"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 09, 2011

MOTIM NO BARCO DO MINISTRO PASSOS! "São 2.800 servidores e nenhum se qualifica para ser diretor?"


Triunvirato nomeado para a diretoria interina do Dnit a fim de não paralisar as atividades do órgão contesta as indicações de Dilma Rousseff e incita servidores a se rebelarem

Os três servidores nomeados "em caráter transitório" para ocupar diretorias do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) mobilizam funcionários do órgão para promover um levante contra cinco das sete indicações da presidente Dilma Rousseff para as diretorias efetivas.

Na manhã de ontem, Luiz Heleno Albuquerque, interino da Diretoria Executiva;
Eloi Angelo Palma; interino da Diretoria de Infraestrutura Rodoviária;
e Marcelo Almeida Pinheiro Chagas, interino da Diretoria de Infraestrutura Rodoviária, comandaram assembleia de servidores no auditório do órgão, no Setor de Autarquias Norte, em Brasília, cobrando alterações na lista de indicações do governo — prevista para ser sabatinada no Senado nos próximos dias.

Os funcionários foram convocados pelo sistema de som do prédio do Dnit e o Correio acompanhou a mobilização.


Aplaudido por cerca de 500 servidores que lotaram o auditório, com todas as cadeiras preenchidas e grande número de funcionários em pé, Luiz Heleno foi o autor do discurso mais inflamado.

O diretor temporário afirmou que a presidente tem a prerrogativa de escolher o diretor-geral do Dnit — indicação que ficou com o general Jorge Ernesto Pinto Fraxe — e o secretário executivo do departamento — na lista de Dilma, é o servidor da Controladoria-Geral da União (CGU) Tarcísio Gomes de Freitas —, mas o quadro técnico teria que ficar com o próprio Dnit.

Luiz Heleno elogiou a escolha de Fraxe e de Tarcísio, mas questionou os critérios adotados nas outras cinco indicações.


O diretor interino disse ainda que muitos funcionários do Dnit tinham currículo "até melhor" do que os indicados, e que a escolha da nova diretoria "não contemplou discussão interna".

Ainda de acordo com Luiz Heleno, a lista foi feita "de cima para baixo" e o fato de nenhum servidor do órgão ter sido lembrado significa uma "intervenção branca" no departamento.

No quadro técnico escolhido pela Presidência, a Secretaria de Gestão dos Programas dos Transportes, também da pasta, foi prestigiada com três indicações; o Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER-DF) com uma; e um funcionário do Ministério da Fazenda em exercício no governo do Rio de Janeiro ficou com um posto na área financeira.

"O Dnit não vai ser uma casa de cordeiros esperando a faca entrar no nosso bucho", discursou Luiz Heleno.


Ameaças
Durante a assembleia, os oradores afirmaram que, se os quadros do Dnit não fossem contemplados nas indicações, a rotina do trabalho poderia ser "prejudicada".

A paralisação seria usada como forma de pressão contra o governo. Luiz Heleno informou que a reunião seria curta, pois ele ainda se encontraria com o ministro Paulo Sérgio Passos ontem.

Ele perguntou aos funcionários se poderia apresentar ao ministério o pleito como um pedido de todo os servidores. Os funcionários levantaram as mãos e aprovaram a representação do diretor temporário.


Antes do fim da reunião, um servidor pegou o microfone para pedir que os três diretores não entregassem os cargos, pois poderia acarretar a extinção do órgão e a paralisação das licitações — o governo convocou os diretores temporários para garantir o quorum da diretoria colegiada do Dnit, responsável pela avaliação das concorrências públicas.

Servidores aplaudiram a manifestação de Luiz Heleno e reforçaram as críticas à lista de Dilma. "Os indicados não têm know how, só currículo acadêmico", criticou um funcionário.

"São 2.800 servidores e nenhum se qualifica para ser diretor?", questionou outro servidor.


Após o encontro dos diretores temporários com os servidores, o Correio tentou entrevistar Luiz Heleno, mas o diretor interino não quis falar sobre as críticas contra os indicados do governo e pediu que a reportagem procurasse a assessoria do órgão.

Questionada se a mobilização dos servidores tinha o objetivo de pleitear a manutenção dos diretores temporários no cargo, a assessoria respondeu que os interinos não fizeram isso para permanecerem nos respectivos postos, mas porque "acham que tem que ter gente da casa" na lista de indicados.


Ainda de acordo com a assessoria de imprensa, os diretores interinos se reuniram com o secretário executivo do Ministério dos Transportes, Miguel Masella, e não com o ministro.

Eles afirmaram que não renunciarão às diretorias temporárias e ouviram do secretário executivo o compromisso de que servidores do Dnit serão nomeados para as coordenações-gerais.
O órgão tem 21 cargos dessa categoria.

Josie Jeronimo Correio Braziliense

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