Felizmente o Brasil nunca teve um acidente semelhante como o da BP no golfo do México, por maior que seja a confiança na capacidade tecnológica da Petrobras, o acidente na área de Libra mostra como é arriscada a exploração, a tecnologia é igual para todas as empresas.
A Petrobras estaria preparada para um desastre como a da BP?
Miriam Leitão relata a superficialidade com que a empresa trata do assunto.
Miriam Leitão
Dia 20 o vazamento de petróleo no Golfo do México completará três meses. A BP já perdeu 30% de seu valor, o futuro da companhia é incerto, é impossível calcular as indenizações que ela terá que pagar.
Os governos americano e norueguês suspenderam temporariamente a exploração na costa.
No Brasil, tudo se passa como se o mundo da exploração de petróleo no mar não estivesse em convulsão.
O acidente mudou a percepção de risco da indústria. Ele mostrou que um único evento, um grande e desastroso vazamento como o atual, é capaz de colocar em xeque uma gigante como a BP, que sempre esteve entre as maiores do mundo.
O valor de mercado das empresas do setor está com queda de 10% este ano. A queda do valor da BP impressiona: de US$167 bilhões para US$116 bilhões.
A segunda maior queda é da Petrobras.
Perdeu um quarto do seu valor em dólares.
O especialista Adriano Pires, do CBIE, explica que o acidente aumentou o risco da exploração de petróleo porque a tecnologia é semelhante em todas as empresas.
Se a BP está com dificuldade para conter o vazamento, outras companhias correm o mesmo risco.
Explorar petróleo no fundo do mar ficou mais difícil.
Uma coisa é ter o risco de um acidente, outra coisa é o acidente acontecer e ninguém conseguir contê-lo - afirmou.
As empresas terão que gastar mais com seguros e terão que fazer investimentos em novas tecnologias de segurança para a exploração em águas profundas.
O mercado de seguros tem a mesma lógica em todos os ramos. Se houve acidente, o prêmio será maior.
Vai custar mais caro manter uma plataforma operando no mar - disse Pires.
Ontem, a BP adiou por 24 horas os testes para a instalação de uma nova tampa para tentar conter o vazamento. Os riscos são grandes porque o procedimento nunca foi testado a uma profundidade de 1.700 metros.
No Brasil, o governo não dá sinais de que se preocupa com o tema.
Levar o assunto a sério poderia atrapalhar os planos de tratar o pré-sal como assunto de campanha eleitoral.
A coluna quis falar com a Agência Nacional do Petróleo (ANP) sobre o tema.
Ela exigiu perguntas por escrito.
Mandou as respostas ontem, na hora do fechamento.
A qualidade delas já mostra a superficialidade com que a agência lida com o assunto.
Alguns exemplos:
O que os técnicos da ANP concluíram nas visitas e reuniões ao Golfo do México?
"A conclusão este (SIC) acidente, assim como outros ocorridos na indústria do petróleo, deveu-se a uma série de acontecimentos. É muito importante para indústria que seja feita uma profunda investigação das causas e depois, aqui no Brasil, avaliaremos se vamos fazer mudanças na nossa legislação de segurança operacional."
Os riscos no pré-sal serão semelhantes ou maiores que os da exploração no Golfo do México?
"Os riscos do pré-sal são perfeitamente assimiláveis. O Brasil tem larga experiência em exploração em águas ultra profundas, é reconhecido internacionalmente por isso.
Caso seja necessário mudar a nossa legislação de segurança operacional após a conclusão das investigações do incidente no Golfo, isso será feito com base em argumentos técnicos."
Temos produção de dispersantes no Brasil?
"Essa questão deve ser feita ao Ibama, que é órgão ambiental."
Tempo perdido, pelo visto, falar com a ANP.
Aqui também se explora petróleo em águas profundas. No caso do pré-sal, será mais fundo e mais distante da costa, tornando mais difícil qualquer ação de socorro.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, acredita que como a regulação da exploração de petróleo ficará mais rigorosa, o esforço financeiro das empresas para se manter o grau de investimento também será maior:
As empresas terão que fazer mais investimentos em prevenção de acidentes, terão que ter mais dinheiro em contingenciamento.
Haverá menos recursos para o pagamento de dívidas e para novos investimentos.
O analista da Planner Corretora, Victor de Figueiredo, acha que o mercado financeiro ainda não embutiu completamente no preço dos ativos das empresas de petróleo o aumento dos riscos que esse acidente trouxe.
No caso da capitalização da Petrobras, conversando com investidores estrangeiros percebe-se claramente que eles estão receosos por causa do acidente da BP.
Como é o estrangeiro basicamente quem define o preço, aí teremos a prova dos nove.
A preocupação do mercado limita-se, como é da sua natureza, aos aspectos financeiros da questão.
O fundamental no entanto é a tragédia ambiental que os Estados Unidos vivem e que o Brasil deveria estar discutindo seriamente como evitar.
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