O PT pode ter dificuldades em aprovar o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira. O texto, divulgado oficialmente ontem pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), enfrenta rejeição total dos chamados "independentes" e da oposição; e parcial do PMDB e da base aliada.
A avaliação dos pemedebistas é de que não há provas suficientes para pedir o indiciamento do jornalista da revista "Veja" Policarpo Júnior. O partido também considera haver "superimputação" de crimes ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), além de não ver necessidade no pedido de investigação ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) sobre o procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
São posições que foram defendidas pelo PMDB no decorrer dos trabalhos da comissão, algumas com mais publicidade, no caso da defesa da não convocação do jornalista, ou com menos, na defesa de Gurgel e de Perillo. Mas que agora, no final dos trabalhos da CPI, o partido quer defender. Ainda mais porque não foi consultado sobre o teor final do relatório.
O apoio do PMDB na defesa do relatório de Cunha é fundamental para o PT por diversos motivos. Primeiro, por deter o maior número de votos na comissão. Segundo, porque sua posição é intermediária em relação à dos "independentes" e da oposição. E terceiro, devido a sua influência sobre outros partidos da base, como PR e PP.
"O relatório da forma como está, muito abrangente, tem difícil aprovação. É preciso ter mais convergência. Vamos reunir a bancada para decidirmos o procedimento. Mas é possível adiantar que parece não haver provas suficientes para indiciar jornalistas", disse o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ).
Odair Cunha precisou adiar para hoje a leitura do relatório prevista para ontem. Foi a saída encontrada diante das críticas de que não houve tempo para tomar conhecimento do relatório, que foi colocado no site do Senado durante a madrugada de ontem. Além disso, muitos defenderam uma nova convocação de Cachoeira, já que ele foi solto da prisão ontem.
O real motivo do adiamento, contudo, foi a rejeição ao que alguns classificaram de "direcionamento político" do relator. "Esse relatório é um instrumento de perseguição política", disse o senador Pedro Taques (PDT-MT). "Esta CPI está se transformando em uma grande pizza porque não investigamos o que deveríamos investigar", completou.
Qualquer que seja o encaminhamento, é certo que haverá outros dois relatórios paralelos, uma vez que há pouca esperança de que o texto de Cunha seja alterado. Um deles, será do PSDB. "O relatório apresentado é incorrigível, não tem salvação. Provavelmente foi escrito na Executiva do PT", disse o senador Alvaro Dias (PR). Segundo ele, os tucanos não aceitarão a sugestão de Cunha de apresentar sugestões ao seu texto.
"Não vamos propor nenhuma alteração, mas sim outro texto." Os senadores Pedro Taques e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e os deputados Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e Rubens Bueno (PPS-PR) também irão propor um relatório deles, no qual deverão constar indiciamentos dos governadores do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e investigação sobre o do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).
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