“Para ganhar sua guerra imaginária, o presidente distorce o ocorrido no governo do antecessor, autoglorifica-se na comparação e sugere que se a oposição ganhar será o caos”, constata Fernando Henrique Cardoso já no primeiro parágrafo do artigo publicado no domingo.
O que faz o governo Lula para “desconstruir o inimigo”?, pergunta-se linhas adiante.
A resposta resume a tática que o pastor ensinou ao rebanho:
“Negando o que de bom foi feito e apossando-se de tudo que dele herdaram como se deles sempre tivesse sido”.
Surpreendida pela contundência do ex-presidente, que desmontou com menos de mil palavras vigarices reiteradas há sete anos, a matilha companheira foi à luta, desta vez sem o comandante.
Como faz sempre que sabe com quem está falando, Lula achou melhor perder a voz.
Enquanto ensaia o que dizer, falarão por ele os sarneys e os dirceus, os jucás e os berzoinis, os renans e os vaccarezzas, as dilmas e as idelis, os tarsos e os mercadantes, os destaques e os figurantes do elenco de filme de terror.
(...)
Há mais de sete anos, patrulhas federais se valem da meia verdade ou da mentira grosseira para transformarem em herança maldita um legado de estadista.
A cada avanço dos vendedores de fumaça corresponde uma rendição sem luta do PSDB, do DEM e do PPS.
A oposição vive comprando como verdades milenares as mentiras que o governo vende.
Lula, que precisou do segundo turno até para vencer Geraldo Alckmin, virou um imbatível campeão de votos.
FHC, que o surrou duas vezes no primeiro turno, é apresentado como má companhia eleitoral.
Depois da vaia no Maracanã, Lula só testa a popularidade em institutos de pesquisa.
Mas ficou estabelecido que ninguém foi tão amado desde Tomé de Sousa.
Fernando Henrique anda pelas ruas sozinho entre cumprimentos e saudações da gente anônima,, foi mais de uma vez aplaudido no Viaduto do Chá.
O Planalto espalhou que o país inteiro gostaria de vê-lo na guilhotina.
A oposição acredita.
É o Brasil.
As reações ao artigo escancararam o abismo existente entre a tibieza da oposição oficial e o ânimo combatente dos incontáveis brasileiros inconformados com a
Era Lula que se movem e se agrupam na internet.
Centenas de milhares de adversários do governo transformaram o artigo em bandeira e se juntaram à ofensiva de FHC.
Sabem que não se ganha uma eleição sem confrontos nem se chega ao poder com mesuras.
Sabem que disputa presidencial não é concurso de biografias, e que não é possível ser tão gentil com seitas primitivas.
Por tudo isso, aceitaram com entusiasmo o repto do Planalto. Lula quer uma disputa plebiscitária, certo?
Por que não começar com um debate público entre Lula e Fernando Henrique?
Pelo falatório governista, seria o duelo entre o pai dos pobres e o grande satã neo-liberal.
É uma simplificação perigosa.
Uma coisa é discursar num palanque, cercado de amigos que agem como meninas de auditório, sob os olhos de plateias amestradas.
Outra é expor-se ao contraditório, à réplica, ao aparte.
Lula foge de entrevistas com jornalistas independentes como o vampiro do crucifixo.
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