"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

fevereiro 03, 2010

FAZENDA E BC - 12 X 08

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O debate em torno do tema econômico preferido do governo Lula - crescimento versus juros - voltou mais forte no início do ano e tem alimentado uma nova queda de braço nos bastidores da equipe econômica. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aumentou a pressão junto ao Banco Central (BC) na tentativa de evitar que seja iniciado um novo ciclo de alta da taxa Selic já em março.

A avaliação na equipe de Mantega, segundo fontes, é de que antes de mexer na Selic o BC deve primeiro apertar os depósitos compulsórios. A lógica da Fazenda é a seguinte: durante a crise financeira, o BC mexeu primeiro nos compulsórios (liberando R$ 100 bilhões) para só depois reduzir a Selic e, agora, deveria seguir o mesmo caminho. O BC afirma que já vem reduzindo o direcionamento do compulsório, mas não confirma a possibilidade de um aumento das alíquotas.

A questão foi levado por Mantega ao presidente Lula. Com o argumento que os números indicam que o ritmo da economia não está tão acelerado como apontam os analistas do mercado, o ministro procurou mostrar ao presidente de que não há necessidade de aumento da Selic, porque a inflação está sob controle e o crescimento previsto é sustentável.

O BC, porém, vê com mais cautela o movimento de retomada da economia e avalia que pressões inflacionárias devem ser combatidas no nascedouro para evitar que o crescimento seja prejudicado. Para o BC, não há incompatibilidade entre a política monetária e a expansão da economia, já que preservar a estabilidade é uma condição necessária ao crescimento.

Mantega e sua equipe cobram do presidente do BC, Henrique Meirelles, uma ação ainda mais coordenada do que a feita no auge da crise para, agora, garantir um crescimento superior a 5%. Internamente, a Fazenda imputa ao BC a conta de um PIB menor em 2009 por causa de um suposto atraso do Copom em reduzir a Selic na crise. Enquanto a crise estourou em 15 de setembro, com o quebra do Lehman Brothers, o BC só começou a reduzir os juros no fim de janeiro.

O secretário de Política Econômica da Fazenda, Nelson Barbosa, disse em um artigo recente que a desvalorização do real logo após a crise fez o BC relutar em cortar a Selic, "mesmo diante de uma abrupta queda do nível de atividade". A demora, afirma o secretário, teve de ser compensada por medidas de política fiscal, como desonerações tributárias e a redução do superávit primário.

A posição do BC, expressa em público várias vezes nos últimos meses, é de que era necessário avaliar melhor a situação econômica antes de cortar a Selic. E havia outra preocupação. A desvalorização do real, que ocorria naquele momento, poderia provocar forte pressão inflacionária. O impacto da crise, na visão do BC, só foi melhor percebido no fim do ano.

 

Segundo fontes, a Fazenda, em estratégia semelhante à empregada na crise, estaria se preparando para lançar medidas complementares visando ajudar o controle da inflação, como redução de tarifas de imposto de importação, o cumprimento da meta "cheia" de 3,3% do superávit primário e o fim das desonerações.
 

O embate ganhou mais fervura, na semana passada, com as declarações do secretário do Tesouro, Arno Augustin. Ele defendeu sintonia do BC com uma política de crescimento. Em entrevista em Davos, na Suíça, Mantega afirmou não compartilhar da visão do mercado de que os juros devem subir. Meirelles respondeu à provocação dizendo que a discussão é sobre a necessidade de desacelerar a economia, para evitar inflação, e não de brecá-la. 
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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