
Agencia o Globo
Embora se apresente como candidata da continuidade, a ex-ministra Dilma Rousseff agora propõe mudanças no sistema tributário que destoam do histórico do governo Lula.
Em entrevista ao programa Roda Viva, anteontem, a petista se comprometeu a zerar impostos sobre os investimentos no país.
Mas, conforme especialistas, a carga sobre o setor produtivo aumentou desde 2003. Para eles, as propostas de desoneração são de difícil execução.
O coordenador de Estudos do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), Gilberto Luiz do Amaral, diz que alguns dos principais tributos sobre os investimentos, como o PIS e a Cofins, subiram em média 20% no primeiro mandato de Lula.
Na visão dele, as desonerações que vieram depois, amplamente propagandeadas pelo governo, atenderam a segmentos específicos da economia, com forte lobby sobre o Planalto.
A grande crítica que fazemos é essa: quando aumenta, a carga tributária aumenta para todos. Mas os benefícios são pontuais. Quem é amigo do governo, recebe; quem não é, não recebe — afirma Amaral.
Segundo ele, de maneira geral a carga tributária no país, que em 2002 estava a 32,65% do Produto Interno Bruto (PIB), saltou para 34,8% em 2009 e deve chegar a 36,5% no fim do ano. A evolução impactou a indústria, o agronegócio e outras importantes forças do desenvolvimento nacional.
Esses segmentos acabaram transferindo a conta para o consumidor — constata Amaral.
Proposta já consta na reforma parada no Congresso  Nos cálculos do  IBPT, se Lula tivesse zerado, por exemplo, a alíquota  do PIS e da  Cofins, além do Imposto sobre Produtos Industrializados  (IPI) de  máquinas, equipamentos e bens usados em reformas, a arrecadação  caíria  em torno de R$ 15 bilhões anuais, frente a uma receita que, este  ano,  deve ser de R$ 750 bilhões a R$ 800 bilhões.
  Deve-se  levar em conta que a desoneração acaba dando retorno rápido  em  arrecadação, pois gera produção e empregos num prazo menor —  explica.
Durante  a entrevista, a candidata do PT afirmou que tributar  investimentos é  contra o país.
Estou me comprometendo com uma redução (de  impostos) para zero   prometeu.
Segundo Amaral, no governo Lula  não houve avanços quanto às tarifas de  energia. E a proposta de Dilma de  uniformizar o ICMS, um imposto  estadual, já consta da reforma  tributária empacada no Congresso.
— Depende mais da adesão dos  estados e dos parlamentares que da União. O  governo federal pode fazer  pouco quanto a isso — argumenta.
Professor de Economia da  Fundação Getúlio Vargas (FGV), Francisco  Barone diz que as propostas da  petista não condizem com o histórico de  arrecadação do atual governo.
 Para ele, a desoneração é necessária,  embora de difícil execução. Isso  porque o governo tende a compensar  perdas de receita onerando outros  setores da economia.
  Por trás dos investimentos, há toda uma  cadeia de tributos que  sustenta o Orçamento. Se você tira de um lado,  tem de repor de outro   comenta, dizendo que, sem mais detalhes do  projeto, fica difícil  mensurar os reais impactos na receita:
Eles  podem chegar a R$ 150  bilhões anuais, mas isso depende das etapas e dos  tipos de investimento  que serão desonerados.

 
 
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