"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 21, 2012

E NO EMBALO DO : ROUBA MAS...

 
 Depois de a direita protagonizar o reinado nefasto e quase interminável do “rouba, mas faz”, o Brasil vive hoje em lua de mel com outra turma: a do “rouba, mas distribui”. Antes, a elite endinheirada se encantava com os “gestores” que afanavam dinheiro dos cofres públicos a rodo, “porém” enchiam as cidades e o país de obras. Agora, a maioria que sempre viveu à margem de tudo celebra os “novos heróis” da série do “rouba, mas...”

Sobretudo nas redes sociais — e mesmo nos grandes jornais, que essa estranha esquerda hoje chama de “golpistas” —, mensaleiros e até gente flagrada com dólar na cueca são cultuados como “guerreiros do povo brasileiro”. O discurso da ética foi atirado na lata do lixo. A decência também. Quem ousa denunciar alguma maracutaia dos valentes logo é tachado de reacionário, udenista, lacerdista e “assassinado” na internet.

Maluf, cuja íntegra carreira política o Brasil bem conhece, foi alçado à condição de farol da humanidade. Com a notória sapiência no trato com a coisa pública, certamente vai iluminar a gestão do prefeito eleito de São Paulo. 
 
Lembram-se de Collor, o inimigo número um dos atuais donos do poder? Também acabou redimido e ingressou no time dos bons companheiros. E não o critique. “Mexeu com ele, mexeu comigo”, reagirão os bravos.

Às vezes, sinto-me um completo idiota por ter acreditado no novo Brasil que essa gente pregava. Havia tantos amigos e conhecidos, céticos, apontando os indícios da pilantragem e alertando para o golpe. Mas o que fazer se, então, não havia de fato outra “esperança” de mudança no horizonte — assim como hoje também não se vislumbra saída para essa arapuca do “rouba, mas distribui”?

Como não creio que o mundo acabará nesta sexta-feira, temo pelo que espera o Brasil no futuro. Um regresso ao “rouba, mas faz” ou a consolidação de que toda a rapinagem de esquerda deve ser louvada? Se tivesse de decidir hoje, anularia meu voto. Minha impressão é a de que ficaremos cada vez mais parecidos com a Argentina dos Kirchners e com a Venezuela à moda Chávez. Um triste destino.

Plácido Fernandes Vieira Correio Braziliense

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