Em conversas reservadas, os técnicos do Poder Executivo são praticamente unânimes em afirmar onde o bicho vai pegar este ano para a administração da presidente Dilma Rousseff, a ponto de incomodar o sono presidencial:
a pressão por reajustes salariais.
Além da campanha no primeiro escalão, apontada hoje na reportagem do Correio, há outras bem piores. O funcionalismo público prepara uma greve para tentar recompor a inflação acumulada de 2007 para cá — 24,5%, segundo as organizações dos servidores.
O funcionalismo está quieto desde 2007, quando um acordo com o governo previu reajustes até 2010. Mas, agora, diante da perspectiva de aumento zero em função da crise econômica externa e a necessidade de o governo conter seus próprios gastos, as associações e centrais de servidores vislumbram uma paralisação generalizada.
A presidente não se mostra interessada em ceder.
Tanto é que nem colocou no Orçamento os recursos necessários ao reajuste do Poder Judiciário e criou uma celeuma que não tem data para terminar.
Além disso, ainda existe o movimento dos policiais militares, conforme relatamos aqui no começo deste mês.
Para quem não acompanhou as notícias da primeira semana de janeiro, vale lembrar que houve a greve da PM do Ceará conforme noticiado em todos os jornais e comentado aqui. Naqueles dias, o governador Cid Gomes, diante de uma paralisação de policiais armados, acabou se rendendo e concedeu o reajuste.
O governo já detectou movimentos semelhantes no Amazonas, no Pará, e em mais quatro estados. No início deste mês, comentei aqui que, se a greve da PM eclodir em todo o país e os governadores se renderem, vai ser um levante geral em favor da PEC 300, aquela que equipara os salários dos policiais de todo o país com o que recebem os do Distrito Federal.
Na semana passada, ouvi de uma autoridade do governo que a aprovação da PEC 300 seria o caos.
No caso de Brasília, os salários são melhores porque o Distrito Federal conta com recursos da União para suprir despesas nas áreas de saúde, educação e segurança pública. Os estados da federação não têm esse suporte.
Além disso, qualquer reajuste da ordem do que pede a PEC 300 geraria um efeito cascata. Depois de PMs e bombeiros contemplados, seria a vez de outras categorias pedirem o mesmo. No Ceará, tão logo terminou a greve dos policiais militares, veio a da Polícia Civil.
Em relação ao Poder Executivo nacional, a aprovação da PEC 300 provocaria um efeito cascata, conforme detectado pelo próprio governo.
As Forças Armadas, por exemplo, imediatamente apresentariam um pedido por melhores salários.
O argumento para tal está definido e é justo:
um capitão ou sargento não poderia ganhar menos do que um oficial da PM que estivesse no mesmo nível hierárquico.
Por falar em hierarquia...
A presidente Dilma já avisou que quem manda no governo é ela. E, embora como demonstrou o Correio, algumas autoridades tenham salários elevados por conta de participação em conselhos, esse recurso é considerado a única maneira de atrair gente da iniciativa privada e de gabarito para trabalhar no segundo escalão.
Para completar, dizem técnicos do governo, se a presidente Dilma fosse conceder todos os pedidos de aumento, teria que arrumar mais R$ 40 bilhões. E não há de onde tirar tanto dinheiro.
Para completar, o ano é eleitoral e, se Dilma se render aos reajuste, dirão que foi para beneficiar os petistas. Por isso, conforme anunciado na reportagem de hoje, nem o aumento do segundo escalão deve sair, para desespero dos ministros que esperavam algum espaço para trazer gente de sua total confiança para cargos-chaves na Esplanada dos Ministérios.
Embora os ministros tenham perdido as esperanças, os servidores que aguardam a correção da inflação ainda vislumbram uma réstia de luz no fim do túnel. Eles torcem para que, lá na frente, a presidente Dilma acabe negociando algum dim-dim.
Afinal, se nem o corte orçamentário anunciado no ano passado ela cumpriu — em vez dos R$ 50 bilhões prometidos, cortou apenas R$ 21 bilhões — talvez não cumpra também a promessa de aumento zero.
Por isso, a pressão virá e será forte. Podem esperar.
Esse será o grande desafio da gestão pública este ano.
Por falar em gestão...
Os prefeitos de Minas Gerais não se cansam de telefonar para Brasília pedindo que o governo providencie uma operação tapa-buraco nas rodovias federais.
Alguns levantaram a hipótese de colocarem seu pessoal para fazer esse serviço, mas foram avisados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) que não podem fazer isso porque a rodovia é federal.
Enquanto isso, você que paga seus impostos, que fique ilhado ou espere até que os burocratas se entendam...
Os prefeitos estão à beira de uma ataque de nervos e prontos para dar o grito de socorro de Fred Flinstone, trocando o V pelo D:
Dillllmaaaaa!
