"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 25, 2010

INTERESSES PESSOAIS MISTURADOS À TRAGÉDIA


EUA, Brasil e a política por trás de esforços humanitários

Bayard Do Coutto Boiteux, Jornal do Brasil

RIO - 
Sempre que uma grande tragédia natural ocorre em países subdesenvolvidos, há uma grande comoção internacional e nasce rapidamente uma solidariedade incomum.

O Haiti acaba de passar por uma verdadeira devastação. 
A reconstrução do país deverá demorar no mínimo sete anos e vai demandar recursos que poderiam, inclusive, resolver uma série de problemas nos países mais pobres do mundo. 

Há um interesse muito grande das grandes potências, notadamente dos Estados Unidos, que assim vai ocupando espaços, na reconstrução do Haiti.

O Brasil , de olho numa vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, não tem medido esforços para que a Missão para a Estabilização no Haiti (Minustah), comandada por nosso país, seja um sucesso. 

É curioso, se tal palavra pode ser aplicada, ver-se militares brasileiros tentando resolver os problemas de segurança nas principais favelas de Porto Príncipe, sem que tenhamos até hoje conseguido minimizar a violência urbana nas cidades brasileiras.

A vontade do Brasil em ter assento no Conselho de Segurança é tão grande que o governo Lula tem perdoado enormes dívidas financeiras, de países como Moçambique, Nigéria, Bolívia, Cabo Verde, Gabão e Cuba, num valor aproximado de US$ 800 milhões. Como se vê, está saindo cara nossa disputa. 

 A situação no Haiti é caótica. Lembro que quando estive lá há três anos, o país já havia sido muito sacrificado pela ditadura de Baby Doc, que em uma ocasião mandou surrar a seleção de futebol do país, goleada numa Copa do Mundo. A miséria pairava em cada canto da cidade e os hotéis já recomendavam uma espécie de toque de recolher.

A população parecia gostar muito de nossos militares e se sentia agradecida, o que não vem ocorrendo com a chegada maciça de americanos, que passaram a usar o destruído Palácio Nacional como pista de pouso. 
Segundo um professor haitiano que conseguiu escapar do terremoto e que mantém contatos comigo, tal ajuda é, no mínimo, emblemática da política dos EUA no exterior.

Bayard Do Coutto Boiteux é coordenador geral dos cursos de turismo e hotelaria da UniverCidade

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