O Brasil foi novamente o patinho feio do dia mais feio dos mercados financeiros globais desde 2008.
As ações de empresas brasileiras, reunidas no índice Bovespa, foram, de novo, as que mais caíram no mundo - exceção feita às argentinas, que contam pouco na ciranda global. Por que o país está sendo tão castigado?
A Bovespa caiu ontem 8,08%, ampliando para 29,78% as perdas no ano. Entre 91 índices acompanhados pela agência Bloomberg, o da bolsa brasileira lidera as quedas.
Apenas nesta segunda-feira negra, as empresas listadas na bolsa de São Paulo perderam R$ 174 bilhões em valor de mercado.
A crise desencadeada desde a última semana e agravada agora pelo rebaixamento da dívida pública norte-americana fez o Ibovespa encolher dois anos em poucos dias. O índice recuou ontem para o patamar de 30 de abril de 2009.
Petrobras e Vale estão entre as empresas mais machucadas. Só ontem, suas ações caíram 7,8% e 9,4%, respectivamente. A estatal perdeu R$ 66,6 bilhões em valor de mercado desde a última semana; a mineradora, R$ 51 bilhões.
Petrobras e Vale sofrem, em parte, porque negociam commodities, cujas cotações encaram agora perspectiva de forte queda no mundo.
Mas sofrem também porque viram seus negócios capturados pelo governo federal. A ingerência espúria dos últimos meses cobra agora um preço altíssimo.
Analistas ouvidos pelos principais jornais prognosticam que a crise deve bater no Brasil, principalmente, por meio do recuo das cotações das commodities. Com preços muito altos, tais produtos - em especial, soja, minério de ferro e açúcar - ajudaram a turbinar a entrada de capital externo no país. A fonte deve parar de jorrar.
Cairão as exportações e, com elas, a oferta de capital para financiar as contas externas. Como as vendas deste ano já estão, na maior parte, contratadas, o resultado de 2011 não deve se alterar.
Mas já há quem preveja déficit comercial no ano que vem.
O crescimento do PIB também ficará comprometido.
Ontem mesmo, o ministro Guido Mantega já cuidou de preparar o país para um nível mais baixo que os 4% que o governo Dilma vinha prevendo.
"Não podemos fazer milagre", afirmou ele.
A percepção dos investidores sobre o Brasil já vinha se deteriorando, segundo o Valor Econômico.
O jornal cita análise feita pelo Instituto Internacional de Finanças segundo a qual houve aumento das "incertezas sobre a direção da política [econômica]" e do "sentimento de baixa que tem pesado tão fortemente sobre o mercado de ações brasileiro este ano".
"A aversão global ao risco já vinha se refletindo na redução de 70% do fluxo de investimentos de portfólio para o Brasil no primeiro semestre, comparado ao mesmo período de 2010.
O fluxo para títulos de dívida também caiu 25% em relação ao segundo semestre do ano passado", ressalta o Valor.
A resposta mais esperada pelos analistas brasileiros à crise deve ser o corte dos juros e a redução dos depósitos compulsórios dos bancos. Em suma: uma ação preferencialmente monetária, e não fiscal, como ocorreu em seguida à crise de 2008 quando o governo Lula afrouxou os gastos públicos e insuflou a inflação que até hoje tentamos debelar.
Outro aspecto escamoteado e algo obnubilado pela farra do endividamento que vivem outros países é que o Brasil também tem um nível alto de dívidas. A bruta chegou a bater em 64% do PIB em outubro de 2009 e hoje está em 56% do PIB, nível quase idêntico ao de setembro de 2008.
"Reduzir para valer os gastos em custeio é uma medida de segurança diante da possibilidade crescente de haver algum impacto mais forte proveniente do exterior. (...)
Ser conservador na política fiscal é o mais indicado para uma fase de maior turbulência mundial", defende O Globo em editorial.
O Estado de S.Paulo vai na mesma linha:
"O uso da política monetária, isto é, a redução dos juros, exige que a política fiscal dê sua contribuição para que isso seja feito de modo eficaz.
Com efeito, é indispensável que o governo reduza paralelamente seus gastos, que hoje estão contribuindo para manter uma demanda elevada de bens e serviços que nossa fase de desenvolvimento-investimentos não permite".
Surge, portanto, no horizonte uma oportunidade ímpar para que seja feito o tantas vezes adiado ajuste na exótica taxa de juros que o Brasil pratica.
Em 2008, esta janela também se abriu, mas se fechou sem ser aproveitada , por causa da imperícia do nosso Banco Central:
enquanto todo o mundo reduzia as taxas, nós a aumentamos.
Espera-se que novas barbeiragens não se repitam agora e que o governo não fique fantasiando que vivemos numa ilha.
