"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 16, 2011

"AMAPÁ TERRA ONDE O BRASIL COMEÇA": terra fértil em fraudes com dinheiro público

A Operação Voucher levou 36 pessoas acusadas de corrupção ao Instituto de Administração Penitenciária de Macapá, pôs em xeque o mandato da deputada Fátima Pelaes (PMDB), mas nem por isso alterou a rotina da população local.

O Amapá já parece se acostumar a ser alvo de operações da Polícia Federal.
De 2003 até o momento, a PF realizou 39 ações de combate ao desvio de verbas da saúde, da educação, e de obras, entre outras, em Macapá e adjacências.

As operações, algumas entre as mais impactantes da polícia, resultaram na prisão de um número recorde de pessoas.
Nos últimos oito anos, foram detidos 308 políticos, servidores públicos e empresários acusados de fraudes com dinheiro repassado pelo governo federal.
Os dados foram compilados por dirigentes do PSOL local.

A última incursão da polícia em nichos de corrupção no estado aconteceu há menos de um ano. Cerca de 75% da economia do Amapá gira em torno de verbas públicas.

Deflagrada uma semana antes do primeiro turno das eleições, a Operação Mãos Limpas resultou na prisão do governador Pedro Paulo (PP), em pleno exercício do cargo; do ex-governador Waldez Goes (PDT) e do presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Amajás (PSDB), entre outros influentes políticos da região.

O ex-governador João Capiberibe (PSB) também teve o mandato de senador cassado em 2005 depois de ser acusado de compra de votos.

O senador Randolfo Rodrigues (PSOL-AP) diz que o alto grau de corrupção dos poderes públicos não é uma exclusividade do Amapá, mas reconhece que no estado o problema, de fato, é grave.

Historiador por formação profissional, Rodrigues argumenta que desvios de conduta têm origem nas elites que se apoderam do estado ao longo de sua formação.
O isolamento geográfico também teria ajudado a reforçar a sensação de que ninguém seria punido por mais tosco que fossem os crimes.


- Criou-se aqui uma cultura muito forte de se misturar o público com o privado, e muitos se valem da impunidade em torno disso - afirmou o senador.

Um dos primeiros políticos atingidos numa investigação por corrupção foi o ex-prefeito de Macapá João Henrique Pimentel.
Ele era do PT na época e agora está no PR.
Pimentel foi um dos presos na Operação Pororoca, em 2004.


Entre os detidos estava o secretário de Saúde.
Desde então, outros dois secretários de Saúde foram detidos e nem assim a sangria aos cofres públicos foi estancada.

Até hoje as obras do Hospital Metropolitano, iniciadas em 2001 e de crucial importância para a população mais pobre, não foram concluídas.

O estado também sofre com obras inacabadas em estradas e portos, entre outras áreas.
Macapá tem 450 mil habitantes, mas não dispõe de banda larga.
A telefonia celular local funciona de forma precária.
A promessa do governo é instalar a banda larga a partir de 2012.
Mas moradores locais veem o programa com desconfiança.

Para o procurador da República Celso Leal, a corrupção no Amapá pode estar relacionada ao volume de verbas federais que abastece o estado.

Ex-território, até hoje o Amapá sobrevive de investimentos públicos.
Leal é um dos responsáveis pelo prisão de 36 pessoas na Operação Voucher, semana passada.


- O estado é muito dependente do governo federal. Talvez isso contribua (para corrupção) por ser um dinheiro fácil - disse o procurador.

Jailton de Carvalho O Globo

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