente teve uma trégua. Foi elogiada até pelo que não fez. Politicamente, o ano começou em abril e, de lá para cá, o governo toda semana foi tendo algum tipo de problema.
Ora no relacionamento com a base, ora no cotidiano administrativo. O problema central é que Dilma não se conseguiu firmar como liderança com vida própria. É vista pelos líderes da base como alguém que deve ser suportada até o retorno de Lula. A questão - para eles - é aguentar a destemperança presidencial. Claro que o preço compensa.
Porém a rispidez e os gritos da presidente revelam que ela própria sabe que não é levada a sério. Vez por outra, o passado deve rondar os pensamentos da presidente. Ela, em alguns momentos, exige uma obediência ao estilo do velho "centralismo democrático" leninista.
Sonha com Trotsky, Bukharin e Kamenev, mas convive com Collor, Sarney e Renan.
Nas crises que enfrentou, não conseguiu encontrar solução razoável.
Ao contrário, desarrumou a articulação existente e foi incapaz de substituí-la por algo mais eficiente.
Deixou rastros de insatisfação e desejos de vingança. A trapalhada com o PR e a demora em resolver de vez as denúncias são mais evidências da falta de capacidade política.
Criou na Esplanada dos Ministérios a versão petista do "onde está Wally?".
Agora o jogo é adivinhar, entre mais de três dúzias de ministros, quem será o próximo a cair em desgraça.
Algo meio stalinista (é o passado novamente?).
Com tanto estardalhaço, Dilma nem acabou com a corrupção nem conseguiu fazer a máquina governamental funcionar.
E quem perde é o País.
A cada fracasso de Dilma, mais cresce o clamor da base (e do PT, principalmente) para o retorno de Lula. Difícil acreditar que o criador não imaginasse como seria o governo da sua criatura.
Pode ter sido uma jogada de mestre.
Respeitou a Constituição (não patrocinando o terceiro mandato), impôs uma candidatura-poste, venceu com o seu prestígio a eleição e será chamado cada vez mais para apagar incêndios.
Ou seja, a possibilidade de ser passado para trás é nula. Dessa forma, transformou-se no personagem fundamental para manter a estabilidade da aliança do grande capital nacional e estrangeiro, fundos de pensão das estatais, políticos corruptos e oportunistas de toda ordem.
É também o único que consegue fazer a articulação com o andar de baixo, dando legitimidade ao projeto antinacional. Sem ele, tudo desmorona.
Dilma vai administrando (e mal) o cotidiano.
A fantasia de excelente gestora, envergada no governo Lula e na campanha presidencial, revelou-se um figurino de péssima qualidade.
Como nos velhos sambas, a quarta-feira já chegou.
Um pouco cedo, é verdade.
O carnaval mal começou.
E dos quatro dias de folia, nem acabou o primeiro.
Marco Antônio Villa
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