Fonte: ITV
As ações de empresas brasileiras, reunidas no índice Bovespa, foram, de novo, as que mais caíram no mundo - exceção feita às argentinas, que contam pouco na ciranda global. Por que o país está sendo tão castigado?
A Bovespa caiu ontem 8,08%, ampliando para 29,78% as perdas no ano. Entre 91 índices acompanhados pela agência Bloomberg, o da bolsa brasileira lidera as quedas.
Apenas nesta segunda-feira negra, as empresas listadas na bolsa de São Paulo perderam R$ 174 bilhões em valor de mercado.
A crise desencadeada desde a última semana e agravada agora pelo rebaixamento da dívida pública norte-americana fez o Ibovespa encolher dois anos em poucos dias. O índice recuou ontem para o patamar de 30 de abril de 2009.
Petrobras e Vale estão entre as empresas mais machucadas. Só ontem, suas ações caíram 7,8% e 9,4%, respectivamente. A estatal perdeu R$ 66,6 bilhões em valor de mercado desde a última semana; a mineradora, R$ 51 bilhões.
Petrobras e Vale sofrem, em parte, porque negociam commodities, cujas cotações encaram agora perspectiva de forte queda no mundo.
Mas sofrem também porque viram seus negócios capturados pelo governo federal. A ingerência espúria dos últimos meses cobra agora um preço altíssimo.
Analistas ouvidos pelos principais jornais prognosticam que a crise deve bater no Brasil, principalmente, por meio do recuo das cotações das commodities. Com preços muito altos, tais produtos - em especial, soja, minério de ferro e açúcar - ajudaram a turbinar a entrada de capital externo no país. A fonte deve parar de jorrar.
Cairão as exportações e, com elas, a oferta de capital para financiar as contas externas. Como as vendas deste ano já estão, na maior parte, contratadas, o resultado de 2011 não deve se alterar.
Mas já há quem preveja déficit comercial no ano que vem.
O crescimento do PIB também ficará comprometido.
Ontem mesmo, o ministro Guido Mantega já cuidou de preparar o país para um nível mais baixo que os 4% que o governo Dilma vinha prevendo.
"Não podemos fazer milagre", afirmou ele.
A percepção dos investidores sobre o Brasil já vinha se deteriorando, segundo o Valor Econômico.
O jornal cita análise feita pelo Instituto Internacional de Finanças segundo a qual houve aumento das "incertezas sobre a direção da política [econômica]" e do "sentimento de baixa que tem pesado tão fortemente sobre o mercado de ações brasileiro este ano".
"A aversão global ao risco já vinha se refletindo na redução de 70% do fluxo de investimentos de portfólio para o Brasil no primeiro semestre, comparado ao mesmo período de 2010.
O fluxo para títulos de dívida também caiu 25% em relação ao segundo semestre do ano passado", ressalta o Valor.
A resposta mais esperada pelos analistas brasileiros à crise deve ser o corte dos juros e a redução dos depósitos compulsórios dos bancos. Em suma: uma ação preferencialmente monetária, e não fiscal, como ocorreu em seguida à crise de 2008 quando o governo Lula afrouxou os gastos públicos e insuflou a inflação que até hoje tentamos debelar.
Outro aspecto escamoteado e algo obnubilado pela farra do endividamento que vivem outros países é que o Brasil também tem um nível alto de dívidas. A bruta chegou a bater em 64% do PIB em outubro de 2009 e hoje está em 56% do PIB, nível quase idêntico ao de setembro de 2008.
"Reduzir para valer os gastos em custeio é uma medida de segurança diante da possibilidade crescente de haver algum impacto mais forte proveniente do exterior. (...)
Ser conservador na política fiscal é o mais indicado para uma fase de maior turbulência mundial", defende O Globo em editorial.
O Estado de S.Paulo vai na mesma linha:
"O uso da política monetária, isto é, a redução dos juros, exige que a política fiscal dê sua contribuição para que isso seja feito de modo eficaz.
Com efeito, é indispensável que o governo reduza paralelamente seus gastos, que hoje estão contribuindo para manter uma demanda elevada de bens e serviços que nossa fase de desenvolvimento-investimentos não permite".
Surge, portanto, no horizonte uma oportunidade ímpar para que seja feito o tantas vezes adiado ajuste na exótica taxa de juros que o Brasil pratica.
Em 2008, esta janela também se abriu, mas se fechou sem ser aproveitada , por causa da imperícia do nosso Banco Central:
enquanto todo o mundo reduzia as taxas, nós a aumentamos.
Espera-se que novas barbeiragens não se repitam agora e que o governo não fique fantasiando que vivemos numa ilha.
Fonte: ITV
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