"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 08, 2011

RISCO DE TOMBO : Economia brasileira é "bicicleta difícil de pedalar", diz 'FT'

A forte valorização do real e o aumento da disponibilidade de crédito como consequência do grande fluxo de capitais para o Brasil ameaçam interromper o ciclo de crescimento econômico do País, segundo adverte um editorial do jornal britânico Financial Times publicado nesta sexta-feira.

Em um texto intitulado "Feridas brasileiras", o jornal compara a economia brasileira a uma bicicleta.

"Ela funciona enquanto estiver em movimento", diz o editorial.
"Agora, porém, está ficando mais difícil pedalar."


O jornal observa que o real se valorizou 40% em termos reais desde 2006 e que no mesmo período as importações brasileiras quase dobraram, enquanto as exportações cresceram apenas 5%.

"A única razão pela qual o déficit em conta corrente brasileiro não explodiu são os altos preços das commodities. Mas esse 'boom' pode não durar para sempre", alerta o jornal.


Crédito
O editorial comenta ainda que a liquidez em abundância também ajudou a impulsionar o crédito doméstico, mas que os consumidores brasileiros agora parecem estar sobrecarregados, gastando mais que um quarto de suas rendas para o pagamento de empréstimos - nível superior ao verificado nos Estados Unidos no período anterior à crise de 2008.

Para o jornal, o crescimento do crédito no Brasil somente pode ocorrer se a renda também continuar a crescer.


"É aí que a bicicleta econômica se depara com a trincheira da guerra cambial", afirma o jornal, observando que o aumento da renda eleva a demanda e a pressão inflacionária, exigindo o aumento dos juros, que atraem mais capital externo, elevando ainda mais a cotação da moeda, aumentando com isso a atração das importações e prejudicando a competitividade das exportações.

"O resultado é um déficit em conta corrente mais amplo, e um limite no crescimento exigido nos salários para manter o crédito doméstico crescendo com segurança", diz o jornal.


Soluções
O editorial afirma que uma das maneiras de contornar o problema seria conter a valorização da moeda, mas observa que o governo brasileiro já tentou medidas como controles parciais de capitais e grandes intervenções no mercado cambial, mas sem sucesso. Outra possibilidade seria o corte de gastos públicos, dificultados pelo Congresso.

Um terceiro caminho seria a elevação dos impostos sobre o setor de commodities, mas o texto observa que mesmo outras economias ricas em commodities e com melhor administração, como o Chile e a Austrália, estão sofrendo com problemas semelhantes e que os problemas no Brasil são mais agudos por causa do tamanho da economia do país.

O editorial conclui dizendo que "a bicicleta brasileira ainda não está arriscada a parar". "Mas está balançando", finaliza o texto.

BBC Brasil

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