"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 22, 2012

Eletrobras perde 58% de seu valor desde MP

Na reabertura do mercado brasileiro após o feriado, as ações da Eletrobras voltaram a afundar ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e registraram sua maior perda em mais de duas décadas, no segundo maior tombo de sua história.
 
Os papéis preferenciais de classe B (PNB, sem voto) recuaram 20,08%, a R$ 7,84, o menor valor desde maio de 2004.
 
Essa perda é superada apenas pela de 23,53% registrada em 15 de janeiro de 1990, quando os papéis eram negociados na antiga Bolsa de Valores do Rio, o Brasil lidava com a hiperinflação e José Sarney era o presidente.

Já as ações ordinárias (ON, com voto) chegaram a cair 18,35% e terminaram em baixa de 15,73%, a R$ 6,75, o menor preço desde setembro de 2003. Desde a publicação da medida provisória (MP) 579, em 12 de setembro, a maior companhia do setor elétrico do país derreteu 57,94% na Bovespa. 

A MP renova as concessões do setor elétrico impondo uma forte queda nas tarifas de energia e, consequentemente, nas receitas das empresas. Segundo analistas, foi o que levou investidores brasileiros e estrangeiros a continuarem a se desfazer das ações da Eletrobras. 

 Desde 12 de setembro, a perda de valor de mercado é de R$ 8,9 bilhões, incluindo nessa conta a participação do governo brasileiro. No ano, essas perdas atingiram impressionantes R$ 17,3 bilhões. O mercado teme pelo futuro da empresa, que vai ter uma perda de receita de R$ 8 bilhões ao ano com a renovação das suas concessões que vencem entre 2015 e 2017.

- As ações da Eletrobras estão em liquidação total na Bolsa - afirma William Castro Alves, analista da XP Investimentos. - Um dos atrativos da empresa frente a outras do setor era distribuir dividendos (lucros pago aos acionistas). Mas nem isso teremos mais em 2013.

"não podemos nos pautar pelo mercado"

Na Bolsa de Nova York, as ações da Eletrobras seguiram ontem ladeira abaixo. Os recibos de ações americanos (ADRs, na sigla em inglês) derreteram 9,80%, a US$ 3,22, considerando os papéis ordinários. Os recibos de papéis preferenciais, que nos EUA são menos negociados, tombaram 19,48%, cotados a US$ 3,73.

Mesmo com as fortes perdas das ações da companhia pelo mundo, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, disse ontem que a reação negativa dos investidores não incomoda o governo em seu plano de reduzir o custo da energia.

- O mercado é assim mesmo, nervoso. Essa semana, por exemplo, disseram que a Bolsa caiu por causa da Eletrobras. Mas todas as ações caíram porque o resultados da economia americana ficaram abaixo do que se previa. 

Daqui a pouco é uma outra mensagem:
"A Eletrobras foi reestruturada, com projetos, rentabilidade".
E o mercado volta a investir - afirmou Hubner em evento em Armação dos Búzios. - Então, o mercado é assim mesmo. 
Como, também, muita gente joga. Porque na hora que cai, muita gente compra, vende lá na frente e ganha. Nós não podemos nos balizar, nos pautar, pelo que acontece no mercado.

Em encontro ontem com senadores do PTB, PR, PSC e PPL, a presidente Dilma Rousseff cobrou apoio da indústria para a aprovação da MP 579. De acordo com senadores presentes, a presidente afirmou que a indústria tem que se posicionar, já que será beneficiada, e que o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, já está ajudando.

A queda das ações da Eletrobras teria atrapalhado grandes fundos de investimentos do mercado, como a norueguesa Skagen, que ameça recorrer à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contra a companhia. Nos últimos dias, os clientes da corretora do Citibank também foram os que mais venderam ações na Bolsa.

- A Eletrobras passou uma mensagem estranha ao mercado ao achar que é vantajoso renovar as concessões, enquanto analistas e outras empresas do ramo não acham - avalia Hersz Ferman, gestor da Yield Capital, referindo-se a elétricas como Cesp e Cteep, que sinalizaram preferir não renovar suas concessões.

Bolsa de SP recua 0,37%

Além dos investidores estrangeiros, no entanto, a Eletrobras tem 13 mil investidores brasileiros pessoas físicas, sem contar os que aplicam nas ações da empresa via fundos de investimentos. E esses também são grandes prejudicados .

O pessimismo com o futuro da Eletrobras afetou os títulos de dívida da companhia. Seus bônus em dólares eram negociados ontem com juros de 4,72% ao ano, ou 2,62 pontos percentuais acima da média dos títulos de empresas que têm a mesma nota de classificação de risco, "BBB" pela agência de rating Standard&Poor"s.

Sob o peso da Eletrobras, a Bovespa fechou em baixa de 0,37%, aos 56.242 pontos pelo Ibovespa, seu principal índice. Entre as maiores altas, as ações BRF-Brasil Foods ON avançaram 2,32%, a R$ 38,88, seu maior preço da História.


Bruno Villas Bôas O Globo 

Nenhum comentário: