"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 16, 2010

ERA DO PRÉ-SAL COMEÇA SEM PLANO DE SEGURANÇA.


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Agencia o Globo/Bruno Dalvi*, Ramona Ordoñez e Danielle Nogueira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em Vitória, que os Estados Unidos são incompetentes por não terem conseguido conter o vazamento de petróleo no poço do Golfo do México operado pela BP.

E, pouco antes de inaugurar oficialmente a primeira produção contínua do pré-sal brasileiro, no litoral capixaba, Lula afirmou que a União Europeia (UE) só recomendou aos países do bloco suspender novos projetos de exploração em águas profundas porque lá não teria petróleo no mar.

O presidente criticou reportagem publicada ontem no GLOBO mostrando que o Brasil está aumentando a produção de petróleo em águas profundas, caso do pré-sal, enquanto EUA e Europa estão revendo essa atividade por causa do acidente no Golfo do México, o maior desastre ambiental da história da indústria petrolífera.

- Quando li a manchete do jornal O GLOBO, eu não gosto de citar manchete, mas dizer que a Europa está parando de tirar petróleo do fundo do mar... eles não têm (petróleo). Essa manchete é vergonhosa. O que eles deveriam estar fazendo era criticar a incompetência dos Estados Unidos em não terem terminado o vazamento de óleo que já dura mais de 60 dias. Significa dizer que eles não conhecem nem a Petrobras. Se conhecessem, não fariam uma manchete dessas - disse Lula em entrevista à Rádio Litoral FM.

Especialista cobra transparência

Mais tarde, em discurso no navio plataforma FPSO Capixaba, no Campo de Baleia Franca, onde teve início a primeira produção contínua do pré-sal brasileiro, Lula disse que um acidente como o do Golfo do México não ocorreria com a Petrobras.

- Primeiro, é preciso saber qual país da Europa tem petróleo no fundo do mar. O pouco que tem no Mar Morto (sic) está acabando, no Mar do Norte está acabando. Ou seja, na verdade, talvez esteja por detrás disso a ideia de dizer: "Ô Brasil, não tira o seu petróleo do pré-sal, não! Deixa aí para alguém um dia vir tirar". E nós temos tecnologia. A empresa (que provocou o acidente no Golfo) que estava fazendo aquilo (nos EUA), para fazer mais barato, colocou menos do que precisava colocar e quando explodiu aconteceu o que aconteceu. Não é o caso que vai acontecer com a Petrobras, que 190 milhões de brasileiros estarão ajudando a Petrobras a tirar, da forma mais carinhosa possível, o nosso tão cheiroso e admirado petróleo do pré-sal.

Apesar de Lula afirmar que o petróleo no Mar do Norte está acabando, a Noruega produz hoje 2,3 milhões de barris de petróleo por dia e o Reino Unido, 1,4 milhão. O Mar Morto, citado pelo presidente, fica na verdade no Oriente Médio.

Especialistas, porém, temem que, com o avanço da produção em águas profundas no pré-sal, o Brasil se torne vulnerável a acidentes como o ocorrido nos EUA. Eles também cobram mais transparência dos órgãos reguladores e ambientais.

- Está havendo uma omissão por parte da ANP (Agência Nacional do Petróleo) e do Ibama em dar transparência ao que planejam em termos de normas de segurança e fiscalização para o pré-sal.
É injustificável - criticou o ex-diretor da ANP David Zylbersztajn, que, contudo, não acha necessário o Brasil adiar projetos em águas profundas como fizeram EUA e Noruega, e como recomendou a UE.

Zylbersztajn também critica a falta de transparência da Petrobras em relação à atuação no pré-sal.
Para o advogado especialista em petróleo Alexandre Aragão, Petrobras e ANP precisam mostrar como são os sistemas de segurança no país e, se em função do acidente no Golfo do México, é preciso mudar alguns procedimentos.

A estatal alega estar em período de silêncio devido à capitalização e não quis se manifestar.

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