"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 11, 2011

O MEDO DO MERCADO ESTÁ VENCENDO A ESPERANÇA.

Na campanha para presidente da República, em 2002, com o candidato Lula despontando nas pesquisas, os marqueteiros do Partido dos Trabalhadores (PT) criaram o slogan "a esperança venceu o medo", em alusão às declarações da atriz Regina Duarte de que tinha medo das mudanças que uma possível vitória de Lula significaria ao Brasil.

Neste início do governo de Dilma Rousseff, o mercado financeiro ressuscita a expressão para falar sobre a resistência da inflação, só que de forma inversa, para tristezas dos investidores da bolsa.


Isso porque, com esse cenário, os juros devem subir mais do que se imaginava e a bolsa derrapar diante de ganhos tão atraentes como os da renda fixa.

"O medo está vencendo a esperança", diz o sócio da Cultinvest Asset Management, Walter Mendes, se referindo à expectativa que boa parte do mercado tinha de que o arrefecimento da inflação entre os meses de junho e agosto não seria algo apenas sazonal.


Mas essa esperança foi por água baixo com o anúncio, na quinta-feira, do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho, com alta de 0,15%. Agora, um gestor de peso como Mendes reforça essa decepção.

Para ele, a demora do Banco Central para agir no combate à inflação é o grande culpado pela resistência dos índices de preços.
"Estamos pagando o preço de o Banco Central não ter feito uma política preventiva de combate à inflação e agora estar só reagindo aos fatos consumados", diz.


"É muito mais fácil apagar o fogo no começo das chamas do que quando já se transformou num incêndio, com grandes labaredas", ilustra Mendes, fazendo analogia à estratégia do BC de elevar tardiamente a Selic e de implementar medidas macroprudenciais, como o aumento do depósito compulsório dos bancos.

Uma postura preventiva consta na cartilha de boas maneiras das autoridades monetárias, portanto, não é novidade para ninguém.
Mesmo com a economia ainda enfraquecida, o Banco Central Europeu (BCE), por exemplo, já subiu os juros de zero para 1,5% ao ano, se antecipando aos efeitos de uma recuperação econômica da região.


Com o incêndio já instalado no Brasil, o que esperar para os mercados?
O bombeiro (o BC) terá de jogar mais água, o que significa um processo mais severo de alta da Selic. E a bolsa, ao que tudo indica, vai sentir o baque de ficar ainda menos atraente comparada aos ganhos maiores e certeiros da renda fixa.


No entanto, a queda da bolsa parece ter limite, já que, desde 2010, ela tem um desempenho relativo pior que boa parte dos mercados.
De qualquer forma, quem apostava numa boa recuperação da Bovespa neste semestre pode ter que esperar mais um pouco, diz Mendes.


Daniele Camba é repórter de Investimentos

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