"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 23, 2012

A "SOBRIEDADE E FOCO"(cpi) DO BALAIO DE GATOS : Caciques estão fugindo da CPI

Escaldados depois de várias Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), os grandes caciques partidários planejam ficar longe da CPI que irá investigar as relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, a ser instalada esta semana.

O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), por exemplo, avisa que não pretende compor o colegiado. "Líder pode falar a qualquer hora. Não serei da CPI. Nunca quis ir para a CPI", afirma.

Na mesma linha seguem o líder do governo, Eduardo Braga, e o ex-líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR). Jucá, cogitado para ser presidente da comissão, comunicou ao líder que considera a função de relator do Orçamento trabalhosa demais para dividir a atenção.

Quanto a Braga, entretanto, o martelo não está batido.


O PMDB tem cinco vagas de titulares na CPI. Um deles será o presidente da comissão, Vital do Rêgo (PB). Outra vaga será cedida ao PP e ficará com o senador Ciro Nogueira (PI). As outras três ainda não estão definidas.

Além de Eduardo Braga, um dos nomes a ser incluídos deve ser o do senador Clésio Andrade (MG), presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Clésio é cristão-novo nas hostes peemedebistas.

Durante a crise que tirou o PR do Ministério dos Transportes, ele estava no partido, o mesmo do ex-ministro Alfredo Nascimento.


O PMDB não é o único partido onde senadores de ponta desejam ficar fora. No PSB, Rodrigo Rollemberg (DF) foi aconselhado a não fazer parte da CPI. "Estou muito focado na Rio+20, junho está chegando. Não posso participar da CPI", diz ele.

Mas há outras razões:
Rollemberg desponta como pré-candidato a governador do Distrito Federal.
Seu partido é aliado do governo de Agnelo Queiroz, que poderá ser convocado pela CPI.


O principal mistério da CPI ainda é o PT.
Titulares e suplentes continuam indefinidos devido a disputas internas à própria legenda. A briga para definir se os petistas da CPI serão mais alinhados ao Palácio do Planalto ou a personagens históricos, como o ex-presidente Lula da Silva e José Dirceu, não se restringe ao relator.

A tendência é que a presidente Dilma Rousseff ganhe a queda de braço e os escolhidos para ocupar as três vagas às quais a sigla tem direito tentem proteger o governo federal e as obras do PAC.


O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), a quem cabe a decisão a respeito dos deputados, desconversa e nega a existência do impasse. Ele diz que os selecionados serão alinhados "ao Planalto, à Dilma e ao Lula".

Tatto disse que andou conversando com "todo mundo" e que os nomes que anunciará amanhã não reduzirão as investigações às relações das empreiteiras com o governo federal.

"É para apurar grampo, arapongagem, parlamentares... É uma CPI que não é só de empreiteira", enfatizou ele.


A impressão geral é a de que a CPI tende a um começo mais equilibrado do que se imaginava. Nem o PR, que chegou a retirar o apoio ao governo no Senado depois de ter Alfredo Nascimento defenestrado do Ministério dos Transportes e não ter escolhido um sucessor do agrado da legenda, é visto como possível ameaça dentro da base aliada. Anthony Garotinho (PR-RJ) tentou ocupar a vaga, mas não foi aceito pelo partido.

"O PR tem um nome só, é incapaz de causar problemas", acredita o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR), que será titular da comissão.


Largada
Até o deputado Rubens Bueno (PR), titular da comissão e líder do PPS na Câmara, partido de oposição, evita bater no governo federal nessa largada. "Há no Congresso uma preocupação de sair de uma crise grave como essa.

É preciso dar um novo rumo", diz, otimista, completando que acredita que essa CPI será "para valer". Admite preocupação apenas quando questionado se, tendo a maioria, a base aliada não tentará queimar os envolvidos ligados à oposição.

"Há uma preocupação com relação a isso, ninguém pode negar", reconhece. O deputado Stepan Nercessian (PPS-RJ) é um dos citados nas investigações.


As disputas tendem a ser reduzidas, pois as investigações já trouxeram à tona nomes de partidos da base e da oposição, em diversas esferas do governo.

Acredita-se que a CPI comprometerá apenas os envolvidos já descobertos e, para evitar novas surpresas em ano de eleição municipal, as brigas devem ser menores que em outras comissões parlamentares de inquérito.


Por ser ano eleitoral, os parlamentares estão ainda mais preocupados com as redes sociais e as repercussões que podem vir das investigações.
Por isso evitam comprometer-se.

Exemplo disso é o caso do deputado Sandro Alex (PPS-PR), que não assinou o pedido de criação da CPI porque estava viajando em missão oficial pela Comissão de Ciência e Tecnologia, da qual faz parte. Vítima de críticas na internet, fez questão de apressar-se a prestar esclarecimentos e justificar suas atitudes.


"O governo, como convém, deixou por conta do Congresso Nacional, e a
única coisa que esperamos é muita sobriedade na condução da CPI"

"Não há essa preocupação (de a CPI investigar governistas), tanto que o governo não entrou nessa história, não interferiu nem a favor nem contra (a criação da CPI)"
Michel Temer, vice-presidente da República, durante evento do PMDB, ontem, em São Paulo

DENISE ROTHENBURG » JULIANA BRAGA Correio Braziliense

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