Denise Rothenburg Correio Braziliense
a pressão por reajustes salariais.
Além da campanha no primeiro escalão, apontada hoje na reportagem do Correio, há outras bem piores. O funcionalismo público prepara uma greve para tentar recompor a inflação acumulada de 2007 para cá — 24,5%, segundo as organizações dos servidores.
O funcionalismo está quieto desde 2007, quando um acordo com o governo previu reajustes até 2010. Mas, agora, diante da perspectiva de aumento zero em função da crise econômica externa e a necessidade de o governo conter seus próprios gastos, as associações e centrais de servidores vislumbram uma paralisação generalizada.
A presidente não se mostra interessada em ceder.
Tanto é que nem colocou no Orçamento os recursos necessários ao reajuste do Poder Judiciário e criou uma celeuma que não tem data para terminar.
Além disso, ainda existe o movimento dos policiais militares, conforme relatamos aqui no começo deste mês.
Para quem não acompanhou as notícias da primeira semana de janeiro, vale lembrar que houve a greve da PM do Ceará conforme noticiado em todos os jornais e comentado aqui. Naqueles dias, o governador Cid Gomes, diante de uma paralisação de policiais armados, acabou se rendendo e concedeu o reajuste.
O governo já detectou movimentos semelhantes no Amazonas, no Pará, e em mais quatro estados. No início deste mês, comentei aqui que, se a greve da PM eclodir em todo o país e os governadores se renderem, vai ser um levante geral em favor da PEC 300, aquela que equipara os salários dos policiais de todo o país com o que recebem os do Distrito Federal.
Na semana passada, ouvi de uma autoridade do governo que a aprovação da PEC 300 seria o caos.
No caso de Brasília, os salários são melhores porque o Distrito Federal conta com recursos da União para suprir despesas nas áreas de saúde, educação e segurança pública. Os estados da federação não têm esse suporte.
Além disso, qualquer reajuste da ordem do que pede a PEC 300 geraria um efeito cascata. Depois de PMs e bombeiros contemplados, seria a vez de outras categorias pedirem o mesmo. No Ceará, tão logo terminou a greve dos policiais militares, veio a da Polícia Civil.
Em relação ao Poder Executivo nacional, a aprovação da PEC 300 provocaria um efeito cascata, conforme detectado pelo próprio governo.
As Forças Armadas, por exemplo, imediatamente apresentariam um pedido por melhores salários.
O argumento para tal está definido e é justo:
um capitão ou sargento não poderia ganhar menos do que um oficial da PM que estivesse no mesmo nível hierárquico.
Por falar em hierarquia...
A presidente Dilma já avisou que quem manda no governo é ela. E, embora como demonstrou o Correio, algumas autoridades tenham salários elevados por conta de participação em conselhos, esse recurso é considerado a única maneira de atrair gente da iniciativa privada e de gabarito para trabalhar no segundo escalão.
Para completar, dizem técnicos do governo, se a presidente Dilma fosse conceder todos os pedidos de aumento, teria que arrumar mais R$ 40 bilhões. E não há de onde tirar tanto dinheiro.
Para completar, o ano é eleitoral e, se Dilma se render aos reajuste, dirão que foi para beneficiar os petistas. Por isso, conforme anunciado na reportagem de hoje, nem o aumento do segundo escalão deve sair, para desespero dos ministros que esperavam algum espaço para trazer gente de sua total confiança para cargos-chaves na Esplanada dos Ministérios.
Embora os ministros tenham perdido as esperanças, os servidores que aguardam a correção da inflação ainda vislumbram uma réstia de luz no fim do túnel. Eles torcem para que, lá na frente, a presidente Dilma acabe negociando algum dim-dim.
Afinal, se nem o corte orçamentário anunciado no ano passado ela cumpriu — em vez dos R$ 50 bilhões prometidos, cortou apenas R$ 21 bilhões — talvez não cumpra também a promessa de aumento zero.
Por isso, a pressão virá e será forte. Podem esperar.
Esse será o grande desafio da gestão pública este ano.
Por falar em gestão...
Os prefeitos de Minas Gerais não se cansam de telefonar para Brasília pedindo que o governo providencie uma operação tapa-buraco nas rodovias federais.
Alguns levantaram a hipótese de colocarem seu pessoal para fazer esse serviço, mas foram avisados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) que não podem fazer isso porque a rodovia é federal.
Enquanto isso, você que paga seus impostos, que fique ilhado ou espere até que os burocratas se entendam...
Os prefeitos estão à beira de uma ataque de nervos e prontos para dar o grito de socorro de Fred Flinstone, trocando o V pelo D:
Dillllmaaaaa!
Denise Rothenburg Correio Braziliense
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