"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 20, 2011

ELES CONTINUAM ALOPRANDO

Uma das obsessões do PT é tentar reescrever a história. O partido exercita isso num âmbito mais geral quando desdenha de tudo o que aconteceu no Brasil antes de 1º de janeiro de 2003.

Mas se dedica à missão com ímpeto redobrado quando o objetivo é acobertar os ilícitos que seus partidários praticam. Assim tem sido com o mensalão e com o escândalo dos aloprados.

Mas, a julgar pelo que revelou a revista Veja nesta semana, será difícil para os petistas continuar a varrer a sujeira para debaixo do tapete. A edição mostra como caciques do PT se articularam para tentar prejudicar a eleição de José Serra ao governo de São Paulo em 2006.

Um petista graduado deu nome e sobrenome a quem comandou toda a farsa: Aloizio Mercadante, o atual ministro da Ciência e Tecnologia do governo Dilma Rousseff.

O autor das revelações publicadas pela Veja não é um pé de chinelo qualquer. Trata-se de Expedito Veloso, ex-diretor de gestão de riscos do Banco do Brasil e atual secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico do governo petista do Distrito Federal. Ele também integrou o núcleo central da campanha à reeleição de Lula em 2006.

Segundo a revista, "em conversas com colegas de partido, [Expedito] garantiu que o verdadeiro mentor, o principal beneficiário e um dos arrecadadores de dinheiro para montar toda a farsa foi o ex-senador e atual ministro da Ciência e Tecnologia Aloizio Mercadante. (...) Ele, inclusive, era o encarregado de arrecadar parte do dinheiro em São Paulo". Está tudo gravado.

Tem-se claro como a bandidagem era praticada nas altas esferas do petismo, ao contrário do que o presidente da República disse à época, quando a Polícia Federal apreendeu R$ 1,7 milhão que seriam usados para forjar um dossiê contra tucanos: "É coisa de aloprados".

Nada disso: é coisa de petistas.

O PSDB já adiantou que o caso precisa ser reaberto pela PF. O Ministério Público deve ser acionado e Mercadante, convocado para falar no Congresso, assim como a testemunha-chave, Expedito Veloso.

Tudo para o bem da moralidade no país. Mas é possível que um governo que se aferra tanto a manter tudo em sigilo, como o atual, faça de tudo para impedir a apuração.

Mercadante chegou a ser indiciado pela PF à época do episódio, por ser considerado o único beneficiado pelo esquema - ele disputou e perdeu em primeiro turno a eleição para Serra. Mas a acusação acabou anulada por falta de provas.

O que se soube agora é mais que suficiente para que as mais de 2 mil páginas do processo não morram em arquivos da Justiça Federal.

O momento em que a revelação de Veja vem à tona é dos mais propícios para quem luta pela preservação do interesse público no país. Com desenvoltura crescente, os petistas têm se mostrado cada dia mais empenhados em tentar transformar em miudeza de opositores os vários episódios de roubalheira dos quais o PT foi protagonista.

Para começar, uma das missões declaradas do principal líder do PT é "provar" que o pior escândalo da história recente do país, o mensalão, "foi uma farsa". Depois que deixou a Presidência da República, Lula dedica-se à tarefa com afinco incomum, como fez neste fim de semana em Sumaré, num encontro partidário.

Para o líder petista, o mensalão só ocorreu por causa da "desunião" do PT à época. Ou seja, para Lula, o duto que durante anos exauriu cofres públicos para comprar apoio parlamentar no Congresso nunca se constituiu num problema ético; o erro foi meramente tático.

Quando o principal dirigente de uma legenda diz isso, seus seguidores se sentem à vontade para fazer o mesmo. Neste estado de coisas, compactuar com o malfeito torna-se natural.

A ponto de, recentemente, a agora ministra-chefe da Casa Civil ter dito, com a maior desenvoltura, que a defesa dos partidários envolvidos no mensalão se justificaria pelo fato de eles terem agido em prol do projeto de poder do PT e não em busca de enriquecimento próprio, como fazia Antonio Palocci.

Diz-se que Lula deixou para Dilma uma herança maldita em termos de desarranjo nas contas públicas, de infraestrutura capenga, de descontrole de preços. Tudo isso é verdade. Mas seu pior legado é a leniência com o malfeito, com as irregularidades, com o mau uso dos recursos públicos.

Punir a alta esfera do partido que criminosamente contratou bandidos para prejudicar adversários representará um passo importante para implodir esta cultura nefasta que vem prosperando no país à sombra do petismo.

Fonte: ITV
Eles continuam aloprando

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