"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 22, 2011

A fraca sintonia entre Planalto e os aliados.

A falta de sintonia política entre o Palácio do Planalto e a base aliada não se restringe apenas à relação do governo com o Congresso.

Tem provocado pressões dentro das próprias bancadas, colocando em risco a capacidade de articulação dos líderes políticos, e criado divisões que ameaçam a harmonia dos partidos tanto na Câmara quanto no Senado.

Na bancada de senadores do PR, a decisão de deixar a base de sustentação do governo gerou uma discussão intensa entre o líder Magno Malta (ES) e seus liderados.

No PP, a pouca afinidade com o governo levou à derrubada do deputado Nelson Meurer (PR). No PMDB, metade da bancada de deputados se organiza para derrubar Henrique Eduardo Alves (RN) da liderança do partido na Casa.

"As dificuldades com o Planalto estão atrapalhando os partidos", reconhece o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ele próprio é alvo da desconfiança do baixo clero da bancada peemedebista.

O Planalto, enquanto busca calibrar a relação com sua base de sustentação no Congresso, aposta nas secessões para retomar o controle. No caso do PR, por exemplo, a ministra Ideli Salvatti atuou em duas frentes no Senado.

Na primeira tentativa, lembrou ao líder Magno Malta (ES) que ele tinha um irmão na assessoria parlamentar do DNIT e não fechou as portas para uma possível aliança do senador Clésio Andrade (MG) com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, na disputa pelo governo de Minas em 2014.

"Eu apoiei Dilma em 2010, com o Pimentel, mas a minha prioridade para 2014, no momento, é buscar a reeleição para o Senado", desconversou Clésio.

Na sexta-feira, Ideli chamou o líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), que há mais de um mês brada pelos corredores do Congresso que o partido será independente do Planalto, para convencê-lo de que o lugar do partido é na coalizão que sustenta o governo Dilma Rousseff.

Portela ouviu as ponderações da ministra e disse que vai conversar com seus correligionários. Levou o recado palaciano ao presidente nacional do PR, senador Alfredo Nascimento (AM) — o mesmo que na terça-feira jurou que o PR desembarcaria da nau dilmista.

"Não dei a resposta para a Ideli, preciso consultar as bases da legenda. Foram 45 dias maturando a decisão de sair do governo", esquivou-se Portela.

Instabilidade
No PP, o partido já havia se dividido durante as eleições presidenciais do ano passado. Apesar da decisão do presidente nacional da legenda, Francisco Dornelles (RJ), de apoiar a então candidata a presidente Dilma Rousseff, o então vice-líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PR), ficou do lado da candidatura de José Serra para presidente.

No início deste ano, a bancada escolheu Nelson Meurer (PR) para liderar os deputados. Insatisfeitos com a falta de "sintonia" do deputado com o Planalto, substituíram-no por Agnaldo Ribeiro (PB).

"O PP apoiou tantos golpes em sua história que resolveu dar um golpe em si mesmo", protestou o deputado Vilson Covatti (RS), em uma reunião interna da bancada.

O PMDB também está em crise interna.
"Como o Planalto não consegue dar andamento às demandas, os líderes acabam sendo pressionados para conseguir coisas que eles não têm como oferecer", disse Eduardo Cunha.

Os principais articuladores do movimento contra Henrique são os deputados Danilo Forte (CE) e Rose de Freitas (ES).
Um experiente deputado enxerga no movimento dos dois parlamentares uma mera busca por objetivos pessoais, sem questões ideológicas ou partidárias.

Para esse peemedebista, Danilo ainda ressente-se da perda da presidência da Funasa e deposita suas mágoas no líder Henrique Eduardo Alves, a quem acusa de não ter se empenhado na manutenção do cargo na cota do PMDB.

Já o caso de Rose de Freitas seria ainda mais grave:
ela teve total apoio de Henrique Alves na disputa interna pela indicação para a vice-presidência da Câmara.

Foi eleita e, diante das acusações que assolam o Ministério do Turismo, passou a enxergar a oportunidade de colocar um apaniguado na vaga de Pedro Novais.

Caciques políticos acreditam que as instabilidades não acontecem apenas pela falta de articulação entre o Planalto e a base. A falta de uma pauta consistente de votações no Congresso também deixa um vácuo político que passa a ser ocupado pelas intrigas e disputas internas.

Por outro lado, há um carência de lideranças capazes de motivar os liderados, tanto na Câmara quanto no Senado.

PAULO DE TARSO LYRA Correio Braziliense

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