"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

fevereiro 03, 2010

A AUTONOMIA DO BANCO CENTRAL

Marcelo Rehder, 
de O Estado de S. Paulo

O professor da Faculdade de Economia da Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) Simão Silber defende o aumento da taxa de juros para impedir a ameaça inflacionária. 

Porém, ele tem dúvidas em relação à atuação do Banco Central em ano de eleições. Segundo o professor, a reação do BC nas próximas reuniões do Copom será um bom teste para a autonomia do banco.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tem dito que a demanda está crescendo acima da tendência de longo prazo. 
O sr. concorda?

O último dado de comércio varejista do IBGE mostra que, na margem, em níveis reais, as vendas de varejo crescem 10%. 
A massa de salários, passado todo o período mais complicado da crise, continua crescendo. 
 crédito continua em expansão e o governo continua gastando. Todos os indicadores domésticos indicam gastos em forte expansão tanto de setor privado quanto do setor público. A economia brasileira está crescendo neste instante acima de 5% e a demanda, mais do que isso.

Isso representa algum risco para a inflação? 
É motivo para o BC aumentar os juros?

O BC não espera o circo pegar fogo para pegar o extintor. Quando aparecer a primeira fumacinha, ele já vai lá com o pezinho e apaga. Ele tem de se antecipar à inflação, porque senão o trabalho dele é redobrado, tem de usar uma política de juros mais agressiva ainda.
Então, ele vai tentar antecipar uma inflação que pode estar se acelerando.

Vamos ter um novo ciclo de alta dos juros?

Não sei, aí já é uma outra história. É uma pergunta muito complicada, por uma razão muito simples. Este é um ano político, e eu não sei se o Banco Central vai ter autonomia para fazer isso, porque a eleição está aí. 
Vou responder da seguinte forma: se efetivamente o Banco Central tiver autonomia, vai ter aumento de juros. Acho que este é um bom teste para saber se o Banco Central é autônomo ou não no Brasil.

O aumento de juros é necessário neste momento?

Acho que sim. A demanda está crescendo num ritmo mais forte que a capacidade produtiva. Matérias-primas começam a faltar e o pessoal já está reajustando preço. Particularmente, o ano está sendo ruim por causa das chuvas. 
Várias coisas aumentaram de preço, o câmbio mudou de patamar. Há indícios de que a inflação pode subir.

Se o País não passar nesse teste de autonomia do BC, qual será o risco?

Vamos ter uma inflação maior. Ela não vai ficar perto da meta central, talvez vá em direção ao limite superior, que é 6,5%.

E o risco político?

Vai abalar a credibilidade do BC. Porque, até hoje, faz 10 para 11 anos, a regra foi a seguinte: o BC cuida da inflação e ponto final. 
Se ele não for cuidar, é porque alguém está metendo a colher no meio. Então, acho isso bastante comprometedor com a credibilidade do BC.

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