Instituições de menor porte tiveram o pior desempenho da história no primeiro trimestre, pressionadas pela concorrência, pela inadimplência em alta e pelos custos de captação elevados. Mercado entra em alerta, mas governo tenta mostrar tranquilidade
Sufocadas pela concorrência com os grandes bancos, as instituições financeiras de médio e pequeno porte amargaram o pior trimestre da história no início de 2012. Pelos dados do Banco Central, 28% dos 137 maiores bancos do país registraram prejuízo no período de janeiro a março.
Devido a inadimplência em alta, custo de captação elevado e condições desvantajosas para a cessão de carteiras de crédito, essas instituições, segundo especialistas, passaram a buscar alternativas no mercado para evitar a falência e escapar de rombos bilionários.
Para os analistas e investidores, a despeito da solidez do setor como um todo, como tem alardeado o Banco Central, está aberta a temporada de compra e venda de banquinhos.
As negociações de instituições menores, porém, têm provocado desconfiança do mercado, sobretudo depois do escândalo do
PanAmericano, em 2010, e dos problemas identificados no Cruzeiro do Sul este ano — ambas as instituições apresentaram "inconsistências contábeis" nos seus balanços, ou seja, rombos mal explicados e operações duvidosas. Nos dois casos, os controladores foram afastados pela autoridade monetária.
O PanAmericano terminou nas mãos do BTG Pactual e o Cruzeiro do Sul está sendo saneado por meio do Regime de Administração Especial Temporária (Raet), em que um interventor nomeado pelo BC procura deixar a instituição em condições de funcionamento para que possa ser vendida no futuro.
A maioria das instituições no vermelho, de acordo com representantes do segmento, apresenta dificuldades para captar recursos. Em alguns casos, os custos se elevaram expressivamente após os problemas encontrados no PanAmericano e no Cruzeiro do Sul. As linhas externas de financiamento, uma das opções dos banqueiros, praticamente se fecharam este ano ou ficaram muito caras.
Segundo Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que agrega os de menor porte, a crise na Europa praticamente estrangulou as fontes internacionais de capital. E também ficaram caras ou desvantajosas as cessões de carteira de crédito para instituições maiores. Os bancos reclamam que a regulação do BC gera prejuízos a curto prazo para os que operam com cessão de carteiras.
"Por isso, há tantos pequenos e médios no vermelho", afirmou Oliva.
Solvência
A cruzada do governo contra os juros e os spreads elevados (diferença entre o custo de captação e o cobrado do tomador de crédito) também teria tido impacto negativo na operação dos banquinhos. Para analistas, eles não têm margem para enfrentar as fortes reduções de taxas promovidas pelo grandes bancos.
"Para o segmento de pequenos e médios, não está fácil", observou José Luís Rodrigues, sócio-diretor da consultoria JL Rodrigues.
"Os grandes entraram de maneira agressiva", explicou João Augusto Salles, economista da consultoria Lopes Filho. "Os bancos com maior dificuldade são os de nicho, como os focados em crédito consignado", emendou.
Diante da inadimplência elevada, o lucro dos banquinhos também tem sido dilapidado pela maior necessidade de manter provisões para cobrir créditos duvidosos. A desconfiança em relação à solvência do segmento é outro ponto problemático visto pelos analistas, sobretudo depois das fraudes descobertas na contabilidade de algumas instituições financeiras.
Para o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, é uma preocupação despropositada. Em discursos e conversas com integrantes do governo e parlamentares, ele tem garantido que o segmento está saudável. Durante visita ao Senado e à Câmara no mês passado, ressaltou que o grupo das instituições de médio porte registrou lucro de R$ 1,6 bilhão no primeiro trimestre e destacou o índice de Basileia do sistema financeiro, ou seja, a relação entre capital próprio e o total de empréstimos.
Segundo Tombini, enquanto o indicador dos médios está em 17%, o do sistema como um todo está em 16% — o valor mínimo exigido no Brasil é de 11%. "Monitoramos diariamente e acompanhamos quando surgem problemas para agirmos dentro da lei", disse Tombini na époaca.
Desconfiança
Os prejuízos das instituições menores colocaram o mercado em alerta. Analistas têm receio de descobrir mais falhas de gestão ou mesmo fraudes escondidas por trás dos balanços em vermelho.
Para integrantes da equipe econômica, porém, os prejuízos ainda não são motivo de alarme, pois as instituições com contas deficitárias representam 5,1% dos ativos totais do Sistema Financeiro Nacional.
