"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 02, 2011

INDÚSTRIA SUCATEADA .

O governo promete anunciar hoje o Brasil Maior, sua NOVA POLÍTICA INDUSTRIAL. O plano chega em uma hora em que as perspectivas para a indústria brasileira são as mais sombrias possíveis.

Foram anos de alerta quanto à depauperação do parque produtivo nacional, sem que a administração petista movesse uma palha.
Agora pode ser tarde demais.


O plano federal patinou até os últimos minutos. Dilma Rousseff teve de dar murros na mesa para forçar sua equipe econômica a aliviar a produção do peso da cobrança de impostos, sem o que a "nova política" seria apenas um "paliativo". Apenas alguns segmentos, porém, serão beneficiados com desoneração tributária, segundo apontam os jornais de hoje.

Indústrias calçadistas, têxteis e moveleiras são candidatas a ter parte da folha de pagamentos desonerada. Na forma de projeto-piloto, a medida terá validade de um ano, depois do qual seu impacto na arrecadação da Previdência será avaliado. Só então poderá ser ampliada para outros segmentos.

"A ideia em análise ontem era reduzir de 20% para 14% a alíquota da Previdência cobrada de setores de mão de obra intensiva, como o têxtil e calçadista, transferindo esse custo para o faturamento das empresas. Outra parte da desoneração tributária será bancada pela União", informa a Folha de S.Paulo.

Outras medidas previstas são o aumento da defesa comercial, novos financiamentos do BNDES para exportação e incentivos a investimentos em inovação tecnológica. Estima-se que o pacote de desonerações some R$ 45 bilhões entre 2012 e 2015 - até ontem o valor ainda não estava fechado.

A "nova política industrial" traz metas há muito fixadas e perseguidas por meio de políticas públicas, mas jamais alcançadas: elevar o investimento em capital fixo no país, hoje em 18,4% do PIB, para 23% até 2014 e aumentar o gasto privado com ciência e tecnologia de 0,55% para 0,9%. Até ontem não se sabia ao certo como isso seria alcançado.

Porta-vozes do Planalto dizem que o anúncio da nova política industrial busca compor uma pauta de boas notícias com a qual a presidente da República pretende mudar a agenda de seu governo, há meses soterrada por escândalos de corrupção. Seria melhor se visasse enfrentar, efetivamente, o grave problema da desindustrialização da economia brasileira.

A indústria vem perdendo, de forma precoce, participação no PIB brasileiro. O aumento do peso dos serviços na soma das riquezas geradas é natural em economias mais consolidadas, como é o caso de alguns países europeus e dos EUA. Mas só é bem-vindo quando o país já tem um parque fabril robusto, o que ainda não é o caso do Brasil.

O que ocorre hoje é que, com a supervalorização da moeda nacional, o país compra desbragadamente produtos manufaturados no exterior. Sai muito mais barato do que produzir aqui. São incontáveis os exemplos de empresas que transferiram suas plantas para fora do Brasil para, de lá, exportar para cá.

Outra face da mesma moeda, a exportação de bens industriais brasileiros é flagrantemente declinante. A fatia de manufaturados na pauta de exportações recuou de 61% em 2002 para 38% hoje. Estudos da Funcex revelam que atualmente o Brasil vende para fora o mesmo volume de industrializados que vendia em 2004 e 15% menos do que em 2007.

No ano passado, mostra pesquisa divulgada ontem pela CNI, 32% das indústrias que vendem para fora do país diminuíram sua presença no exterior.
Outras 16% simplesmente deixaram de exportar.
Em contrapartida, neste ano, o país deve ganhar 5 mil novos importadores.


Uma das metas do Brasil Maior é alterar isso, mas é difícil crer na sua eficácia.
Para se ter mais uma ideia do tamanho da derrocada do setor, a balança comercial de bens industriais que empregam alta tecnologia na sua produção registrou, no primeiro trimestre deste ano, seu pior resultado em 22 anos: um déficit de US$ 17,7 bilhões.


A previsão é de que o rombo ultrapasse US$ 51 bilhões até dezembro, recorde absoluto.


O governo Dilma faria melhor se promovesse uma ampla e generalizada melhoria nas condições de produção no país, sem se ater especificamente a este ou àquele segmento. Toda vez que elege seus beneficiados, o petismo produz distorções, das quais a atuação do BNDES nos anos recentes é o exemplo mais eloquente.

Melhorar a infraestrutura, reduzir impostos, impedir que o real continue a valorizar-se indefinidamente seriam medidas que surtiriam efeitos mais benéficos e duradouros para o parque produtivo nacional.

Mas isso não parece estar ao alcance do governo do PT:
demora muito e dá muito trabalho.


Fonte: ITV

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