"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 22, 2015

Tempestade de Juros

Na eleição, um dos bordões preferidos de Dilma era que a oposição “planta inflação para colher juros”. A realidade está mostrando quem semeou os ventos que ora dão em tempestade

Enquanto a falta de chuvas exaure reservatórios e agrava a crise hídrica, uma tempestade de juros torna quase insuportável o custo do dinheiro no país. A perversa combinação de inflação altíssima e crescimento baixíssimo levou o Banco Central dar mais uma esticada na taxa básica ontem. O céu é o limite.

A Selic subiu agora para 12,25% ao ano. É a terceira vez desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff que o governo dela aumenta a taxa - a primeira aconteceu apenas três dias depois da votação que deu vitória à petista. Segundo o discurso eleitoral, apertar a política de juros era coisa de banqueiro. Vê-se que é coisa do PT.

O Brasil de Dilma e do PT é uma jabuticaba num mundo em que quase todas as economias cortam, e não ampliam, os juros. Desde outubro, já são 1,25 ponto percentual de alta, o que representa custo anual adicional de R$ 19 bilhões apenas para rolar a dívida pública. Desde que a Selic voltou a subir, a partir de abril de 2013, a elevação é de cinco pontos.

A taxa real (ou seja, descontada a inflação projetada) brasileira é hoje a segunda maior do mundo, de acordo com a consultoria Moneyou/UpTrend. Com nossos 5,4%, só perdemos para a Rússia, que recentemente teve que dar uma paulada em seus juros básicos para fazer frente ao derretimento das cotações de petróleo - sua maior, quase única, riqueza.

O BC tomou a decisão de forma unânime ontem e eliminou a "parcimônia" de seu comunicado posterior à reunião. A leitura de quem entende do assunto é de que os juros vão continuar subindo no Brasil. A dúvida é se só mais um pouquinho (0,25%) ou mais um tantão (há quem fale em mais um ponto ao longo dos próximos meses).

Não é apenas a taxa básica de juros - a mais baixinha de todas - que aumenta. O crédito também se torna muito mais restrito na praça. A partir de hoje, o IOF cobrado em operações de empréstimos dobrará, para 3%. Na semana passada, os juros de financiamentos imobiliários já haviam sido fortemente reajustados.

Mesmo com a escalada, o principal inimigo da política monetária mantém-se incólume. Desde que a alta da Selic foi retomada, as expectativas de inflação não cederam; pelo contrário, aumentaram bastante: de 5,46% para 6,67% nos próximos 12 meses. Com o tarifaço e o "impostaço" em marcha, já se dá de barato que os preços vão subir em média 7% neste ano.

Na campanha eleitoral, um dos bordões preferidos da presidente era de que a oposição "plantava inflação para colher juros". A realidade está mostrando quem semeou os ventos que ora dão em tempestade. É preciso dizer que a alta dos juros é apenas mais uma das inúmeras ocorrências da temporada de estelionatos eleitorais que começou logo após a vitória de Dilma Rousseff nas urnas e perdura até hoje?


Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

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