VICTOR MARTINS Correio Braziliense
Sufocadas pela concorrência com os grandes bancos, as instituições financeiras de médio e pequeno porte amargaram o pior trimestre da história no início de 2012. Pelos dados do Banco Central, 28% dos 137 maiores bancos do país registraram prejuízo no período de janeiro a março.
Devido a inadimplência em alta, custo de captação elevado e condições desvantajosas para a cessão de carteiras de crédito, essas instituições, segundo especialistas, passaram a buscar alternativas no mercado para evitar a falência e escapar de rombos bilionários.
Para os analistas e investidores, a despeito da solidez do setor como um todo, como tem alardeado o Banco Central, está aberta a temporada de compra e venda de banquinhos.
As negociações de instituições menores, porém, têm provocado desconfiança do mercado, sobretudo depois do escândalo do
PanAmericano, em 2010, e dos problemas identificados no Cruzeiro do Sul este ano — ambas as instituições apresentaram "inconsistências contábeis" nos seus balanços, ou seja, rombos mal explicados e operações duvidosas. Nos dois casos, os controladores foram afastados pela autoridade monetária.
O PanAmericano terminou nas mãos do BTG Pactual e o Cruzeiro do Sul está sendo saneado por meio do Regime de Administração Especial Temporária (Raet), em que um interventor nomeado pelo BC procura deixar a instituição em condições de funcionamento para que possa ser vendida no futuro.
A maioria das instituições no vermelho, de acordo com representantes do segmento, apresenta dificuldades para captar recursos. Em alguns casos, os custos se elevaram expressivamente após os problemas encontrados no PanAmericano e no Cruzeiro do Sul. As linhas externas de financiamento, uma das opções dos banqueiros, praticamente se fecharam este ano ou ficaram muito caras.
Segundo Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que agrega os de menor porte, a crise na Europa praticamente estrangulou as fontes internacionais de capital. E também ficaram caras ou desvantajosas as cessões de carteira de crédito para instituições maiores. Os bancos reclamam que a regulação do BC gera prejuízos a curto prazo para os que operam com cessão de carteiras.
"Por isso, há tantos pequenos e médios no vermelho", afirmou Oliva.
Solvência
A cruzada do governo contra os juros e os spreads elevados (diferença entre o custo de captação e o cobrado do tomador de crédito) também teria tido impacto negativo na operação dos banquinhos. Para analistas, eles não têm margem para enfrentar as fortes reduções de taxas promovidas pelo grandes bancos.
"Para o segmento de pequenos e médios, não está fácil", observou José Luís Rodrigues, sócio-diretor da consultoria JL Rodrigues.
"Os grandes entraram de maneira agressiva", explicou João Augusto Salles, economista da consultoria Lopes Filho. "Os bancos com maior dificuldade são os de nicho, como os focados em crédito consignado", emendou.
Diante da inadimplência elevada, o lucro dos banquinhos também tem sido dilapidado pela maior necessidade de manter provisões para cobrir créditos duvidosos. A desconfiança em relação à solvência do segmento é outro ponto problemático visto pelos analistas, sobretudo depois das fraudes descobertas na contabilidade de algumas instituições financeiras.
Para o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, é uma preocupação despropositada. Em discursos e conversas com integrantes do governo e parlamentares, ele tem garantido que o segmento está saudável. Durante visita ao Senado e à Câmara no mês passado, ressaltou que o grupo das instituições de médio porte registrou lucro de R$ 1,6 bilhão no primeiro trimestre e destacou o índice de Basileia do sistema financeiro, ou seja, a relação entre capital próprio e o total de empréstimos.
Segundo Tombini, enquanto o indicador dos médios está em 17%, o do sistema como um todo está em 16% — o valor mínimo exigido no Brasil é de 11%. "Monitoramos diariamente e acompanhamos quando surgem problemas para agirmos dentro da lei", disse Tombini na époaca.
Desconfiança
Os prejuízos das instituições menores colocaram o mercado em alerta. Analistas têm receio de descobrir mais falhas de gestão ou mesmo fraudes escondidas por trás dos balanços em vermelho.
Para integrantes da equipe econômica, porém, os prejuízos ainda não são motivo de alarme, pois as instituições com contas deficitárias representam 5,1% dos ativos totais do Sistema Financeiro Nacional.
VICTOR MARTINS Correio Braziliense
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