O lulismo vai deixar sinais indeléveis no Estado brasileiro.
E, pelo visto, deve permanecer no poder até, no mínimo, 2018.
Inexiste setor do Estado em que não tenha deixado sua marca.
A eficácia na tomada do aparelho estatal é parte de um projeto de manietar o país, de controlar os três poderes.
O grande empresariado foi se transformando em um dos braços do Estado.
A cada dia aumentou sua dependência dos humores governamentais.
Ter uma boa relação com o Palácio do Planalto virou condição indispensável para o sucesso.
O empresário se tornou capitalista do capital alheio, do capital público.
Para a burguesia lulista, nenhum empreendimento pode ter êxito sem a participação dos fundos de pensão dos bancos e empresas estatais, dos generosos empréstimos do BNDES e da ação direta do governo criando um arcabouço legal para facilitar a acumulação de capital — sem esquecer as obras no exterior, extremamente lucrativas, de risco inexistente, onde a empresa recebe de mão beijada, sem concorrência, como as realizadas na África e na América Latina.
A petrificação da pobreza se transformou em êxito.
Coisas do lulismo.
Coisas do lulismo.
As 14 milhões de famílias que recebem o benefício do Bolsa Família são, hoje, um importante patrimônio político.
Se cada família tiver, em média, 4 eleitores, estamos falando de 1/3 do eleitorado. A permanência ad aeternum no programa virou meio de vida.
E de ganhar eleição.
Que candidato a presidente teria coragem de anunciar o desejo de reformar o programa estabelecendo metas de permanência no Bolsa Família?
A máquina do Estado foi inchada por milhares de petistas e neopetis-tas. Além dos quase 25 mil cargos de assessoria, nos últimos onze anos foram admitidos milhares de novos funcionários concursados — portanto, estáveis.
Diversamente do que seria razoável, a maior parte não está nas áreas mais necessitadas. Um bom (e triste) exemplo é o das universidades federais.
Foi realizada uma expansão absolutamente irresponsável.
Faculdades, campi, cursos, milhares de funcionários e docentes, para quê?
Havia algum projeto de desenvolvimento científico?
A criação dos cursos esteve vinculada às necessidades econômicas regionais?
Foi realizado algum estudo das carências locais?
Ou tudo não passou, simplesmente, de atendimento de demandas oligár-quicas, corporativas e para dourar os números do MEC sobre o total de universitários no país?
Sem ter qualquer projeto para o futuro, foi acentuado o perfil neocolo-nial da nossa economia. Vivemos dependentes da evolução dos preços das commodities no mercado internacional — e rezando para que a China continue crescendo. Não temos uma política industrial. O setor foi perdendo importância. O investimento em ciência e tecnologia é ínfimo. A chamada nova economia tem importância desprezível no nosso PIB.
A qualificação da força de trabalho é precária.
Convivemos com milhões de analfabetos como se fosse um dado imutável da natureza.
A política externa amarrou o destino do Brasil a um terceiromundismo absolutamente fora de época. Nos fóruns internacionais, o país se transformou em aliado preferencial das ditaduras e adversário contumaz dos Estados Unidos. Abandonamos o estabelecimento de acordos bilaterais para fomentar o comércio. Enquanto o eixo dinâmico do capitalismo foi se transferindo para a região Ásia-Pacífico, o Brasil aprofundou ainda mais sua relação com o Mercosul.
Em vez de buscar novas parcerias, optamos por transformar os governos bolivari-anos em aliados incondicionais.
Entre os artistas, a dependência estatal foi se ampliando. Uma simples peça de teatro, um filme, um show musical, nada mais é realizado sem que tenha a participação do Estado, direta ou indiretamente. Ter bons relações com o lulismo virou condição indispensável para a obtenção de "apoio cultural" Nunca na história republicana artistas foram tão dependentes do governo — nem no Estado Novo.
E cumprem servilmente o dever de obediência ao governo, sem qualquer questionamento.
O movimento sindical foi apresado pelo governo.
Os novos pelegos controlam com mão de ferro "seus" sindicatos.
Recebem repasses milionários sem ter de prestar contas a nenhum organismo independente. Não vai causar estranheza se o Congresso — nesta escalada de reconhecer novas profissões — instituir a de sindicalista.
A maioria dos dirigentes passou rapidamente pela fábrica ou escritório e está há décadas "servindo" os trabalhadores.
Os novos pelegos controlam com mão de ferro "seus" sindicatos.
Recebem repasses milionários sem ter de prestar contas a nenhum organismo independente. Não vai causar estranheza se o Congresso — nesta escalada de reconhecer novas profissões — instituir a de sindicalista.
A maioria dos dirigentes passou rapidamente pela fábrica ou escritório e está há décadas "servindo" os trabalhadores.
Ser sindicalista virou um instrumento de ascensão social.
E caminho para alçar altos voos na política.
O filé mignon do sindicalismo são os fundos de pensão das empresas e bancos estatais. Seus diretores — do dia para a noite — entraram no topo da carreira de profissionais do mercado financeiro. Recebem salários e bonificações de dar inveja aos executivos privados. Passam a conviver com a elite econômica. São mimoseados pela burguesia financeira de olho nos recursos milionários dos fundos.
Mas ser designado para a direção do Fundo de Amparo ao Trabalhador é o sonho dourado dos novos pelegos.
Em meio a esta barafunda, não causam estranheza o ataque, o controle e a sujeição do Supremo Tribunal Federal à horda lulista.
Os valores éticos e republicanos não combinam com sua ação política.
Daí a necessidade de aparelhar todas as instâncias do Estado.
E colocá-las a seu serviço, como já o fez com o Congresso Nacional; hoje, mero puxadinho do Palácio do Planalto.
Os valores éticos e republicanos não combinam com sua ação política.
Daí a necessidade de aparelhar todas as instâncias do Estado.
E colocá-las a seu serviço, como já o fez com o Congresso Nacional; hoje, mero puxadinho do Palácio do Planalto.
Na república lulista, não há futuro, só existe o tempo.
Marco Antonio Villa é historiador
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